quinta-feira, 10 de agosto de 2006

Aos que virão depois de nós


I.

Eu vivo em tempos sombrios.
Uma linguagem sem malícia é sinal de estupidez,
Uma testa sem rugas é sinal de indiferença.
Aquele que ainda ri é porque ainda não recebeu a terrível notícia.
Que tempos são esses,
Quando falar sobre flores é quase um crime.
Pois significa silenciar sobre tanta injustiça?
Aquele que cruza tranqüilamente a rua
Já está então inacessível aos amigos
Que se encontram necessitados?
É verdade: eu ainda ganho o bastante para viver.
Mas acreditem: é por acaso.
Nada do que eu faço
Dá-me o direito de comer quando eu tenho fome.
Por acaso estou sendo poupado. (Se a minha sorte me deixa estou perdido!)
Dizem-me: come e bebe!
Fica feliz por teres o que tens!
Mas como é que posso comer e beber,
Se a comida que eu como, eu tiro de quem tem fome?
Se o copo de água que eu bebo, faz falta a quem tem sede?
Mas apesar disso, eu continuo comendo e bebendo.
Eu queria ser um sábio.
Nos livros antigos está escrito o que é a sabedoria:
Manter-se afastado dos problemas do mundo
E sem medo passar o tempo que se tem para viver na terra;
Seguir seu caminho sem violência,
Pagar o mal com o bem,
Não satisfazer os desejos, mas esquecê-los.
Sabedoria é isso!Mas eu não consigo agir assim.
É verdade, eu vivo em tempos sombrios!

II.
Eu vim para a cidade no tempo da desordem,
Quando a fome reinava.
Eu vim para o convívio dos homens no tempo da revolta
E me revoltei ao lado deles.
Assim se passou o tempo
Que me foi dado viver sobre a terra.
Eu comi o meu pão no meio das batalhas,
Deitei-me entre os assassinos para dormir,
Fiz amor sem muita atenção
E não tive paciência com a natureza.
Assim se passou o tempo
Que me foi dado viver sobre a terra.

III.
Vocês, que vão emergir das ondas
Em que nós perecemos, pensem,
Quando falarem das nossas fraquezas,
Nos tempos sombrios
De que vocês tiveram a sorte de escapar.
Nós existíamos através da luta de classes,
Mudando mais seguidamente de países que de sapatos, desesperados!
Quando só havia injustiça e não havia revolta.
Nós sabemos:
O ódio contra a baixeza
Também endurece os rostos!
A cólera contra a injustiça
Faz a voz ficar rouca!
Infelizmente, nós,
Que queríamos preparar o caminho para a amizade,
Não pudemos ser, nós mesmos, bons amigos.
Mas vocês, quando chegar o tempo
Em que o homem seja amigo do homem,
Pensem em nós
Com um pouco de compreensão.

Bertold Brecht

Até quando?


Eduardo Galeano (*)


