sábado, 19 de agosto de 2006

Há 70 anos a Guerra Civil Espanhola adiava um sonho e matava um poeta


Hoje o dia amanheceu triste aqui no Sapê. O céu estava cinzento, o mormaço abrasava um calor que me parecia artificial. Estranhamente tudo transcorreu bem, apesar dos contratempos comuns àqueles que estão vivos. Mas havia algo errado e conforme o dia se despedia, o céu anunciava uma chuva que enfim chegou trazendo uma má lembrança. Hoje faz 70 anos que o poeta Federico García Lorca fora executado pelas garras assassinas do fascismo espanhol.
Em 1936 começava na Espanha uma espécie de ensaio para a Segunda Guerra Mundial. Os republicanos, eleitos democraticamente, compunham o governo que em 1931 derrubara a Monarquia, mas não havia conseguido sanar os problemas sociais. Um grande número de greves e manifestações explodiram, à direita e à esquerda, questionando o governo legal. Uma onda de violência assola a Espanha, marcando a história daquele país com sangue, sentimentos separatistas, arranjos políticos, pactos de governabilidade, num tempo de cólera, onde a Europa se armava há anos para dar continuidade ao insolúvel conflito da Primeira Guerra terminada em 1918. Nesse período entre guerras, o ultranacionalismo alemão e italiano paria uma abominável máquina de fazer cadáveres em nome da supremacia ariana e da pseudo pureza ideológica dos valores morais e nacionais daqueles que insistiam em burlar as regras eleitorais que eles mesmos criaram, mas que agora estavam à serviço dos seus desafetos.
O povo espanhol elegeu então uma aliança de esquerda – Frente Popular - e consolidava o socialismo na península ibérica e demarcando, do ponto de vista geopolítico, uma perigosa arquitetura estratégica nesse tempo onde a poesia de Lorca, de Neruda e tantos outros amainava as tensões acalentando as almas. Mas a Falange, grupo golpista liderado pelo fascista-facínora-general Francisco Franco ganha o apoio de Hitler e de Mussolini, respectivamente Alemanha e Itália, para colocar em prática a sua manobra de impedir a classe operária de atravessar as fronteiras do oeste europeu e assim, materializar o destino internacionalista do socialismo.
A esquerda espanhola contava com o apoio da URSS que financiou os republicanos até onde seus interesses cabiam. Pois os trotskistas do POUM (Partido Obrero de Unificación Marxista) e os anarquistas lutavam contra a falange de Franco, nas diversas frentes de batalha, aguardando em vão a ajuda soviética que não vinha mais desde a metade da guerra civil. Eu falei que o dia havia amanhecido triste e agora entendo a razão. O Primeiro Estado operário do mundo, orgulho da luta coletiva, utopia de Marx, Engels e de todos os trabalhadores e trabalhadoras que deram a vida por uma sociedade igualitária, engenharia de Lênin e Trotsky – incontestáveis comandantes da Revolução Russa, traía seus princípios e deixava morrer no campo de batalha, para deleite das assassinas mãos da falange, os camaradas espanhóis e de todos os cantos do mundo, que não eram stalinistas. A URSS havia ficado do tamanho da mediocridade. Stálin aguardava o desfecho das alianças da guerra mundial que se avizinhava e por isso não quis assustar as potências capitalistas do ocidente, esperando, quem sabe, pelo benévolo aceno da burguesia. Dessa forma, apertou o gatilho junto com os fascistas, na direção do peito e do sonho daqueles espanhóis que acreditaram e, por muito pouco não concretizaram, a libertação da classe trabalhadora.
Dessa forma morremos todos há 70 anos. Mas de todas as mortes, aquela que hoje fez chover foi a do poeta García Lorca. A tristeza da lembrança contrasta com o imponderável. Aquilo que vive eternamente na cabeça dos que insistem em reescrever a história um dia. Os corpos putrefatos que jazem, adubam a terra como as idéias que um dia semearam em vida. A água que cai hoje sobre esses restos mortos, nublam os olhos, despertam reflexões, mas enchem de esperança, pois a idéia de um mundo solidário e fraterno, sem patrões ou empregados, sem exploradores e explorados pululam nas cabeças dos que herdaram o legado imensurável dos imprescindíveis.
Lorca vive na sua obra e naquilo que contraditoriamente o fez sucumbir.

“Ousar lutar, ousar vencer”!

Uma boa dica para quem quer saber mais sobre o tema Guerra Civil Espanhola é assistir ao belíssimo filme Terra e Liberdade

TÍTULO DO FILME: TERRA E LIBERDADE (Land and Freedom)
ITALIA, ESPANHA, REINO UNIDO E ALEMANHA 1986
DIREÇÃO: Ken Loach
DURAÇÃO 109 minutos
ELENCO: Ian Hart, Rosana Pastor, Icíar Bollaín, Tom Gilroy e Marc Martinez
RESUMO: Em meados dos anos 30, David Carr deixa a cidade de Liverpool para lutar por seus ideais na Guerra Civil Espanhola. A Guerra, marcada pela polarização ideológica, uma das características que marcaram o período entreguerras, foi um dos acontecimentos mais marcantes da história do século XX.A crise desencadeada pela Primeira Guerra Mundial, aprofundada pela quebra da economia mundial após 1929, afetou praticamente todo o mundo, gerando grande desemprego e pobreza. Na Europa essa situação foi responsável pela "polarização ideológica", ou seja, pelo desenvolvimento das forças populares de esquerda e, ao mesmo tempo, das forças reacionárias fascistas.Na Espanha, essa situação foi responsável pela Guerra Civil, de 1936 a 39, quando um golpe militar, apoiado pelas forças de direita, provocou a divisão do país. O golpe, pretendia eliminar o regime republicano, instituído em 1931, responsável por uma série de reformas que desagradaram os setores mais conservadores do país, uma vez que os interesses de latifundiários e da Igreja Católica foram duramente atingidos.O conflito teve de um lado os republicanos apoiados pelos grupos de esquerda - comunista e anarquista -, em quanto de outro encontravam-se os grupos fascistas e os setores mais conservadores da cidade.Enquanto a Alemanha e Itália ajudaram diretamente os fascistas espanhóis, Inglaterra e França adotaram uma política de neutralidade. A principal ajuda material foi dada pela União Soviética, que enviou armas e assessores;no entanto, o grande destaque do lado republicano, foi a das "Brigadas Internacionais", grupos de voluntários de vários países, que foram combater na Espanha. No inicio de 1937, as Brigadas tiveram papel importante na vitória sobre tropas italianas.Em abril do mesmo ano, a aviação alemã, em apoio aos nacionalistas, bombardeou a cidade basca de Guernica.

quinta-feira, 10 de agosto de 2006

Aos que virão depois de nós


I.

