domingo, 23 de dezembro de 2007

Pensata: O aniversário do Justo

Está chegando o Natal. E, a cada ano que passa, os que já o viram chegar outras vezes acham-no bastante mudado. E se perguntam, como Machado de Assis: mudaria o Natal, ou mudei eu?
Machado de Assis sabia que ambos tinham mudado. A dificuldade está em extrair as conseqüências da enorme diferença nos ritmos da mudança. Enquanto o nosso genial escritor mudava na escala de uns míseros 70 anos, na escala de uma vida humana, o Natal, a celebração do nascimento de Cristo, vem se transformando ao longo de dois milênios.
Inicialmente, a celebração passou a ser, como era inevitável, um elemento que afirmava a identidade própria de um grupo. Entrou em cena um punhado de dissidentes judeus, que ansiavam por mostrar uma grande novidade religiosa: os Evangelhos.
Embora a fixação da data de nascimento do Cristo seja bastante discutível, a celebração prevaleceu. Não importava que a data fosse incerta. O que era essencial era que o aniversariante não fosse esquecido.
Um Deus nascido numa manjedoura e morto pregado na cruz era uma figura que comovia muito e dava muito o que pensar. Cresceu o número de pessoas que, mesmo quando não reconheciam nele o filho de Deus, reverenciavam-no como um justo.
Organizados na forma de uma assembléia (ecclesia), os discípulos do Cristo, desconfiados, tentaram evitar os males da propriedade privada, adotando - voluntariamente - a propriedade coletiva. Mas o crescimento e o fortalecimento da ecclesia obrigaram o movimento popular dos cristãos a recuar.
Durante a Idade Média, a fonte do poder era a propriedade da terra, e a Igreja se tornou uma grande proprietária de terra. Fazia parte dos beneficiários do sistema feudal.
Depois, veio a espertíssima classe dos burgueses e submeteu toda a sociedade à lógica do mercado. Tudo vira mercadoria, tudo se vende e se compra.
O Natal se transformou e continua se transformando. Nem sempre para o bem, ouso dizer.
Não me identifico com nenhuma religião, não sou cristão, mas o fato de ser um observador externo dos fenômenos religiosos não me impede de acompanhar, com simpatias e antipatias, os avanços e recuos dos cristãos.
Às vezes, me impaciento um pouco. Seria ridículo fazer campanha contra Papai Noel. Ele não tem culpa pelo que fazem com sua figura pitoresca, com seu carro puxado por renas voadoras, com o saco cheio de presentes para as crianças boazinhas. Não tem culpa pela risada que lhe foi atribuída, aquele som horrível: Hô-hô-hô.
Talvez, porém, seja menos inocente quando se associa à febre consumista da passagem do ano. Respeito o entusiasmo do Bom Velhinho pelos panetones e rabanadas. Porém, acho estranho vê-lo caminhar à frente de vitrinas hiperiluminadas, fazendo propaganda de carros, geladeiras e apartamentos, discutindo a cotação do dólar. Nem o sistema de pagamentos em módicas prestações vai me convencer a aceitar os truques da modernidade.
Nunca entendi qual é o vínculo desse ancião robusto com o Natal. Já tentaram me explicar que o veterano usuário do carro das renas é, de fato, um certo São Nicolaus, do qual pouco se sabe. Por isso, muitos norte-americanos e ingleses não falam em Papai Noel, como nós. Falam em Santaclaus.
Acho, sinceramente, que nenhum Santaclaus, cantando Jingle bell, vai convencer a humanidade de que as atuais formas de celebração do nascimento de Cristo incorporam e absorvem a festa de Papai Noel. E acho, também, que os festejos natalinos - expressões legítimas da alegria do povo - não têm (nem devem ter) a pretensão de absorver e incorporar a sua dinâmica peculiar a celebração do aniversário de Jesus.
No início da nova era, os escravos fizeram diversas tentativas revolucionárias de derrubar o Império Romano (lembremos de Espártaco). Os judeus também se insurgiram contra Roma, em Masada. O fracasso desses levantes sugere que o caminho revolucionário, naquelas condições, era inviável.
Cristo mobilizou pessoas que, na maioria, eram pobres. Não podendo acabar com a pobreza, encaminhou um programa de valorização da dignidade e de conquista da auto-estima. O movimento de massas desencadeado pelos cristãos era uma reação de sincero nojo contra a corrupção crescente, uma enérgica revolta contra o cinismo demoníaco das classes dominantes.
Como descrente respeitoso que sou - marxista convicto, irrecuperável - quero apenas registrar minha expectativa de que o festival consumista em torno de Santaclaus não atrapalhe a celebração do aniversário do Justo.

Pensata: O aniversário do Justo
Leandro Konder - Filósofo
Extraído do Jornal do Brasil de 22 de Dezembro de 2007

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Dica, apenas uma dica.

Raros amigos,

Chegou enfim o natal e com ele um grande problema. Primeiro do ponto de vista filosófico, pois em essência, comemora-se o nascimento de Cristo, partindo do pressuposto que é filho de Deus e desvenda o rosário da era cristã. Ainda assim, se você for temente a Deus, nos deparamos com o conceito de religião ao qual você segue, uma vez que o natal só é concebido como tal se o entendermos dentro de uma perspectiva cristã, fato que reduz ainda mais o espectro do seu significado religioso.
O segundo problema transcende a isto e para pior, pois a análise é mercadológica. Supondo a filosofia cristã como referência, o que se deveria comemorar era a fraternidade e a solidariedade, marcas deixadas pelo messias em sua curta passagem pela terra. Mas não. O que se vê é o desenfreado consumo de coisas e pessoas, pois antropofagicamente, o sistema capitalista não tem o menor pudor em fazer-nos comermos uns aos outros em troca de um presente de natal. Vale tudo. Nos consumirmos sob a forma de dívidas no cheque especial, nos cartões de crédito, só não vale "não se lembrar das pessoas que amamos", diria qualquer propaganda piegas neste tempo.
Bem, seja qual for seu motivo de comemoração, sua religião e sua predisposição às tentações da propaganda, segue abaixo uma lista de sebos da cidade do Rio de Janeiro, que além de vender excelentes presentes, serve para qualquer mês do ano e razão para se presentear de forma barata e eficaz.



Relação de sebos no Rio de Janeiro
A origem do apanhado derivou de um comentário meu na lista sobre a dificuldade de encontrarmos livros de poesia, mesmo de poetas consagrados. Daí eu acrescentei que, além da Internet, eram os sebos que me salvavam. Nestes locais encontrei verdadeiros tesouros:
1. Na rua Dois de Dezembro tem um ótimo ao ar livre, a banca da Alda.
2. No Largo do Machado, ao lado da saída do Metrô Catete, colada à segunda saída da Sendas, tem uma lojinha pequena onde se vendem livros novos e usados.
3. Na Praça José de Alencar, ao ar livro (errinho intencional), as bancas do Sr. Firmino e do Sr. Sílvio, de grande variedade.
4. Na rua Buarque de Macedo, bem no início, um excelente, com poltrona, mesinha. O dono é um rapaz de cabelos compridos, óculos, cara de intelectual consumado. Ele é muito atencioso.
5. Sebo "João do Rio", altura do número cento e oitenta e poucos, da Rua do Catete, próximo à Silveira Martins, o maior de todos. Muita coisa mesmo. O único inconveniente é que fica num sobrado daqueles antigos e é preciso subir um lance de escada. Esse já foi até objeto de matéria na TV.
6. No antigo prédio da UNE, logo na entrada, vendem-se livros novos e usados, mas o preço às vezes é um pouco mais salgado. Fica no coração da rua do Catete.
E sempre há o recurso de pegar o Metrô e ir para o Centro da Cidade, onde o que não falta é sebo:
a) "São José" - Um dos mais famosos, uma loja imensa, com dois andares de livros. Fica na Rua do Carmo, 61. Telefone: 242-1613. Há muitos anos entrevistei o dono desse sebo para escrever uma matéria sobre o assunto para o jornal Perspectiva Universitária, onde então trabalhava. b) "Sebão" - Visconde do Rio Branco, 34 c) "Elizart" - Rua Marechal Floriano, 63, telefone: 233-6024. Muito conhecido, também. d) "Tiradentes" - Rua da Carioca, próximo à Praça Tiradentes. e) "Fenac"- Rua da Quitanda, 31 (próximo à estação Cinelândia, do Metrô) f) "Antiquário" - Rua Sete de Setembro, 207 g) "Alberjano Torres" - Rua Visconde de Inahaúma, 109 (seqüência da Rua Marechal Floriano, onde existe o "Elizart") - telefone: 581-9289 h) "Winston" - Rua Buenos Aires, 83 - telefone: 224-3310 i) "O Velho Livreiro" - Rua da Assembléia, 85, telefone: 222-1385 l) No Edifício Avenida Central, sobreloja, há um muito conhecido, mas o nome agora me foge. O Edifício fica ao lado da Estação Carioca, do Metrô. Além do sebo, lá existem duas livrarias da Ciência Moderna, bem grandes, especializadas em livros de Informática. Aliás, o Avenida Central possui inúmeras lojas de "soft" e "hard", além de três andares de "stands" onde se vende de tudo relativo ao mundo dos computadores.

Polêmica - Por trás do jejum de Dom Cappio

Leonardo Boff provoca: "O bispo encarna uma postura ética. O amor ao sofredor é a regra de ouro, a suprema norma de conduta". Rodrigo Guéron rebate: "o gesto moralista não questionou a obra, nem as misérias do capitalismo — mas a democracia e os desejos da multidão"
Por uma justiça maiorO amor ao próximo e ao sofredor é a regra de ouro, a suprema norma da conduta verdadeiramente humana — porque abre desinteressadamente o ser humano ao outro, a ponto de dar a própria vida para que ele também tenha vida (Por Leonardo Boff)
A fome de miséria do bispo Os que apóiam Dom Cappio não podem ser de esquerda. Tornaram-se cúmplices e motores de um dos mais profundos conservadorismos brasileiros. Um esquema que glorifica exatamente aquilo que precisa ser vencido: fome, sofrimento e morte (Por Rodrigo Guéron)