Em Canaã, onde Jesus converteu água em vinho para celebrar o amor humano, o ódio humano despedaça mais de 30 crianças num grande bombardeio. A guerra segue indiferente. Como de costume, dizem que foi um erro. Até quando os horrores continuarão sendo chamados de erros? (em espanhol errores, o que dá um sentido mais poético à frase).
Esta guerra, esta carnificina de civis, desencadeou-se a partir do seqüestro de um soldado israelita. Até quando o seqüestro de um soldado israelita poderá justificar o seqüestro da soberania palestina?
Até quando o seqüestro de dois soldados israelenses poderá justificar o seqüestro de todo o Líbano?
A caça aos judeus foi durante séculos o “esporte” favorito dos europeus. Em Auschwitz desembocou um antigo rio de espantos que havia atravessado toda a Europa. Até quando os palestinos e outros árabes seguirão pagando por crimes que não cometeram?
O Hezbollah não existia quando Israel arrasou o Líbano em suas invasões anteriores. Até quando continuaremos acreditando no conto do agressor agredido, que pratica o terrorismo porque tem direito de defender-se do terrorismo?
Iraque, Afeganistão, Palestina, Líbano, até quando poderemos seguir exterminando países impunemente?
As torturas de Abu Ghraib, que despertaram certo mal-estar universal, não têm nada de novo para nós, latino-americanos. Nossos militares aprenderam essas técnicas de interrogatório na Escola das Américas, que agora perdeu seu nome, mas não as suas manhas..
Até quando seguiremos aceitando que a tortura continue sendo legitimada, como o fez a Corte Suprema de Israel, em nome da legítima defesa da pátria?
Israel não deu ouvidos a 46 resoluções da Assembléia Geral da ONU e de vários outros organismos da ONU. Até quando o governo de Israel continuará exercendo o privilégio da surdez?
As Nações Unidas recomendam, mas não decidem. Quando decidem, a Casa Branca impede que decidam, porque tem direito de veto. A Casa Branca tem vetado no Conselho de Segurança quarenta resoluções que condenavam Israel. Até quando as Nações Unidas continuarão atuando como se fossem outro nome dos Estados Unidos?
Desde que os palestinos foram desalojados de suas casas e despojados de suas terras, correu muito sangue. Até quando o sangue continuará correndo para que a força justifique o que o direito nega?
A história se repete, dia após dia, ano após ano e para cada 10 árabes mortos, morre um israelense. Até quando a vida de cada israelense continuará valendo dez vezes mais?
Em proporção à população, os 50 mil civis, em sua maioria mulheres e crianças, mortos no Iraque, equivalem a oitocentos mil estadunidenses. Até quando continuaremos aceitando, como se fosse normal, a matança de iraquianos numa guerra cega que esqueceu os seus pretextos? Até quando continuará sendo normal que os vivos e os mortos sejam de primeira, segunda, terceira ou quarta categoria?
O Irã está desenvolvendo a energia nuclear. Até quando continuaremos acreditando que isso baste para provar que um país é um perigo para a humanidade? À chamada comunidade internacional, não causa angústia o fato de que Israel tenha 250 bombas atômicas, mesmo sendo um país que vive à beira de um ataque de nervos. Quem guia o perigosímetro universal? Teria sido o Irã o país que jogou as bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki?
Na era da globalização o direito de pressão pode mais que o direito de expressão. Para justificar a ocupação ilegal de terras palestinas, a guerra se chama paz. Os israelenses são patriotas e os palestinos são terroristas e os terroristas acionam o alarme universal. Até quando os meios de comunicação continuarão sendo medos de comunicação?
A matança atual, que não é a primeira e – temo – não será a última, ocorre em meio ao silêncio. O mundo estará mudo? Até quando continuarão soando em vão as vozes da indignação? Estes bombardeios matam crianças, mais de um terço das vítimas e às vezes mais do que isso, como em Canaã. Quem se atreve a denunciar isso é acusado de anti-semita. Até quando continuaremos sendo anti-semitas ao denunciar os crimes do terrorismo de Estado? Até quando aceitaremos essa extorsão? São anti-semitas os judeus horrorizados pelo que é feito em seu nome? São anti-semitas os árabes, tão semitas como os judeus? Por acaso não há vozes palestinas que defendem a pátria palestina e repudiam o hospício fundamentalista?
Os terroristas se parecem entre si: os terroristas de Estado, respeitáveis homens de governo, e os terroristas privados, que são loucos à solta ou loucos organizados desde os tempos da Guerra Fria contra o totalitarismo comunista. E todos atuam em nome de Deus, chame-se esse Deus Jeová ou Alá. Até quando seguiremos ignorando que todos os terrorismos desprezam a vida humana e que todos se alimentam mutuamente? Não é evidente que nesta guerra entre Israel e o Hezbollah, são os civis, libaneses, palestinos, israelenses, que entram com os mortos? Não é evidente que as guerras do Afeganistão e do Iraque e as invasões de Gaza e do Líbano são incubadoras do ódio, que fabricam fanáticos em série?
SOMOS A ÚNICA ESPÉCIE ANIMAL ESPECIALIZADA NO EXTERMÍNIO MÚTUO. Destinamos 2,5 milhões de dólares, por dia a gastos militares. A miséria e a guerra são filhas do mesmo pai: como alguns deuses cruéis, devora os vivos e os mortos. Até quando continuaremos aceitando que este mundo, apaixonado pela morte, é o nosso único mundo possível?