Eu vivo em tempos sombrios.
Uma linguagem sem malícia é sinal de estupidez,
Uma testa sem rugas é sinal de indiferença.
Aquele que ainda ri é porque ainda não recebeu a terrível notícia.
Que tempos são esses,
Quando falar sobre flores é quase um crime.
Pois significa silenciar sobre tanta injustiça?
Aquele que cruza tranqüilamente a rua
Já está então inacessível aos amigos
Que se encontram necessitados?
É verdade: eu ainda ganho o bastante para viver.
Mas acreditem: é por acaso.
Nada do que eu faço
Dá-me o direito de comer quando eu tenho fome.
Por acaso estou sendo poupado. (Se a minha sorte me deixa estou perdido!)
Dizem-me: come e bebe!
Fica feliz por teres o que tens!
Mas como é que posso comer e beber,
Se a comida que eu como, eu tiro de quem tem fome?
Se o copo de água que eu bebo, faz falta a quem tem sede?
Mas apesar disso, eu continuo comendo e bebendo.
Eu queria ser um sábio.
Nos livros antigos está escrito o que é a sabedoria:
Manter-se afastado dos problemas do mundo
E sem medo passar o tempo que se tem para viver na terra;
Seguir seu caminho sem violência,
Pagar o mal com o bem,
Não satisfazer os desejos, mas esquecê-los.
Sabedoria é isso!Mas eu não consigo agir assim.
É verdade, eu vivo em tempos sombrios!

II.
Eu vim para a cidade no tempo da desordem,
Quando a fome reinava.
Eu vim para o convívio dos homens no tempo da revolta
E me revoltei ao lado deles.
Assim se passou o tempo
Que me foi dado viver sobre a terra.
Eu comi o meu pão no meio das batalhas,
Deitei-me entre os assassinos para dormir,
Fiz amor sem muita atenção
E não tive paciência com a natureza.
Assim se passou o tempo
Que me foi dado viver sobre a terra.

III.
Vocês, que vão emergir das ondas
Em que nós perecemos, pensem,
Quando falarem das nossas fraquezas,
Nos tempos sombrios
De que vocês tiveram a sorte de escapar.
Nós existíamos através da luta de classes,
Mudando mais seguidamente de países que de sapatos, desesperados!
Quando só havia injustiça e não havia revolta.
Nós sabemos:
O ódio contra a baixeza
Também endurece os rostos!
A cólera contra a injustiça
Faz a voz ficar rouca!
Infelizmente, nós,
Que queríamos preparar o caminho para a amizade,
Não pudemos ser, nós mesmos, bons amigos.
Mas vocês, quando chegar o tempo
Em que o homem seja amigo do homem,
Pensem em nós
Com um pouco de compreensão.

Bertold Brecht

Até quando?


Eduardo Galeano (*)


Em Canaã, onde Jesus converteu água em vinho para celebrar o amor humano, o ódio humano despedaça mais de 30 crianças num grande bombardeio. A guerra segue indiferente. Como de costume, dizem que foi um erro. Até quando os horrores continuarão sendo chamados de erros? (em espanhol errores, o que dá um sentido mais poético à frase).
Esta guerra, esta carnificina de civis, desencadeou-se a partir do seqüestro de um soldado israelita. Até quando o seqüestro de um soldado israelita poderá justificar o seqüestro da soberania palestina?
Até quando o seqüestro de dois soldados israelenses poderá justificar o seqüestro de todo o Líbano?
A caça aos judeus foi durante séculos o “esporte” favorito dos europeus. Em Auschwitz desembocou um antigo rio de espantos que havia atravessado toda a Europa. Até quando os palestinos e outros árabes seguirão pagando por crimes que não cometeram?
O Hezbollah não existia quando Israel arrasou o Líbano em suas invasões anteriores. Até quando continuaremos acreditando no conto do agressor agredido, que pratica o terrorismo porque tem direito de defender-se do terrorismo?
Iraque, Afeganistão, Palestina, Líbano, até quando poderemos seguir exterminando países impunemente?
As torturas de Abu Ghraib, que despertaram certo mal-estar universal, não têm nada de novo para nós, latino-americanos. Nossos militares aprenderam essas técnicas de interrogatório na Escola das Américas, que agora perdeu seu nome, mas não as suas manhas..
Até quando seguiremos aceitando que a tortura continue sendo legitimada, como o fez a Corte Suprema de Israel, em nome da legítima defesa da pátria?
Israel não deu ouvidos a 46 resoluções da Assembléia Geral da ONU e de vários outros organismos da ONU. Até quando o governo de Israel continuará exercendo o privilégio da surdez?
As Nações Unidas recomendam, mas não decidem. Quando decidem, a Casa Branca impede que decidam, porque tem direito de veto. A Casa Branca tem vetado no Conselho de Segurança quarenta resoluções que condenavam Israel. Até quando as Nações Unidas continuarão atuando como se fossem outro nome dos Estados Unidos?
Desde que os palestinos foram desalojados de suas casas e despojados de suas terras, correu muito sangue. Até quando o sangue continuará correndo para que a força justifique o que o direito nega?
A história se repete, dia após dia, ano após ano e para cada 10 árabes mortos, morre um israelense. Até quando a vida de cada israelense continuará valendo dez vezes mais?
Em proporção à população, os 50 mil civis, em sua maioria mulheres e crianças, mortos no Iraque, equivalem a oitocentos mil estadunidenses. Até quando continuaremos aceitando, como se fosse normal, a matança de iraquianos numa guerra cega que esqueceu os seus pretextos? Até quando continuará sendo normal que os vivos e os mortos sejam de primeira, segunda, terceira ou quarta categoria?
O Irã está desenvolvendo a energia nuclear. Até quando continuaremos acreditando que isso baste para provar que um país é um perigo para a humanidade? À chamada comunidade internacional, não causa angústia o fato de que Israel tenha 250 bombas atômicas, mesmo sendo um país que vive à beira de um ataque de nervos. Quem guia o perigosímetro universal? Teria sido o Irã o país que jogou as bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki?
Na era da globalização o direito de pressão pode mais que o direito de expressão. Para justificar a ocupação ilegal de terras palestinas, a guerra se chama paz. Os israelenses são patriotas e os palestinos são terroristas e os terroristas acionam o alarme universal. Até quando os meios de comunicação continuarão sendo medos de comunicação?
A matança atual, que não é a primeira e – temo – não será a última, ocorre em meio ao silêncio. O mundo estará mudo? Até quando continuarão soando em vão as vozes da indignação? Estes bombardeios matam crianças, mais de um terço das vítimas e às vezes mais do que isso, como em Canaã. Quem se atreve a denunciar isso é acusado de anti-semita. Até quando continuaremos sendo anti-semitas ao denunciar os crimes do terrorismo de Estado? Até quando aceitaremos essa extorsão? São anti-semitas os judeus horrorizados pelo que é feito em seu nome? São anti-semitas os árabes, tão semitas como os judeus? Por acaso não há vozes palestinas que defendem a pátria palestina e repudiam o hospício fundamentalista?
Os terroristas se parecem entre si: os terroristas de Estado, respeitáveis homens de governo, e os terroristas privados, que são loucos à solta ou loucos organizados desde os tempos da Guerra Fria contra o totalitarismo comunista. E todos atuam em nome de Deus, chame-se esse Deus Jeová ou Alá. Até quando seguiremos ignorando que todos os terrorismos desprezam a vida humana e que todos se alimentam mutuamente? Não é evidente que nesta guerra entre Israel e o Hezbollah, são os civis, libaneses, palestinos, israelenses, que entram com os mortos? Não é evidente que as guerras do Afeganistão e do Iraque e as invasões de Gaza e do Líbano são incubadoras do ódio, que fabricam fanáticos em série?
SOMOS A ÚNICA ESPÉCIE ANIMAL ESPECIALIZADA NO EXTERMÍNIO MÚTUO. Destinamos 2,5 milhões de dólares, por dia a gastos militares. A miséria e a guerra são filhas do mesmo pai: como alguns deuses cruéis, devora os vivos e os mortos. Até quando continuaremos aceitando que este mundo, apaixonado pela morte, é o nosso único mundo possível?

