sábado, 7 de maio de 2011

Ditadura Militar no Brasil (1964 - 85)


Cap. 1 - Questões internas



- Como vamos começar o trabalho? - perguntou Bia juntando suas folhas.


- Humm, acho que com uma introdução de como a Ditadura teve início. - Júlia disse.


- Tá, pode ser. Você fala e eu anoto. - sorriu.


- Você não sabe como começar não é Bia? - Júlia lançou um olhar de total rejeição para Bia. - Muito bem.. Essa história toda começa quando Jânio renuncia e Jango assume o poder. Como Jango era populista e de esquerda, preocupava aos conservadores brasileiros, como a elite, a igreja, etc; que o presidente fizesse alguma coisa muito drástica. Por isso, já indignados com as propostas de Jango, como as de reformas de base, os conservadores organizaram uma manifestação chamada "Marcha da Família com Deus pela Liberdade", contra Jango. O governo de Jango se encontrava em um momento tenso e crítico, e no dia 31 de março, tudo isso explodiu. Quando as tropas de Minas e de São Paulo foram para as ruas, Jango saiu do país para evitar uma guerra e isso fez com que os militares assumissem o poder.


- Tá. Então foi isso que gerou o início da Ditadura.


- É. Você pediu pro senhor Sergio contar sobre a ditadura? - perguntou Júlia.


- Aham. Eu filmei tudinho. Toma. - Bia entregou um DVD para Júlia. Elas colocaram a gravação para rodar [...]



- Pronto! Já está gravando. - Bia se sentou no sofá que estava em frente à poltrona em que Sergio estava sentado. - Pode começar.


- Tudo bem... - começou Sergio. Ele tinha a voz rouca e desgastada, o que provava que já a tinha usado muito, e que também era bem velho. Além disso, Sergio era cego de um olho. - Eu nasci em 1943. No ano de 1964, quando a ditadura começou, eu tinha 19 anos. O primeiro militar a assumir o poder foi.. O Castelo Branco.


"A data em que os militares chegaram ao poder é dita como dia 31 de março. Mas eu me lembro.. Eu me lembro que nesse dia, as pessoas ainda estavam caminhando sobre a tênue linha que decidiria seus destinos. E eu me lembro, que foi somente no dia 1º de abril, que essa linha foi cortada.


Para a classe média, aquele foi um dia de festa. Pessoas se abraçavam, choravam e bebiam nos bares, comemorando aliviadas o "fim da desordem".


Mas as pessoas simples, trabalhadores que suavam a camisa para conseguir o pão de cada dia.. Esses estavam com medo. Medo pelo que teriam de encarar dali para frente. E meus pais eram um deles..


Naquele tempo de ditadura, os militares eram diferenciados entre Linha Dura e Linha Moderada. Castelo foi um dos considerados linha moderada. Durante o governo dele, ocorreram várias cassações políticas. Os soldados prendiam milhares de pessoas, dentre elas; intelectuais, professores, alunos, jornalistas e até mesmo ex-presidentes como JK e Jango. Outra figura muito importante na época que foi cassada foi Luíz Carlos Prestes e claro, todos os comunistas. A ordem era silenciar toda e qualquer oposição ao regime militar. Tudo isso, com o total apoio das classes conservadores, inclusive da Igreja.


Com a ditadura, veio também a necessidade de criar novos meios de comandar o país. E isso gerou o nascimento dos Atos Institucionais. O primeiro deles, o AI-1 pôs um fim nas eleições para Presidência e para Governadores, tornando-as indiretas; além disso houve o fim das eleições para prefeitos de cidades estratégicas, porque assim ficava mais fácil para os militares controlarem essas cidades mais importantes, o poder de fechar a qualquer momento que o Congresso Nacional e o fim do pluripartidarismo."


- O fim do pluripartidarismo seria... - Bia interrompeu.


- Depois que os militares tinham feito as cassações políticas de "limpeza", só dois partidos, vamos dizer assim, restaram. Um deles era a ARENA e o outro o MDB, que era um tipo de oposição permitida. Ou seja, eles não representavam nenhum tipo de perigo para os militares.


- Ahhh, entendi. Ok, pode continuar. - Bia afirmou.


- Certo.. Também existiam as censuras. Censuras eram o meio que a ditadura tinha de filtrar as coisas que queriam falar mal dela. Tudo que pudesse difamar o governo de alguma forma, era censurado na hora. Mas, ainda no governo de Castelo, essa censura era mais branda e amadora. Depois, ela fica bem pior...


"Quando não era mais interessante que Médici, um linha moderada, ficasse no poder, ele foi retirado e em seu lugar entrou Costa e Silva, que era um linha dura.


No governo de Costa e Silva, a violência cresceu e consequentemente as prisões, torturas e mortes também se tornaram mais frequentes. Uma das maiores atrocidades cometida durante o governo dele, foi o caso do Édson Luís..


