Em tempos onde somos bombardeados de ideologia através da mídia, também
deixamos com que o preconceito, os estereótipos e a imposição de valores
sejam infiltrados sem que percebamos.
A cerveja não é só uma
cerveja, é uma devassa. O perfume não é só um perfume, e sim um imã de
homens e mulheres. Não estamos comprando um produto isoladamente, e sim,
comprando o “estilo de vida” que vem agregado a ele. Após anos de
anúncios engraçados, inteligentes, sedutores, e acima de tudo,
convincentes, a vida se torna algo comprável. Algo consumível. E isso é o
que acontece com as mulheres.
Desde o começo da humanidade, nós
éramos vistas como o complemento, um objeto de fácil consumo dos homens.
Não tínhamos direito ao estudo, éramos analfabetas, não podíamos votar,
não tínhamos profissão, nem escolhíamos nossos parceiros. Até hoje, em
muitas vezes, nossos salários são inferiores aos masculinos, mesmo
exercendo exatamente a mesma função. Como podemos deixar tal coisa
acontecer? Como podemos tratar essa diferença injustificável, como coisa
normal?
As injustiças entre os sexos já foi mais explícita, porém,
de maneira característica aos tempos de hoje, continua existindo. Dessa
vez, ela se tornou mais perigosa, porque ela consegue passar de maneira
imperceptível, e nós, anestesiados pela inércia de nossos tempos, nos
calamos diante dela, pois muitas vezes nem a notamos. Infiltradas em
nosso dia-a-dia, a violência contra mulheres e a desigualdade entre os
sexos estão escancaradas em nossa frente. Basta pararmos para
observá-las. Ser mulher não é esse estereótipo com adjetivos tão
conhecidos que nos ensinaram desde pequeno. Não é uma personagem fixa e
atemporal, nem esse clichê que todos nós já conhecemos. Ser mulher é
saber que foi pela coragem de outras pessoas que batalharam que nós
estamos caminhando até igualdade entre ambos os sexos. Ser mulher é
também, saber que há de se continuar caminhando. Ainda há muita estrada
pela frente, muitas práticas a serem quebradas, muitos hábitos, tidos
como naturais, a serem rompidos, pois nos tempos em que vivemos, onde a
violência é banalizada, nada é o que parece.
Eu sou mulher.
Renata Gomes
Ouvir as vozes da América, continente que testemunhou mais de 500 anos de exploração. Deixem os gritos dos excluídos entrar em suas almas e verão que o sangue derramado em nossos campos não fertilizaram a terra, que a soberba dos imperialistas se camufla em guerras ou globalização, que nosso povo pagou com suas vidas o alto preço dos lucros. A literatura e história são as nossas armas e com elas, havemos de continuar resistindo, recriando a latinidade.
quinta-feira, 8 de março de 2012
SE OS HOMENS MENSTRUASSEM
Por Gloria Steinem
.
.
Morar
na Índia me fez compreender que a minoria branca do mundo passou
séculos nos enganando para que acreditássemos que a pele branca faz uma
pessoa superior a outra. Mas na verdade a pele branca só é mais
suscetível aos raios ultravioleta e propensa a rugas.
Ler
Freud me deixou igualmente cética quanto à inveja do pênis. O poder de
dar à luz faz a “inveja do útero” mais lógica e um órgão tão externo e
desprotegido como o pênis deixa os homens extremamente vulneráveis. Mas
ao ouvir recentemente uma mulher descrever a chegada inesperada de sua
menstruação (uma mancha vermelha se espalhara em seu vestido enquanto
ela discutia, inflamada, num palco) eu ainda ranjo os dentes de
constrangimento. Isto é, até ela explicar que quando foi informada aos
sussurros deste acontecimento óbvio, ela dissera a uma platéia 100%
masculina: “Vocês deveriam estar orgulhosos de ter uma mulher menstruada
em seu palco. É provavelmente a primeira coisa real que acontece com
vocês em muitos anos!”