Por uma justiça maior
O amor ao próximo e ao sofredor é a regra de ouro, a suprema norma da conduta verdadeiramente humana — porque abre desinteressadamente o ser humano ao outro, a ponto de dar a própria vida para que ele também tenha vida
Leonardo Boff
Muitos de nós estamos acabrunhados com o resultado do Supremo Tribunal Federal, concedendo campo livre para o governo implementar a transposição do rio São Francisco.
O debate naquela corte suprema foi mal colocado. A questão central não era de ecologia ambiental mas de ecologia social. Não se tratava apenas de decidir se o megaprojeto do governo implicava impactos ambientais danosos, coisa que o Ibama, numa decisão discutível, garantiu não haver. O que se tratava, acima de tudo, era de ecologia social: a quem beneficia socialmente o faraonismo daquela projeto governamental? Aos sedentos do semi-árido ou ao agronegócio e às indústrias? Os dados falam por si: cerca de 75% da água se destina ao agronegócio, 20% às indústrias e somente 5% à população sedenta.
Aqui se dá o confronto de duas posições: a do governo e a do bispo Dom Luiz Flávio Cappio, bispo de Barra (BA).
O governo busca um crescimento que, segundo os dados acima referidos, atende primeiramente aos interesses dos poderosos e secundariamente às necessidades do povo sofredor, o que configura falta de eqüidade. Esta posição é chamada de modernização conservadora, teórica e práticamente superada.
Em função de um projeto que prioriza o povo há de se ordenar a transposição do Rio São Francisco
O bispo Dom Capppio encarna uma postura ética dando centralidade ao social e à vida, especialmente dos milhões de condenados e ofendidos do semi-árido, com os quais ele trabalha há mais de 20 anos. Em função deste projeto social, que prioriza o povo e a vida e que não nega outros usos da água, há de se ordenar a transposição do Rio São Francisco.
A justiça legal consagrou o projeto de crescimento do governo. Mas a justiça não é tudo numa sociedade, especialmente como a nossa, marcada por profundas desigualdades e conflitos de interesses que debilitam fortemente a nossa democracia.
O que sustenta a posição do bispo é outro tipo de justiça, aquela originária que antecede à justiça legal, justiça que garante o direito da vida, especialmente daqueles condenados a terem menos vida e por isso a morrerem antes do tempo. A larga tradição da ética cristã, racionalmente fundada em Aritóteles e em Santo Tomás de Aquino afirma aquela justiça originária e alimenta ainda hoje modernos projetos de ética mundial. Ela sustenta que acima da justiça está o amor à humanidade e a todos os seres. Lamentavelmente, não foi isso que se ouviu no arrazoado dos ministros do Supremo Tribunal Federal.
A justiça maior de que fala Jesus tributa amor e respeito Àquele Grande Outro, Deus
O amor ao próximo e ao sofredor é a regra de ouro, a suprema norma da conduta verdadeiramente humana — porque abre desinteressadamente o ser humano ao outro, a ponto de dar a própria vida para que ele também tenha vida, como o está fazendo o bispo Dom Cappio, figura de eminente santidade pessoal e de incondicional amor aos deserdados do vale do São Francisco. Esta é a justiça maior de que fala Jesus, porque tributa amor e respeito Àquele que se esconde atrás do outro que é o Grande Outro, Deus. O povo brasileiro em sua profunda religiosidade é sensível a esse argumento.
Para entender a posição e a atitude profética do bispo, precisamos compreender este tipo de fundamentação. É perversa a tentativa de desqualificar sua figura considerando-o autoritário e falto de base popular. Ele está ancorado nos milhões que geralmente não são ouvidos porque são tidos por incuravelmente ignorantes, zeros econômicos e óleo queimado. Mas eles são portadores de um saber de experiências feito, construido na convivência com o semi-árido e no amor ao rio que chamam com carinho de Velho Chico.
O compromisso de Dom Cappio continua, secundado por todos aqueles que até agora o acompanharam, especialmente, os movimentos populares e nomes notáveis da cena nacional e internacional.
Se ele, em consequência de seu gesto, vier a falecer, a transposição poderá ser feita, pois o governo dispõe de todos os meios, militares, legais, técnicos e econômicos. Mas será a transposição da maldição.
O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por tudo o que representa, não merece carregar esta pecha pelos séculos afora.


A fome de miséria do Bispo

Os que apóiam Dom Cappio não podem ser de esquerda. Tornaram-se cúmplices e motores de um dos mais profundos conservadorismos brasileiros. Um esquema que glorifica exatamente aquilo que precisa ser vencido: fome, sofrimento e morte
Rodrigo Guéron
Escrevi um primeiro artigo sobre a greve de fome de Dom Luiz Cappio contra a transposição do Rio São Francisco no jejum anterior do religioso. Naquela ocasião, ele recebeu o apoio de alguns dos maiores coronéis oligarcas nordestinos: ACM foi visitá-lo e o então governador de Sergipe, João Alves Filho, chefe do pefelê local, participou de uma missa em sua homenagem. Note-se que ambos foram derrotados, nas eleições que se seguiram, exatamente por dois candidatos a governador do PT, numa campanha eleitoral onde as obras do rio não deixaram de ser debatidas.
É evidente que as discussões técnicas em torno da transposição são importantes. O problema são as características do ato protagonizado pelo bispo, o que esta performance diz e simboliza. Muito mais que os apoios ecléticos recebidos por Dom Cappio, seu gesto traz à tona algo que expressa o que o Brasil, e o Nordeste em particular, têm de mais conservador e violento.
O ato do bispo é, em primeiro lugar, um culto à fome, ao sofrimento e em última análise à própria morte. O bispo se auto-exalta, e é exaltado, como alguém que seria mais virtuoso que os outros porque sofre e passa fome. Isso o faria uma espécie de portador da verdade. Ou seja, fome e sofrimento seriam uma espécie de passaporte para a bem. Dessa maneira, no entanto, o bispo restaura o próprio circuito de miséria, violência endêmica e poder, que se fecha numa lógica, num sentido, que há mais de um século aprisiona a vida, e conseqüentemente a política, no Nordeste.
A pulsão de morte... a mistificação religiosa contra a qual Glauber Rocha se levantou com veemência
O mal que o moralismo salvacionista católico fez, e faz, ao país, apesar de toda ambígua e impressionante potência de Canudos, parece não ter fim. O culto ao mártir morto e vitimizado, a lógica da sina do miserável predestinado; enfim, a mistificação religiosa contra a qual Glauber Rocha se levantou com veemência. Esse ímpeto, que balança entre o conformismo e a atitude suicida/auto-martirizante por uma grande causa – como supostamente é a do bispo – transforma-se numa espécie de pulsão de morte coletiva que transcende, no Brasil, os limites do Nordeste.
Estou longe de ser um entusiasta do desenvolvimentismo, do progresso a qualquer preço: aí também existe um culto positivista e uma crença na redenção, em torno da qual organizam-se esquemas de poder. Acredito, no entanto, que água, produção de alimento e mudanças nas relações de trabalho fariam bem ao sertão. É claro que deve haver pressão política, para que os pequenos proprietários desfrutem da obra. Eles podem vir a ser uma classe média rural, pequenos produtores, por vezes resultado das ocupações de latifúndios improdutivos feitas pelo MST, e que votaram massivamente em Lula nas últimas eleições. A Pastoral da Terra e a UDR que me desculpem, mas o MST é fundamental para o crescimento do nosso mercado agrícola; para que avance o processo de diversificação e barateamento dos alimentos que hoje vivemos no país.
E embora me considere à esquerda dos marxistas, com suas teleologias e transcendências, há até algo de marxista nessa minha afirmação, qual seja, entender que as transformações da produção são sempre, de certa forma, uma transformação – e uma produção – política. Mas o marxismo cristão brasileiro torna-se cada vez mais conservador: prefere a metafísica de Marx – a salvação em algum socialismo imaculado – ao seu materialismo. É triste que os teóricos da Teologia da Libertação, que produziram uma ruptura e um movimento liberador na imanência das lutas, na rebelião dos pobres e na potente palavra de ordem do MST (“Ocupar, resistir, produzir”, hoje um tanto esquecida...), tenham caído nessa captura conservadora que nega a vida pela transcendência.
A mesma lógica moralista de Frei Betto, quando diz que o problema é os pobres desejarem
É curioso, inclusive, que uma conhecida atriz global apóie com tanta veemência o tal bispo. Ela que, como milhões de pessoas, todos os dias toma banho em água limpa graças à transposição do rio Guandu, que abastece o Rio de Janeiro; e que é famosa graças, além de seu trabalho, à poderosa indústria do entretenimento e a seu custoso aparato tecnológico, quer agora negar a tecnologia aos pobres e falar dos perigos do mercado e do dinheiro se expandir pelo sertão. É a mesma lógica moralista que fez Frei Betto dizer, há não muito tempo, que a culpa da fome era da geladeira, porque fez os pobres desejarem ter sorvete e refrigerante, quando antes se satisfaziam com arroz, feijão e carne seca. Os pobres, os que estão fora do “mercado” desejando: este é na verdade o “perigo”....
Parece claro, portanto, que não foi contra os possíveis problemas da transposição do rio, nem contra as grandes misérias do capitalismo, que essa greve se voltou. É na verdade – como Gil e Caetano bem disseram na canção Haiti, numa menção à ira de nossas “classe médias” contra as escolas propostas por Darci Ribeiro — “um pânico mal-dissimulado diante de qualquer, mas qualquer mesmo, plano que pareça fácil é rápido, e vá representar uma ameaça de democratização...”
Suponhamos mesmo que, na pior hipótese, a transposição beneficie o agronegócio, as mega-empresas agrícolas exploradoras. Então, organiza-se um sindicato, reivindica-se melhores salários, participação nos lucros, faz-se uma boa greve... Em todo caso, melhor que o servilismo aos coronéis, que não querem a transposição; melhor que uma procissão de miseráveis que santificarão um bispo morto e pedirão que Deus “nos mande chuva” e se autogloficarão na miséria, na privação e na dor.
Acho inadmissível que setores que se dizem “de esquerda” apóiem isso: não são de esquerda, posto que estão sendo cúmplices e motores de um dos mais profundos conservadorismos brasileiros. Um esquema que e glorifica exatamente aquilo que precisa ser vencido: fome, sofrimento e morte.

Textos extraídos do Le Monde Diplomatique - Brasil

A imprensa continua a mesma

“Na calada da noite” ou
“A imprensa continua a mesma”!
(Ernesto Germano – dezembro 2007)

Matéria no caderno internacional do Jornal do Brasil, em 14/12/07, destaca e comemora que “Os líderes da União Européia assinaram nesta quinta-feira em uma suntuosa cerimônia no Mosteiro dos Jerônimos de Lisboa o novo tratado que substitui a fracassada Constituição européia, e que deve facilitar as decisões no bloco (...)”. Outros jornais brasileiros noticiaram o fato, com maior ou menor destaque, mas todos aprovando a medida.
Qual o problema? Simples! Mais um golpe bem urdido pelos neoliberais e pela direita européia e mais uma manipulação da notícia que só envergonha a profissão de jornalista.
Em 2003, depois da ampliação da União Européia, os líderes liberais tentaram criar um modelo de Constituição comum à região, mais adaptado à ideologia de redução do papel do Estado e retirada dos direitos sociais. O problema é que este modelo de Constituição teria que ser aprovado pelos países membros e uma cláusula dizia que se um só país votasse contra todo o projeto seria suspenso.
Alguns resolveram o problema de forma bem pouco democrática: Alemanha, Áustria, Itália, Bélgica e mais alguns resolveram fazer “eleição indireta” e os parlamentos bem afinados com a direita votaram favoráveis. A Inglaterra, Polônia, República Tcheca e outros ficaram aguardando os demais resultados. França, Holanda e Dinamarca convocaram plebiscito para a aprovação. E aí aconteceu a surpresa! Nos três o povo deu um sonoro “não” (54,86% dos votos) à Constituição proposta pelos liberais.
Vale destacar que, na época, Nicolás Sarkozy era ministro do Interior francês e fez campanha aberta pelo “sim”, sendo derrotado.
Durante muito tempo o projeto liberal de uma Constituição “flexível” para a União Européia ficou aguardando por melhores momentos. Sarkozy, agora eleito presidente da França, saiu pelo mundo defendendo Bush e tentando articular um grupo de apoio para evitar a queda do dólar. E agora nos surpreende com esta reunião no Mosteiro dos Jerônimos, onde ele foi peça chave, fazendo aprovar a nova Constituição “na calada da noite”, sem consultas e sem plebiscitos.
E agora a minha perplexidade com a imprensa brasileira. Um presidente passa por cima da decisão do povo que votou “não”, assina um acordo às escondidas no alto de um mosteiro e protocola a mudança constitucional. E nossa imprensa o apresenta como um “grande estadista da atualidade”. Outro presidente realiza um plebiscito para mudar a Constituição, é derrotado e aceita a decisão do povo. Nossa imprensa o apresenta com “ditador”.
Sarkozy passa por cima da vontade popular e é tido como “democrata”, Chávez acata a decisão do povo e é “tirano”. Estou fascinado com a nossa imprensa!