Eu estava lá naquele dia. Estávamos todos comendo calmamente no Calabouço, um restaurante frequentado por estudantes, quando os militares entraram. Estavam fazendo uma procura por, comunistas e pessoas suspeitas. Todos eles estavam armados e nos mandaram fazer silêncio. Claro que o pânico tomou conta do ambiente. Édson Luís era um estudante, assim como eu e meus amigos. Eu sabia dizer que o garoto era novo ali, porque a maioria dos rostos que vemos todos os dias, guardamos. O dele não, o dele era novidade. E foi justo com ele que aconteceu: No momento em que os militares entraram, Édson Luís se assustou e deu um pulo pra se levantar. Quando ele se levantou, um dos militares, que parecia tenso e despreparado, se assustou também..." - Os olhos de Sergio adquiriram um brilho diferente. Uma tristeza que não podia ser definida. Aquela, era a tristeza de uma pessoa que tinha presenciado uma morte inesperada. Naquela época, matar um jovem não era comum. Era algo berrante. - E quando o soldado se assustou.. Ele atirou no garoto, o Édson Luís...


- .... - Bia ficou alguns segundos em silêncio - E... O que aconteceu.. Depois..? - Ela perguntou incentivando Sergio a falar já que parecia que ele estava preso as lembranças do passado.


- Todos ficaram paralizados. Ninguém teve uma reação. Nem nós, nem os militares. Estávamos surpresos e espantados demais por termos visto o assassinato de um jovem completamente inocente. - O brilho nos olhos de Sergio mudaram de triste para indignados e raivosos - Mas nós protestamos. Nós fizemos o possível para que a morte daquele garoto, fosse reconhecida como um absurdo. E que os militares entendessem que isso tinha que parar.


"Mas... reação gera reação. Na missa do 7º dia na catedral da Candelária, os militares tiveram sua vingança. No meio da missa, começou a se ouvir o andar de cavalos. Muitos cavalos. E depois mais um barulho aqui e ali, cada vez mais perto da Candelária. Nisso, o padre interrompeu a missa e pediu para que todos se retirassem com calma porque o óbvio estava provado: eles estavam cercados. Quando o padre saiu, seguido de várias outras pessoas, ele percebeu que não tinha escapatória. A saída tinha sido fechada num caminho em V e as pessoas só conseguiriam passar por ali. A cada grupo de pessoas que saíam, um grupo de militares ia lá para puni-los. E nisso valia tudo. Chutes, pisões, pedradas, tiros.. Tudo. Foi uma confusão terrível. Eu não estava lá naquele dia, mas eu soube apenas pelas histórias e comentários de uns amigos, e pelo cadáver de outros...


E de novo, reação gera reação. Se os militares foram mais violentos, os jovens também responderiam com mais violência ainda. E foi o que fizemos. No episódio que ficou conhecido como Sangrento, estudantes fizeram uma manifestação que terminou com muitas mortes, feridos, presos e viaturas da polícia incendiadas.


Depois de tanta confusão por causa desse episódio, os militares acabaram permitindo que os estudantes fizessem uma manifestação. Essa manifestação foi chamada de Passeata dos Cem Mil por ter sido uma das maiores manifestações da história brasileira. A passeata foi organizada pela UNE, mas contou também com diferentes tipos de pessoas como artistas, intelectuais, etc.


Os militares estavam numa situação crítica e se aquilo continuasse, eles iam acabar perdendo o controle da situação. Se é que eles ainda tinham algum.


Mas nem mesmo com todas essas manifestações e insatisfações populares, os militares pararam. Pelo contrário, eles só ficaram ainda piores. As passeatas e os jovens "desordeiros" seriam silenciados diretamente com as armas de fogo. Não importava o quanto fosse tenebroso ou quantas mortes fossem ser causadas, o importante era, mais uma vez, silenciar toda e qualquer oposição.


Mas os militares precisavam de uma desculpa para lançar sua cartada final. E para isso, utilizaram o caso do discurso de um deputado do MDB, que recomendou que as mulheres não namorassem, casassem ou sequer se relacionassem com militares que estavam envolvidos com as atrocidades da ditadura.


Tendo o caso como pretexto, no dia 13 de dezembro de 1968, que por sinal era uma sexta-feira, o Ato Institucional nº 5, o AI-5, saiu. Ele foi um dos piores métodos de repressão já lançados. Com o AI-5, o militar que estivesse no poder poderia fazer quase qualquer coisa que quisesse, na hora que quisesse. Dentre as várias outras coisas, o AI-5 trouxe consigo: O fim do habeas corpus, suspensão dos direitos e liberdades individuais, poder de invadir casas e prender pessoas sem ter mandatos, a pena de morte, etc.


Quando Costa e Silva saiu do poder por causa de toda a crise política gerada por seu governo, Médici, outro linha dura, assume.


Se a ditadura já era ruim antes, imagina isso em dobro agora.”


- Pôôô! Em dobro?! - Bia se espantou - Tem coisa pior do que o que já aconteceu??


- As pessoas achavam que não, que tudo aquilo já tinha sido demais. Mas os militares conseguiram achar uma forma de piorar. E no caso de Médici foi o que aconteceu. Ele usou muito o AI-5, o que fez da vida das pessoas um caos total. Além disso, as censuras, antes amadoras e brandas, agora eram mais profissionais, qualificadas e claro, mais insuportáveis.


