• A Itália também se move. Assim como a Grécia, a Itália
também disse “não” às medidas de austeridade impostas à população por conta da
crise econômica e os eleitores provocaram uma grande derrota aos partidos de
direita nas eleições municipais realizadas no domingo (06) e segunda-feira
(07). Os eleitores italianos também preferiram os partidos de esquerda no
primeiro turno das eleições que definirão os novos prefeitos de 941 cidades do
país. “Sofremos uma derrota”, afirmou o secretário geral do PDL (Povo da
Liberdade), partido conservador do ex-premiê Silvio Berlusconi, Angelino
Alfano, após a divulgação dos primeiros resultados.
• A Europa que vai acordando. As informações a seguir, sobre as recentes transformações
na Europa e como o projeto neoliberal vai sendo derrotado, está no artigo de
José Antonio Lima, em Carta Capital, sob o título “Os governos que a
austeridade derrubou”.
Islândia - Geir Haarde – janeiro de 2009 (governo de
centro-direita em coalizão com social-democratas). Haarde foi premiê da Islândia entre 2006 e 2009 e viu
seu governo ruir a partir de outubro de 2008. Em apenas uma semana daquele mês,
os três principais bancos do país (Kaupthing, Glitnir e Landsbanki) foram
nacionalizados por conta de sua total incapacidade de rolar as enormes dívidas.
A crise jogou a Islândia numa espiral de recessão que ainda não acabou. Haarde
foi julgado por negligência na forma como tratou a crise e, em abril de 2012,
num veredicto cheio de conotação política, foi considerado culpado por abordar
pouco o tema da crise financeira nas reuniões de seu gabinete.
Reino
Unido
- Gordon Brown – maio de 2010
(governo de centro-esquerda). O
Partido Trabalhista estava no poder desde 1997 quando foi derrotado nas
eleições gerais de maio de 2010 pelo Partido Conservador. Mesmo com o segundo
lugar no pleito, Gordon Brown, que substituíra Tony Blair em 2007, teve a
oportunidade de montar uma coalizão com o Partido Liberal-Democrata (terceiro
colocado). A missão se provou impossível. Com sua popularidade em queda por
conta de um escândalo de gastos parlamentares e sem conseguir conter os efeitos
da crise econômica, Brown desistiu. O conservador David Cameron tomou seu lugar
e conseguiu conciliar os interesses de seu partido com os liberais-democratas.
Irlanda - Brian Cowen – janeiro de 2011 (centro-direita). Depois de um início de década com muita prosperidade, a
Irlanda começou a afundar a partir de 2008. Naquele ano, a crise financeira e
econômica deixou claro que a bonança do país era fruto de uma economia com
fundamentos precários. Durante a tempestade, Brian Cowen assumiu o governo. Ele
não conseguiu evitar os efeitos da crise e ainda assinou o pedido de resgate à
União Europeia e ao Fundo Monetário Internacional. O resgate, que impunha uma
série de medidas de austeridade ao país, passou a ser encarado como uma
humilhação nacional pelos irlandeses. Em março de 2011, menos de três anos
depois de assumir o cargo, Cowen saiu do poder como o primeiro-ministro menos
popular da história da Irlanda.
Portugal - José Sócrates – março de 2011 (centro-esquerda). Sócrates estava no poder desde 2005 e liderou Portugal
no momento mais agudo da crise. A partir de 2010, o desemprego cresceu
rapidamente, assim como o déficit público, e seu governo passou a adotar
medidas de austeridade. Inicialmente, as medidas eram moderadas, mas depois que
falência do país se aproximou, elas precisariam ser aprofundadas. Em março, diante
desta perspectiva, o governo de Sócrates foi derrubado e ele passou a comandar
um gabinete de transição. Neste cargo, Sócrates protagonizou um grande vexame.
Em 4 de abril de 2011, negou categoricamente que Portugal pegaria um empréstimo
bilionário com o FMI e a UE. Em 6 de abril, anunciou a tomada do empréstimo.