A Imprensa brasileira e a Bolívia

Ah! Mas nós não somos selvagens!
ou A Imprensa brasileira e a Bolívia!
(Ernesto Germano – dezembro de 2007)

“O que este índio está pensando da vida?” Esta é a frase mais ouvida entre a direita boliviana. Ainda não conformados com a derrota sofrida nas urnas, em 2005, tentam por todos os meios impedir que Evo Morales governe o país. Quando convém, fazem discursos enaltecendo a “democracia”. Mas não lembram a vergonha e o golpismo de 2002.
Naquele ano, Evo Morales surpreendeu a todos os analistas quando chegou em segundo lugar nas eleições presidenciais em um país dominado pelos partidos tradicionais. Então, como manda a legislação local, o segundo turno seria por votação indireta, no Congresso. E então, sem surpresas, tomamos conhecimento de uma nota do governo estadunidense dizendo que “a eleição de Evo era um risco grande para o país e não seria vista com bons olhos pela Casa Branca”. Resultado, um Congresso submisso elegeu o representante “abençoado” por Washington.
Em 2005, Evo voltou ainda com mais força e foi eleito já em primeiro turno, venceu com maioria absoluta, tornando-se o primeiro presidente de origem indígena. Assumiu o poder em 2006 como o primeiro mandatário boliviano a ser eleito em primeiro turno em mais de trinta anos. Aí está sua legitimidade, seu direito de governar sem que potências estrangeiras se intrometam ou ameacem. Por que nossos jornais não falam nisto?
Aí armam o golpe! Os prefeitos (equivalentes aos governadores brasileiros) das cinco províncias mais ricas do país - Santa Cruz, Tarija, Beni, Pando e Cochabamba -, seguindo orientações dos propagandistas de Washington, criaram um tal Conselho Nacional da Democracia e passaram a montar atos políticos e manifestações públicas contrárias à Constituição que está sendo aprovada pelo povo boliviano. Os mesmos prefeitos que, em recente visita aos EUA, declararam-se “embaixadores da democracia” e qualificaram o presidente democraticamente eleito como “índio” e “comunista”, assegurando que vão continuar a fazer propaganda contra o governo federal.
A nossa imprensa, bem “adestrada” pelas matérias que já recebe prontas das agências governamentais estadunidenses, corre para estampar manchetes dizendo que existe uma disputa pela “autonomia” dessas províncias e que um plebiscito poderia decidir a independência da região mais rica do país. E neste momento, lendo as notícias que são passadas pela nossa imprensa tão “independente”, passamos a refletir e comparar.
Na Colômbia, quase a metade do território nacional está sob controle e governo das forças rebeldes e dos guerrilheiros, o povo local aceita e admira o governo popular. Em todo o território ocupado e controlado pela guerrilha prevalece uma outra administração voltada para o atendimento do bem público e do povo mais pobre. Lá as empresas internacionais não exploram as riquezas do solo nem a mão-de-obra barata. Mas a nossa imprensa teima em caracterizar as regiões libertas da Colômbia com “antro de terroristas”.
Lá em cima, bem no norte do nosso mapa, há anos um povo luta pela sua independência. A população de língua francesa do Canadá, a região do Quebec, já realizou plebiscitos e consultas populares em defesa da sua autonomia. Mas este desejo de liberdade sempre esbarra nos interesses estadunidenses que não gostariam de ver uma nova nação surgir em suas fronteiras. Particularmente uma nação nova e não submissa aos seus interesses. E a nossa imprensa vive elogiando o primeiro-ministro canadense – contrário à independência do Quebec – como um “grande estadista” preocupado com os problemas atuais.
Pois é. Dois exemplos... Apenas dois entre muitos que podemos citar. Mas a nossa imprensa está mesmo preocupada em defender uma divisão da Bolívia. Por que? Porque interessa aos “patrões”, não é?
Aí deparamos com a fotografia da página 22 do jornal O Globo (talvez em outros também, uma vez que a foto é distribuída pela agência AP), do dia 17 de dezembro. Nela vemos o “prefeito” de Santa Cruz comemorando seu ato político. O que devemos ver nesta foto? Em primeiro lugar, o excelente trabalho fotográfico ao escolher um ângulo propício (de baixo para cima) para mostrar que ele é “grande” e um verdadeiro “líder” com o punho levantado. Mas o principal que devemos ver nesta foto é quem está ao seu lado. Em um país onde mais de 70% da população é indígena, seu palanque é composto de brancos “puros”, arianos convictos, que não aceitam a liderança de um índio. Aliás, o próprio discurso do tal prefeito deixa isto claro: “Evo Morales quer ficar com o poder e ao lado da indiada...”. Pode ser mais claro?
Vale destacar, por fim, que a “nossa” imprensa está merecendo nota máxima do propagandista de Hitler. Goebels dizia que “uma mentira contada mil vezes vira verdade”. Vejam as duas matérias do jornal O Globo. No dia 16 e no dia 17... As fotografias estampam faixas com a mesma frase: “Já somos autônomos”. Ou seja, para nossa imprensa, a divisão da Bolívia já é fato consumado.
Quanto à luta na Colômbia ou os destinos do Quebec... Silêncio!

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Bons ventos sopram do Uruguai

O Uruguai foi o primeiro país da América Latina a reconhecer o casamento entre homossexuais. Apesar de não representar um modelo de visão de mundo revolucionária, o parlamento uruguaio oficializou a união entre seres humanos, independente das formalidades morais que este tema costuma evocar, dando os mesmos direitos que antes era "privilégio" ou conquista dos heterossexuais.
Claro que ainda faltam algumas barreiras. A primeira é a confirmação presidencial e a segunda é a intensa campanha conservadora liderada por... advinhem!? Foi a Instituição que dominou o mundo ocidental por mais de 500 anos; levou muita gente à fogueria por pensar diferente dela (pena de morte); invadiu o Oriente para matar muçulmanos; condena o uso de camisinha, mesmo numa África que morre em Aids (SIDA); o chefe político é o mesmo chefe religioso e nunca fora eleito pelo seu povo; o atual chefe desta Instituição é ultraconservador, simpático às idéias fascistas na juventude e mantenedor da linha paleolítica do rebanho que diz representar.
Que os ventos do sul cheguem em toda nossa América e tragam motivos para comemorarmos, pois razões para lamentarmos já temos há 500 anos.

domingo, 9 de dezembro de 2007

Previsão do tempo

A frente fria que estacionou em Brasília em 1964 teve seu momento mais intenso em 1968, quando a mínima chegou ao AI 5°. Em 1985 a frente fria parecia que iria dissipar e o tempo esquentou significativamente.
Porém, mesmo em tempos de aquecimento global, quando todo o planeta sofre com o calor, o planalto central brasileiro voltou a esfriar, motivado pela canalhice de seus Deputados e Senadores, transformando em gélido, o clima do país.
A previsão do tempo para Brasília é de inverno longo e rigoroso por tempo indefinido, mas espera-se para breve que uma onda vermelha de calor tome o Congresso Nacional trazendo de volta o calor e a alegria de um povo que vive de esperança.

sábado, 8 de dezembro de 2007

Sobre prostitutos e prostituições: O Senado amoral

Fazia um enorme calor na quarta-feira, enquanto vagava por Guapimirim e me surpreendia com cada armazém, com as casas de material de construção, com a única praça que expunha um papai Noel mecânico e epilético para as crianças que passavam sem admirá-lo.
A fim de gastar o tempo e almoço que ainda me incomodava, entrei numa barbearia, daquelas tradicionais, que se vê no subúrbio ou no interior, e esperei para ser atendido. Atento, ouvi uma conversa sobre a política local e me interessei. Um homem que cortava os cabelos, ao sentar já foi dizendo que seu cabelo era "ruim" num tom de brincadeira e o barbeiro, que lhe conhecia bem, puxou logo assunto sobre as eleições municipais do ano que vem.
O homem que desbastava sua já rala cabeleira, desandou a falar mal do prefeito e de seus assessores, que já estava desiludido com política e que havia cansado de tentar disputar uma vaga para vereador desta pequena cidade sem alcançar sucesso. Até tudo indo. Até que, estimulado pelo responsável por sua estética capilar, começou a denunciar, ainda que sem querer, a podridão ética que nos encontramos. Disse que o salário de um vereador em Guapimirim é muito bom R$ 2.400,00, sem contar os adicionais - que confesso não ter entendido se estão dentro ou fora da legalidade - e que era um absurdo um vereador como fulano ter passado dois mandatos (ou seja 8 anos) e "não ter feito um patrimônio para sua família"!? Sobre a conivência concordata do seu interlocutor barbeiro, estava deflagrado ali, aos pés do pico do Dedo de Deus, a total ausência de ética com a coisa pública que tanto nos acostumamos a ouvir. Dois homens simples, que julgam ser pouco mais de dois mil reais um bom salário, exortando o desvio de dinheiro público para fins pessoais, valorizando vereadores que enriqueceram em um mandato e construíram imóveis e negócios que o seus salários não construiriam nunca. Engraçado como ninguém quer ser vereador para cuidar do bem coletivo, qual será a razão que nos leva a colocar o dinheiro acima do bem estar social?
Brasília. Eis uma das múltiplas explicações. O que assistimos no Senado da República é de uma melancolia atroz. Esta semana Renan Calheiros foi mais uma vez inocentado, mas não sem antes cumprir sua parte do acordo, renunciar de uma vez por todas a presidência da Casa. E aí sim, os senhores "homens bons" da república cumpriram sua parte na farsa.
O parlamento brasileiro é uma grande casa de prostituição, com uma ressalva honrosa: as mulheres e homens que vendem seus corpos por dinheiro, vendem somente os corpos e não a alma.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

A vitória de Chávez!

A imprensa “amestrada” continua sem conseguir entender o que se passa na Venezuela e, mesmo sem querer, acaba fortalecendo o papel de Hugo Chávez no processo de mudanças que acontecem na América Latina. Nos dias seguintes ao plebiscito sobre a reforma constitucional, os nossos jornais estamparam manchetes ressaltando a vitória do “não” e a manutenção da atual Constituição.
Nas semanas que antecederam o dia 2 de dezembro, jornais brasileiros faziam matérias enaltecendo a preocupação da “oposição” em não permitir as alterações propostas por Chávez. E, até agora, não perceberam a esparrela em que acabaram caindo. Nossa imprensa, orientada por Washington, cai no mesmo erro já cometido por Bush e pela direita mais reacionária da Venezuela. Mostram a vitória do “não” como um avanço “democrático” sobre o possível ditador Chávez.
O que não perceberam? Por que, ao contrário do que dizem, esta foi uma vitória de Chávez?
A nossa imprensa parece ter esquecido a história recente e se confunde nos dados e análises. A vitória de Chávez acaba estampada nas entrelinhas das matérias e, para percebermos isto, basta fazer um breve retrospecto na história da Venezuela.
No dia 17 de novembro de 1999 era promulgada a atual Constituição da “República Bolivariana da Venezuela” que, em seu preâmbulo, dizia: “El pueblo de Venezuela, en ejercicio de sus poderes creadores e invocando la protección de Dios, el ejemplo histórico de nuestro Libertador Simón Bolívar y el heroísmo y sacrificio de nuestros antepasados aborígenes y de los precursores y forjadores de una patria libre y soberana”. Ou seja, a nova Constituição assegurava o bolivarianismo e o resgate da soberania e das participações populares, enquanto a Constituição anterior, de 1961, era autoritária e excluía o povo de qualquer tipo de participação política ou social. É nesta Carta que Chávez assume o caráter revolucionário do seu governo e define o país como “República Bolivariana”.
Em 2001, dando continuidade às reformas constitucionais, Chávez apresenta os 48 projetos de leis que levam a reestruturação do sistema produtivo venezuelano, concretiza as transformações sociais e as mudanças econômicas mais profundas. Nasce neste momento a Lei da Terra (reforma agrária) e a Lei dos Hidrocarburos (nacionalização do petróleo e reforma da empresa petrolífera). Cria os “Círculos Bolivarianos”, espaços de participação e organização popular.
E foram estas mudanças que causaram profundo abalo na direita do país. A ponto de montarem um golpe de Estado, em abril de 2002, tentando retirar pela força um presidente legalmente eleito. O golpe falhou devido à participação popular e Chávez é reconduzido ao Palácio Miraflores. Mas a direita continua conspirando contra a Constituição de 1999 e monta a nova farsa: uma greve geral, em 2003, convocada por uma central sindical de fachada! Também são derrotados e retornam aos seus gabinetes refrigerados onde continuam a conspirar.
O curioso é que, nas duas ocasiões golpistas, uma das principais bandeiras da direita venezuelana era o “não reconhecimento da Constituição Bolivariana” e o retorno à Constituição de 1961.
Durante mais de seis anos, a direita criticou, combateu e procurou desconhecer a Constituição Bolivariana. E agora, sem perceberem da armadilha, se transformaram em legítimos defensores e fiéis depositários da legalidade Constitucional. Por mais de dois meses, financiados com dólares enviados por Bush, foram para as ruas defendendo a Constituição Bolivariana. A mesma que renegavam há pouco tempo.

