Pilantra é assim mesmo: quando foi eleito presidente,
depois de uma farsa de um plano econômico, Fernando Henrique Cardoso disse
claramente “esqueçam tudo o que escrevi”! E ele tinha muitos motivos para dizer
aquilo pois sabia que iria impor ao Brasil uma política neoliberal nefasta e
prejudicial ao conjunto do povo, em particular aos trabalhadores. Era preciso
que os brasileiros esquecessem seu passado de sociólogo, pretensamente
preocupado com as condições nacionais.
Mas o seu ego é muito grande. Ele não consegue conviver
com o esquecimento em que caiu, com as diversas derrotas políticas sofridas e
com a aprovação atual do governo que ele tanto combate. Convenceu alguns
“amigos” muito bem adestrados e ajudados durante seu governo a indicar seu nome
para uma cadeira na Academia Brasileira de Letras. Mas esqueceu da contradição:
se ele mandou que todos esquecessem o que havia escrito, vai concorrer a uma
vaga na Academia com qual obra?
Mas, tudo bem... Se Barack Obama pode ganhar o Prêmio
Nobel da Paz sendo quem mais patrocinou guerras e mortes no planeta, por que
FHC não poderia ser um “imortal” sem ter escrito alguma obra importante?
Mas ele não contava com uma disputa. Achava que tudo
estava certo e que seus “amigos” resolveriam tudo para que, enfim, vestisse o
“fardão”. Seu susto foi muito grande quando soube que um grupo de jornalistas,
intelectuais e professores universitários progressistas lançou na segunda-feira
(8) uma campanha para defender o nome do jornalista Amaury Ribeiro Júnior para
a Academia Brasileira de Letras (ABL).
Jornalista premiado, hoje funcionário da TV Record,
Ribeiro Jr. é autor do best-seller “A privataria tucana”, livro-reportagem
denuncia irregularidades na venda de empresas estatais durante o governo do
presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Leia a seguir o manifesto a
favor da candidatura de Amaury.
“A PRIVATARIA É IMORTAL - Amaury Ribeiro Júnior para a
Academia Brasileira de Letras
Não é a primeira vez que a Academia Brasileira de
Letras tem a oportunidade de abrir suas portas para o talento literário de um
jornalista. Caso marcante é o de Roberto Marinho, mentor de obras
inesquecíveis, como o editorial de 2 de abril de 64:
"Ressurge a Democracia, Vive a Nação dias gloriosos"
– o texto na capa de "O Globo" comemorava a derrubada do presidente
constitucional João Goulart, e não estava assinado, mas trazia o estilo
inconfundível desse defensor das liberdades. Marinho tornou-se, em boa hora,
companheiro de Machado de Assis e de José Lins do Rego.
Incomodada com a morte prematura de "doutor"
Roberto, a Academia acolheu há pouco outro bravo homem de imprensa: Merval
Pereira, com a riqueza estilística de um Ataulfo de Paiva, sabe transformar
jornalismo em literatura; a tal ponto que – sob o impacto de suas colunas – o
público já não sabe se está diante de realidade ou ficção.
Esses antecedentes, "per si", já nos
deixariam à vontade para pleitear – agora - a candidatura do jornalista Amaury
Ribeiro Junior à cadeira 36 da Academia Brasileira de Letras.
Amaury, caros acadêmicos e queridos brasileiros, não é
um jornalista qualquer. É ele o autor de "A Privataria Tucana" – obra
fundadora para a compreensão do Brasil do fim do século XX.
Graças ao trabalho de Amaury, a Privataria já é imortal!
Amaury Ribeiro Junior também passou pelo diário criado por Irineu Marinho (o
escritor cubano José Marti diria que Amaury conhece, por dentro, as entranhas
do monstro).
Mas ao contrário dos imortais supracitados, Amaury
caminha por outras tradições. Repórter premiado, não teme o cheiro do povo.
Para colher boas histórias, andou pelas ruas e estradas empoeiradas do Brasil.
E não só pelos corredores do poder.
Amaury já trabalhou em "O Globo",
"Correio Braziliense", "IstoÉ", "Estado de
Minas", e hoje é produtor especial de reportagens na "TV
Record". Ganhou três vezes o Prêmio Esso de Jornalismo. Tudo isso já o
recomendaria para a gloriosa Academia. A obra mais importante do repórter,
entretanto, não surge dos jornais e revistas. "A Privataria Tucana" –
com mais de 120 mil exemplares comercializados – é o livro que imortaliza o
jornalista.