Risos.
Alívio. Ela transformara o negativo em positivo. E de alguma forma sua
história se misturou à Índia e a Freud para me fazer compreender
finalmente o poder do pensamento positivo. Tudo o que for característico
de um grupo “superior” será sempre usado como justificativa para sua
superioridade e tudo o que for característico de um grupo “inferior”
será usado para justificar suas provações. Homens negros eram recrutados
para empregos mal pagos por serem, segundo diziam, mais fortes do que
os brancos, enquanto as mulheres eram relegadas a empregos mal pagos por
serem mais “fracas’. Como disse o garotinho quando lhe perguntaram se
ele gostaria de ser advogado quando crescesse, como a mãe, “Que nada,
isso é trabalho de mulher.” A lógica nada tem a ver com a opressão.
Então,
o que aconteceria se, de repente, como num passe de mágica, os homens
menstruassem e as mulheres não? Claramente, a menstruação se tornaria
motivo de inveja, de gabações, um evento tipicamente masculino.
Os
homens se gabariam da duração e do volume. Os rapazes se refeririam a
ela como o invejadíssimo marco do início da masculinidade. Presentes,
cerimônias religiosas, jantares familiares e festinhas de rapazes
marcariam o dia. Para evitar uma perda mensal de produtividade entre os
poderosos, o Congresso fundaria o Instituto Nacional da Dismenorréia. Os
médicos pesquisariam muito pouco a respeito dos males do coração,
contra os quais os homens estariam, hormonalmente, protegidos e muito a
respeito das cólicas menstruais. Absorventes íntimos seriam subsidiados
pelo governo federal e teriam sua distribuição gratuita. E, é claro,
muitos homens pagariam mais caro pelo prestígio de marcas como Tampões
Paul Newman, Absorventes Mohammad Ali, John Wayne Absorventes Super e
Miniabsorventes e Suportes Atléticos Joe Namath — “Para aqueles dias de
fluxo leve”.
As
estatísticas mostrariam que o desempenho masculino nos esportes melhora
durante a menstruação, período no qual conquistam um maior numero de
medalhas olímpicas. Generais, direitistas, políticos e fundamentalistas
religiosos citariam a menstruação (”men-struação”, de homem em inglês)
como prova de que só mesmo os homens poderiam servir a Deus e à nação
nos campos de batalha (”Você precisa dar seu sangue para tirar sangue”),
ocupariam os mais altos cargos (”Como é que as mulheres podem ser
ferozes o bastante sem um ciclo mensal regido pelo planeta Marte?”), ser
padres, pastores, o Próprio Deus (”Ele nos deu este sangue pelos nossos
pecados”), ou rabinos (”Como não possuem uma purgação mensal para as
suas impurezas, as mulheres não são limpas”).
Liberais
do sexo masculino insistiriam em que as mulheres são seres iguais,
apenas diferentes. Diriam também que qualquer mulher poderia se juntar à
sua luta, contanto que reconhecesse a supremacia dos direitos
menstruais (”O resto não passa de uma questão”) ou então teria de
ferir-se seriamente uma vez por mês (”Você precisa dar seu sangue pela
revolução”). O povo da malandragem inventaria novas gírias (”Aquele ali é
de usar três absorventes de cada vez”) e se cumprimentariam, com toda a
malandragem, pelas esquinas dizendo coisas tais como:
— Cara, tu tá bonito pacas!
— É, cara, tô de chico!
Programas
de televisão discutiriam abertamente o assunto. (No seriado Happy Days:
Richie e Potsie tentam convencer Fonzie de que ele ainda é “The Fonz”,
embora tenha pulado duas menstruações seguidas. Hill Street Blues: o
distrito policial inteiro entra no mesmo ciclo.) Assim como os jornais,
(TERROR DO VERÃO: TUBARÕES AMEAÇAM HOMENS MENSTRUADOS. JUIZ CITA
MENSTRUAÇÃO EM PERDÃO A ESTUPRADOR.) E os filmes fariam o mesmo (Newman e
Redford em Irmãos de Sangue).