Eslováquia - Iveta Radicova – outubro de 2011 (centro-direita). O partido de centro-direita de Radicova conseguiu
liderar um governo de coalizão mesmo após receber apenas 15% dos votos nas
eleições de junho de 2010 ao juntar sob seu comando quatro outras pequenas
legendas. Radicova subiu ao poder pregando a redução de gastos por parte do
governo e prometendo não aumentar os impostos. Seu governo caiu pouco mais de
um ano depois, quando a Eslováquia precisou aprovar a ampliação de um fundo
continental para resgatar economias que viessem a ter problemas. Sem conseguir
fazer o plano avançar, Radicova aceitou deixar o poder em troca da posterior
aprovação do texto.
Espanha - Jose Luiz Rodrigues Zapatero – dezembro de 2011
(centro-esquerda). Líder do Partido
Socialista, Zapatero foi eleito em 2004 e 2008 para comandar o governo espanhol.
No início de seu segundo mandato, se notabilizou por negar a crise, utilizando
termos como “estagnação” e “desaceleração acelerada”. Depois, passou a tentar
colocar em prática medidas para conter a crise, e fez até uma reforma
constitucional em 48 horas. Nada adiantou e a taxa de desemprego explodiu. Sob
ataques pesados do Partido Popular (centro-direita), Zapatero dissolveu o Parlamento
em setembro de 2011 e não conseguiu fazer seu sucessor.
Itália - Silvio Berlusconi – novembro de 2011 (direita). O bilionário Berlusconi se envolveu em uma série de
escândalos pessoais que abalaram sua imagem e também a de seu país. Mas o que
derrubou Berlusconi foi sua falta de habilidade para lidar com a crise.
Berlusconi deseja aplicar na Itália as medidas de austeridade pedidas pela UE e
pelo FMI, mas não encontrava apoio. No início de novembro, encontrou a solução:
em troca da aprovação de novas medidas de cortes de gastos, anunciou que
deixaria o poder em favor de um governo de coalizão.
Grécia - Georges Papandreou – novembro de 2011
(centro-esquerda). Papandreou assumiu
o governo grego em outubro de 2009. Em seu primeiro grande ato, anunciou que a
dívida pública e o déficit no orçamento eram muito maiores do que o governo
anterior divulgara anteriormente. Papandreou, então, colocou em prática duras
medidas de austeridade, incluindo a redução dos empregos públicos, a venda de
estatais e aumento de impostos. As medidas, sozinhas, não tiveram efeito para
conter a crise, e a Grécia, então, buscou empréstimos do FMI e do Banco Central
Europeu. Em novembro de 2011, após acertar os detalhes do empréstimo, Papandreou
anunciou de surpresa que submeteria o pacote de resgate a um referendo popular.
Na semana seguinte, ele estava fora do cargo.
Romênia - Emil Boc – fevereiro de 2012 e Mihai Razvan
Ungureanu – abril de 2012 (centro-direita). A Romênia já está na segunda rodada de governos derrubados pela
austeridade. O primeiro foi o de Emil Boc, que sucumbiu em fevereiro em meio a
uma onda de protestos contra medidas como cortes de salários e aumento de
impostos. Mihai Razvan Ungureanu substituiu Boc, mas não conseguiu completar
três meses no cargo. Um novo premiê assumirá o comando do país até as eleições
de novembro, mas sobram temores de que, diante das duras restrições impostas
pelo FMI ao país, o próximo primeiro-ministro também terá dificuldades para se
manter no cargo.
Holanda - Mark Rutte – abril de 2012 (centro-direita). Em abril, o governo de Rutte caiu depois de apenas 558
dias de existência, se tornando o quarto mais curto da Holanda desde a Segunda
Guerra Mundial. Rutte, que presidia uma coalizão frágil, caiu ao perder o apoio
do Partido da Liberdade, do extremista de direita Geert Wilders. A divisão
ocorreu nos debates a respeito do orçamento da Holanda para 2013. Rutte queria
aprovar um plano que previa o corte de 16 bilhões de euros, mas Wilders e seu
partido não aceitaram, alegando que isto prejudicaria a economia. Os
socialistas também rejeitavam os cortes.
França - Nicolas Sarkozy – maio de 2012 (centro-direita). O primeiro turno da eleição presidencial da França
deixou clara a (falta de) popularidade das medidas de austeridade na Europa.