(*) Escritor e jornalista uruguaio, autor de As Veias Abertas da América Latina

Um homem a serviço da luta contra a opressão


CINQUENTENÁRIO BRECHT
50 anos da morte do dramaturgo alemão são lembrados em todo o Brasil
Estréias de peças, seminários, workshops, debates, shows e palestras ilustram a importância e a contribuição do dramaturgo alemão para a história do teatro e para a história da luta contra a opressão.
Eduardo Carvalho - Carta Maior

No próximo dia 14 de agosto, comemora-se o cinquentenário da morte de Bertold Brecht. A partir desta quinta-feira, 9 de agosto, uma série de estréias de peças, shows de música de seus espetáculos, seminários, workshops e debates marcam a data em todo o Brasil.Ugen Friedrich Bertolt Brecht nasceu em 10 de fevereiro de 1898 em Augsburgo, Baviera, Alemanha. Em 1913 começou sua produção literária, ainda na escola. Escrita em 1918 e encenada em 1923, Baal é considerada a primeira grande peça do dramaturgo e poeta na fase inicial de sua obra. A partir da peça Um homem é um homem (1926), Brecht começa a se interessar pelo estudo do marxismo e a aplicação no campo estético. No final dos anos 30, ele começa a teorizar sobre o teatro épico como de superação da forma dramática.
Com a ascensão de Adolf Hitler e a Segunda Guerra Mundial, Brecht partiu para o exílio em países da Europa e acabou por fixar-se nos Estados Unidos, onde foi perseguido pelo movimento anti-comunista conhecido como Macarthismo. Retornou à Alemanha em 1945 e trabalhou em seu teatro, o Berliner Ensemble, nos últimos oito anos de vida, até falecer em 14 de agosto de 1956. Sua obra teatral abrange 50 peças, dentre as quais se destacam Mãe Coragem, Galileu, Galilei, Santa Joana dos Matadouros e O círculo de giz caucasiano, que trata da questão da disputa pela terra e que estréia no dia 09, no CCBB-Rio, com a Companhia do Latão e fica em cartaz até 24 de setembro.
O CÍRCULO DE GIZ CAUCASIANO GANHA MONTAGEM NO RIO“Obra-prima do teatro moderno” é como o poeta e tradutor Manuel Bandeira define O círculo de giz caucasiano, ao traduzir este que é um dos mais consagrados textos do dramaturgo alemão. E é a versão de Bandeira que a Companhia do Latão, grupo brasileiro dedicado ao universo brechtiano, estréia a convite do próprio CCBB para homenagear o dramaturgo alemão que uniu arte e política deixando um legado fundamental para o teatro moderno, abordando questões pertinentes até os dias de hoje. A tradução de Bandeira para O círculo de giz caucasiano foi encenada pela última vez em 1963, pelo Teatro Nacional de Comédia (TNC). O círculo de giz caucasiano foi escrito no final da Segunda Guerra Mundial, durante o exílio de Brecht nos EUA, e aborda a discussão sobre a disputa de terras. Um grupo de agricultores e outro de criadores de cabras disputam a posse de um vale fértil, cuidado e defendido dos nazistas durante a guerra pelos agricultores. A questão chega a bom termo, dando lugar à uma fábula, a história do círculo de giz caucasiano, passada na Geórgia, sobre a disputa de uma criança.O espetáculo conta com a participação especial do grupo Filhos da Mãe Terra, formado por crianças e adolescentes do Movimento dos Sem Terra (MST), do assentamento Carlos Lamarca, localizado na região de Sarapuí, no interior de São Paulo. Eles estão no vídeo que é utilizado como prólogo da encenação. “Essa montagem tem o objetivo de repensar o legado artístico de Bertolt Brecht em relação ao Brasil atual”, pontua o diretor do espetáculo Sérgio de Carvalho. “Talvez o principal aspecto da forma épica criada por Brecht seja a historicização dos acontecimentos. Não se procura mostrar a vida como ela é, mas como não deveria ter se tornado. O público é quem realiza o sentido da cena ao pensar sobre os subterrâneos dos fatos observados, ao estabelecer o vínculo interrogativo entre uma história que se mostra incompleta e suas causas sociais e econômicas”, explica o diretor Sérgio de Carvalho.“Escolhi esse texto por ser um clássico e por discutir a questão da terra. Acho o momento perfeito para essa encenação”, observa Sérgio de Carvalho. A montagem envolve uma super-produção: elenco de 11 atores que se dividem em 50 personagens ao longo de 2h40, com intervalo; a montagem é permeada por 21 canções especialmente compostas por Martin Eikmeier; dois músicos estarão em cena tocando cello, piano, instrumentos orientais e rabeca.

Agenda de atividades sobre Brecht:

1) O círculo de giz caucasiano Bertolt Brecht, com a Companhia do Latão. Estréia dia 9 de agosto, às 19h, no Teatro III do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) – Rua Primeiro de Março, 66. Centro – RJ. Tel. Tel (21) 3808.2020. Ingressos: R$ 10,00. De quarta a domingo às 19h. Duração: 2h40. Temporada: De 10 de agosto a 24 de setembro. Classificação etária: 16 anos.
2) Cida Moreira - Aos Que Estão Por Vir – Um Concerto CabaretTom Jazz - Avenida Angélica nº 2331 – Higienópolis - (11) 3255-363511 e 12 de agosto - 22h - de R$ 30,00 a R$ 50,00
3) Na Selva das Cidades
São Paulo - 1º,2,3 de setembro (sexta a domingo) - sexta e sábado, 21 horas, domingo 19 horas. Teatro SESC Pinheiros - R. Paes Leme , 195 - Pinheiros - Telefone: 11 3095-9400
Santos (ou Ribeirão Preto) - 8 e 9 de setembro - sexta e sábado
Teatro SESC Salvador - 12 e 13 de setembro - terça e quarta.
Teatro Vila Velha - Avenida Sete de Setembro s\n – Passeio Público - Telefone: 71 3336-1384.Workshop - Teatro Vila Velha: 11 de setembro - segunda
Guaramiranga - (XIII Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga)15 de setembro – sexta - Teatro Municipal Rachel de Queiroz
Fortaleza - 16 de setembro – sábado - Theatro José de Alencar - Praça José de Alencar s/n - Centro - 85 252-2324 Workshop - SESC Fortaleza: 19 de setembro - terça
Brasília - (Cena Contemporânea - Festival Internacional de Teatro de Brasília) - 21 e 22 de setembro - quinta e sexta - Teatro Nacional - Sala Martins Penna. Workshop - Festival Cena Contemporânea: 21 de setembro - quinta.

terça-feira, 8 de agosto de 2006

Olhar, uma dica.