Os
homens convenceriam as mulheres de que o sexo é mais prazeroso
“naqueles dias”. Diriam que as lésbicas têm medo de sangue e, portanto,
da própria vida, embora elas precisassem mesmo era de um bom homem
menstruado. As faculdades de medicina limitariam o ingresso de mulheres
(”elas podem desmaiar ao verem sangue”). É claro que os intelectuais
criariam os argumentos mais morais e mais lógicos. Sem aquele dom
biológico para medir os ciclos da lua e dos planetas, como pode uma
mulher dominar qualquer disciplina que exigisse uma maior noção de
tempo, de espaço e da matemática, ou mesmo a habilidade de medir o que
quer que fosse? Na filosofia e na religião, como pode uma mulher
compensar o fato de estar desconectada do ritmo do universo? Ou mesmo,
como pode compensar a falta de uma morte simbólica e da ressurreição
todo mês?
A
menopausa seria celebrada como um acontecimento positivo, o símbolo de
que os homens já haviam acumulado uma quantidade suficiente de sabedoria
cíclica para não precisar mais da menstruação. Os liberais do sexo
masculino de todas as áreas seriam gentis com as mulheres. O fato
“desses seres” não possuírem o dom de medir a vida, os liberais
explicariam, já é em si castigo bastante.
E
como será que as mulheres seriam treinadas para reagir? Podemos
imaginar uma mulher da direita concordando com todos os argumentos com
um masoquismo valente e sorridente. (’A Emenda de Igualdade de Direitos
forçaria as donas de casa a se ferirem todos os meses : Phyllis Schlafy.
“O sangue de seu marido é tão sagrado quanto o de Jesus e, portanto,
sexy também!”: Marabel Morgan.) Reformistas e Abelhas Rainhas ajustariam
suas vidas em torno dos homens que as rodeariam. As feministas
explicariam incansavelmente que os homens também precisam ser libertados
da falsa impressão da agressividade marciana, assim como as mulheres
teriam de escapar às amarras da “inveja menstrual”. As feministas
radicais diriam ainda que a opressão das que não menstruam é o padrão
para todas as outras opressões. (”Os vampiros foram os primeiros a lutar
pela nossa liberdade!”) As feministas culturais exaltariam as imagens
femininas, sem sangue, na arte e na literatura. As feministas
socialistas insistiriam em que, uma vez que o capitalismo e o
imperialismo fossem derrubados, as mulheres também mens-truariam. (”Se
as mulheres não menstruam hoje, na Rússia”, explicariam, “é apenas
porque o verdadeiro socialismo não pode existir rodeado pelo
capitalismo.”)
Em
suma, nós descobriríamos, como já deveríamos ter adivinhado, que a
lógica está nos olhos do lógico. (Por exemplo, aqui está uma idéia para
os teóricos e lógicos: se é verdade que as mulheres se tornam menos
racionais e mais emocionais no início do ciclo menstrual, quando o nível
de hormônios femininos está mais baixo do que nunca, então por que não
seria lógico afirmar que em tais dias as mulheres comportam-se mais como
os homens se portam o mês inteiro? Eu deixo outros improvisos a seu
cargo.*
A verdade é que, se os homens menstruassem, as justificativas do poder simplesmente se estenderiam, sem parar.
Se permitíssemos.
quarta-feira, 7 de março de 2012
PREGUNTAS SOBRE DIOS
Don Atahualpa Yupanqui
Un día yo pregunté:
Abuelo, dónde está Dios.
Mi abuelo se puso triste,
y nada me respondió.
Mi abuelo murió en los campos,
sin rezo ni confesión.
Y lo enterraron los indios,
flauta de caña y tambor.
