domingo, 23 de setembro de 2007

O Dia em que Lula negou Jesus

Após dois mandatos e um ano, parecia que Lula e seu partido um dia dos trabalhadores - ou até isto terá sido ilusão - já havia mostrado tudo que poderíamos chamar de traição. Traição as origens de onde veio, traição dos trabalhadores que disse defender, traição dos anseios de colocar o Brasil de pé ante um mundo imperialista, traição de se fazer representante das causas populares e de assim se opor contra o latifúndio, o capital financeiro e as maracutaias políticas do esgoto a céu fechado do congresso Nacional.
Não bastasse vermos as duas mortes de Lula, uma em 1989 quando perdeu a eleição para Collor em segundo turno contra tudo e todos da mais fedorenta elite nacional e internacional e a outra em 2002 quando, repaginado, se esforça para parecer do clube dos iguais, se constituindo no mais novo membro-sócio da putrefata política burguesa. Vimos na quinta-feira, 20 de Setembro, os seguranças do Palácio do Planalto segurarem, imobilizarem, humilharem o camponês Angelo de Jesus, de 37 anos, vindo de carona da cidade de Pindobaçu na Bahia. Portador de hanseníase e há quatro dias sem comer, gritava frente a dantesca cena: "Presidente, salva eu, salva eu presidente". Mal sabia o agricultor que Lula estava naquele momento salvando a imaculada imagem do Brasil no exterior, pois no terceiro andar no mesmo prédio em que sofria a violenta repressão, o presidente dava entrevista para o porta-voz do Império do Norte o The New York Times.
Quem diria, Jesus pedindo ajuda a Lula e pior, o presidente negou. Talvez pelo fato de se preocupar cotidianamente em salvar banqueiros, mensaleiros, Calheiros, sanguessugas... e quem é Jesus para ser salvo pelo Presidente tendo tantas outras mais importantes obrigações na lista de prioridades?
O lavrador foi levado ao hospital regional da Asa Norte, onde chegou "desorientado" segundo funcionários, e não é para menos. Um dia, ele e todos nós - até a elite - acreditamos que Lula nos salvaria, que ao chegar à Presidência o povo seria assistido, não com assistencialismos, mas com políticas públicas que levasse o Brasil a corrigir erros históricos como reforma agrária, educação e saúde de qualidade para todos, emprego e renda e o fim da subserviência internacional. Mas não. A desorientação de Jesus faz sentido.
O mesmo funcionário informou que ele chegara ao hospital com 144 batimentos cardíacos por minuto. Também creio fazer sentido pois a surra que tomou para ser domado pelos seguranças do Presidente não tranquilizaria nenhum de nós.
E a última informação dada por D. Maria, mãe de Jesus, do interior da Bahia, informava que "ele, meu filho, ultimamente não estava batendo muito bem da cabeça". Ora nossa senhora, neste país dos absurdos diários, qualquer cidadão que cumpre as obrigações e não recebe do estado e muito menos do privado, nada em troca, não anda batendo nada bem. Aliás, vendo as fotos da violência sofrida pelo lavrador Jesus, os únicos que andam batendo bem são os seguranças do Palácio do Planalto.
E o pior de tudo: para muitos deste país a única saída era Jesus! E agora, o que devemos fazer?