A Privataria é imortal - repetimos!
O livro de Amaury não é ficção, mas é arte pura. Arte
de revelar ao Brasil a verdade sobre sua história recente. Seguindo a trilha aberta
por Aloysio Biondi (outro jornalista que se dedicou a pesquisar os descaminhos
das privatizações), Amaury Ribeiro Junior avançou rumo ao Caribe, passeou por
Miami, fartou-se com as histórias que brotam dos paraísos fiscais.
Estranhamente, o livro de Amaury foi ignorado pela
imprensa dos homens bons do Brasil. Isso não impediu o sucesso espetacular nas
livrarias - o que diz muito sobre a imprensa pátria e mais ainda sobre a
importância dos fatos narrados pelo talentoso repórter.
A Privataria é imortal! Mas o caminho de Amaury Ribeiro
Junior rumo à imortalidade, bem o sabemos, não será fácil. Quis o destino que o
principal contendor do jornalista na disputa pela cadeira fosse o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso.
FHC é o ex-sociólogo que – ao virar presidente –
implorou aos brasileiros: "Esqueçam o que eu escrevi". A ABL saberá
levar isso em conta, temos certeza. É preciso esquecer.
Difícil, no entanto, é não lembrar o que FHC fez pelo
Brasil. Eleito em 1994 com o apoio de Itamar Franco (pai do Plano Real), FHC
prometeu enterrar a Era Vargas. Tentou. Esmerou-se em desmontar até a Petrobras.
Contou, para isso, com o apoio dos homens bons que
comandam a imprensa brasileira. Mas não teve sucesso completo.
O Estado Nacional, a duras penas, resistiu aos impulsos
destrutivos do intelectual Fernando.
Em 95, 96 e 97, enquanto o martelo da Privataria tucana
descia velozmente sobre as cabeças do povo brasileiro, Amaury dedicava-se a
contar histórias sobre outra página vergonhosa do Brasil - a ditadura militar de
64. Em uma de suas reportagens mais importantes, sobre o massacre de
guerrilheiros no Araguaia, Amaury Ribeiro Junior denunciou os abusos cometidos
pela ditadura militar (que "doutor" Roberto preferia chamar de
Movimento Democrático).
FHC vendia a Vale por uma ninharia. Amaury ganhava o
Prêmio Esso...
FHC entregava a CSN por uns trocados. Amaury estava nas
ruas, atrás de boas histórias, para ganhar mais um prêmio logo adiante...
As críticas ao ex-presidente, sabemos todos nós, são
injustas. Homem simples, quase franciscano, FHC não quis vender o patrimônio
nacional por valores exorbitantes. Foi apenas generoso com os compradores -
homens de bem que aceitaram o duro fardo de administrar empresas desimportantes
como a Vale e a CSN. A generosidade de FHC foi muitas vezes incompreendida pelo
povo brasileiro, e até pelos colegas de partido - que desde 2002 teimam em
esquecer (e esconder) o estadista Fernando Henrique Cardoso.
Celso Lafer - ex-ministro de FHC - é quem cumpre agora
a boa tarefa de recuperar a memória do intelectual Fernando, ao apresentar a
candidatura do ex-presidente à ABL. A Academia, quem sabe, pode prestar também
uma homenagem ao governo de FHC, um governo simples, em que ministros andavam
com os pés no chão - especialmente quando tinham que entrar nos Estados Unidos.
Amaury não esqueceu a obra de FHC. Mostrou os vãos e os
desvãos, com destaque para o caminho do dinheiro da Privataria na volta ao
Brasil. Todos os caminhos apontam para São Paulo. A São Paulo de Higienópolis e
Alto de Pinheiros. A São Paulo de 32, antivarguista e antinacional. A São Paulo
de FHC e do velho amigo José Serra - também imortalizado no livro de Amaury.
Durante uma década, o repórter debruçou-se sobre as
tenebrosas transações. E desse trabalho brotou "A Privataria Tucana".
Por isso, dizemos: se FHC ganhar a indicação, a vitória
será da Privataria. Mas se Amaury for o escolhido, aí a homenagem será
completa: a Privataria é imortal!
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