Enquanto o presidente Nicolas Sarkozy (artífice, ao lado da Alemanha, da
campanha pela austeridade) recebeu 27,2% dos votos, seus três principais rivais
– François Hollande, Marine Le Pen, e Jean-Luc Mélenchon, todos contrários a
essas políticas – receberam mais de 57% dos votos. No segundo turno, o país se
dividiu em dois, mas Hollande foi eleito.
• Espanha afunda ainda mais. O desemprego na Espanha chega quase a 25%. É o nível
mais elevado em dezoito anos e coloca mais de 5,6 milhões de pessoas na rua. Em
quatro das regiões autônomas, o nível de desemprego é superior a 30%, e em
nível nacional o desemprego entre menores de vinte e cinco anos é de 52%. Isso
não parece preocupar o governo liberal do senhor Rajoy que garante a manutenção
do seu severo plano de austeridade.
• Para superar a crise, um curso de prostituição. Não é piada e nem “pegadinha”. Uma campanha publicitária
em outdoors com os dizeres “Trabalhe já! Curso de prostituição
profissional” está causando problemas na cidade de Valência, no leste espanhol.
Pelo preço de cem euros, uma empresa afirma ensinar desde “técnicas
especiais” até a história da “profissão mais antiga do mundo”. As
informações são do jornal espanhol Las
Províncias.
Segundo a empresa que organiza o curso, 95 pessoas já
se interessaram em participar. Um dos “professores”, identificado apenas
por Brandon, afirma fazer programas desde os 18 anos e diz que, com esse
curso, os profissionais do sexo estarão mais preparados.
• Para salvar bancos ainda tem dinheiro? O governo da Espanha decidiu, na quarta-feira (09),
“estatizar” o Banco Financiero y de Ahorros, e com isso controlará 45% do
Bankia, quarta maior entidade financeira do país. Para isto, vai disponibilizar
capital suficiente para sanear o grupo, informou o Ministério da Economia. O
Bankia, possui cerca de 10 milhões de clientes e mais de 400 mil acionistas.
A maracutaia é bem simples: o governo vai transformar
em ações o empréstimo de 4,465 bilhões de euros que o país concedeu ao grupo no
final de 2008. Não é “bacaninha”? Enquanto isto, o desemprego chega a 25%!
• Milhares de
policiais protestam em Londres. Milhares de
policiais do Reino Unido tomaram as ruas do centro de Londres na quinta-feira
(10) para protestar contra os cortes aplicados pelo governo do conservador David
Cameron e a deterioração de suas condições trabalhistas. “Cortaram 20% do
orçamento da Polícia, mas não apenas isso: estão transferindo muitos dos serviços
que poderíamos fazer a companhias privadas”, afirmou à Agência Efe Gary
Sutton, inspetor da Polícia de Kent (sudeste da Inglaterra). Milhares de
policiais sem uniforme vindos de diversas cidades britânicas - cerca de 20 mil
segundo a imprensa - passaram pelo Parlamento de Westminster e Downing Street
com cartazes que acusavam o premiê britânico de estar desmantelando a Polícia.
• Quem manda na Europa? Certamente que Washington! E disto ninguém mais duvida... O Parlamento
Europeu acaba de aprovar o novo acordo de transferência de dados pessoais às
autoridades estadunidenses. Este acordo sobre os dados dos dossiês de
passageiros (ditos PNR: Passenger Name Record) fixou as condições jurídicas.
Alguns poucos deputados europeus tentaram questionar, dizendo que o acordo
coloca o governo dos EUA acima dos direitos dos cidadãos europeus. Mas não
adiantou.
O novo dispositivo aprovado prevê que os dados sobre
todas as pessoas que viagem na Europa sejam transferidos para os serviços de
inteligência dos EUA. As autoridades estadunidenses conservarão os dados PNR
num banco ativo durante um período de cinco anos. Após os primeiros seis meses,
todas as informações que poderiam ser utilizadas para identificar um passageiro
seriam “despersonalizadas”, o que significa que dados tais como o nome dos
passageiros e suas coordenadas deverão ser ocultados.
Ou seja, a “liberdade de ir e vir, na Europa, já não é
livre”. Cada viajante europeu terá seu nome e seus dados pessoais transferidos
para Washington. Quem manda na Europa?
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