“Com isso, os intelectuais, artistas e outras pessoas contra a ditadura, tiveram que qualificar ainda mais os seus métodos de 'bater na ditadura'. As metáforas se tornaram mais complexas e o duplo sentido das coisas, mais escondido.


A partir daí também começaram algumas medidas para distrair o povo e desviar a atenção da ditadura, para o entretenimento. A Copa do mundo de 70 foi um exemplo disso. Uma das melhores seleções. Quando o Brasil ganhou a copa, a euforia foi grande.


Outra coisa que fez relativo sucesso naquela época e que servia como meio para alienar as pessoas, eram as músicas produzidas pela jovem guarda. Inclusive, tiveram grupos de pessoas que tentaram combater a alienação que essas músicas proporcionavam.


Além disso, também se criou a pornochanchada que descobriu alguns atores e atrizes que estão na fama desde aquele tempo. A pornochanchada também era outro modo de desviar a atenção do povo e aliená-los.


Apesar disso a resistência, até por meio da luta armada, não deixava de acontecer. As pessoas sentiam a repressão. E, principalmente os jovens, lutavam contra ela.


Existiam dois grupos diferentes que lutavam contra a repressão da ditadura militar. Aqueles que pegavam em armas, e aqueles que usavam a 'Luta Cultural', dando porrada na ditadura por meio da música, da poesia, da arte, do teatro, do cinema, etc. Os festivais eram bem populares e eram onde grandes pensadores e artistas mostravam suas obras. A MPB e o Samba eram bastante usados para lutar contra a ditadura também.


Em 1974, Costa e Silva foi substituído por Geisel. Apesar de ser considerado um Linha moderada, Geisel fez uso do AI-5 e por isso, também tinha alguma coisa de linha dura.


Surpreendentemente, o MDB, começou a ganhar muitos votos e a representar um perigo para a Arena. Isso porque durante as propagandas políticas do MDB, os candidatos em vez de fazer sua propaganda política, cantavam músicas, por exemplo. Não uma música qualquer. Músicas que eram usadas na Luta Cultural. E o que começou a acontecer foi que, quem entendia, votava no MDB. Desse jeito, eles foram ganhando muito mais atenção, tanto dos eleitores, quanto da Arena.


E foi aí que Geisel intercedeu, fazendo uso do AI-5, criando a Lei Falcão. Essa lei dizia que durante as propagandas políticas, os candidatos não poderiam.. Fazer sua propaganda política. Uma foto 3x4 do candidato seria mostrada e suas propostas, seriam lidas por um locutor. Isso, claro, foi uma armação. A propaganda eleitoral se tornava chata e maçante, por isso, as pessoas paravam de prestar atenção depois de algum tempo. A armação foi: Todos os candidatos pertencentes à Arena eram colocados primeiro e só no final, quando já não tinha mais ninguém prestando atenção, mostravam-se os candidatos do MDB.


Depois da Lei Falcão, Geisel utilizou novamente o AI-5 e lançou o Pacote de Abril que determinava que a Constituição poderia ser alterada com apenas metade dos votos dos participantes do Congresso e que parte dos senadores passariam a ser escolhidos indiretamente pelas Assembléias Legislativas. Com isso, a Arena ganhou grande vantagem e já tinha sua vitória contra o MDB, garantida.


E em 1978, Geisel decretou o fim do AI-5, principal motivo pelo qual ficou conhecido como linha moderada, e o que causou um alívio geral muito grande. Se ver livre do AI-5, um dos maiores causadores de repressões e medo, era uma felicidade.


Depois do fim do AI-5 e com a saída de Geisel do poder, Figueiredo, em 1979, assumiu o governo.


Ele era linha moderada, e era um presidente muito polêmico. Eu me lembro que ele dizia que preferia o cheiro dos cavalos ao cheiro do povo.."


- Que pessoa bizarra.. - comentou Bia. - E o que aconteceu durante o governo de Figueiredo?


- Ele criou a Lei da Anistia que permitia que políticos, artistas e outros brasileiros exilados, retornassem ao Brasil. Já os militares de Linha Dura continuavam querendo a repressão. E fizeram uma contra-ofensiva: lançaram uma bomba no Rio Centro e colocaram cartas-bombas em órgãos como a OAB, entre outras coisas.


“Naqueles últimos anos da ditadura, grande parte da população fez parte da campanha das 'Diretas Já!' em que garantiria eleições diretas para presidente naquele ano.


Mesmo com toda a euforia, a campanha não foi aprovada e as pessoas ficaram decepcionadas.


Mesmo assim, depois da última eleição indireta, a ditadura finalmente teve um fim."


- Nossa... - Bia suspirou - Ainda bem que as coisas se ajeitaram e a ditadura acabou.


Sergio balançou a cabeça lentamente em forma de negação. - Engano seu. A ditadura pode até ter acabado, mas as coisas jamais se ajeitarão. Vão ficar pra sempre marcada nas almas daqueles que já morreram, e no corpo e coração de quem ainda vive. As cicatrizes da ditadura são tão grandes, que nada parece poder curá-las. - Sergio completou com aquele olhar distante.