Uma boa dica para o leitor que gosta de bons textos, originalidade e principalmente fugir das visões unilaterias da mundo que nos cerca é o blog "Olhar".
Poesia e crítica instigam o visitante que participar. Critique, comente, analise, exponha suas idéias, mas não fique indiferente.

http://wallacecamargo.blogspot.com

Solidariedade à Cuba


Manifesto exige respeito à soberania de Cuba

Mais de 400 personalidades de todo o mundo, entre eles oito prêmios Nobel, assinaram um manifesto divulgado à imprensa nesta segunda-feira (7) no qual exigem que os Estados Unidos respeitem a soberania de Cuba. O texto também condena as crescentes ameaças contra a integridade territorial da ilha. Entre os signatários do manifesto estão os brasileiros Chico Buarque, Frei Betto e Oscar Niemayer, além de nomes como Eduardo Galeano, José Saramago, Ignacio Ramonet, Miguel Bonasso, Rigoberta Menchú, Desmond Tutu, Mario Benedetti e Noam Chomsky.O documento, intitulado ''A soberania de Cuba deve ser respeitada'', critica a postura de Washington diante do problema de saúde do presidente Fidel Castro, afastado há uma semana do poder para se recuperar de uma cirurgia abdominal. ''Devemos impedir a todo custo uma nova agressão'', defende o documento, levando em conta a crescente militarização da política externa norte-americana. Ao final, há o endereço de uma página na internet criada especialmente para propagar o manifesto e conquistar mais adesões.

Leia a íntegra do manifesto:
A soberania de Cuba deve ser respeitada"Desde que foi comunicado o estado de saúde de Fidel Castro e a delegação provisória de seus cargos, altos funcionários norte-americanos têm formulado declarações cada vez mais explícitas acerca do futuro imediato de Cuba. O secretário de Comércio Carlos Gutiérrez opinou que ''chegou o momento de uma verdadeira transição até uma verdadeira democracia'' e o porta-voz da Casa Branca Tony Snow disse que seu governo está ''pronto e ansioso para outorgar assistência humanitária, econômica e de outra natureza ao povo de Cuba'', o que acaba de ser reiterado pelo presidente Bush"."Já a ''Comissão por uma Cuba Livre'', presidida pela secretária de Estado Condoleezza Rice, havia destacado um informe em meados de junho ''a urgência de trabalhar hoje para garantir que a estratégia de sucessão do regime de Castro não tenha êxito'' e o presidente Bush sinalizou que este documento ''demonstra que estamos trabalhando ativamente por uma mudança de Cuba, não simplesmente esperando que isso ocorra''. O Departamento de Estado destacou que o plano inclui medidas que permanecerão secretas ''por razões de segurança nacional'' e para assegurar sua ''efetiva realização''."Não é difícil imaginar o caráter de tais medidas e da ''assistência'' anunciada se tem-se conta da militarização da política exterior da atual administração estadunidense e sua atuação no Iraque. Ante essa ameaça crescente contra a integridade de uma nação, a paz e a segurança na América Latina e no mundo, os abaixo-assinados exigimos que o governo dos Estados Unidos respeite a soberania de Cuba. Devemos impedir a todo custo uma nova agressão".

Para se aderir: www.porcuba.org

segunda-feira, 7 de agosto de 2006

Una mañana con Oscar Niemeyer

Fidel abrió las puertas al hombre nuevo

por PEDRO DE LA HOZ pedro.hg@granma.cip.cu


No es hombre de muchas palabras. Quizás nunca lo fue y prefirió levantar sueños del tamaño de catedrales y dibujar líneas que se convirtieran en edificios de belleza alucinante. Pero cada palabra suya pesa, como cuando dice: "El hambre del estómago solo se calma con el pan de justicia". O "el tiempo de los flojos no cuenta, solo el del coraje".
Niemeyer en su estudio carioca.

En una de las paredes de su estudio, sobre un fondo blanco, ha escrito de puño y letra: "Cuando la miseria se multiplica y la esperanza huye del corazón de los hombres, solo queda la Revolución".
Esa frase resume de algún modo el pensamiento y la acción de Oscar Niemeyer, leyenda mundial de la arquitectura del siglo XX, pero más que todo, como gusta él mismo definirse, "alguien muy convencido de que solo el hombre y la mujer serán plenos cuando conquisten la verdadera libertad".
Es invierno en Río de Janeiro y, salvo por el oleaje, no lo parece. La franja arenosa de Copacabana se halla poblada de bañistas expuestos al sol. En la Avenida Atlántica, que domina el litoral de la playa más famosa de Brasil, sobre lo alto de un adusto edificio, el Ypiranga, se halla el estudio del maestro. Amplios ventanales inundan el recinto de una luz pura y azul, una transparencia que mezcla aires de júbilo y melancolía, tal vez por saber que muy cerca de allí alguna vez Vinicius y Jobim quedaron extasiados ante la chica de Ipanema.
Para llegar al ático, desde el piso inferior, deben escalarse unos veinte peldaños. Todos los días, a media mañana, Niemeyer vence la distancia sin fatiga. Entre planos, reuniones, consultas, transcurre diariamente su jornada de trabajo: ocho, nueve, hasta diez horas, apenas interrumpidas por el almuerzo y el breve reposo que le sigue, no propiamente una siesta, sino un instante de recogimiento que ayuda a la digestión.
Pequeño de estatura, todavía macizo, de andar pausado pero firme; rostro cetrino en una cabeza fuerte y erguida. El próximo 15 de diciembre cumplirá 99 años.
"No pensé que iba a vivir tanto, pero le confieso que todavía es insuficiente. No acostumbro a mirar demasiado el pasado, prefiero esforzarme por lo que aún falta por hacer."
Dentro del estudio, donde comparte faenas con un grupo de colaboradores mediante una relación colectiva en la cual se advierte un clima camaraderil, el maestro ocupa un despacho sin lujos, marcado por recuerdos personales. Libros y carpetas trajinadas por el uso. Lápices y plumillas; fotos. Una de ellas con Luiz Carlos Prestes nos recuerda el escándalo de la burguesía brasileña al constatar cómo el ya notable arquitecto cedía su estudio al líder comunista para que habitara en este e instalara la sede del Partido, luego de salir de la cárcel en 1945.
Sede del Parlamento Latinoamericano en elMemorial de América Latina, fabulosa obra arquitectónicade Niemeyer en Sao Paulo.
Un par de horas con Niemeyer, entre cubanos y con la diligente mediación de Marilia Guimaraes, presidenta del Comité en Defensa de la Humanidad de Río de Janeiro, dista de ser una visita de cortesía. Se habla del emplazamiento de una obra suya, de carácter monumental en Cuba, del momento latinoamericano actual, de la creciente escalada imperialista a nivel mundial.
Tomo apresuradamente notas de la conversación, jirones de su pensamiento:
"Por naturaleza, el imperialismo nunca dejará de ser bárbaro. Usted lo está viendo en Palestina y el Oriente Medio. Ante la alianza de Estados Unidos e Israel, el mundo no puede permanecer impasible.
"América Latina está viviendo una hora muy especial. Tengo fe en los nuevos liderazgos que van surgiendo y en el resultado de los movimientos sociales. Pero la condición humana no se ha levantado todavía a la altura de lo que esperamos."
"Aquí en Brasil, Lula sigue siendo la mejor opción. A la gente le preocupan los estallidos de violencia, el crimen y la impunidad. Hay que pensar, sin embargo, en el origen de todo esto. Si no se va a las raíces del problema, nada resolveremos. Mientras exista la desigualdad, la degradación social y el hambre, habrá violencia.
"Yo creo que Cuba puede desarrollar mucho más su arquitectura, situarla a la altura del talento joven que ha ido cultivando la Revolución. No es solo un deseo; espero que la colaboración entre mi estudio y los arquitectos y estudiantes cubanos dé frutos. Espero verlos."
"El imperialismo no perdona a Cuba ni a Fidel. Pero esas medidas que Bush y su gente han aprobado contra ustedes, no le van a quitar el sueño a Cuba ni a Fidel.
"A la juventud le pido que lea, que aprenda por cabeza propia, que entienda el mundo que le rodea. Si se lee, se acaba por llegar a la verdad."
Al filo del mediodía, Niemeyer confiesa algunos de sus secretos de vida:
"Comer poco, tomar una copa de vino tinto y estar atento a todo. Trabajar mantiene la salud. Fumo cuatro o cinco tabaquitos por día, no absorbo el humo. Montecristi: esta muchacha (señala a Marilia) sabe que es mi marca favorita. Ah, y la compañía de una mujer."
Teme a los aviones como al mismísimo diablo. Ama las curvas, el samba, la amistad, el contacto con gente joven, los paisajes de su tierra.
¿Su personaje? No lo duda: "Fidel Castro. Ha hecho algo fantástico, le ha abierto las puertas al hombre nuevo".
Al despedirnos, la luz que se filtra en el estudio es mucho más intensa. Nos abraza y dice: "Viva Fidel".