(Ernesto Germano – dezembro de 2007)

domingo, 2 de dezembro de 2007

Provocações justificadas

Sujou a mão com dinheiro da máfia russa na quinta-feira.
Montou um grande time-lavanderia na sexta-feira.
Foi campeão no sábado.
Viveu a ressaca da descoberta das falcatruas no Domingo.
Caiu na segunda.

Salve o compositor popular! Salve o samba!

Hoje é o dia nacional do Samba. Mistura afro-brasileira que molda nossa identidade, já foi duramente perseguido "nas escolas, nos botequins e nos terreiros", por ser de origem negra, genuína cultura popular.
O samba já ultrapassou o debate quase maniqueísta se era do morro ou do asfalto, até que Noel Rosa versou: "... o samba, na realidade, não vem do morro nem lá da cidade, e quem suportar uma paixão, saberá que o samba então, vem do coração".
O samba já foi instrumento político nas mãos totalitárias de Getúlio Vargas, que usou o samba como exaltação de um Brasil que ele dizia representar.
O samba já foi desqualificado nas rádios, nos auditórios, nos salões de festas.
O samba já foi geneticamente transformado em "pagode", servindo aos interesses vis das gravadoras e transformando em celebridade gente que não queria nada além do que ganhar notoriedade.
O samba é uma militância por ser resistência desde os quilombolas até os becos e favelas.
"samba
agoniza mas não morre
alguém sempre te socorre
antes do suspiro derradeiro".

sábado, 1 de dezembro de 2007

Uma boa dica à sensibilidade

Vale conferir no sítio www.festivaldominuto.com.br o vídeo de 10 segundos de Vinicius da Silva Oliveira. Na opção "busca" pode se procurar pelo nome do diretor ou pelo nome do filme "Lembranças". Atente para o fato da duração e a legenda dada pelo autor.
Parabéns Vinicius!

domingo, 25 de novembro de 2007

A UFRJ e a América Latina

Hoje, dia 25 de Novembro de 2007, foi o último dia de provas da Universidade Federal do Rio de Janeiro e consequentemente a prova específica de história.
Este sítio vem lembrar o inevitável: a nossa América vem ganhando aos poucos o espaço que merece na história recente de nossa redescoberta. Surgiram em nossa parte continental lutas, revoluções, golpes, que marcaram personagens e acontecimentos que hoje colhemos seus frutos. Obrigado Allende, Che, Fidel, José Martí, Bolívar, EZLN do México, MIR chileno e tantos outros que impunharam a bandeira do inconformismo e plantaram a semente que germina na forma de Venezuela, Bolívia, Equador... e quem mais ousar.
Das 7 questões discursivas da UFRJ, duas foram sobre nossa América, sendo quatro no total, pois se dividiram em letras a) e b). É a Universidade reconhecendo o papel político e econômico de nossa pátria americana. São as vozes da América ecoando.

¿Por qué no te callas?

Na semana retrasada aconteceu no Chile a Décima Sétima Cúpula Ibero-americana. Na capital, Santiago, Chefes de Estado e de governo de 22 países de língua portuguesa e espanhola da América Latina e da Europa se reuniram de 08 a 11 de novembro, para debater políticas sociais que tornem as sociedades ibero-americanas mais justas e inclusivas. Esse era o foco da 17ª Cúpula Ibero-americana, que teve como tema neste ano Coesão Social.
Tudo corria de forma protocolar, burocrática, como os ministros e assessores haviam combinado antes dos seus chefes entrarem em cena para as fotografias. Faltavam apenas os discursos, as colocações políticas, as defesas ideológicas e a exposição de interesses econômicos, como também é praxe em encontros como este.
Até que os microfones foram abertos para o venezuelano Hugo Chávez, que fez um breve elogio ao Primeiro Ministro espanhol José Luís Zapatero e duras críticas ao ex-presidente da Espanha, José Maria Aznar. O presidente da Venezuela chamou Aznar de “verdadeiro fascista” por ter apoiado a invasão dos EUA ao Iraque e ter mandado soldados espanhóis para ajudar a impor a cultura ocidental no Oriente.
Foi aí que o rei(?) Juan Carlos (?) interrompeu o debate entre Chávez e Zapatero, perguntando de forma inquisidora a razão de o Chefe de Estado da Venezuela não se calar. A "majestade", que nunca fora eleita para nada por seu povo, se levantou e foi embora, deixando um clima tenso no ar, que as empresas de comunicação de massa do Brasil aproveitaram para escancarar em críticas sobre a postura de Chávez. Há uma semana se explora a suposta impetuosidade do venezuelano, tentando relacioná-lo a um ditador, atrelando o debate daquela Cúpula a um “presidentezinho terceiromundista”, que não está à altura dos grandes chefes de Estado do mundo e que muito envergonha a América Latina, blá, blá, blá.
Vossa Majestade, rei (?) Juan Carlos (?), sou um plebeu cearense, que nunca será chamado por nenhuma cúpula Ibero-americana para se posicionar. Mas minha latinidade resolveu responder a pergunta que Chávez não ouviu ou não quis responder:
Não nos calamos por que nunca foi de nossa índole a passividade, nem quando seu país era um Império em nossa América, saqueando nossas riquezas num tempo tenebroso para todos nós americanos e quando a Espanha de fato era uma monarquia tirana, diferente de hoje que o bobo da corte tira onda de rei e acha que pode vir em nossa América e tentar reviver o século XVI, mandando nossas lideranças indígenas arrefecer seus ânimos, com o ferro de sua coroa e o fogo de sua Igreja. E ainda assim, rei(?), eles não se calaram.
Não nos calamos,” majestade”, em nome dos 6 milhões de índios que vocês dizimaram na sanha alucinada por ouro e prata que moveu seu país na nossa América e hoje se move junto aos EUA ao Iraque, para atuar como lacaios dos novos imperialistas e ver se sobra um quinhão do ouro negro que banha aquelas costas.
Não nos calamos, ó figura decorativa, em respeito aos heróis que nunca se calaram como Tupac Amaru, José Martí, Morelos, Hidalgo, Che e tantos outros que cometo a injustiça de não relacionar, mas que você, suponho, já ouviu ao menos falar.
Não nos calamos, ó bibelô de Palácio, pois não nos conformamos com um mundo de dominadores e dominados e, portanto, repudiamos o triste papel que a Espanha cumpre no “novo” cenário mundial.
Não nos calamos, ó parasita do dinheiro público espanhol, por correr em nossas veias a dignidade que vocês nunca tiveram ao pisar no que vocês ousaram em chamar de “novo mundo” e ao fincarem suas patas fétidas por 330 anos em nossa casa cometeram além do maior genocídio que se tem registro na história, um estupro religioso que impôs a nossa cultura politeísta seus valores monoteístas-monolíticos-cristãos, os mesmos que querem impor agora vocês, os novos Cruzados, no Oriente Médio.
Não nos calamos pois não nos rendemos, ainda que tudo conspire à favor dos tiranos.

Aos que leram esse artigo, um abraço bolivariano e a esperança de ver nossa América livre, independente e latina, expurgando de vez um dia, os reis e rainhas da velha ou da nova nobreza, que insistem em nos oprimir.

domingo, 18 de novembro de 2007

Patético I

Os países do Mercosul (Brasil, Uruguai, Paraguai e Argentina) convidaram outros países do continente sul americano para fazer parte do bloco. Foi assim com o Chile e também com a Venezuela.
Para que os países convidados sejam efetivados, quem vota contra ou a favor, é o parlamento dos países membros do Mercosul e aí começa o problema. Os deputados brasileiros estavam demorando demais para aceitar a Venezuela, quando o Presidente Hugo Chavéz revelou aquilo que todos sabem, mas poucos gostam de ouvir, "o parlamento brasileiro é marionete dos interesses dos EUA, por isto, hesitam em aceitar a Venezuela como membro do Mercosul". Pronto, fez-se a discórdia. Respostas oficiais de um lado, contra resposta do outro, muita bobagem na imprensa (vendida aos EUA) no Brasil, algumas capas da Veja, Época, e aberrações do gênero.
Até que, o crédulo parlamento brasileiro, escolheu para ser o relator do parecer sobre a Venezuela, o representante máximo de sua credibilidade, o incontestável, ilibado, honestíssimo... Deputado Paulo Salim MALUF!? Isto mesmo, o velho Maluf, aquele que teve contas (no plural por favor) descobertas no exterior e que não condizem com seus rendimentos, aquele que responde a processos por lavagem de dinheiro e evasão de divisas no exterior, mas que no Brasil é tratado por Vossa Excelência.
O patético foi ver o deputado Maluf, dizer que Hugo Chavéz é um "ditador", que " o presidente da Venezuela não merece o cargo que ocupa", que "é um mal a ser combatido" e ...
Bem, primeiro que de ditadura, devo admitir, o Maluf entende, pois foi prefeito biônico de São Paulo e governador biônico do Estado de São Paulo nos tenebrosos tempos da ditadura militar. Serviu como um bom lacaio aos ditadores e fez fortuna nesse tempo, daí não poder esclarecer a origem suja de seu dinheiro. Foi ele, quando prefeito pela ARENA partido dos militares golpistas, quem presenteou cada jogador brasileiro campeão da copa do mundo de 1970 no México, com um fusca, mas com dinheiro público claro.
E, assim, depois de dizer o que quis do presidente da Venezuela com o silêncio complacente dos meios de comunicação de massa do Brasil, terminou seu relatório dizendo que aceita a Venezuela no Mercosul. Estranho? Não, petróleo.

Patético - II

Quem está atento as propagandas na televisão dessa última semana, viu a deprimente reaparição de Roberto Jefferson (PTB-RJ).
Não bastasse o ridículo de ver um ladrão do colarinho branco, réu confesso, solto pelas ruas e invadindo nossas casas sem a menor cerimônia, depois de assumir ter recebido propina de dinheiro público, conhecido como "mensalão" e nada ter sido feito na área criminal contra este "cidadão" (sim, cidadão, pois se fosse pobre, negro, nordestino e tivesse roubado um banco ou uma carteira, já tinha levado porrada, apareceria na mesma televisão nos programas sensacionalistas que gostam de humilhar pessoas ao vivo com truculência jornalística e estaria justificando o discurso de pena de morte nas vozes ofegantes e vingativas de uma classe média sem rumo), o ex-deputado, aliado de sempre do ex-presidente Collor (sem comentários por enquanto), ex-membro da base aliada de FHC, ex- aliado de Lula, vem a público para defender a invasão dos EUA ao Iraque e propor, nas entrelinhas, que o Brasil deveria fazer o mesmo para garantir seus interesses na Bolívia???!!!
Ao se pronunciar no programa eleitoral de seu partido, afirmou: "Bu$h e Blair invadiram o Iraque para assegurar o petróleo para seus povos. A Bolívia quebrou o contrato com a Petrobrás e o governo brasileiro nada fez para impedir a ação do Presidente Morales. O Brasil precisa de um governo forte..."
Oportunista, faz apologia a uma guerra contra nossos vizinhos bolivianos, que sofreram como nós uma invasão ibérica por mais de 4 séculos. Perderam quase tudo, menos o gás e a dignidade. Hoje resistem e tentam fazer de suas riquezas, alavancas, para um crescimento econômico que só chegou no século XXI, quando um novo índio, voltou ao poder, como antes de Colombo, e tentam reescrever a história na esperança de recuperar os 516 anos perdidos.

Deu até no Jornal Nacional

Rio de Janeiro, 17 de Novembro de 2007.