Cap. 2 - Questões externas



- Caham - Júlia pigarreou - Então está bem. Só o que falta é vermos qual era a situação externa enquanto a ditadura ocorria aqui.


- Sim. Vamos lá. - Bia se levantou e pegou algumas coisas em seu caderno. As duas estavam estranhamente quietas. A ditadura nunca vai poder ser apagada da memória das pessoas. Foi um período tão tenebroso que não tem mais volta. Isso foi o que Sergio tinha dito. E isso era a verdade que ninguém conseguia não perceber.


- Aqui está Bia. - entregou um papel pra ela - Lê em voz alta.


- Durante o governo de Costa e Silva, os EUA deram um apoio consolidado à ditadura militar. Depois da ameaça de ter o país quase governado por Jango, que poderia levar o Brasil para o lado dos comunistas; era favorável para os americanos bancarem a ditadura para ter um maior controle sobre a situação. Com a Guerra Fria, os EUA não podiam arriscar perder mais algum país, principalmente os que mais chamavam a atenção dele na América, para o socialismo.


"Quando Geisel deixou o poder, os EUA já não estavam mais bancando a ditadura aqui na América. E isso foi um dos fatores determinantes para maiores crises surgirem. Naquele momento, os olhos dos americanos estavam focados no Oriente Médio, por causa do Petróleo e da crise mundial que estava acontecendo em volta dele.


Dessa forma, não só a ditadura no Brasil enfraqueceu, como também todas aquelas que estavam na América Latina e que tiveram o apoio dos EUA, retirados."


- Okay, é isso.


- Terminamos certo?! - perguntou Bia.


- Sim. Agora junta tudo e põe na mochila. Amanhã a gente entrega pro professor.


Nacional:


Era dia 1º de abril de 1964, todos os jornais anunciavam: Humberto Castelo Branco assume o governo, João Goulart perde o poder para os militares. Estava começando ali a ditadura militar. Um golpe covarde, pensei. Tomar o poder dessa maneira. Roubar covardemente o poder de um covarde. Tivessem feito isso com Getúlio, isso sim seria uma surpresa. Pouco sabia eu que esse ato de covardia ainda me surpreenderia muito.


O novo presidente diria futuramente que aquilo era apenas uma ditadura temporária, que brevemente teríamos novas eleições. Não vi o temporária da ditadura e nem o breve das eleições. A partir daquele momento se seguiriam longos 21 anos de repressão, torturas, mãos calando bocas, jovens criando novas bocas para falar. A partir daquele momento se seguiram, talvez, os 21 anos mais turbulentos da história do Brasil república.


Admito que não sabia se Castelo Branco havia mentido por mal. Não sabia nem se ele mesmo sabia do monstro que estava se criando em suas costas. Talvez Castelo Branco fosse só um boneco controlado por algo mais poderoso, assim como muitos outros que assumiriam depois dele. A verdade é que de nada sabia. Eu era apenas mais um jovem, no auge dos meus 20 anos, que nem sabia se algo mudaria. Acreditem: mudou.


O governo de Castelo Branco foi relativamente tranquilo se comparado ao que viria a seguir. Foi um dos chamados "linha moderada" da ditadura. Durou 3 anos, mais do que o próprio achava que duraria. Naquela época ainda não existia uma censura tão rigorosa, mas para não deixar nada mal entendido, enfatizo o relativo que botei antes do tranquilo. Nenhum momento da ditadura foi tranquilo, principalmente para os jovens, como eu, da UNE (união nacional dos estudantes, para os poucos conhecedores de nossa história) .


A UNE, onde jovens tinham ideias sempre saltando, onde o desejo de mudar o mundo era sempre crescente e onde aceitar não era uma palavra bem vinda, essa UNE, lutava ativamente contra a ditadura. Receber algo imposto, para nós que tínhamos acabado de conquistar a "liberdade" era completamente inadmissível. Nós lutávamos, íamos às ruas , GRITÁVAMOS, queríamos o que era nosso por direito, queríamos reinventar o nosso direito. O problema é que naquela época reinventar não era permitido. Lutar não era permitido. Naquela época, nós não éramos permitidos. Fomos perseguidos. E além de nós muitos outros foram. Uma espécie de limpeza do comunismo na política. Personalidades como JK, Jânio, Brizola e Prestes foram incansavelmente cassados.


Mas não parava por ai. Castelo Branco fez questão de ir um pouco mais além. Criou 4 atos institucionais (AIs) que introduziam o Brasil no terror que estava por vir. Esses atos declaravam o fim das eleições para presidente, governadores e prefeitos de cidades estratégicas, davam ao presidente o poder de fechar o Congresso Nacional e acabavam com o pluripartidarismo, iniciando o bipartidarismo, onde a oposição perdia todo o seu poder. De um lado estava o partido da situação, dos militares, a ARENA. Do outro estava a RIDICULA oposição consentida, o MDB.


Mas parece que Castelo Branco não estava agradando. Os militares aplicaram um golpe contra seu próprio presidente. Em 1967 Castello Branco saia do poder e entrava Costa e Silva.


