Como diz a música de Gonzaguinha: “Eu acredito é na
rapaziada / Que segue em frente e segura o rojão / Eu ponho fé é na fé da
moçada / Que não foge da fera e enfrenta o leão / Eu vou à luta com essa
juventude / Que não corre da raia a troco de nada / Eu vou no bloco dessa
mocidade / Que não tá na saudade e constrói / A manhã desejada”
Surge no Brasil um novo movimento, composto por jovens
que foram descobrindo a verdade da história e que não se conformam com o
esquecimento. Eles não aceitam que nossa história seja apagada e que os bandidos
de ontem vivam hoje confortavelmente, sem prestar contas à sociedade.
Na semana que antecedeu o aniversário do golpe militar
de 1964, o “Levante
Popular da Juventude” realizou manifestações em várias capitais brasileiras na
frente de residências e locais de trabalho de ex-militares e policiais acusados
da prática de tortura durante a ditadura.
É claro que um movimento
como este, para brotar, tem algumas sementes que não podem ser esquecidas. Por
um lado, o início dos trabalhos da Comissão Nacional da Verdade, recém criada e
que já coloca os antigos torturadores com insônia. Em segundo lugar, as
recentes declarações de militares da reserva que defendem o golpe e chegam a
fazer ameaças ao governo.
Em São Paulo, cerca de 150
jovens que apoiam a Comissão e pedem julgamento dos torturadores se concentraram
na frente da empresa de segurança Dacala, na avenida Vereador José Diniz. O
dono é o delegado aposentado David dos Santos de Araújo, acusado pelo
Ministério Público Federal de participar de torturas e assassinatos. O “Capitão
Lisboa”, como era conhecido, é acusado de ser um dos torturadores do Doi-Codi.
O panfleto distribuído no ato afirma que David também é conhecido pelos
estupros de filhos de pessoas que assassinou durante a ditadura civil-militar.
E estampa as logomarcas da Anhanguera Educacional, Banco Safra, Banco Itaú, Jac
Motors e Ford, empresas que são clientes de sua empresa de segurança.
Em Porto Alegre, 70 jovens
foram para a frente da residência do coronel Carlos Alberto Ponzi, na rua Casemiro
de Abreu, 619. O ex-chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI) em Porto
Alegre é acusado pela justiça italiana pelo desaparecimento do militante Lorenzo
Ismael Viñas, capturado ao tentar atravessar a ponte que liga Uruguaiana à Paso
de Los Libres (Argentina), em 26 de junho de 1980, durante a Operação Condor. O
crime foi cometido depois da assinatura da Lei de Anistia, feita em 1979.
Em Belo Horizonte o grupo
denunciou Ariovaldo da Hora e Silva, em sua residência na rua Biagio Polizzi,
240. Ele é acusado de torturar Afonso Celso Lana Leite, Cecílio Emigdio
Saturnino, Jaime de Almeida, Nilo Sérgio Menezes Macedo e outros, quando era
investigador da Polícia Federal. Segundo o livro Brasil Nunca Mais, Ariovaldo
também é responsável pela morte de João Lucas Alves.
Adriano Bessa, acusado de
ser um delator e prestador de serviços durante o período militar, foi o alvo
dos 80 manifestantes em Belém do Pará. O Levante Popular da Juventude também
realizou escrachos na Bahia e no Ceará.
No Rio de Janeiro, cerca de
300 manifestantes foram para a frente do Clube Militar, na tarde de
quinta-feira (29) para protestar contra a
comemoração que estava programada pela passagem dos 48 anos do golpe militar de
1964. Enquanto cerca de 300 militares da reserva participavam do evento,
chamado de “1964 — A Verdade”, na sede do Clube Militar, em frente à
Cinelândia, os manifestantes se concentraram nas duas entradas do prédio, com
bandeiras e cartazes onde se lia: “Onde
estão nossos mortos e desaparecidos do Araguaia?”
Estas são apenas algumas das manifestações ocorridas no
país. O movimento parece estar crescendo e os jovens vão participando e
protestando. Exigem a verdade. Chega de esconder a história para proteger
torturadores e golpistas.