Pois é, na edição deste dia 17, do jornal televisivo mais asistido do país, em meio a um fogo cruzado e sem sentido contra a Bolívia do índio Morales e do bolivariano Chavéz da Vanezuela, eis a constatação do irrefutável. Ônibus lotados de velhinhos esperançosos partem do Brasil em direção da Bolívia, atravessam a fronteira e vão parar em pequenas cidades que, quase sem nenhuma estrutura, recebem as caravanas de enfermos dos olhos.
Buscam operar cataratas, ou quaisquer soluções para seus crônicos problemas oftalmológicos que o sistema de saúde brasileiro não consegue dar soluções. E o melhor: inteiramente de graça, até mesmo para estrangeiros como o caso relatado por este comunicador de massa global.
Pois é caros amigos, o índio Evo Morales fez um acordo com o maior sistema de saúde da América Latina - Cuba - e são os médicos cubanos que atendem as espectativas e esperanças de "uma gente que ri quando deve chorar e não vive, apenas aguenta". Mas saem da Bolívia com o alívio que não recebem pela máfia do sistema privado de "sanguessugas" na área de saúde e tampouco no público, refém que virou dos interesses desses inescrupulosos planos de saúde.
Vida longa a esta nova Bolívia! Vida longa a Cuba e seu combalido, mas não derrotado, socialismo!
A ironia é que os olhos que não querem enxergar que as contradições do capitalismo nos obrigam a procurar soluções nos países vizinhos, foram curados por aqueles que nos são mostrados como sendo do "eixo do mal", é assim que os vemos.
Agora que podemos ver, só nos falta enxergar.

sábado, 3 de novembro de 2007

Invisível, simples e com grande valor - Dido, um suburbano.

Aqui no Sapê, enquanto o mundo gira na velocidade que não podemos acompanhar, mora um homem simples. Catador de bugingangas pelas ruas de Rocha Miranda, vendedor de lixo reciclável, anda nas ruas arrastando sucatas em seu carrinho puxado pela força de seus braços magrelos. Tem mais de 60 anos e um bom papo. Recentemente, e só recentemente, conseguiu por obra de pessoas que lhe querem bem, uma aposentadoria. Ganha R$ 380,00 por mês.
E por incrível que pareça, hoje, dia 03 de Novembro, já início do próximo vencimento, ainda tem R$ 50,00 guardados, ou 5o "mil réis" como gosta de chamar o homem que parece ter vindo do século XV.
Vive de escambo, não se importa com a idade, não conta as horas e não dá a mínima com o que escrevo aqui. Mas tem uma coisa que estamos todos perdendo: este homem, dá um enorme valor ao outro, tirando de seu barraco a comida que lhe fará falta, para dar para os amigos que ainda têm menos do que ele.
Para muitos ele é um bobo na Corte, mas de fato, é um anônimo herói brasileiro, sem nome, sem face, sem história, sem medalhas, sem títulos, mas solidário.

ONU: 188 votos pelo reparo de uma injustiça x 4 votos à favor da injustiça. Vitória do DEMOcracia

Nesta última terça-feira, dia 30 de Outubro, a Assembléia Geral da ONU votou pela décima sexta vez contra o embargo econômico que fora imposto à Cuba desde 1959!!!
Dos 192 países membros desta organização, apenas 4 votaram a favor da manutenção desta brutalidade: Os EUA por razões históricas e visceráis. Israel por ser o fiel cão de guerra no Oriente, lacaio dos interesses estadunidenses para assuntos de morte aos palestinos; As Ilhas Marshall e Palau, por razões tão desconhecidas quanto as suas localizações no mapa político munidal.
O que se sabe é que o Império do Norte se gaba mundo a fora, através dos mais diversos meios ideológicos, de ser a "maior democracia" do planeta e quando a máscara cai... vemos a farsa da democracia descortinando a espécie ditatorial travestida de liberdade. Mais um papelão do Tio Sam e seus capachos.
Para os meios de comunicação conservadores do Brasil ficam umas perguntinhas: Quem é o ditador, Fidel ou Bush? Onde temos uma ditadura, em Cuba ou nos EUA? Quando a imprensa burguesa vai tratar o terrível embargo econômico à Cuba como crime contra a humanidade, uma vez que desde 1959 todos os países que fazem comércio com os EUA estão proibidos de comercializarem com Cuba?
E o descalábrio parece não ter fim. Bu$h classificou Cuba como "Gulag tropical"!!?? Para quem não sabe, Gulag era uma prisão para trabalhos forçados na Sibéria, nos sombrios tempos de Stálin na URSS, onde o tirano disfaçado de líder mundial do comunismo, mantinha presos políticos até a morte, inclusive os comunistas anti-stalinistas. Pois é, em Cuba há um Gulag, mas não é cubano!!!
A base militar dos EUA em Guantánamo é um presídio onde centenas de presos políticos já passaram e morreram por lá. Hoje, repleto de árabes que ousaram lutar contra a invasão dos EUA no Oriente Médio. Guantánamo fere todos os preceitos de direitos humanos e convenções militares de guerra, mas curiosamente, ninguém dá àquele inferno o tratamento e os adjetivos que merece. Qual seria a razão? Perguntaria, já sabendo a resposta, qualquer pessoa dotada de um mínimo de senso crítico e humanitário.
Falar de democracia é fácil; ser o senhor da guerra é fácil; invadir o Oriente Médio armando covardemente Israel para os seus interesses é fácil; vender a imagem de país referência do mundo com essa imprensa vendida aos seus caprichos é fácil; crescer economicamente as custas de duas guerras mundiais, uma guerra fria, e mais dezenas de outras guerras continentais para aquecer o mercado de armas e a indústria bélica é fácil; difícil, pequeno Bu$h, é conviver com uma proibição comercial-econômica desde 1959 e ainda ser espelho para o mundo quanto educação, saúde e independência, provando que um outro mundo é possível, sem dominadores e dominados. Isto talvez vocês não entendam nunca.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

A Igreja Católica e o conservadorismo que se afastam dos ideais de Jesus Cristo - Parte II






"Devemos nos indagar se a perseguição do nazismo contra os judeus não teria sido facilitada pelos preconceitos anti judaicos existentes em alguns corações e mentes cristãos". - Cardeal Edward Cassidy - Nós lembramos - uma reflexão sobre o Shoah, 1998

Durante os duros anos de Guerra de Unificação na Itália, o estado pontifício de Roma, também fora unificado pela luta burguesa, fazendo assim com que a milenar Igreja perdesse sua sede mundial.
Após anos de brigas internas e sucessivas Santidades papais, fora assinado então um acordo, já no século XX, entre o Papa Pio XII e o chefe do Estado italiano, o nada menos repugnante... Mussolini!!!
Este acordo - Tratado de Latrão - fazia com que a Santa Igreja recebesse de volta um estado, o país Vaticano, sob a forma de indenização em troca do apoio a ditadura fascista que se consolidava no eixo Roma-Berlim, que levaria o mundo a se quedar paralisado ante a possibilidade nazi-fascista conquistar o planeta, neste caso com o aval vaticanista.
Chamavam-no de il Tedesco, "o alemão". E não sem razão. Ninguém nas altas esferas do Vaticano superava a germanofilia do Cardeal Eugênio Pacelli. A Alemanha era a sua segunda pátria, o alemão seu outro idioma, e os Hohenzoller, a dinastia lá reinante, os soberanos do seu coração. Ele estava em Munique em 1917 quando nomearam-no arcebispo e núncio, autorizando-o a negociar uma concordata com os bávaros. A seguir, de 1925 a 1929, fixou-se em Berlim, quando então o Papa Pio XI chamou-o à Roma nomeando-o secretário de estado. Anos perigosos e difíceis aqueles, quando a Igreja Católica, indisposta com o liberalismo e inimiga de morte do comunismo, decidiu-se associar-se ao fascismo.
Pelo Tratado de Latrão, de 1929, a roupeta preta confraternizou-se com a camisa negra. Em troca de 750 milhões de liras - o "empréstimo da conciliação"-, o Papado reconheceu o regime de Mussolini. A mão que abençoava os cristãos apertou a mão de quem sufocava as liberdades. A própria Igreja Católica apressou-se em suprimir da política italiana o Partito Popolare, e todas as demais organizações laicas católicas que pudessem atrapalhar ou impedir a implantação do regime de partido único na Itália. Quando Hitler chegou ao poder em 1933, foi o próprio Pacelli quem supervisionou os termos da concordata, assinada em 20 de Julho de 1933, redigidos pelo Monsenhor Gröber, o "bispo nazista"(der braune Bischof), de Fribourg, que, a pretexto de proteger os católicos, tirou o Führer dos nazistas do isolamento diplomático em que se encontrava nos primeiros momentos da sua ascensão.
O papa Pio XII, que dispunha da única rádio independente em toda a Europa ocupada, jamais alçou-se em fazer sequer uma denúncia pública das atrocidades que os nazistas estavam cometendo. Na reunião do Lago de Wansee, ocorrida na periferia de Berlim em Janeiro de 1942, como se sabe, os altos hierarcas do partido e do governo comprometeram-se a conjugar esforços para executar a Endlösung, a Solução Final, gazeando toda a população judaica européia (calculada em 11 milhões). O máximo que obteve-se de Sua Santidade foi uma alocução, no Natal de 1942, na qual, sem especificar quem eram as vítimas, apontou "as centenas e os milhares que, sem falta ou culpa alguma, talvez apenas em razão da sua nacionalidade ou raça, foram marcados pela morte e pela progressiva extinção." O estranho argumento dos defensores do mutismo pacellista era de que se o Sumo Pontífice delatasse os crimes, os nazistas, em represália, poderiam aumentar o número dos imolados, tornado o sofrimento ainda maior! Alegam ainda, como fez o historiador Christopher Browning, que é uma ingenuidade pensar-se que o papa pudesse, em qualquer momento, deter o genocídio que, em sua maior parte, deu-se bem longe da Itália, vitimando ciganos, judeus poloneses e russos, e prisioneiros soviéticos. Raciocínio que nos leva a concluir que o sentimento de solidariedade cristã e indignação humana contra os assassinatos em massa está limitado pela geografia! Ninguém, é bom lembrar, considera a Cúria Papal um exército, nem vê o papa como um general a quem se recorre para complicadas operações de salvamento e resgate, mas sim acredita ser a Igreja Católica uma força ética e uma reserva moral do Ocidente, de quem espera-se que aja em favor das vítimas justo nesses momentos terríveis.
Qual então a razão do seu silêncio? Segundo a historiadora Annie Lacroix-Riz (Le Vatican l 'Europe et le Reich, Paris, 1996), sabe-se que em privado, com representantes alemães, Pacelli externava os mesmos sentimentos anti judaicos deles. Mas presumo ser outra a causa do seu silêncio. Essa, de ordem subjetiva-objetiva. O papa, sendo um implacável anti comunista, um aristocrata de família toscana, nascido em Roma em 1876, tendo por um irmão um conde, encarnava os valores últimos de uma nobreza européia agonizante. Viu no nazismo, como tantos outros da sua casta, a oportunidade de liquidar com os bolcheviques ateus (versão contemporânea dos jacobinos, que tantos padecimentos fizeram sofrer a nobreza e a igreja nos tempos modernos), mesmo que o preço a pagar fosse moralmente monstruoso. Somente eles, os super-homens de Hitler e de Mussolini, com sua política de total impiedade, colocando-se bem "acima do bem e do mal", poderiam abatê-los. A pavorosa morte dos judeus era o tributo moral que exigiam dele. A política do Vaticano de sustentação incondicional do Reich, "excluía emocionar-se por suas vítimas".
Os tempos são outros, a conjuntura histórica mudou, mas a Igreja e o atual Papa insistem numa Igreja segregacionista, anti-comunista, etnocêntrica, portanto anti-cristã. Somente as vozes dos que acreditam em Deus e/ou dos que acreditam num mundo justo, fraterno e igualitário, podem frear a aberrações cometidas em nome Dele ou em nome de uma ética materialista cujos pressupostos passem pelo outro e não por interesse rasteiros como lucro e propriedade.

