domingo, 25 de setembro de 2011

25 de Setembro: Saudade!

Espelho - João Nogueira

Nascido no subúrbio nos melhores dias
Com votos da família de vida feliz
Andar e pilotar um pássaro de aço
Sonhava ao fim do dia ao me descer cansaço
Com as fardas mais bonitas desse meu país
O pai de anel no dedo e dedo na viola
Sorria e parecia mesmo ser feliz

Eh, vida boa
Quanto tempo faz
Que felicidade!
E que vontade de tocar viola de verdade
E de fazer canções como as que fez meu pai (Bis)

Num dia de tristeza me faltou o velho
E falta lhe confesso que ainda hoje faz
E me abracei na bola e pensei ser um dia
Um craque da pelota ao me tornar rapaz
Um dia chutei mal e machuquei o dedo
E sem ter mais o velho pra tirar o medo
Foi mais uma vontade que ficou pra trás

Eh, vida à toa
Vai no tempo vai
E eu sem ter maldade
Na inocência de criança de tão pouca idade
Troquei de mal com Deus por me levar meu pai (Bis)

E assim crescendo eu fui me criando sozinho
Aprendendo na rua, na escola e no lar
Um dia eu me tornei o bambambã da esquina
Em toda brincadeira, em briga, em namorar
Até que um dia eu tive que largar o estudo
E trabalhar na rua sustentando tudo
Assim sem perceber eu era adulto já

Eh, vida voa
Vai no tempo, vai
Ai, mas que saudade
Mas eu sei que lá no céu o velho tem vaidade
E orgulho de seu filho ser igual seu pai
Pois me beijaram a boca e me tornei poeta
Mas tão habituado com o adverso
Eu temo se um dia me machuca o verso
E o meu medo maior é o espelho se quebrar (Bis)

Raro, mas aponta para esperança de que nem tudo está perdido.

Goiânia, 25 de Setembro de 2011. Em tempos de futebol globalizado e de esporte popular elitizado, onde as cifras milionárias são banalizadas em continentes famintos ou emersos a profundas crises, surge o inusitado.
O jogo era Atlético Goianiense e Palmeiras e antes de começar o jogo fez-se um minuto de silêncio. Até aí normal. Pois basta morrer um sócio importante (quase sempre rico ou politicamente influente), alguém famoso, ex-jogador que tenha conseguido não cair no esquecimento, que este tipo de prática acontece: o juíz apita o tal respeito antes de começar a peleja.
Mas hoje não. Morreram quatro trabalhadores da construção civil, pedreiros, num edifício que se ergue em Goiânia. E o silêncio solene foi feito para pessoas simples, sem rostos e sem nomes, mas foi feito.
Nessas horas volto a ter a singela impressão muito recorrente em minha infância de que todos somos iguais. Será? Ojalá sejamos, pois nos segundos que antecederam mais um empate do Palmeiras, nós fomos.