NOMBRE: Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares.
FECHA DE NACIMIENTO: 15 de diciembre de 1907, en el barrio de Laranjeiras, Río de Janeiro. PROFESIÓN: Arquitecto. Graduado de la Escuela Nacional de Bellas Artes en 1935.
FAMILIA: Una hija, cinco nietos, nueve biznietos y tres tataranietos.
HECHO QUE MARCÓ SU VIDA PROFESIONAL: Haber sido discípulo del arquitecto suizo Le Corbusier.
CONCEPTO ARQUITECTÓNICO: "Me atrae la línea curva y sensual, la curva que encuentro en las montañas de mi país, en el curso sinuoso de los ríos, en la olas del mar, en el cuerpo de la mujer".
OBRAS SUYAS QUE HAN HECHO ÉPOCA: Pampulha, Belo Horizonte (1940); Palacio de Planalto y las principales edificaciones de Brasilia (1960); Sede del Partido Comunista de Francia, París (1967-71); Centro Cultural de Le Havre, Francia (1983); Memorial de América Latina. Sao Paulo (1989); Museo de Arte Contemporáneo de Niteroi (1996).

Não deixe de ver mais informações no sítio www.granma.cu
e de conferir matérias de extrema relevância e beleza no blog http://wallacecamargo.blogspot.com

quarta-feira, 2 de agosto de 2006

Cuba antes de Fidel

Em 1989, acreditando que o efeito dominó chegaria ao Caribe, toda a imprensa internacional – inclusive a equipe da TV Globo – foram a Havana, se instalaram no Habana Libre – crendo que voltaria a se chamar Habana Hilton -, para esperar, em frente ao Malecón, que caísse o regime socialista. Afinal Cuba só existia e sobrevivia, em meio a uma miséria que a imprensa ocidental caracterizava como infernal, com uma ditadura que faria da Ilha um “goulag tropical”, devido à ajuda soviética. Quando a URSS, o chamado “campo socialista” e a economia internacional planejada de que fazia parte Cuba, desapareciam do dia para a noite, como efeito de carambola, o socialismo tropical daria lugar ao retorno dos exilados de Miami e tudo voltaria a ser como nos tempos de Batista.Naqueles tempos, Cuba era o “pátio traseiro” dos EUA, o itinerário preferido das férias dos estadunidenses, de locação dos filmes melosos de Holywood, dos cassinos onde os gangsters do norte estabeleciam suas ramificações mais sujas. A ponto de que, no final da segunda guerra, depois que a máfia italiana ajudou os “defensores da democracia ocidental” a desembarcarem na Sicília para derrotar o regime fascista de Mussolini, os capos realizaram uma espécie de congresso internacional no Hotel Nacional, em Havana, para reorganizar seu lucrativo comércio em escala internacional, redividindo os novos mercados e acertando suas diferenças. Al Capone, doente, não pôde comparecer, mas todos os outros estavam ali. Chamaram um jovem e promissor cantor branco estadunidense, chamado Frank Sinatra, para que cantasse para eles. Durante o congresso houve uma greve dos funcionários do hotel, por atraso no pagamento dos funcionários. Os mafiosos quitaram todos os salários atrasados e a paz social voltou a reinar no hotel, que foi visitado pelo então presidente de Cuba, para congratular-se com aquele evento internacional de prestigiosos empresários ligados ao grande vizinho do norte.O primeiro vôo internacional da Pan American (se lembram dela?) foi para Havana. Os novos modelos de automóveis estadunidenses eram primeiro testados no “pátio traseiro”. Os marinheiros dos EUA se comportavam em Havana como se o país inteiro fosse um “prostíbulo” – conforme as belíssimas descrições dos poemas de Nicolas Guillén. Um vasto plano de construção de uma rede de hotéis, conectados diretamente com cassinos e prostituição, estava pronto para ser colocado em prática, com recursos que incluíam participação de gente como Richard Nixon, o próprio Sinatra, entre outros.“Y en eso llegó Fidel/Se acabó la diverson/Llegó el comandante y mandó a parar” – como passaram a cantar os cubanos por lá. Não poderia deixar de ser, a partir dali, a vítima preferida do ódio dos yankees. Ainda mais quando, acreditando nas suas lendas, pensaram que poderiam derrubar o novo regime, com a invasão de Baia dos Porcos, que contaria – segundo a imprensa “livre” do norte – com a vontade de sublevação, para se tornarem de novo “livres”, do povo cubano. A aventura agressiva durou 72 horas, o povo se levantou, sob a direção de Fidel, mas contra os invasores, Cuba se declarou socialista, os presos estadunidenses foram humilhantemente trocados com o governo de John Kennedy por remédios e compotas para crianças.Em “Little Havana”, do outro lado do oceano, se refugiaram os burgueses e contra-revolucionários derrotados, a curtir suas amarguras, a votar pelos republicanos, a sonhar com um passado que não volta mais, a acordar com pesadelos de que o socialismo cubano veio para ficar. Dez presidentes dos EUA disseram, sucessivamente que iam derrubar o regime cubano, todos se foram embora derrotados, sem pena nem glória.Cuba socialista e Fidel, sobreviveram a tudo e a todos. Centenas de atentados foram realizados, mas aí também fracassou o império. Até o fim do campo socialista foi superado por Cuba. Os recentes acordos estratégicos com a Venezuela e a Bolívia, no marco da Alba, os acordos com a China, a descoberta do petróleo em Cuba, fazem com que o regime se consolide ainda mais, supere as dificuldades do chamado “período especial”, desde o fim da URSS e retome os avanços para a construção do socialismo.Assim era Cuba antes de Fidel. E assim ficou com Fidel: o único país do mundo em que não há ninguém abandonado, sem proteção social, dormindo nas ruas. O primeiro pais do mundo a terminar com o analfabetismo. O único país do mundo que pode se orgulhar de ter um mínimo de 9 anos de escolaridade para toda sua população. O único que tem um sistema de saúde universal, que atende gratuitamente a toda sua população, com a melhor saúde pública do mundo. O país que desafiou o império a pouco mais de 100 quilômetros da maior potencia bélica da história da humanidade, afirmou sua soberania e sua vontade de construir uma sociedade justa e solidária – uma socialista anti-capitalista, uma sociedade socialista.
Emir Sader
Texto extraído do blog do Emir. Acesse www.cartamaior.com.br