Colaboração do síto mundo história

A Igreja Católica e o conservadorismo que se afastam dos ideais de Jesus Cristo

O Papa Bento XVI pode ser visto na fotografia ao lado junto ao médico alemão Josef Menguele, que ficou famoso na Segunda Guerra Mundial por fazer "experiências" com prisioneiros de guerra judeus, comunistas, prostitutas, críticos ao nazismo. O jovem Ratznger foi militante da União de Jovens Nazistas e hoje, chefe maior da Igreja católica, faz valer seu ultraconservadorismo.
No papado do também conservador João Paulo II, ele foi o braço direito, responsável pela versão moderna do Tribunal da Santa Inquisição, que na Idade média condenava à fogueira os "hereges", homens e mulheres que questionavam os dogmas da Santa Igreja. Na versão século XX, este Tribunal, entre outras calaminades, calou as oposições dentro da própria Igreja, como a Teologia da Libertação. O próprio Ratznger decretou o silêncio por dois anos do então frei, Leonardo Boff, hoje professor e excomungado da Igreja Católica.
O artigo que se segue foi escrito pelo Núcleo de Estudos Anarquistas da UFF (Universidade Federal Fluminense) sobre a mais recente polêmica envolvendo o Papa e os rumos conservadores desta Instituição, que em recente visita ao Brasil, afirmou em discurso na sessão inaugural dos trabalhos da 5ª Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe (CELAM), que se realizou na Basílica de N. Sra. Aparecida, Bento 16 negou que o catolicismo tenha sido imposto pela Igreja aos povos indígenas que viviam na América do Sul. Falando em espanhol, o papa disse que a cultura indígena permite afirmar que, mesmo sem saber, os índios procuravam Jesus Cristo. "O que significou para os povos latino-americanos ter aceitado a fé cristã? Para eles, significou conhecer e acolher Cristo, o Deus desconhecido que seus antepassados, sem saber, procuravam em suas ricas tradições religiosas. Cristo era o Salvador que buscavam silenciosamente", disse o pontífice.
Segundo ele, o anúncio de Jesus e seu Evangelho não supôs, em nenhum momento, a alienação das culturas pré-colombianas, nem foi a imposição de uma cultura estranha, acrescentou. Para o papa, as culturas autênticas não estão fechadas em si mesmas ou petrificadas em um determinado ponto da história. "Mais ainda, buscam o encontro com outras culturas, esperam alcançar a universalidade no encontro e diálogo com outras formas de vida e com os elementos que possam levá-las a uma nova síntese, em que se respeite a diversidade das expressões e sua realização cultural concreta", reiterou.

Vaticano beatifica 498 "mártires" da Guerra Civil espanhola

CIDADE DO VATICANO - Neste domingo no palco da Praça São Pedro aconteceu uma das mais patéticas ações promovidas pelo Vaticano nestes
últimos anos: a beatificação de 498 espanhóis considerados mártires das
"perseguições religiosas" durante a Guerra Civil espanhola (1936-1939).
Essa foi a maior beatificação coletiva da história da Igreja. Após a cerimônia, o
Papa Bento XVI disse que o"com seus gestos de perdão em relação a seus
perseguidores, (os novos beatos) nos impulsionam a trabalhar pela
reconciliação e convivência pacífica". "Com seu testemunho, iluminam
nosso caminho espiritual para a santidade e ns levam a entregar nossas vidas
como oferenda de amor a Deus e aos irmãos"
- disse funebremente o pontífice,
após a cerimônia celebrada pelo cardeal português José Saraiva Martins,
prefeito da Congregação para a Causa dos Santos e representante oficial do
Papa.
O Papa Bento XVI (que, não por coincidência, é egresso das
fileiras nazistas, filho um combatente da SS e tendo participado da
União de Jovens Nazistas da Alemanha), assistiu a cerimônia do
Palácio Apostólico e não mencionou as circunstâncias históricas nas
quais os "mártires" morreram. Muitos padres e líderes da Igreja
Católica se aliaram ao genral fascista Francisco Franco durante a
Guerra Civil, fazendo mais de 500.000 pessoas mortas, dentre eles
grande número de trabalhadores socialistas e anarquistas.
Grande parte destes "mártires" eleitos pelo Vaticano foi assassinada
pela própria população espanhola, organizada contra a ditadura
fascista de Franco. Durante décadas, a Igreja Católica na Espanha colheu provas de que centenas de seus membros morreram durante a guerra "devido à crença que seguiam", o que os torna, na opinião dela, "elegíveis à beatificação".

Na cerimônia, o Cardeal José Saraiva Martins disse que os 498 novos beatos
"derramaram seu sangue pela fé durante a "perseguição religiosa" na
Espanha". Completando essa cena asquerosa, o Cardeal afirmou que, "antes de morrer perdoaram os que os perseguiam e rezaram por eles". E, de acordo
com "as estatísticas" da Igreja, os """"mártires"""" dos anos da Guerra Civil
Espanhola, classificados no que o Papa João Paulo II denominou como os
"Mártires do Século XX", podem chegar a 10 mil. O resultado do teatro bizarro
foi a beatificação de 977 destes indivíduos e a santificação de 11 deles em
outras cerimônias celebradas no Vaticano, e avisou que caso católicos
devotos relatem milagres decorrentes de preces direcionadas aos """mátires"""
que foram beatificados neste domingo, eles podem ser colocados na lista do
longo processo de santificação.
------------x--------------
Aos que almejam a justiça social e a liberdade, resta o repúdio e a denúncia desta barbaridade que o Vaticano está proclamando!

Neste momento, os que forem religiosos cabe prestar reverências e
preces e os que não forem religiosos cabe prestar as devidas
homenagens à população espanhola que lutou na Guerra Civil,
contra a ditadura fascista apoiada pela Igreja Católica, e aos muitos
que foram assassinados nesta luta.

GEA-NEC / UFF

Agradecemos a colaboração do professor e amigo J.J. pelo artigo enviado.
Abraços fraternos, Vozes da América.

domingo, 28 de outubro de 2007

Um pedido sincero aos amigos e inimigos deste sítio

Caros amigos e caras amigas,

A vocês, os quase 10 leitores que temos, viemos fazer um pedido: divulguem esta página!
Quem nos conhece sabe que não queremos expor verdades, mas sim, fomentar a discussão e o debate sobre o mundo que nos cerca e, assim, falar de uma visão de mundo incomum aos grandes meios de comunicação de massa.
Veja a seguir algumas declarações de personalidades que já passaram por aqui:

"Eu não li, não tenho nada a ver com isto, e se tiver algum assessor meu ligado a este sítio precisamos investigar rapidamente, ainda que tenhamos que cortar nossa própria carne".
(Luis Ignácio Lula da Silva - Presidente do Brasil)
"Sou leitor desta página, mas confesso que não entendo quase nada do que está escrito. A Condolezza leu e já estamos pensando num ataque militar ao Brasil por conta das provocações contidas neste site. Claro que antes invadiremos Cuba, Venezuela e Bolívia".
(George Bu$h - Imperador do Planeta)
"É bestial o que se publica nesta página com a petulância de se chamar Vozes da América. Os únicos que podem ter visões sobre o mundo somos nós e as Organizações Globo. Precisamos achar um meio de tirar do ar essas infantilidades advindas do movimento estudantil"
(Revista Veja)
"Nota de esclarecimento: As organizações Globo, bem ao seu estilo burocrático, vêm através desta nota, repudiar o sítio vozesdaamérica e reafirmar o nosso compromisso com a democracia e concluir que democracia somos nós que definimos. Ah, não concordamos com a Veja, pois acreditamos que o monopólio da comunicação e de sua formação de opinião é apenas desta Organização, que desde os tempos de ditadura militar vem zelando pelo povo brasileiro, levando informação e deformação".
(Organizações Globo)
"Precisamos urgentemente invadir esta página com os nossos veículos blindados com caveiras estupradas por um faca desenhada na lataria. Se descobrirmos que os responsáveis são brancos e da zona sul, recuaremos imediatamente. Agora, se forem negros e/ou favelados, não teremos outra alternativa que não o extermínio sumário. Afinal, é diferente quando uma crítica vem de Copacabana ou do Leblon de quando uma crítica vem da Favela da Coréia ou do Complexo de Alemão".
(Sérgio Cabral Filho e Beltrame)

sábado, 27 de outubro de 2007

Sete dias, César Faria e o chorinho



Hoje faz sete dias que sua música silenciou. Morreu, no dia 20 de Outubro deste 2007, o violonista César Faria, fundador do grupo Época de Ouro, tinha 88 anos e dedicou sua vida a boa música brasileira e popular.

Um infarto emudeceu seu violão, que já havia acompanhado outras lendas da nossa música como Jacob do Bandolim, Cartola, seu filho Paulinho da Viola... mas sua falta será sentida por sua insistência na valorização da nossa cultura, afinal, o dedilhado e as cordas que não se ouvirão mais ao vivo, serviram de resistência na década de 60 ao chorinho, este gênero brasileiro em que César Faria foi militante e as rádios insistem em esconder, com raras e louváveis exceções como a Roquete Pinto FM (94,1). O despejo sobre nossos ouvidos dos lixos de massa, imbecializam nossa juventude e recriam a ode ao nada, ao vazio, a vulnerabilidade do consumo do tipo que se usa e se joga fora para a próxima moda passar.

Viva a música popular brasileira, "que agoniza mas não morre/ alguém sempre te socorre/ antes do suspiro derradeiro (...)"

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

O neo-nazismo: da Suiça ao Rio de Janeiro

Na propaganda de rua ao lado, vê-se o escárnio do neo-nazismo que exalta a expulsão dos "estrangeiros criminosos" da Suiça, e tudo isto em nome da "segurança". No canto direito o símbolo do partido UDC, contrasta o sol feliz a comemorar com a face desolada da ovelha diferente das demais pagando o preço da intolerância.
Quando será que veremos uma campanha como esta no Brasil? Afinal, a julgar pela política de César "imperador" Maia e "Adolf" Cabral Filho, só está faltando o cartaz. Mas por favor neo nazistas fluminenses, não esqueçam de colocar seus partidos, respectivamente DEM e PMDB!

No cartaz, podem-se ver três ovelhas brancas situadas sobre uma bandeira suíça, dando uma patada com os membros traseiros em uma ovelha negra, que expulsam do quadro. O desenho em questão não é mais que o último capítulo de uma longa série de provocações feitas pelo SVP-UDC (Partido Popular da Suíça), a formação nacionalista do caudilho de direita Christoph Blocher. O que marca a diferença de outras campanhas do mesmo tipo que possam existir na Europa é que o homem que dirige esse partido não é um radical nem um messiânico exaltado, mas sim um poderoso e brilhante industrial de Zurique que ocupa o cargo de conselheiro federal (equivalente a ministro) da Justiça e da Polícia, e, portanto assim, consegue disfarçar melhor seu neo-nazismo, travestindo-se de bem sucedido empresário. A ovelha negra não seria outra coisa senão a óbvia metáfora escolhida pelo SVP-UDC para simbolizar os "criminosos estrangeiros" que, segundo eles, "abusam do sistema, fazem badernas e traficam drogas" na Suíça. Estrangeiros indesejáveis que o partido de Blocher, capitaneado por seu presidente, Ueli Maurer, deseja ver deportados o quanto antes.

A mensagem calou fundo entre seus conterrâneos, já que o SVP-UDC é o que possui maior número de assentos no Parlamento, com quase 30% dos votos e o pior, venceu as eleições parlamentares de 21 de Outubro. A campanha, que incluiu a remessa de suas propostas de porta em porta, chamou a atenção inclusive da Organização das Nações Unidas. O relator especial para Racismo da ONU, o senegalês Doudou Diène, viu-se obrigado a alertar as autoridades sobre o perigo de "desvios xenófobos" em um país que se orgulha de sediar organismos internacionais como o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos ou a Cruz Vermelha Internacional.
Em um recente debate televisivo, o caudilho de Zurique advertiu claramente: "Serei ainda mais perigoso fora do governo, porque agora conheço por dentro os mecanismos do poder". Eis uma característica do velho nazi-fascismo: a política de ameaças, o medo impositivo, a sentença que propaga a idéia de impotência, pois de uma forma ou de outra "serei perigoso", logo é inútil tentar me deter.

Explicar o Neo nazismo como fruto da política neo liberal não é tarefa difícil. A globalização burguesa expande a cultura dominante esmagando as demais, exporta modelos teoricamente bem sucedidos amplamente veiculados pelos meios de comunicação de massa, transforma em lucro a miséria do mundo, incentivando o crescimento das elites regionais que acirram ainda mais as contradições sociais. Esse mar de gente que não pode jogar o covarde jogo neo-liberal está excluído e busca, naturalmente, outras paragens, migrando em busca de oportunidades que lhes foram negadas em seus países de origem. Por outro lado, os países de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) atrativos formulam e executam políticas protecionistas que vão além das leis invisíveis de mercado, adotando o discurso excludente e perigoso do ultranacionalismo xenófobo, que revive a barbárie dos tempos coloniais e escala seres humanos por etnia, raça, credo e classe social.