Se Castelo Branco pudesse ser chamado de ruim pelo que fez seu sucessor Costa e Silva não tinha adjetivos. Era a própria encarnação do terror. Parece que Castelo Branco não estava satisfazendo com toda essa sua "bondade" (que por sinal só os militares viam). Parece que eles queriam alguém mais rigoroso. Pois bem: conseguiram, e de brinde levaram várias revoltas. Junto com a entrada de Costa e Silva, iniciava-se a "linha dura" da ditadura.


As revoltas, claro, foram 98% por culpa deles. Levando em conta que em março de 1968 um estudante foi morto sem motivo nenhum em pleno refeitório, posso afirmar que para os protestos não faltava motivo.


Esse estudante morto era Édson Luis, vindo do Nordeste para buscar melhor educação. Ele só queria oportunidades como nós tínhamos. Pouco ele sabia do que rolava aqui no Rio, de todas essas perseguições. Em um dia comum, indo almoçar, como ele iria pensar que o refeitório iria ser invadido por policiais. Nenhum de nós imaginaríamos. Édson não saberia como agir em uma situação dessas. Nunca teria nem se imaginado em uma situação dessas. Pois é, Édson não soube agir. E sua "atitude suspeita", ou talvez até falta de atitude, aliada a falta de experiência de um jovem policial, levaram à sua morte, e ao inicio de uma época de revoltas, mortes, mortes, mais mortes. Os estudantes estavam começando a pegar em armas.


O primeiro sinal de protesto ao caminho que a ditadura estava tomando foi a missa de 7º dia de Édson na igreja da Candelária, onde eu, como muitos outros estudantes da UNE, estava presente. O lugar estava lotado, abarrotado de gente chocada, revoltada, inconformada. Por todo o lado se viam cartazes dizendo: "Bala mata fome?", "Os velhos no poder, os jovens no caixão" e "Mataram um estudante. E se fosse seu filho?". O clima era de revolta. A missa foi realizada tranquilamente, algo que me pareceu estranho. A estranheza durou pouco. Assim que começamos a sair da igreja vimos que os militares começaram a formar um corredor, como um funil. "Recuem, recuem aqui ninguém passa!" Era isso que ouvíamos. Quando chegávamos ao seu final a maioria de nós era agredido. O saldo de feridos foi gigante. Via meus braços sangrando, via meus amigos apanhando e não sabia o que fazer. Parece que nenhum deles sabia também. Pensei apenas em sair rapidamente dali. Naquele dia nós nos revoltávamos, mas ainda éramos poucos, ainda éramos NADA.


Voltamos para casa com sede de vingança. Fazíamos curativos pensando na hora de refazê-los. Queríamos SIM ir a luta, queríamos SIM ir às ruas, queríamos SIM ter voz.


Em uma sexta fomos as ruas. Na mesma sexta, sujamos as ruas. Mais uma tentativa de protesto foi controlada. Controlada, acabada, morta, como você preferir. O sangue de muitos de nós que fomos às ruas protestar ficou na rua. "Lavou as ruas ". A sexta-feira Sangrenta mostrou que os militares não estavam ali para brincar. Nós queríamos mostrar que também não estávamos. Queríamos afastar de vez esse CALE-SE que teimava em reinar no pais.


É certo que muita gente não enxergava a situação do Brasil. É certo que muita gente preferia se iludir por meio da nojenta mídia de musicas, filmes e artes babacas que rolavam por ai. É certo que muita gente queria aceitar que aquilo era bom. É certo que muita gente se deixava iludir. Era certo para nós, mostrar que os cegos não eram maioria. Queríamos mostrar, que ainda tinha gente ai querendo enxergar. E querer, para nós, significava poder, custasse o que custasse.


No dia 26 de junho de 1968, as 14h, fomos novamente as ruas, em um protesto que havia sido consentido, talvez por culpa dos corpos que caíram mortos na sexta-feira sangrenta. O protesto foi vigiado por mais de 10mil policiais e contava com a presença de artistas, religiosos e intelectuais, personalidades raramente vistas nesses eventos. Antes do protesto começar nosso líder Vladimir Palmeira falou para todos:


"Pessoal, a gente é a favor da violência quando ela é aplicada para fins maiores. No momento, ninguém deve usar a força contra a Policia, pois a violência é própria das autoridades, que tentam por todos os meios calar a voz do povo. Somos a favor da violência quando, através de um processo longo, chegar a hora de pegar nas armas. Aí, nem a policia, nem qualquer outra força repressiva da ditadura, poderá deter o avanço do povo."


Iniciamos o protesto com 50 mil pessoas, mas o número rapidamente se duplicou. Vínhamos todos pelas ruas, impondo respeito. Paramos em frente a candelária para lembrar de Édson Luis. Ouvimos novamente belas palavras de nosso líder.


"Este lugar tem um significado muito grande para nós. Na missa de Édson, foi aqui que fomos violentamente reprimidos. Hoje o panorama é diferente. Prova de que a potencialidade de luta popular é maior do que as forças da repressão. Hoje damos uma demonstração de força e de fraqueza ao mesmo tempo. Temos força para retomar a praça, mas ainda não podemos tomar o poder que eles usurparam."