Ousou lutar e venceu


A guerra fria ainda não acabou. A América latina vive ainda hoje, e de forma raivosa, sob os efeitos de uma guerra dissimulada, sórdida e acobertada pelo monopólio das comunicações.
Desde de 1959 a autodeterminação do povo cubano optou por um país livre das amarras do imperialismo estadunidense que transformava aquela ilha num quintal dos interesses dos EUA. A Revolução de Fidel, Raúl, Che, Camilo e do povo cubano, fez de Cuba um território de resistência, e o medo da “cubanização” do restante da América Latina, justificou invasões militares como em Granada, El Salvador, Nicarágua, e ainda patrocinou ditaduras militares como na Argentina, no Chile, no Brasil...E o que vemos hoje, tal como ontem, é a tentativa de se inverter a dicotomia liberdade Vs tirania.
Nesse 1º de Agosto de 2006 o comandante em chefe Fidel Castro Ruz se licenciou de suas tarefas no comando de Cuba, para fazer às pressas uma cirurgia.
E foi tudo o que precisavam os canais de informação de massa do mundo ocidental. Mostraram a “fragilidade” do Presidente cubano quando levou um tombo em 2003, a “debilidade” de sua saúde quando num discurso em 2002 na praça da revolução quase desmaiou. Mas nada foi mais patético que a festa dos cubanitos de Miami comemorando a “saída” de Fidel temporariamente.
O que poucos veículos colocaram no ar, foi o apoio do povo cubano a Raúl Castro, irmão de Fidel e figura importantíssima na arquitetura ideológica da Revolução de 59 e a solidariedade à Fidel com os votos de regresse logo, pois sabe aquele povo o valor de um processo revolucionário que destruiu um dos tentáculos do neocolonialismo na América latina.
Para nós, expostos ao monopólio da informação de meia dúzia de redes internacionais, vale a reflexão: O que é democracia? O que é ditadura? O que é ser tirano? Qual sistema deve acabar? E comparemos a pequena Cuba com o gigante EUA. Qual dos dois tem um presidente que é sustentado pela indústria bélica? Qual dos dois bate no peito e se orgulha de ter sido o governante que mais matou em seu estado quando fora governador? Qual dos dois invade o Oriente Médio com a empáfia de se auto declarar o paladino da democracia? Qual dos dois patrocinou ditaduras sangrentas na América latina, África e Ásia? Qual dos dois mantém no cargo uma mulher que compara a guerra de Israel contra o Líbano a um “parto necessário para o Oriente Médio”, pois estaria nascendo ali uma nova democracia? Qual dos dois manteve negócios de Petróleo com Osama Bin Laden? Qual dos dois “criou” Sadam Hussein para combater a URSS? Qual dos dois sistemas não só não resolveu o problema da fome como acentuou? Qual dos dois sistemas acredita no consumo como fundamento para o progresso? Qual dos dois sistemas faz da educação pouco acessível a maior parte da população?...
Que Fidel errou nesses anos de governo em Cuba, não duvido. Que Fidel se distanciou do marxismo algumas vezes em nome do isolamento, tampouco. Mas que Cuba ousou dar um passo à frente do restante do planeta, me parece claro.
Por isso, vida longa a Revolução Cubana! Que Fidel volte logo para ver seu povo o apoiando e possa fazer uma transição, ao estilo democrático cubano, e dessa forma, calar mais uma vez a boca de todos que estão a serviço do imperialismo.

"Ousar lutar, ousar vencer!"

segunda-feira, 31 de julho de 2006

Quintana por Quintana


Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão. Há ! mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas... Aí vai ! Estou com 78 anos, mas sem idade. Idades só há duas : ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a eternidade.
Nasci do rigor do inverno, temperatura : 1 grau; e ainda por cima prematuramente, o que me deixava meio complexado, pois achava que não estava pronto. Até que um dia descobri que alguém tão completo como Winston Churchill nascera prematuro – o mesmo tendo acontecido a Sir Isaac Newton ! Excusez du peu..Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que nunca acho que escrevi algo à minha altura. Porque poesia é insatisfação, um anseio de auto-superação. Um poeta satisfeito não satisfaz. Dizem que sou tímido. Nada disso, sou é caladão, introspectivo. Não sei por que sujeitam os introvertidos a tratamentos. Só por não poderem ser chatos como os outros ?
Exatamente por execrar a chatice, a longuidão, é que eu adoro a síntese. Outro elemento da poesia é a busca da forma (não da fôrma), a dosagem das palavras. Talvez concorra para esse meu cuidado o fato de ter sido prático de farmácia durante 5 anos. Note-se que é o mesmo caso de Carlos Drummond de Andrade, de Alberto de Oliveira, de Érico Veríssimo – que bem sabem (ou souberam) , o que é a luta amorosa com as palavras.
porMario Quintana.
Ontem, dia 30 de Julho de 2006, cuja madrugada registrou a temperatura mais alta desse inverno do mesmo jeito de há 100 anos, no mesmo Rio Grande do Sul de há 100 anos, comemoramos o centenário do poeta das coisas simples.
Durante a vida teve a sensibilidade de entender e nos ensinar que "amar é quando a nossa alma muda de casa". E num outro verso, quando as coisas não iam bem e os anos de chumbo traziam truculência e insensibilidade, com a ferocidade de uma corte por papel, ele sentenciou: "... eles passarão, eu passarinho."

sexta-feira, 28 de julho de 2006

ALCA NÃO! UMA OUTRA AMÉRICA É POSSÍVEL.

A Área de Livre comércio da América tem como discurso “oficial” e ideológico, a tentativa de se firmar uma área comercial que abrangeria as três Américas, tornando-as competitivas em tempos de globalização, onde grandes blocos econômicos são montados para disputar mercados.
Não precisamos de grandes reflexões para imaginar que dentro do continente americano, os EUA capitalizam através de sua hegemonia política e econômica a importância máxima das ações, e que sendo assim, a ALCA seria um realinhamento dos países do continente aos interesses estadunidenses.
A estratégia política dos EUA para a América Latina e o Caribe, tem como principal objetivo manter o controle geopolítico e estruturar um organismo das Américas que legitime a intervenção militar norte-americana, por isso que entregar a base militar de Alcântara, no Maranhão, faz parte deste processo. Lembremos que o Maranhão é o penúltimo Estado brasileiro banhado pelo mar antes da região amazônica, o que o torna um grande portal para os mais obscuros interesses de nossas riquezas, e não tenhamos a inocência de achar que isto não é vender soberania.
Em segundo lugar, os EUA procuram alinhar a política externa dos países latino-americanos com sua política e contam com seu apoio para suas iniciativas nos organismos internacionais ou fora deles. Desta maneira o Consenso de Washington é o grande responsável por definir políticas para a América Latina, África e Ásia ocidentalizada.
E em terceiro lugar, sua estratégia procura manter regimes democráticos, ou não, que garantam a liberdade de ação dos interesses estadunidenses, sabendo que o conceito de democracia para país tão soberbo passa muito mais por instituições burguesas sólidas do que por acabar com a fome, o analfabetismo, a mortalidade infantil, coisas que toda sua empáfia não conseguiu dar respostas convincentes.
É óbvio também que o espírito intervencionista dos EUA, se hoje se encarna na ALCA, no passado já vestiu outras roupagens. Basta viajarmos no tempo e descermos nos anos posteriores da independência dos EUA, quando o Presidente James Monroe lança uma ousada doutrina – Doutrina Monroe – que se “solidariza” com todo movimento de independência de qualquer país da América que desejasse expulsar os “opressores” europeus: “A América para os americanos”. E é aí que William Evarts, secretário de Estado dos EUA (1877 – 1881), em reunião com financistas e dignitários mexicanos em Nova York, lança uma “pérola” que parece antever o futuro, explicando o que seria a tal Doutrina Monroe:

