sábado, 8 de dezembro de 2007

Sobre prostitutos e prostituições: O Senado amoral

Fazia um enorme calor na quarta-feira, enquanto vagava por Guapimirim e me surpreendia com cada armazém, com as casas de material de construção, com a única praça que expunha um papai Noel mecânico e epilético para as crianças que passavam sem admirá-lo.
A fim de gastar o tempo e almoço que ainda me incomodava, entrei numa barbearia, daquelas tradicionais, que se vê no subúrbio ou no interior, e esperei para ser atendido. Atento, ouvi uma conversa sobre a política local e me interessei. Um homem que cortava os cabelos, ao sentar já foi dizendo que seu cabelo era "ruim" num tom de brincadeira e o barbeiro, que lhe conhecia bem, puxou logo assunto sobre as eleições municipais do ano que vem.
O homem que desbastava sua já rala cabeleira, desandou a falar mal do prefeito e de seus assessores, que já estava desiludido com política e que havia cansado de tentar disputar uma vaga para vereador desta pequena cidade sem alcançar sucesso. Até tudo indo. Até que, estimulado pelo responsável por sua estética capilar, começou a denunciar, ainda que sem querer, a podridão ética que nos encontramos. Disse que o salário de um vereador em Guapimirim é muito bom R$ 2.400,00, sem contar os adicionais - que confesso não ter entendido se estão dentro ou fora da legalidade - e que era um absurdo um vereador como fulano ter passado dois mandatos (ou seja 8 anos) e "não ter feito um patrimônio para sua família"!? Sobre a conivência concordata do seu interlocutor barbeiro, estava deflagrado ali, aos pés do pico do Dedo de Deus, a total ausência de ética com a coisa pública que tanto nos acostumamos a ouvir. Dois homens simples, que julgam ser pouco mais de dois mil reais um bom salário, exortando o desvio de dinheiro público para fins pessoais, valorizando vereadores que enriqueceram em um mandato e construíram imóveis e negócios que o seus salários não construiriam nunca. Engraçado como ninguém quer ser vereador para cuidar do bem coletivo, qual será a razão que nos leva a colocar o dinheiro acima do bem estar social?
Brasília. Eis uma das múltiplas explicações. O que assistimos no Senado da República é de uma melancolia atroz. Esta semana Renan Calheiros foi mais uma vez inocentado, mas não sem antes cumprir sua parte do acordo, renunciar de uma vez por todas a presidência da Casa. E aí sim, os senhores "homens bons" da república cumpriram sua parte na farsa.
O parlamento brasileiro é uma grande casa de prostituição, com uma ressalva honrosa: as mulheres e homens que vendem seus corpos por dinheiro, vendem somente os corpos e não a alma.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

A vitória de Chávez!

A imprensa “amestrada” continua sem conseguir entender o que se passa na Venezuela e, mesmo sem querer, acaba fortalecendo o papel de Hugo Chávez no processo de mudanças que acontecem na América Latina. Nos dias seguintes ao plebiscito sobre a reforma constitucional, os nossos jornais estamparam manchetes ressaltando a vitória do “não” e a manutenção da atual Constituição.
Nas semanas que antecederam o dia 2 de dezembro, jornais brasileiros faziam matérias enaltecendo a preocupação da “oposição” em não permitir as alterações propostas por Chávez. E, até agora, não perceberam a esparrela em que acabaram caindo. Nossa imprensa, orientada por Washington, cai no mesmo erro já cometido por Bush e pela direita mais reacionária da Venezuela. Mostram a vitória do “não” como um avanço “democrático” sobre o possível ditador Chávez.
O que não perceberam? Por que, ao contrário do que dizem, esta foi uma vitória de Chávez?
A nossa imprensa parece ter esquecido a história recente e se confunde nos dados e análises. A vitória de Chávez acaba estampada nas entrelinhas das matérias e, para percebermos isto, basta fazer um breve retrospecto na história da Venezuela.
No dia 17 de novembro de 1999 era promulgada a atual Constituição da “República Bolivariana da Venezuela” que, em seu preâmbulo, dizia: “El pueblo de Venezuela, en ejercicio de sus poderes creadores e invocando la protección de Dios, el ejemplo histórico de nuestro Libertador Simón Bolívar y el heroísmo y sacrificio de nuestros antepasados aborígenes y de los precursores y forjadores de una patria libre y soberana”. Ou seja, a nova Constituição assegurava o bolivarianismo e o resgate da soberania e das participações populares, enquanto a Constituição anterior, de 1961, era autoritária e excluía o povo de qualquer tipo de participação política ou social. É nesta Carta que Chávez assume o caráter revolucionário do seu governo e define o país como “República Bolivariana”.
Em 2001, dando continuidade às reformas constitucionais, Chávez apresenta os 48 projetos de leis que levam a reestruturação do sistema produtivo venezuelano, concretiza as transformações sociais e as mudanças econômicas mais profundas. Nasce neste momento a Lei da Terra (reforma agrária) e a Lei dos Hidrocarburos (nacionalização do petróleo e reforma da empresa petrolífera). Cria os “Círculos Bolivarianos”, espaços de participação e organização popular.
E foram estas mudanças que causaram profundo abalo na direita do país. A ponto de montarem um golpe de Estado, em abril de 2002, tentando retirar pela força um presidente legalmente eleito. O golpe falhou devido à participação popular e Chávez é reconduzido ao Palácio Miraflores. Mas a direita continua conspirando contra a Constituição de 1999 e monta a nova farsa: uma greve geral, em 2003, convocada por uma central sindical de fachada! Também são derrotados e retornam aos seus gabinetes refrigerados onde continuam a conspirar.
O curioso é que, nas duas ocasiões golpistas, uma das principais bandeiras da direita venezuelana era o “não reconhecimento da Constituição Bolivariana” e o retorno à Constituição de 1961.
Durante mais de seis anos, a direita criticou, combateu e procurou desconhecer a Constituição Bolivariana. E agora, sem perceberem da armadilha, se transformaram em legítimos defensores e fiéis depositários da legalidade Constitucional. Por mais de dois meses, financiados com dólares enviados por Bush, foram para as ruas defendendo a Constituição Bolivariana. A mesma que renegavam há pouco tempo.

(Ernesto Germano – dezembro de 2007)

domingo, 2 de dezembro de 2007

Provocações justificadas

Sujou a mão com dinheiro da máfia russa na quinta-feira.
Montou um grande time-lavanderia na sexta-feira.
Foi campeão no sábado.
Viveu a ressaca da descoberta das falcatruas no Domingo.
Caiu na segunda.

Salve o compositor popular! Salve o samba!

Hoje é o dia nacional do Samba. Mistura afro-brasileira que molda nossa identidade, já foi duramente perseguido "nas escolas, nos botequins e nos terreiros", por ser de origem negra, genuína cultura popular.
O samba já ultrapassou o debate quase maniqueísta se era do morro ou do asfalto, até que Noel Rosa versou: "... o samba, na realidade, não vem do morro nem lá da cidade, e quem suportar uma paixão, saberá que o samba então, vem do coração".
O samba já foi instrumento político nas mãos totalitárias de Getúlio Vargas, que usou o samba como exaltação de um Brasil que ele dizia representar.
O samba já foi desqualificado nas rádios, nos auditórios, nos salões de festas.
O samba já foi geneticamente transformado em "pagode", servindo aos interesses vis das gravadoras e transformando em celebridade gente que não queria nada além do que ganhar notoriedade.
O samba é uma militância por ser resistência desde os quilombolas até os becos e favelas.
"samba
agoniza mas não morre
alguém sempre te socorre
antes do suspiro derradeiro".