Seguíamos pelas ruas carregando nossa grande faixa: "Abaixo a Ditadura. O Povo no poder". Estávamos sentindo que finalmente, tínhamos alguma voz. Passavam das cinco da tarde quando queimamos uma bandeira americana em frente do Palácio Tiradentes. Ali mesmo Vladimir retomou a palavra para encerrar a manifestação num tom de advertência, dizendo:


"Voltaremos sempre para exigir nossos direitos. Pacificamente, se não formos reprimidos pela Polícia. Agressivamente, se tentarem nos agredir, como fizeram algumas vezes.”


Ao fim do protesto dois lideres estudantis foram falar com o presidente, pedindo a liberação dos estudantes presos e o fim da censura. Uma grande ousadia, que não levou a nada. No dia 2 de agosto, nosso líder, Vladimir Palmeira foi preso. Logo em seguida, outros 650 estudantes foram para a cadeia. No dia 4 mais 300 alunos foram detidos em São Paulo. Nesse mesmo mês, o governo militar proibiu qualquer manifestação pública no país, o que gerou a prisão e mortes de vários outros estudantes. Nesse momento, comecei a pensar comigo mesmo e com meus colegas: Até onde isso iria?



Não precisamos pensar muito. Logo não iria mais a lugar nenhum. Já tínhamos chegado. Como aumento da repressão foi criado o AI5 .


O AI5 era chamado por muitos como o mais terrível dos AIs, e tinha motivos para ser chamado assim. Esse ato tirava todos os nossos direitos, toda a nossa privacidade. Esse ato tirava tudo de nosso que ainda podíamos ter. Nem nós éramos nossos. Não tínhamos mais identidade, éramos o que queriam que fossemos. O problema era que nós também queríamos ser.


O AI5 além de nos retirar todos os direitos civis e liberdades individuais, permitindo que a qualquer hora nossas casas fossem invadidas, nossas mochilas revistadas, nossos corpos botados dentro de celas sem motivos aparentes, também introduzia no Brasil a pena de morte e o fim do habeas corpus.


O AI5 levou nossas reuniões para a clandestinidade, deixou nossa revolta escondida em versos de música, deixou nossos sussurros cada vez mais baixos. Como o bom Chico Buarque diria : "O que será, que será ?" . Ninguém sabia o que era. Ninguém sabia mais nada. Os que soubessem, estavam presos, estavam mortos, estavam torturados. Todos estávamos, todos ouvíamos, todos entendíamos, mas ninguém sabia de nada.


No fim de 1969 Costa e Silva deixava o poder, motivo de felicidade para uns mas de preocupação para muitos outros, afinal, não sabíamos se o que viria depois seria melhor ou pior. Na época, deixaram como motivo para a renuncia uma suposta doença do presidente, mas muitos de nós, estudantes da UNE, que tínhamos uma pequena noção do que se rolava dentro das entranhas da ditadura, suspeitávamos que o real motivo eram intrigas que estavam rolando entre o presidente e seu vice, que era um civil.


Costa e Silva foi substituído temporariamente por uma junta militar formada pelos ministros Aurélio de Lira Tavares (Exército), Augusto Rademaker (Marinha) e Márcio de Sousa e Melo (Aeronáutica). Um trio de militares nojentos.


Obviamente nós, da oposição, não gostamos da entrada desses 3 militares no poder e, a oposição armada rapidamente armou um "protesto" contra essa situação.


Dois grupos de esquerda, O MR-8 e a ALN seqüestram o embaixador dos EUA Charles Elbrick. Os guerrilheiros exigem a libertação de 15 presos políticos, exigência que foi aceita.


Porém, como um vingança, em 18 de setembro, o governo decreta a Lei de Segurança Nacional que decretava o exílio e a pena de morte em casos de "guerra psicológica adversa, ou revolucionária, ou subversiva". Estávamos cada vez mais presos.


No final de 1969, o líder da ALN, Carlos Mariguella, foi morto pelas forças de repressão em São Paulo. Estávamos todos sendo perseguidos




O motivo da preocupação, antes mencionado, foi concretizado e os grupos mais ligados à chamada “linha dura” acabaram aprovando o nome de Emílio Garrastazu Médici, para ser o novo presidente do Brasil, substituindo a junta militar, que não ficou no poder nem por 2 meses .


Médici extrapolou em todos os sentidos . Ficou 5 anos no poder, anos esses que pareciam intermináveis, anos esses que ficaram conhecidos como "anos de chumbo". Usou de maneira demasiada o AI5 e tornou a censura e a repressão mais "profissionais", mais "apuradas". Criou aparelhos de repressão. Todas essas medidas começaram a obrigar os músicos, poetas e escritores a se apoiarem cada vez mais em metáforas, tornando as mensagens cada vez mais ocultas. As poucas reuniões de estudantes que ainda existiam eram feitas em total sigilo. Não se sabia mais quem era ninguém dentro daqueles quartos de reunião. A maioria dos nossos lideres tinham sido cassados. A maioria de nós estavam presos, sendo torturados, exilados, ou até mortos. Eu e meu grupo de companheiros tivemos sorte em não sermos pegos junto aos outros. Muitos professores, políticos, músicos, artistas e escritores estavam sendo constantemente investigados, presos, torturados ou exilados do país.