“A América para os americanos. Ora, eu proporia com prazer um aditamento: para os americanos, sim, senhores, entendamo-nos, para os americanos do norte (aplausos). Comecemos pelo nosso caro vizinho, o México, de que já comemos um bocado em 1848. Tomemo-lo (risos). A América central virá depois, abrindo nosso apetite para quando chegar a vez da América do sul. Olhando para o mapa, vemos que aquele continente tem a forma de um presunto. Uncle Sam é bom de garfo; há de devorar o presunto (aplausos e risos demorados). Isto é fatal, isto é apenas questão de tempo”.
Extraído do livro A Ilusão Americana, de Eduardo Prado (1894), que frisava esta “premonição” no maior estilo capitalismo selvagem, zombando com toda possibilidade de aliança ou crédito ou complacência, e ainda acrescentando: “ ... entre gargalhadas dos americanos e sorrisos amarelos dos mexicanos”.

Ah! Se os mexicanos não apenas tivessem sorrido amarelo. Ah! Se desde ali tivéssemos imposto condições. Mas ainda há tempo! Não podemos negociar nossa soberania. Não podemos aceitar mais uma vez passíveis, que escolham nossos caminhos. Não podemos aceitar calados sem indignação que entrem em nossas casas, montem regras, executem essas regras para no final apenas concedermos “sorrisos amarelos”. Não podemos ficar calados mesmo que isto custe sanções, pois será que já não é hora de transformarmos sanções em independência? Será que não estamos mais que atrasados e nesse sentido dar nosso “grito de liberdade” e ao mesmo tempo iniciar nosso próprio parque industrial?
A Área de Livre COLONIALISMO da América é a versão recente da exploração travestida de modernidade e só será concebida se consentirmos com nosso silêncio aterrorizante, e os povos da América devem fazer valer o velho sonho de unidade sim – a Panamérica – mas que esta unidade não seja articulada por outra via que não a do crescimento dos países deste maravilhoso e rico continente com o objetivo de solucionar a fome, a miséria, a preservação cultural, a valorização dos povos indígenas e afro-americanos, a inclusão social e a criação de uma sociedade justa, fraterna e igualitária.

A Hydra

Era assim que eu a via. Uma Hydra. Alusão ao mitológico monstro de duas cabeças que eternizava suas contradições na alegoria bizarra de um corpo sustentando duas personalidades.
Uma cabeça se chamava Olga à outra Camélia. O corpo belíssimo projetava desejos para muito além da análise psico-sociológica e desmentia a versão monstruosa da mitologia original.
Olga era uma revolucionária, cheia de sonhos, nascida num mundo injusto e necessitado do calor de suas teorias e da veemência de suas práticas. Era apaixonante. Suas ações coincidiam com seu estilo de vida. Seus conceitos morais eram reflexos da mulher guerreira que fazia questão de panfletar onde quer que fosse. Era cítrica, mas não amarga. Sua militância extrapolava os dogmas sisudos do velho stalinismo burocrático. A utopia, guardava nas entranhas e visceralmente transpirava o desabrochar de uma sociedade fraterna e igualitária. A mulher que desenhava em sua bandeira não podia aceitar nenhum tipo de sujeição e a luta pela liberdade muitas vezes se confundia com o feminismo deslocado temporalmente dos anos 60, mas não era amazona. Tinha o brilho no olhar das grandes personalidades. Ao falar entoava o canto nobre daqueles que pensam no coletivo e depois em si e isso a tornava sedutora. Era uma pequeno-burguesa. Mas sua consciência de classe residia na operária, que chacoalhava num trem suburbano que entre uma estação e outra se compadecia ante uma criança que vendia seus doces no vagão escondido do guarda, que constrangido fingia não ver o menino e sua explícita pobreza. Não tinha namorado, tinha companheiro. Mostrava a face independente de uma mulher que muitas vezes era distorcido pela figura inócua da rudeza. Mas era agridoce. E o que a movia nesse mundo de paradigmas difusos pós-moderno era o amor. O amor à causa, o amor à vida, o amor ao socialismo. Seus conceitos, formados e consolidados ao longo de trinta anos não admitia uma série de concessões políticas, profissionais, passionais e assim levava a vida essa grande mulher. Corpo esbelto, silhueta delgada, estatura média e coração fragilizado por uma arritmia sem maiores conseqüências, mas que expirava cuidados. Coluna pinçada, dores intermitentes e má vontade para a fisioterapia. Da alma vinha o fogo que movia a racionalidade na direção da utopia e assim, alimentava sua esperança, que alimentava seus projetos, num balé cíclico, que podia durar a vida toda, se necessário fosse, mas não removia dela suas mais sinceras virtudes.
Camélia, a outra cabeça da hydra, repousava no mesmo corpo. Que sustentava ainda um par de olhos que falava tanto quanto sua portadora. Não sabia se fazia uma tatuagem no pescoço ou na panturrilha. Era doce, mas não melosa. Queria colo, cuidados e uma vida estável. Sonhava. Imaginava-se casada e intuía um marido. Queria falar de amor e recitar poesia. Imaginava andar de mãos dadas admirando um crepúsculo e depois deitar na areia para contar as estrelas. Desejava ser mais que uma companheira ou uma companhia, queria falar besteiras e tomar sorvete, comer comida vegetariana ou chinesa e andar trôpega de rir por nada. Abrir uma garrafa de vinho apenas pelo ritual, mesmo que nenhum dos dois a bebesse. Sentar à margem de uma fogueira para afugentar o frio e contar os medos de infância. Lembrar dos desenhos animados e dos personagens que mais marcaram, e rir dos episódios repetidos à exaustão do Tom e Jerry ou do Pica-pau. Rememorar o quanto era cruel o Rin-Tin-Tin que só entrava em ação para caçar os índios da parte norte da nossa América e o quão obeso era o Batman das primeiras séries enlatadas que importávamos. Queria se permitir politicamente incorreta às vezes, para não parecer igual a todo mundo que quer ser diferente. Queria matar o trabalho um dia inteiro para não fazer nada sozinha ou com alguém que quisesse estar. Imaginava ter alguns luxos, que não ferisse a consciência de Olga, mas queria fazê-lo sem dor na própria carne. Era Ibérica, como todo o continente que vivia e evocava seus ícones. Queria acreditar no infinitude do amor, mas insistia em reafirmar para si mesma que tudo acabaria um dia. Imaginava-se feliz. Vivia só, mas não suportava a solidão e muitas vezes a companhia ininterrupta de Olga com seus preceitos racionais. Pensava em si não como um ser estanque da sociedade, mas como um indivíduo com necessidades diferentes das outras pessoas, o que lhe desvendava como singular. Exalava amor e queria ser amada na amplitude que essa palavra exige e com a incondicionalidade daqueles que se imaginam envelhecendo juntos. Era igualmente linda a sua outra metade. Tinha valores morais mais flexíveis e isso era perturbador. Gostava de crianças, embora que por pouco tempo de convivência. Usava óculos. Tinha na face o desenho da pura beleza, aquela que não agride, mas existe. Era frágil, não por ser mulher, mas por ser humana e assim imaginava um afago, um ombro, um beijo. Tinha um grande amor, que suas memórias hão de ruminar e pô-lo em algum lugar de sua história, seja no passado ou no futuro.
Hydra, fera, Frhydra, bela ainda. A fortuna roda, gira como moenda e faz da vida sua natureza de inevitabilidade. No Olimpo, os deuses reunidos resolveram te testar e assim Hera mandou-te um feitiço: “se envolverás com o primeiro ‘bem arrumadinho’ que aparecer e terás que lutar com todas as forças para que uma cabeça não destrua a outra.” Os dados foram jogados e Einstein tinha razão. Olga resolvera o problema com a singeleza de uma análise de conjuntura, pois sabia que tal paixão, geraria encantamento, mas tinha que ser logo cortado, pois mexia com sua moral feminista-revolucionária. Camélia, confirmando as pretensões de Hera, saíra a campo na defesa de uma paixão que deve ser vivida, afinal nossa passagem pela terra é tão breve e os momentos podem se transformar em relações mais consistentes.
Um turbilhão de pensamentos povoa a mente dessa Hydra que oscila entre o céu e o inferno cristão e pede ajuda aos semi-deuses que lhe acompanham em suas crença diárias. Ouve falar nas tentações dos amores frustrados e o feitiço de Hera não passava de uma projeção refletiva de sua relação doente com Zeus, a mando de um ser terreno e possessivo que, num pacto de amor eterno, queria outras aventuras e não permitia isso a mulher-de-duas-cabeças e vários sonhos.
Ícaro lhe emprestou as asas para se sobrepor a esses ardis causados pela incessante disputa de nossas consciências. Falou-lhe sobre os amores e sobre a felicidade. Disse que lá de cima pode se ver o sol e o mar e que suas grandezas representavam a dimensão de que a vida tem sobre nós. Deu-lhe força para seguir viagem e voar bem alto, pois os grandes sonhos residiam nas mais altas nuvens. Assegurou-lhe que sua experiência anterior fez trocar a cera que colava as asas por uma solda, mas que os tombos são sempre o destino da humanidade. Cair é normal, não viver quando se deseja, não.
Tezeu emprestou para a moça um mapa de mil labirintos e falou-lhe que os minotauros não existem mais. As frivolidades dos tempos modernos os transformaram em padrão de beleza com seus corpos definidos e suas cabeças irracionais. Os minotauros se juntaram a Narciso e foram cultuar suas imagens em lojas de ferros delineadores de músculos e músicas estridentemente repetitivas, nada aconselhável para epiléticos.
Vênus, por fim, apenas fitou-a. E naquele olhar gritou que a paixão se transforma em amor e que o amor se transforma em infinito, enquanto dure. E que a duração é tempo e que o tempo é relativo, mas a vida passa num ritmo mais acelerado do que desejávamos, portanto viver é imperativo.