(*) Escritor e jornalista uruguaio, autor de As Veias Abertas da América Latina

Um homem a serviço da luta contra a opressão


CINQUENTENÁRIO BRECHT
50 anos da morte do dramaturgo alemão são lembrados em todo o Brasil
Estréias de peças, seminários, workshops, debates, shows e palestras ilustram a importância e a contribuição do dramaturgo alemão para a história do teatro e para a história da luta contra a opressão.
Eduardo Carvalho - Carta Maior

No próximo dia 14 de agosto, comemora-se o cinquentenário da morte de Bertold Brecht. A partir desta quinta-feira, 9 de agosto, uma série de estréias de peças, shows de música de seus espetáculos, seminários, workshops e debates marcam a data em todo o Brasil.Ugen Friedrich Bertolt Brecht nasceu em 10 de fevereiro de 1898 em Augsburgo, Baviera, Alemanha. Em 1913 começou sua produção literária, ainda na escola. Escrita em 1918 e encenada em 1923, Baal é considerada a primeira grande peça do dramaturgo e poeta na fase inicial de sua obra. A partir da peça Um homem é um homem (1926), Brecht começa a se interessar pelo estudo do marxismo e a aplicação no campo estético. No final dos anos 30, ele começa a teorizar sobre o teatro épico como de superação da forma dramática.
Com a ascensão de Adolf Hitler e a Segunda Guerra Mundial, Brecht partiu para o exílio em países da Europa e acabou por fixar-se nos Estados Unidos, onde foi perseguido pelo movimento anti-comunista conhecido como Macarthismo. Retornou à Alemanha em 1945 e trabalhou em seu teatro, o Berliner Ensemble, nos últimos oito anos de vida, até falecer em 14 de agosto de 1956. Sua obra teatral abrange 50 peças, dentre as quais se destacam Mãe Coragem, Galileu, Galilei, Santa Joana dos Matadouros e O círculo de giz caucasiano, que trata da questão da disputa pela terra e que estréia no dia 09, no CCBB-Rio, com a Companhia do Latão e fica em cartaz até 24 de setembro.
O CÍRCULO DE GIZ CAUCASIANO GANHA MONTAGEM NO RIO“Obra-prima do teatro moderno” é como o poeta e tradutor Manuel Bandeira define O círculo de giz caucasiano, ao traduzir este que é um dos mais consagrados textos do dramaturgo alemão. E é a versão de Bandeira que a Companhia do Latão, grupo brasileiro dedicado ao universo brechtiano, estréia a convite do próprio CCBB para homenagear o dramaturgo alemão que uniu arte e política deixando um legado fundamental para o teatro moderno, abordando questões pertinentes até os dias de hoje. A tradução de Bandeira para O círculo de giz caucasiano foi encenada pela última vez em 1963, pelo Teatro Nacional de Comédia (TNC). O círculo de giz caucasiano foi escrito no final da Segunda Guerra Mundial, durante o exílio de Brecht nos EUA, e aborda a discussão sobre a disputa de terras. Um grupo de agricultores e outro de criadores de cabras disputam a posse de um vale fértil, cuidado e defendido dos nazistas durante a guerra pelos agricultores. A questão chega a bom termo, dando lugar à uma fábula, a história do círculo de giz caucasiano, passada na Geórgia, sobre a disputa de uma criança.O espetáculo conta com a participação especial do grupo Filhos da Mãe Terra, formado por crianças e adolescentes do Movimento dos Sem Terra (MST), do assentamento Carlos Lamarca, localizado na região de Sarapuí, no interior de São Paulo. Eles estão no vídeo que é utilizado como prólogo da encenação. “Essa montagem tem o objetivo de repensar o legado artístico de Bertolt Brecht em relação ao Brasil atual”, pontua o diretor do espetáculo Sérgio de Carvalho. “Talvez o principal aspecto da forma épica criada por Brecht seja a historicização dos acontecimentos. Não se procura mostrar a vida como ela é, mas como não deveria ter se tornado. O público é quem realiza o sentido da cena ao pensar sobre os subterrâneos dos fatos observados, ao estabelecer o vínculo interrogativo entre uma história que se mostra incompleta e suas causas sociais e econômicas”, explica o diretor Sérgio de Carvalho.“Escolhi esse texto por ser um clássico e por discutir a questão da terra. Acho o momento perfeito para essa encenação”, observa Sérgio de Carvalho. A montagem envolve uma super-produção: elenco de 11 atores que se dividem em 50 personagens ao longo de 2h40, com intervalo; a montagem é permeada por 21 canções especialmente compostas por Martin Eikmeier; dois músicos estarão em cena tocando cello, piano, instrumentos orientais e rabeca.