Na época de Médici aconteceu também uma grande tentativa de alienação. As mídias exibiam para o povo desinformado uma falsa sensação de felicidade com a vitória do Brasil na copa de 70, fato que só fazia a maioria esquecer da situação nacional. Exibiam também programas como o da Jovem Guarda, que passavam para o público uma música oca, sem sentido, sem mensagem, uma música "POP". Redes como a Record e a Rede Globo, que andavam de mãos dadas com a ditadura, controlavam o que chegava ao povo, e faziam questão de que tudo que chegasse passasse uma imagem boa da ditadura. Até a pornochanchada, um filme pornô misturado como comédia, foi usada para a distração do publico.


Mas quem acha que nós nos calaríamos em relação a isso estava completamente enganado. Rapidamente começamos a travar uma luta armada, por meio, por exemplo, da ação popular, que antes começara moderada, mas que com o passar do tempo acabou vendo que a luta armada estava se tornando necessária, da POLOP (organização de esquerda da Política Operária), do MR8 (Movimento Revolucionário Oito de Outubro) e do Var-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária Palmares). Além disso, travávamos também lutas culturais, na música por meio dos Festivais, que ressaltavam o poder da MPB e do Samba, que traziam grandes compositores como Vandré e Chico Buarque, grandes críticos da ditadura, que chegaram até a serem perseguidos, presos e exilados do pais. No teatro criamos o Teatro do Oprimido, o teatro opinião e o teatro arena. No cinema, nossos protestos vinham por meio do Cinema Novo. Tentávamos atacar a censura por todos os cantos, tentávamos mostrar cada vez mais nossa revolta e ao mesmo tempo tentávamos cada vez mais nos esconder. Vivíamos uma das épocas mais complicadas da ditadura, mas que graças a todas essas complicações nos rendeu ótimos frutos no meio artístico.


Após esses 5 longos anos sob o Governo do Presidente Médici, em 1974, assumia o presidente Ernesto Geisel que começou um lento processo de transição rumo à democracia. E bote lento nesse processo.



Sob o governo de Geisel a economia brasileira chegou ao seu ponto mais critico. O preço dos alimentos estava altíssimo, nós reclamávamos cada vez mais por ter que pagar preços absurdos pela alimentação básica.



Mas mesmo em meio a tantas crises foi no governo de Geisel em que nós opositores finalmente conseguimos conquistar espaço dentro da política. Nas eleições de 1974, nosso partido, o MDB conquista 59% dos votos para o Senado, 48% da Câmara dos Deputados e ganha a prefeitura da maioria das grandes cidades. Estávamos mostrando para Geisel e para quem quisesse ver que juntos podíamos ganhar poder.


O problema começou quando começaram a ver força demais nas nossas conquistas. Os militares de linha dura, não contentes com os caminhos do governo Geisel, que propunha uma ditadura mais leve, começam a promover ataques clandestinos aos membros da esquerda. Alguns de nossos membros e de nossos principais líderes foram assassinados. A situação que parecia melhor mostrou que estava apenas mais calma, e que se precisasse, se revoltava, como um mar em ressaca.


O mar quis ficar calmo daquela vez. O mar quis ficar calmo por bastante tempo. Em 1978, Geisel acabou com o AI-5 e abriu caminho para a volta da democracia no Brasil. Abriu caminho para a esperança. O grande aumento da oposição e as vitórias do MDB nas eleições levaram a redemocratização a acontecer de maneira cada vez mais rápida.


Em 1979 assumiu o governo no lugar de Geisel o presidente "eu amo cavalos" Figueiredo. O ultimo presidente da ditadura militar foi um presidente extremamente polêmico. Chegou a dizer publicamente que preferia o cheiro dos cavalos ao cheiro do povo e que quem não aceitasse a democracia era preso e "arrebentado".


O governo do general Figueiredo foi marcado por uma enorme crise econômica pelo processo de reabertura política do país. Uma das principais medidas tomadas por esse novo governo foi abolir o sistema bipartidário, voltando com o antigo pluripartidarismo e realizar a anistia política dos militares e perseguidos políticos.


O projeto inicial da anistia não previa o beneficiamento de todos os envolvidos com crimes políticos, mas o projeto de lei acabou sofrendo alterações que perdoavam todos os acusados de praticar tortura e devolvia direitos políticos plenos aos exilados. Muitos amigos meus estavam voltando para casa. Muitas pessoas cheias de histórias dos campos de tortura, muitas pessoas vindas de outros países. Muitas histórias a serem contadas e principalmente, uma grande esperança a ser restabelecida. A ditadura parecia finalmente estar chegando ao fim.


Alguns militares de linha dura continuavam com a repressão clandestina, atacando sem piedade muitos opositores. Cartas-bomba foram colocadas em órgãos da imprensa e da OAB (Ordem dos advogados do Brasil). No dia 30 de Abril de 1981, uma bomba explodiu durante um show no centro de convenções do Rio Centro. Não se tinha prova de que os atentados tenham sido provocados pelos “linhas duras”, mas a maior suspeita caia em cima deles. Eles não queriam que aquilo chegasse ao fim. O que nós mais queríamos era que aquilo chegasse ao fim. Estávamos claramente no meio de um conflito.