Enquanto isso... no Rio de Janeiro,

O Nazifascista Secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, aquele mesmo que ordenou ataques sucessivos e ininterruptos ao Complexo do Alemão na Penha – RJ, matando pessoas em nome da luta contra o narcotráfico, fortalecendo o Estado-Policial ainda mais, disse nessa terça-feira dia 23 de Outubro, dois dias depois da derrota da humanidade na Suíça, que sua estratégia contra a "bandidagem" está correta, se referindo a lamentável cena de perseguição e morte que as televisões mostraram sem críticas. Ali, na favela da Coréia, em Senador Camará , um helicóptero da polícia dava tiros em dois SUSPEITOS que corriam morro abaixo. As balas furavam a terra ainda seca e explodia em pequenos chumaços de areia até que os supostos traficantes foram mortos por uma polícia assassina, liderada por um secretário neo-nazista que ainda ousou argumentar assim o fato dos traficantes levarem para a zona sul seus armamentos e drogas:
“É difícil a polícia entrar ali, porque um tiro em Copacabana é uma coisa. Um tiro na favela da Coréia, no complexo do Alemão (zonas oeste e norte respectivamente) é outra”.
O comentário argumentativo deste secretário, pasmem, de segurança pública, carrega a real face da elite carioca que entende haver de fato uma cidade partida, uma segregação espacial e social que se reflete no tratamento diferenciado dado às populações marginalizadas.
E como se não bastasse e até como desdobramento desta política segregacionista, o governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral Filho não deixou por menos. No dia 24 de Outubro, ontem, se justificando por ser a favor da legalização do aborto como forma de acabar com a violência, evocou as teses dos autores de "Freakonomics", livro dos norte-americanos Steven Levitt e Stephen J. Dubner, que estabelece relação entre a legalização do aborto e a redução da violência nos EUA.. Os economistas estadunidenses escreveram isto na década de 70 e o governador do Rio argumentou assim seu racismo:
"Tem tudo a ver com violência. Você pega o número de filhos por mãe na Lagoa Rodrigo de Freitas, Tijuca, Méier e Copacabana, é padrão sueco. Agora, pega na Rocinha. É padrão Zâmbia, Gabão. Isso é uma fábrica de produzir marginal", declarou e decretou Adolf Cabral Filho.
O desinformado governador não leu os últimos relatórios do IBGE, que afirmam que as mulheres de baixa renda tem tido menos filhos, que portanto, a curva de natalidade vem caindo ano-a-ano no Brasil e nem por isso a pobreza diminuiu.
A onda neo-nazista chegou de fato ao Rio de janeiro e não está apenas na esfera estadual. Não podemos esquecer a insistente tentativa do prefeito-imperador, César Maia, em impor na marra, contra a vontade dos profissionais da educação e estudantes, a malfadada "aprovação automática" nas escolas municipais. Mais uma tentativa de maquiar números às custas da população pobre que, segundo tal política, terá tratamento diferenciado em relação ao filho da classe média de escolas particulares.
Pobre Rio de janeiro, tão longe da sua tradição à esquerda, tão perto da tirania neo-nazista.
Sinto-me como àquela ovelha negra do quadro acima, desolado e estrangeiro em meu próprio país, cercado por um putrefato sistema social que olha pessoas e enxerga lucros, que não entende o pluralismo e não respeita a diferença.
"Erguei-vos, ó vítimas da fome"!

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

O mediano pensamento de uma classe medianamente medíocre

Era um sábado, como tantos outros de trabalho, e me posicionava numa mesa de café de uma conhecida padaria da Ilha do Governador, bairro da zona norte-suburbana do Rio de Janeiro. Dava goles em uma xícara quente entre mordidas num pão que amainava minha fome matutina, quando inevitavelmente ouvia a conversa do casal detrás.
As mesas muito juntas encheram meu desejum de fel. O casal discutia o filme Tropa de Elite quando a mulher executou a sentença: "você sabe porque nós gostamos tanto do filme"? perguntou a carrasca e logo respondeu - "pelo fato dele fazer o que todos nós tínhamos vontade, limpar a sujeira da favela do resto da cidade". (!!!???)
Acabou o café, acabou o sábado... será que é o início do fim daquilo que nos restou?

Obeservação: Cuidado! A classe média que marchou com Deus e pela Pátria da TFP em 1964 apoiando o golpe militar que nos colocou nas trevas por 21 longos anos, agora é o "Cansei" da burguesia de São Paulo (que conta com o apoio da sempre desprezível Hebe Camargo, da "Axé-bestial Ivete Sangalo e de donos de joalherias, haras, donos de televisão, latifundiários, apresentadores e seus rolex...) e sempre suscetível ao discurso Estado-policialesco da Ordem a qualquer custo e em tempo recorde. Coisas que o filme em questão exalta reforçando esse traço rançoso de limpeza étnica digno de um tribunal internacional para crimes contra a humanidade.

sábado, 20 de outubro de 2007

A guerra fria continua - segunda parte


Segunda-feira, 08 de Outubro de 2007.




Há 40 anos morreu o revolucionário latino-americano Che Guevara, vítima de uma guerra que ele sabia as dimensões e as conseqüências, prova disto está nas cartas deixadas para os filhos, mãe e mulher, onde a cada nova tentativa de irradiar o socialismo na América ou na África, vinham carregadas de despedidas.
É impressionante como algumas pessoas vestem-se em uma áurea mitológica, fruto da conjunção tempo-espaço-conjuntura-ideologia-competência. Che é uma dessas pessoas e assim, tudo ao seu redor ganha proporções igualmente magníficas. As histórias na selva de Sierra Maestra, o médico que quis virar soldado, o asmático que negava ajuda como exemplo do esforço revolucionário, a opção por mudar o mundo que julgava injusto, sua rápida passagem por cargos burocráticos na nova Cuba, a condecoração feita por Jânio Quadros no Brasil, a heróica tentativa de salvar as vítimas de uma explosão num navio belga carregado de armas no porto de Havana, o enterro simbólico das cinzas das vítimas no dia seguinte que flagrou um Che introspectivo nas lentes de Alberto Korda - imotalizando para sempre a imagem do mito na mais divulgada fotografia de todos os tempos, a despedida de Cuba e de seu Comandante Fidel, a aventura no Congo, a guerrilha na Bolívia, a emboscada da CIA, a morte do homem e a eternização do mito.
Mas também impressiona as tentativas de transformá-lo num "aventureiro", "totalitário", "terrorista" ou produto mercantil do capitalismo. Na edição do dia 03 de Outubro de 2007, uma certa revista de tiragem semanal, que por uma questão de respeito ao leitor desse pequeno artigo me recuso a escrever o seu nome imperativo, trouxe de volta os anos de guerra fria. Um panfleto anti-comunista, como tantos que já publicou, mas com o status de matéria de capa, que revela um Che "maltrapilho e sujo metido em uma grota nos confins da Bolívia". (?)
A idéia desta revista (?) era impactar o leitor com um discurso de movimento estudantil de direita aos moldes da Mackenzie de São Paulo nos idos da ditadura militar e o seu tenebroso braço armado da pequena-burguesia juvenil paulistana do CCC - Comando Caça Comunista. Nas páginas chovinistas do semanário pode-se encontrar apresentações como "Ernesto Guevara Lynch de la Serna, argentino de Rosário, o Che, que antes, para os companheiros, era apenas "el chancho", o porco, porque não gostava de banho e "tinha cheiro de rim fervido". E...???
As letras frias do artigo panfleto vão além: "Por suas convicções ideológicas, Che tem seu lugar assegurado na mesma lata de lixo onde a história já arremessou há tempos outros teóricos e práticos do comunismo, como Lenin, Stalin, Trotsky, Mao e Fidel Castro. Entre a captura e a execução de Che na Bolívia, passaram-se 24 horas. Nesse período, o governo boliviano e os americanos da CIA que ajudaram na operação decidiram entre si o destino de Guevara. Execução sumária? Não para os padrões de Che. Centenas de homens que ele fuzilou em Cuba tiveram sua sorte selada em ritos sumários cujas deliberações muitas vezes não passavam de dez minutos." Alguém precisa avisar a esta "conceituada" revista que tanto nas "execuções sumárias em Cuba", quanto na própria morte de Che, estávamos em guerra, em processo revolucionário, que tem como pressuposto - se certo ou não é outra discussão - o sangue, a morte de um sistema para o nascimento de outro. Tudo bem que não tenho como hábito poluir-me com esta droga semanal, mas ao que me consta, nunca foi feito uma matéria sequer, sobre a violência das revoluções burguesas: O quão violentos foram os anos de guerra civil na Inglaterra do século XVII para instituir a primeira experiência capitalista da história. Ou as cenas absolutamente desprezíveis dos estadunidenses nas terras indígenas sioux, exterminando nações inteiras em nome da democracia representativa que inauguravam no norte desta América. Também não me lembro de ler ali, no pasto do conservadorismo de imprensa, críticas a teoria da predestinação, ou a doutrina Monroe ou ainda ao "Big Stick". São coisas cujo teor chocaria mesmo a um pequeno aprendiz de consumista neste mundo de valores invertidos, como disse William Evarts, secretário de Estado dos EUA (1877 – 1881), em reunião com financistas e dignitários mexicanos em Nova York, que lançou uma “pérola” que parece antever o futuro, explicando o que seria a tal Doutrina Monroe:
“A América para os americanos. Ora, eu proporia com prazer um aditamento: para os americanos, sim, senhores, entendamo-nos, para os americanos do norte (aplausos). Comecemos pelo nosso caro vizinho, o México, de que já comemos um bocado em 1848. Tomemo-lo (risos). A América central virá depois, abrindo nosso apetite para quando chegar a vez da América do sul. Olhando para o mapa, vemos que aquele continente tem a forma de um presunto. Uncle Sam é bom de garfo; há de devorar o presunto (aplausos e risos demorados). Isto é fatal, isto é apenas questão de tempo”.
(Extraído do livro A Ilusão Americana, de Eduardo Prado - 1894).
Não me lembro de ler uma crítica às guilhotinas da revolução francesa, nesta tradicional e retrógrada revista, nem tampouco sobre os fuzilamentos revolucionários de Napoleão Bonaparte. Mas ainda que esta revista optasse por escrever apenas sobre temas atuais, não se debruçando a um passado secular, também não me recordo de ler ali reprimendas irônicas a invasão estadunidense, inglesa, espanhola... ao Iraque, Afegansitão, Granada, Chile... e a lista é enorme.
Parece-me claro que, por alguma razão que até a esquerda desconhece, a revista imperativa retomou a velha discussão de antagonismos da guerra fria, revivendo o fantasma comunista que dormia embaixo da cama ou dentro dos armários dos neuróticos generais ditatoriais latino-americanos nas décadas de 60 e 70 do século passado.
De qualquer forma, como cidadão latino-americano, devo aqui prestar minha quase silenciosa homenagem ao revolucionário socialista, que reinventou sua própria vida em nome de uma vida mais digna para seus irmãos latinos. Ao sensível político que entendeu que “tão importante que construir uma nova Cuba é construir um novo homem cubano” e assim foi feito. Dessa forma, aquela pequena ilha do Caribe ainda resiste, mesmo que você não Veja além das linhas que são escritas sobre os opositores do neo-liberalismo.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

A guerra fria continua - primeira parte

No dia 02 de Agosto de 2006 ...

