sexta-feira, 10 de outubro de 2008

O Brasil e suas feridas abertas

Há quinhentos anos, o Brasil é controlado pela mesma esfera de poder. Rostos e nomes
mudaram e, no entanto, a ideologia é essencialmente a mesma. As poucas famílias que integram o topo da pirâmide são as donas do país, mas não são responsáveis pelo seu verdadeiro sustento.
Essa função sempre pertenceu e ainda pertence à base da pirâmide, composta pelos humildes e marginalizados da sociedade. Tem sido assim desde a chegada dos europeus ao continente, que
fundaram países às custas do sangue das populações nativas e de seu trabalho forçado.
As primeiras cobaias da sanha imperialista européia foram as tribos indígenas, praticamente dizimadas por doenças e mortes prematuras. Com isso, os novos donos da América descobriram
uma forma muito mais eficaz e lucrativa de ampliar suas riquezas: o tráfico de escravos. A utilização dessa mão-de-obra foi muito marcante sobretudo no Brasil e suas feridas ainda não cicatrizaram completamente.
Os negros sustentaram os principais ciclos econômicos do país, da cana-de-açúcar ao café e, em troca, recebiam uma parca alimentação e intermináveis açoites caso ousassem levantar a voz contra a visível injustiça, E, quando todo o processo de escravidão foi abolido, não puderam contar com nenhuma assistência, não sabiam para onde seguir. Em um país que começava sua industrialização, não passavam de mão-de-obra desqualificada. Desse modo, muitos acabaram colocando-se à disposição de seus antigos donos em troca de pequena remuneração.
Outros tantos engrossaram o contingente de desempregados das grandes cidades, onde eram vistos com desdém. A escravidão havia acabado e não o preconceito ou a marginalização. Mesmo no Brasil de hoje, essa ainda é a realidade de muitas pessoas. No país fundado sob o trabalho e sob o sangue dessa gente a cor segue como diferencial. Em um país que tem em sua cultura elementos riquíssimos da cultura negra e indígena, a população segue cultuando seus antigos heróis de brinquedo, enquanto os verdadeiros heróis não ganharam destaque e têm como monumento as pedras pisadas do cais.

Danielle Veras