Agenda de atividades sobre Brecht:

1) O círculo de giz caucasiano Bertolt Brecht, com a Companhia do Latão. Estréia dia 9 de agosto, às 19h, no Teatro III do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) – Rua Primeiro de Março, 66. Centro – RJ. Tel. Tel (21) 3808.2020. Ingressos: R$ 10,00. De quarta a domingo às 19h. Duração: 2h40. Temporada: De 10 de agosto a 24 de setembro. Classificação etária: 16 anos.
2) Cida Moreira - Aos Que Estão Por Vir – Um Concerto CabaretTom Jazz - Avenida Angélica nº 2331 – Higienópolis - (11) 3255-363511 e 12 de agosto - 22h - de R$ 30,00 a R$ 50,00
3) Na Selva das Cidades
São Paulo - 1º,2,3 de setembro (sexta a domingo) - sexta e sábado, 21 horas, domingo 19 horas. Teatro SESC Pinheiros - R. Paes Leme , 195 - Pinheiros - Telefone: 11 3095-9400
Santos (ou Ribeirão Preto) - 8 e 9 de setembro - sexta e sábado
Teatro SESC Salvador - 12 e 13 de setembro - terça e quarta.
Teatro Vila Velha - Avenida Sete de Setembro s\n – Passeio Público - Telefone: 71 3336-1384.Workshop - Teatro Vila Velha: 11 de setembro - segunda
Guaramiranga - (XIII Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga)15 de setembro – sexta - Teatro Municipal Rachel de Queiroz
Fortaleza - 16 de setembro – sábado - Theatro José de Alencar - Praça José de Alencar s/n - Centro - 85 252-2324 Workshop - SESC Fortaleza: 19 de setembro - terça
Brasília - (Cena Contemporânea - Festival Internacional de Teatro de Brasília) - 21 e 22 de setembro - quinta e sexta - Teatro Nacional - Sala Martins Penna. Workshop - Festival Cena Contemporânea: 21 de setembro - quinta.

terça-feira, 8 de agosto de 2006

Olhar, uma dica.

Uma boa dica para o leitor que gosta de bons textos, originalidade e principalmente fugir das visões unilaterias da mundo que nos cerca é o blog "Olhar".
Poesia e crítica instigam o visitante que participar. Critique, comente, analise, exponha suas idéias, mas não fique indiferente.

http://wallacecamargo.blogspot.com

Solidariedade à Cuba


Manifesto exige respeito à soberania de Cuba

Mais de 400 personalidades de todo o mundo, entre eles oito prêmios Nobel, assinaram um manifesto divulgado à imprensa nesta segunda-feira (7) no qual exigem que os Estados Unidos respeitem a soberania de Cuba. O texto também condena as crescentes ameaças contra a integridade territorial da ilha. Entre os signatários do manifesto estão os brasileiros Chico Buarque, Frei Betto e Oscar Niemayer, além de nomes como Eduardo Galeano, José Saramago, Ignacio Ramonet, Miguel Bonasso, Rigoberta Menchú, Desmond Tutu, Mario Benedetti e Noam Chomsky.O documento, intitulado ''A soberania de Cuba deve ser respeitada'', critica a postura de Washington diante do problema de saúde do presidente Fidel Castro, afastado há uma semana do poder para se recuperar de uma cirurgia abdominal. ''Devemos impedir a todo custo uma nova agressão'', defende o documento, levando em conta a crescente militarização da política externa norte-americana. Ao final, há o endereço de uma página na internet criada especialmente para propagar o manifesto e conquistar mais adesões.