A guerra fria ainda não acabou. A América latina vive ainda hoje, e de forma raivosa, sob os efeitos de uma guerra dissimulada, sórdida e acobertada pelo monopólio das comunicações.
Desde de 1959 a autodeterminação do povo cubano optou por um país livre das amarras do imperialismo estadunidense que transformava aquela ilha num quintal dos interesses dos EUA. A Revolução de Fidel, Raúl, Che, Camilo e do povo cubano, fez de Cuba um território de resistência, e o medo da “cubanização” do restante da América Latina, justificou invasões militares como em Granada, El Salvador, Nicarágua, e ainda patrocinou ditaduras militares como na Argentina, no Chile, no Brasil...E o que vemos hoje, tal como ontem, é a tentativa de se inverter a dicotomia liberdade Vs tirania.
Nesse 1º de Agosto de 2006 o comandante em chefe Fidel Castro Ruz se licenciou de suas tarefas no comando de Cuba, para fazer às pressas uma cirurgia.
E foi tudo o que precisavam os canais de informação de massa do mundo ocidental. Mostraram a “fragilidade” do Presidente cubano quando levou um tombo em 2003, a “debilidade” de sua saúde quando num discurso em 2002 na praça da revolução quase desmaiou. Mas nada foi mais patético que a festa dos cubanitos de Miami comemorando a “saída” de Fidel temporariamente.
O que poucos veículos colocaram no ar, foi o apoio do povo cubano a Raúl Castro, irmão de Fidel e figura importantíssima na arquitetura ideológica da Revolução de 59 e a solidariedade à Fidel com os votos de regresse logo, pois sabe aquele povo o valor de um processo revolucionário que destruiu um dos tentáculos do neocolonialismo na América latina.
Para nós, expostos ao monopólio da informação de meia dúzia de redes internacionais, vale a reflexão: O que é democracia? O que é ditadura? O que é ser tirano? Qual sistema deve acabar? E comparemos a pequena Cuba com o gigante EUA. Qual dos dois tem um presidente que é sustentado pela indústria bélica? Qual dos dois bate no peito e se orgulha de ter sido o governante que mais matou em seu estado quando fora governador? Qual dos dois invade o Oriente Médio com a empáfia de se auto declarar o paladino da democracia? Qual dos dois patrocinou ditaduras sangrentas na América latina, África e Ásia? Qual dos dois mantém no cargo uma mulher que compara a guerra de Israel contra o Líbano a um “parto necessário para o Oriente Médio”, pois estaria nascendo ali uma nova democracia? Qual dos dois manteve negócios de Petróleo com Osama Bin Laden? Qual dos dois “criou” Sadam Hussein para combater a URSS? Qual dos dois sistemas não só não resolveu o problema da fome como acentuou? Qual dos dois sistemas acredita no consumo como fundamento para o progresso? Qual dos dois sistemas faz da educação pouco acessível a maior parte da população?...
Que Fidel errou nesses anos de governo em Cuba, não duvido. Que Fidel se distanciou do marxismo algumas vezes em nome do isolamento, tampouco. Mas que Cuba ousou dar um passo à frente do restante do planeta, me parece claro.
Por isso, vida longa a Revolução Cubana! Que Fidel volte logo para ver seu povo o apoiando e possa fazer uma transição, ao estilo democrático cubano, e dessa forma, calar mais uma vez a boca de todos que estão a serviço do imperialismo.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Tropa de Elite: A Criminalização da Pobreza!

Recebi de um amigo este artigo que segue sobre a polêmica instalada no Brasil acerca do filme Tropa de Elite. Muito se discute sobre o tema e vale aqui a contribuição sempre lúcida e dialética do Camarada Ivan Pinheiro,Secretário Geral do PCB (por favor não confundir, com esta coisinha espúria denominada pc do b).
Um bolivariano abraço, JJ e Vozes da América.

TROPA DE ELITE:

A CRIMINALIZAÇÃO DA POBREZA!

(Ivan Pinheiro)

"Homem de preto.
Qual é sua missão?
É invadir favela
E deixar corpo no chão"

(refrão do BOPE)

Não dá cair no papo furado de que "Tropa de Elite" é "arte pura" ou "obra aberta". Um filme sobre questões sociais não podia ser neutro. Trata-se de uma obra de arte objetivamente ideológica, de caráter fascista, que serve à criminalização e ao extermínio da pobreza. É possível até que os diretores subjetivamente não quisessem este resultado, mas apenas ganhar dinheiro, prestígio e, quem sabe, um Oscar. Vão jurar o resto da vida que não são de direita. Aliás, você conhece alguém no Brasil, ainda mais na área cultural, que se diga de direita?

Como acredito mais em conspirações do que no acaso, não descarto a hipótese de o filme ter sido encomendado por setores conservadores. Estou curioso para saber quais foram os mecenas desta caríssima produção, que certamente foi financiada por incentivos fiscais.

O filme tem objetivos diferentes, para públicos diferentes. Para os proletários das comunidades carentes, o objetivo é botar mais medo ainda na "caveira" (o BOPE, os "homens de preto"). O vazamento escancarado das cópias piratas talvez seja, além de uma estratégia de marketing, parte de uma campanha ideológica. A pirataria é a única maneira de o filme ser visto pelos que não podem pagar os caros ingressos dos cinemas. Aliás, que cinemas? Não existe mais um cinema nos subúrbios, a não ser em shopping, que não é lugar de pobre freqüentar, até porque se sente excluído e discriminado.

No filme, os "caveiras" são invencíveis e imortais. O único que morre é porque "deu mole". Cometeu o erro de ir ao morro à paisana, para levar óculos para um menino pobre, em nome de um colega de tropa que estava identificado na área como policial. Resumo: foi fazer uma boa ação e acabou assassinado pelos bandidos.

Para as classes médias e altas, o objetivo do filme é conquistar mais simpatia para o BOPE, na luta dos "de cima", que moram embaixo, contra os "de baixo", que moram encima.

Os "homens de preto" são glamourizados, como abnegados e incorruptíveis. Apesar de bem intencionados e preocupados socialmente, são obrigados a torturar e assassinar a sangue frio, em "nosso nome". Para servir à "nossa sociedade", sacrificam a família, a saúde e os estudos. Nós lhes devemos tudo isso! Portanto, precisam ser impunes. Você já viu algum "caveira" ser processado e julgado por tortura ou assassinato? "Caveira" não tem nome, a não ser no filme. A "Caveira" é uma instituição, impessoal, quase secreta.

Há várias cenas para justificar a tortura como "um mal necessário". Em ambas, o resultado é positivo para os torturadores, ou seja, os torturados não resistem e "cagüetam" os procurados, que são pegos e mortos, com requintes de crueldade. Fica outra mensagem: sem aquelas torturas, o resultado era impossível.

Tudo é feito para nos sentirmos numa verdadeira guerra, do bem contra o mal. É impossível não nos remetermos ao Iraque ou à Palestina: na guerra, quase tudo é permitido. À certa altura, afirma o narrador, orgulhoso : "nem no exército de Israel há soldados iguais aos do BOPE".

Para quem mora no Rio, é ridículo levar a sério as cenas em que os "rangers" sobem os morros, saindo do nada, se esgueirando pelas encostas e ruelas, sem que sejam percebidos pelos olheiros e fogueteiros das gangues do varejo de drogas! Esta manipulação cumpre o papel de torná-los ainda mais invencíveis e, ao mesmo tempo, de esconder o estigmatizado "Caveirão", dentro do qual, na vida real, eles sobem o morro, blindados. O "Caveirão", a maior marca do BOPE, não aparece no filme: os heróis não podem parecer covardes!

O filme procura desqualificar a polêmica ideológica com a esquerda, que responsabiliza as injustiças sociais como causa principal da violência e marginalidade. Para ridicularizar a defesa dos direitos humanos e escamotear a denúncia do capitalismo, os antagonistas da truculência policial são estudantes da PUC, "despojados de boutique", que se dão a alguns luxos, por não terem ainda chegado à maioridade burguesa.

Os protestos contra a violência retratados no filme são performances no estilo "viva rico", em que a burguesia e a pequena-burguesia vão para a orla pedir paz, como se fosse possível acabar com a violência com velas e roupas brancas, ou seja, como se tratasse de um problema moral ou cultural e não social.

A burguesia passa incólume pelo filme, a não ser pela caricatura de seus filhos que, na Faculdade, fumam um baseado e discutem Foucault. Um personagem chamado "Baiano" (sutil preconceito) é a personificação do tráfico de drogas e de armas, como se não passasse de um desses meninos pobres, apenas mais espertos que os outros, que se fazem "Chefe do Morro" e que não chegam aos trinta anos de idade, simples varejistas de drogas e armas, produtos dos mais rentáveis do capitalismo contemporâneo. Nenhuma menção a como as drogas e armas chegam às comunidades, distribuídas pelos grandes traficantes capitalistas, sempre impunes, longe das balas achadas e perdidas. E ainda responsabilizam os consumidores pela existência do tráfico de drogas, como se o sistema não tivesse nada a ver com isso!

O Estado burguês também passa incólume pelo filme. Nenhuma alusão à ausência do Estado nas comunidades carentes, principal causa do domínio do banditismo. Nenhuma denúncia de que lá falta tudo que sobra nos bairros ricos. No filme, corrupção é um soldado da PM tomar um chope de graça, para dar segurança a um bar. Aliás, o filme arrasa impiedosamente os policiais "não caveiras", generalizando-os como corruptos e covardes, principalmente os que ficam multando nossos carros e tolhendo nossas pequenas transgressões, ao invés de subirem o morro para matar bandido.

A grande sacada do filme é que o personagem ideológico principal não é o artista principal. Este, branco, é o que mais mata. Ironicamente, chama-se Nascimento. É um tipo patológico, messiânico, sanguinário, que manda um colega matar enquanto fala ao celular com a mulher sobre o nascimento do filho.

Mas para fazer a cabeça de todos os públicos, tanto os "de cima" como os "de baixo", o grande e verdadeiro herói da trama surge no final: Thiago, um jovem negro, pacato, criado numa comunidade pobre, que foi trabalhar na PM para custear seus estudos de Direito, louco para largar aquela vida e ser advogado. Como PM, foi um peixe fora d'água: incorruptível, respeitava as leis e os cidadãos. Generoso, foi ele quem comprou os óculos para dar para o menino míope. Sua entrada no BOPE não foi por vocação, mas por acaso.

Para ficar claro que não há solução fora da repressão e do extermínio e que não adianta criticar nem fazer passeata, pois "guerra é guerra", nosso novo herói se transforma no mais cruel dos "caveiras" da tropa da elite, a ponto de dar o tiro de misericórdia no varejista "Baiano", depois que este foi torturado, dominado e imobilizado. Para não parecer uma guerra de brancos ricos contra negros pobres, mas do bem contra o mal, o nosso herói é um "caveira" negro, que mata um bandido "baiano", de sua própria classe, num ritual macabro para sinalizar uma possibilidade de "mobilidade social", para usar uma expressão cretina dos entusiastas das "políticas compensatórias".

A fascistização é um fenômeno que vem sendo impulsionado pelo imperialismo em escala mundial. A pretexto da luta contra o terrorismo, criminalizam-se governos, líderes, povos, países, religiões, raças, culturas, ideologias, camadas sociais.

Em qualquer país em que "Tropa de Elite" passar, principalmente nos Estados Unidos e na Europa, o filme estará contribuindo para que a sociedade se torne mais fascista e mais intolerante com os negros, os imigrantes de países periféricos e delinqüentes de baixa renda.

No Brasil, a mídia burguesa há muito tempo trabalha a idéia de que estamos numa verdadeira guerra, fazendo sutilmente a apologia da repressão. Sentimos isso de perto. Quantas vezes já vimos pessoas nas ruas querendo linchar um ladrão amador, pego roubando alguma coisa de alguém? Quantas vezes ouvimos, até de trabalhadores, que "bandido tem que morrer"?

Se não reagirmos, daqui a pouco a classe média vai para as ruas pedir mais BOPE e menos direitos humanos e, de novo, fazer o jogo da burguesia, que quer exterminar os pobres, que só criam problemas e ainda por cima não contam na sociedade de consumo. Daqui a pouco, as milícias particulares vão se espalhar pelo país, inspiradas nos heróicos "homens de preto", num perigoso processo de privatização da segurança pública e da justiça. Não nos esqueçamos do modelo da "matriz": hoje, os mais sanguinários soldados americanos no Iraque são mercenários recrutados por empresas particulares de segurança, não sujeitos a regulamentos e códigos militares.

Parafraseando Bertolt Brecht, depois vai sobrar para nós, que teimamos em lutar contra o fascismo e a barbárie, sonhando com um mundo justo e fraterno.

A trilha sonora do filme já avisou:

"Tropa de Elite,
Osso duro de roer,
Pega um, pega geral.
Também vai pegar você!"



(Ivan Pinheiro)