Nos últimos anos do governo militar, nosso país ainda apresenta vários problemas como a inflação que estava alta e a recessão também.


Mas algo bom também estava ocorrendo: a oposição ganhava cada vez mais terreno com o surgimento de novos partidos e com o fortalecimento dos sindicatos.


Em 1984, políticos de oposição, artistas, jogadores de futebol e milhões de brasileiros participam do movimento das Diretas Já! Aquilo era a maior exposição de pressão no governo para uma mudança rápida! O movimento era favorável à aprovação da Emenda Dante de Oliveira que garantiria eleições diretas para presidente naquele ano. O movimento era favorável à fazer a voz do povo ser ouvida. O movimento era favorável principalmente ao povo, mas para decepção desse mesmo povo, a emenda não foi aprovada pela Câmara dos Deputados.


Algum tempo depois, em janeiro de 1985, já não me lembro mais ao certo o dia, o Colégio Eleitoral escolheu o deputado Tancredo Neves, que concorreu com Paulo Maluf, como novo presidente da República. Ele fazia parte da Aliança Democrática – o grupo de oposição formado pelo PMDB e pela Frente Liberal.


Era o fim do regime militar. Tancredo Neves ficou doente antes de assumir e acabou falecendo. Assumiu o seu cargo o vice-presidente José Sarney.


Em 1988 foi aprovada uma nova constituição para o Brasil, que apagou completamente os rastros da ditadura militar e estabeleceu princípios democráticos no país.


Em 1985 acabava o terrível período chamado de ditadura. A essa altura já estava no auge dos meus 40 anos, mas posso dizer, felizmente, que fiz parte da história de luta do povo por um país melhor. Posso dizer hoje, que fiz parte da história desse pa´ss, assim como muitos outros jovens, alguns que até morreram lutando.


Com o fim da ditadura veio o medo de seu recomeço, mas veio principalmente a esperança de poder dedicar à nossos filhos o pais melhor que havíamos conquistado. Havíamos conquistado aquilo principalmente por eles e por todas as futuras gerações que ainda viriam. Nossa luta contra a ditadura foi pensando sempre no futuro. Hoje me pergunto até que ponto podemos afirmar que a ditadura acabou. Até que ponto podemos afirmar que ainda não existe uma ditadura ai fora.





Internacional:


Lembra quando falei que achava que existia algo maior por trás de toda essa história da ditadura? Pois esse algo maior era um gigante chamado Estados Unidos da América. O senhor do capitalismo, até respirar te custa algo naquele lugar. Pessoas expiram, inspiram, transpiram e aspiram dinheiro todo o tempo.


Esse poderoso tinha interesses no Brasil. Sempre teve. Desde a época em que Getulio ameaçava com seu suposto "comunismo" os Estados Unidos já planejavam essa ditadura. Os Estados Unidos já planejavam controlar o país.


O desejo de controle tinha um motivo: A formação de uma rivalidade que posteriormente levaria a guerra fria. Estados Unidos e União Soviética lutavam com unhas e dentes por cada nação conquistada, no caso dos EUA, com o capitalismo e da URSS, com o socialismo.


O Brasil, como o bom país continental que é, tinha um papel importantíssimo nessa disputa. Quando estávamos sob o governo de Getulio, JK, Jânio e Jango o Brasil constantemente oscilava entre o lado socialista e o capitalista, algo inaceitável para os EUA. Eles tinham que solucionar isso. E solucionaram. Começaram a financiar econômica e militarmente a futura ditadura militar que ocorreria aqui no Brasil, que tornaria o pais totalmente capitalista e, portanto, um aliado na Guerra Fria.


Durante a maioria dos anos da ditadura o Brasil continuou com o apoio dos EUA até que eles resolveram "girar" seus espaços políticos e econômicos para o Oriente Médio, em função da grande crise mundial do petróleo, petróleo que por acaso era encontrado em abundância naquela região. Com essa mudança de foco, a atuação dos EUA na América Latina e principalmente no Brasil diminuiu drasticamente. O investimento da ditadura se cessou, levando ela a um declínio, que originou seu fim.



Zazá

Estamos de volta!

Caros leitores,

Estamos de volta. O mundo é nossa fonte de inspiração e também de renúncia, de silêncio. Os mesmos acontecimentos que nos motiva a publicar ideias, nos paralisa.
Mas com muito prazer, o Vozes da América retorna de um longo inverno dando voz a alunos que fizeram de seus pensamentos, obras. Transformaram-se em executores e não apenas ouvintes e assim produziram o material que lerão a seguir. O tema proposto foi a tenebrosa Ditadura Militar e Civil brasileira de 1964 e aí vão alguns trabalhos. Mas não sem antes lembrarmos que o grande barato de dar aula é quando o aluno supera o mestre.
Com vocês, duas dos muitos grandes alunos que temos, Andressa e Zazá.

Boa leitura, sempre!