Leia a íntegra do manifesto:
A soberania de Cuba deve ser respeitada"Desde que foi comunicado o estado de saúde de Fidel Castro e a delegação provisória de seus cargos, altos funcionários norte-americanos têm formulado declarações cada vez mais explícitas acerca do futuro imediato de Cuba. O secretário de Comércio Carlos Gutiérrez opinou que ''chegou o momento de uma verdadeira transição até uma verdadeira democracia'' e o porta-voz da Casa Branca Tony Snow disse que seu governo está ''pronto e ansioso para outorgar assistência humanitária, econômica e de outra natureza ao povo de Cuba'', o que acaba de ser reiterado pelo presidente Bush"."Já a ''Comissão por uma Cuba Livre'', presidida pela secretária de Estado Condoleezza Rice, havia destacado um informe em meados de junho ''a urgência de trabalhar hoje para garantir que a estratégia de sucessão do regime de Castro não tenha êxito'' e o presidente Bush sinalizou que este documento ''demonstra que estamos trabalhando ativamente por uma mudança de Cuba, não simplesmente esperando que isso ocorra''. O Departamento de Estado destacou que o plano inclui medidas que permanecerão secretas ''por razões de segurança nacional'' e para assegurar sua ''efetiva realização''."Não é difícil imaginar o caráter de tais medidas e da ''assistência'' anunciada se tem-se conta da militarização da política exterior da atual administração estadunidense e sua atuação no Iraque. Ante essa ameaça crescente contra a integridade de uma nação, a paz e a segurança na América Latina e no mundo, os abaixo-assinados exigimos que o governo dos Estados Unidos respeite a soberania de Cuba. Devemos impedir a todo custo uma nova agressão".

Para se aderir: www.porcuba.org

segunda-feira, 7 de agosto de 2006

Una mañana con Oscar Niemeyer

Fidel abrió las puertas al hombre nuevo

por PEDRO DE LA HOZ pedro.hg@granma.cip.cu


No es hombre de muchas palabras. Quizás nunca lo fue y prefirió levantar sueños del tamaño de catedrales y dibujar líneas que se convirtieran en edificios de belleza alucinante. Pero cada palabra suya pesa, como cuando dice: "El hambre del estómago solo se calma con el pan de justicia". O "el tiempo de los flojos no cuenta, solo el del coraje".
Niemeyer en su estudio carioca.