Do Chile para o mundo e o sonho de transformá-lo



A palavra
Pablo Neruda

... Sim Senhor, tudo o que queira, mas são as palavras as que cantam, as que sobem e baixam ... Prosterno-me diante delas... Amo-as, uno-me a elas, persigo-as, mordo-as, derreto-as ... Amo tanto as palavras ... As inesperadas ... As que avidamente a gente espera, espreita até que de repente caem ... Vocábulos amados ... Brilham como pedras coloridas, saltam como peixes de prata, são espuma, fio, metal, orvalho ... Persigo algumas palavras ... São tão belas que quero colocá-las todas em meu poema ... Agarro-as no vôo, quando vão zumbindo, e capturo-as, limpo-as, aparo-as, preparo-me diante do prato, sinto-as cristalinas, vibrantes, ebúrneas, vegetais, oleosas, como frutas, como algas, como ágatas, como azeitonas ... E então as revolvo, agito-as, bebo-as, sugo-as, trituro-as, adorno-as, liberto-as ... Deixo-as como estalactites em meu poema; como pedacinhos de madeira polida, como carvão, como restos de naufrágio, presentes da onda ... Tudo está na palavra ... Uma idéia inteira muda porque uma palavra mudou de lugar ou porque outra se sentou como uma rainha dentro de uma frase que não a esperava e que a obedeceu ... Têm sombra, transparência, peso, plumas, pêlos, têm tudo o que ,se lhes foi agregando de tanto vagar pelo rio, de tanto transmigrar de pátria, de tanto ser raízes ... São antiqüíssimas e recentíssimas. Vivem no féretro escondido e na flor apenas desabrochada ... Que bom idioma o meu, que boa língua herdamos dos conquistadores torvos ... Estes andavam a passos largos pelas tremendas cordilheiras, pelas .Américas encrespadas, buscando batatas, butifarras*, feijõezinhos, tabaco negro, ouro, milho, ovos fritos, com aquele apetite voraz que nunca. mais,se viu no mundo ... Tragavam tudo: religiões, pirâmides, tribos, idolatrias iguais às que eles traziam em suas grandes bolsas... Por onde passavam a terra ficava arrasada... Mas caíam das botas dos bárbaros, das barbas, dos elmos, das ferraduras. Como pedrinhas, as palavras luminosas que permaneceram aqui resplandecentes... o idioma. Saímos perdendo... Saímos ganhando... Levaram o ouro e nos deixaram o ouro... Levaram tudo e nos deixaram tudo... Deixaram-nos as palavras.
*Butifarra: espécie de chouriço ou lingüiça feita principalmente na Catalunha, Valência e Baleares. (N. da T.)
Pablo Neruda, pseudônimo de Neftalí Ricardo Reyes Basoalto, nasceu a 12 de julho de 1904, em Parral, no Chile. Prêmio Nobel de Literatura em 1971, sua poesia transpira em sua primeira fase o romantismo extremo de Walt Whitman. Depois vieram a experiência surrealista, influência de André Breton, e uma fase curta bastante hermética. Marxista e revolucionário, cantou as angústias da Espanha de 1936 e a condição dos povos latino-americanos e seus movimentos libertários. Diplomata desde cedo, foi cônsul na Espanha de 1934 a 1938 e no México. Desenvolveu intensa vida pública entre 1921 e 1940, tendo escrito entre outras as seguintes obras: "La canción de la fiesta", "Crepusculario", "Veinte poemas de amor y una canción desesperada", "Tentativa del hombre infinito", "Residencia en la tierra" e "Oda a Stalingrado". Indicado à Presidência da República do Chile, em 1969, renuncia à honra em favor de Salvador Allende. Participa da campanha e, eleito Allende, é nomeado embaixador do Chile na França. Outras obras do autor: "Canto General", "Odas elementales", "La uvas y el viento", "Nuevas odas elementales", "Libro tercero de las odas", "Geografía Infructuosa" e "Memorias (Confieso que he vivido — Memorias)". Morreu a 23 de setembro de 1973 em Santiago do Chile, oito dias após a queda do Governo da Unidade Popular e da morte de Salvador Allende.Com este texto homenageamos o poeta pela passagem de seu 100º aniversário.
Do livro "Confesso que Vivi — Memórias", Difel — Difusão Editorial — Rio de Janeiro, 1978, pág. 51, traduzido por Olga Savary, extraímos o texto acima.