domingo, 1 de junho de 2008

Faz frio dentro de mim. E de você?

Hoje é um Domingo típico outonal. Faz frio, chove fino. Olho pela fresta de uma porta insistentemente fechada e vejo o silêncio. Ouço o vazio da bola que não corre, das pipas que não voam, dos cães que não ladram pela pura falta de gente a pertubar-lhes o instinto.
Penso na vida e cruzo os meus braços, apertando-lhes ao meu corpo para produzir mais calor. Mas basta um lapso de racionalidade para consumir em indignação e estupefação, ao lembrar que num país de tantas terras, sobra latifúndio para poucos e fome para tantos. O frio que esbarra na solidão suburbana deste fim de semana Austral, deve está congelando o restante das esperanças de milhares de sem terras que, agora, além das dores cotidianas e seculares, ainda carregam os ossos pesados e a pele arrepiada até que as flores desabrochem a Primavera.

Funeral de um Lavrador (Chico Buarque)

Esta cova em que estás com palmos medida
É a conta menor que tiraste em vida
É de bom tamanho nem largo nem fundo
É a parte que te cabe deste latifúndio
Não é cova grande, é cova medida
É a terra que querias ver dividida
É uma cova grande pra teu pouco defunto
Mas estás mais ancho que estavas no mundo
É uma cova grande pra teu defunto parco
Porém mais que no mundo te sentirás largo
É uma cova grande pra tua carne pouca
Mas a terra dada, não se abre a boca
É a conta menor que tiraste em vida
É a parte que te cabe deste latifúndio
É a terra que querias ver dividida
Estarás mais ancho que estavas no mundo
Mas a terra dada não se abre a boca