En una de las paredes de su estudio, sobre un fondo blanco, ha escrito de puño y letra: "Cuando la miseria se multiplica y la esperanza huye del corazón de los hombres, solo queda la Revolución".
Esa frase resume de algún modo el pensamiento y la acción de Oscar Niemeyer, leyenda mundial de la arquitectura del siglo XX, pero más que todo, como gusta él mismo definirse, "alguien muy convencido de que solo el hombre y la mujer serán plenos cuando conquisten la verdadera libertad".
Es invierno en Río de Janeiro y, salvo por el oleaje, no lo parece. La franja arenosa de Copacabana se halla poblada de bañistas expuestos al sol. En la Avenida Atlántica, que domina el litoral de la playa más famosa de Brasil, sobre lo alto de un adusto edificio, el Ypiranga, se halla el estudio del maestro. Amplios ventanales inundan el recinto de una luz pura y azul, una transparencia que mezcla aires de júbilo y melancolía, tal vez por saber que muy cerca de allí alguna vez Vinicius y Jobim quedaron extasiados ante la chica de Ipanema.
Para llegar al ático, desde el piso inferior, deben escalarse unos veinte peldaños. Todos los días, a media mañana, Niemeyer vence la distancia sin fatiga. Entre planos, reuniones, consultas, transcurre diariamente su jornada de trabajo: ocho, nueve, hasta diez horas, apenas interrumpidas por el almuerzo y el breve reposo que le sigue, no propiamente una siesta, sino un instante de recogimiento que ayuda a la digestión.
Pequeño de estatura, todavía macizo, de andar pausado pero firme; rostro cetrino en una cabeza fuerte y erguida. El próximo 15 de diciembre cumplirá 99 años.
"No pensé que iba a vivir tanto, pero le confieso que todavía es insuficiente. No acostumbro a mirar demasiado el pasado, prefiero esforzarme por lo que aún falta por hacer."
Dentro del estudio, donde comparte faenas con un grupo de colaboradores mediante una relación colectiva en la cual se advierte un clima camaraderil, el maestro ocupa un despacho sin lujos, marcado por recuerdos personales. Libros y carpetas trajinadas por el uso. Lápices y plumillas; fotos. Una de ellas con Luiz Carlos Prestes nos recuerda el escándalo de la burguesía brasileña al constatar cómo el ya notable arquitecto cedía su estudio al líder comunista para que habitara en este e instalara la sede del Partido, luego de salir de la cárcel en 1945.
Sede del Parlamento Latinoamericano en elMemorial de América Latina, fabulosa obra arquitectónicade Niemeyer en Sao Paulo.
Un par de horas con Niemeyer, entre cubanos y con la diligente mediación de Marilia Guimaraes, presidenta del Comité en Defensa de la Humanidad de Río de Janeiro, dista de ser una visita de cortesía. Se habla del emplazamiento de una obra suya, de carácter monumental en Cuba, del momento latinoamericano actual, de la creciente escalada imperialista a nivel mundial.
Tomo apresuradamente notas de la conversación, jirones de su pensamiento:
"Por naturaleza, el imperialismo nunca dejará de ser bárbaro. Usted lo está viendo en Palestina y el Oriente Medio. Ante la alianza de Estados Unidos e Israel, el mundo no puede permanecer impasible.
"América Latina está viviendo una hora muy especial. Tengo fe en los nuevos liderazgos que van surgiendo y en el resultado de los movimientos sociales. Pero la condición humana no se ha levantado todavía a la altura de lo que esperamos."
"Aquí en Brasil, Lula sigue siendo la mejor opción. A la gente le preocupan los estallidos de violencia, el crimen y la impunidad. Hay que pensar, sin embargo, en el origen de todo esto. Si no se va a las raíces del problema, nada resolveremos. Mientras exista la desigualdad, la degradación social y el hambre, habrá violencia.
"Yo creo que Cuba puede desarrollar mucho más su arquitectura, situarla a la altura del talento joven que ha ido cultivando la Revolución. No es solo un deseo; espero que la colaboración entre mi estudio y los arquitectos y estudiantes cubanos dé frutos. Espero verlos."
"El imperialismo no perdona a Cuba ni a Fidel. Pero esas medidas que Bush y su gente han aprobado contra ustedes, no le van a quitar el sueño a Cuba ni a Fidel.
"A la juventud le pido que lea, que aprenda por cabeza propia, que entienda el mundo que le rodea. Si se lee, se acaba por llegar a la verdad."
Al filo del mediodía, Niemeyer confiesa algunos de sus secretos de vida:
"Comer poco, tomar una copa de vino tinto y estar atento a todo. Trabajar mantiene la salud. Fumo cuatro o cinco tabaquitos por día, no absorbo el humo. Montecristi: esta muchacha (señala a Marilia) sabe que es mi marca favorita. Ah, y la compañía de una mujer."
Teme a los aviones como al mismísimo diablo. Ama las curvas, el samba, la amistad, el contacto con gente joven, los paisajes de su tierra.
¿Su personaje? No lo duda: "Fidel Castro. Ha hecho algo fantástico, le ha abierto las puertas al hombre nuevo".
Al despedirnos, la luz que se filtra en el estudio es mucho más intensa. Nos abraza y dice: "Viva Fidel".


NOMBRE: Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares.
FECHA DE NACIMIENTO: 15 de diciembre de 1907, en el barrio de Laranjeiras, Río de Janeiro. PROFESIÓN: Arquitecto. Graduado de la Escuela Nacional de Bellas Artes en 1935.
FAMILIA: Una hija, cinco nietos, nueve biznietos y tres tataranietos.
HECHO QUE MARCÓ SU VIDA PROFESIONAL: Haber sido discípulo del arquitecto suizo Le Corbusier.
CONCEPTO ARQUITECTÓNICO: "Me atrae la línea curva y sensual, la curva que encuentro en las montañas de mi país, en el curso sinuoso de los ríos, en la olas del mar, en el cuerpo de la mujer".
OBRAS SUYAS QUE HAN HECHO ÉPOCA: Pampulha, Belo Horizonte (1940); Palacio de Planalto y las principales edificaciones de Brasilia (1960); Sede del Partido Comunista de Francia, París (1967-71); Centro Cultural de Le Havre, Francia (1983); Memorial de América Latina. Sao Paulo (1989); Museo de Arte Contemporáneo de Niteroi (1996).

Não deixe de ver mais informações no sítio www.granma.cu
e de conferir matérias de extrema relevância e beleza no blog http://wallacecamargo.blogspot.com