Al tiempo yo pregunté:
¿Padre, qué sabes de Dios?
Mi padre se puso sério
y nada me respondió.
Mi padre murió en la mina
sin doctor ni protección.
¡Color de sangre minera
tiene el oro del patrón!
Mi hermano vive en los montes
y no conoce una flor.
Sudor, malaria, serpientes,
la vida del leñador.
Y que nadie le pregunte
si sabe donde está Dios.
Por su casa no ha pasado
tan importante señor.
Yo canto par los caminos,
y cuando estoy en prisión
oigo las voces del pueblo
que canto mejor que yo.
Hay un asunto en la tierra
más importante que Dios.
Y es que nadie escupa sangre
pa que otro viva mejor.
¿Que Dios vela por los pobres?
Talvez sí, y talvez no.
Pero es seguro que almuerza
en la mesa del patrón.
Com contribuição do amigo Ricardo Martini
segunda-feira, 5 de março de 2012
A FAVELA, AS DROGAS, A VIOLÊNCIA E A POLÍCIA MILITAR - Primeira Parte
Não
é de hoje que se associam estes quatro elementos da sociedade brasileira, em
diferentes associações de idéias, como “a favela e as drogas”, “a favela e a
violência”, “a violência e a drogas”, “as drogas e a polícia militar”, ou ainda
com três elementos: “a favela, as drogas e a violência”. Pouco (ou nada) se
associa na combinação “a favela e a polícia militar”, como se a presença da
polícia na favela fosse secundária à presença das drogas, quando na verdade não
o é, como veremos nas linhas adiante.
Mas
antes devemos nos detalhar nas definições, separadamente, de cada termo acima.
A
FAVELA: (Primeira Parte)
A
favela é, para quem quiser enxergar, um misto de quilombo e senzala. De
quilombo, pois muitas delas serão ocupadas por negr@s em busca de um local de
moradia, e ali desenvolverão sua cultura. De senzala, pois para lá são enviad@s
@s negr@s “livres”, escravizad@s agora pelo mercado de trabalho, pelo
Capitalismo. Onde há o poder Negro, podemos chamar de Quilombo. Onde este poder
acaba e é o branco, a elite, ou o Estado quem mandam, ali começa a senzala.
Assalariad@s ou não,
empregad@s ou desempregados, cidadãos ou (?) mendigos (como se estes não fossem
também aqueles), tod@s estão incluíd@s em algum degrau (sempre baixo) da nossa
sociedade capitalista burguesa.
Segundo
algumas fontes, a primeira favela (a da Providencia, localizada atrás da Central
do Brasil) foi formada por Negr@s ex-combatentes da Guerra dos Canudos.
Independente da origem de tais Negr@s, o fato é que foi o morro o local
destinado a estas pessoas, como prova do “reconhecimento” por sua força de
trabalho, local que recebeu o nome de favela, e há controvérsias sobre a origem
de tal nome.
Estas
controvérsias a respeito do nome não causam controvérsias a respeito da realidade
que tal nome revela. Não todos os morros serão chamados de favela, mas apenas
aqueles destinados aos Negr@s, com ausência quase total de saneamento básico,
educação, saúde, segurança, etc.
Esgoto em morro é
mais fácil de fazer do que no asfalto, pois pra descer todo santo ajuda, mas
não o fazem; e a água só tem dificuldade de vencer a tal “Lei da Gravidade” nas
favelas, pois nos lados ricos de Santa Teresa, Alto da Boa Vista, etc, parece
que revogaram tal lei, pois lá a água não falta.
Enfim,
locais onde “viver pertinho do céu” nunca foi apenas uma característica
geográfica (dada pela altura), mas também uma característica religiosa, pois o
índice de mortalidade infantil, devido a doenças plenamente evitáveis com
fornecimento de água tratada e esgoto; o índice de tuberculose, causada pela má
nutrição e alta aglomeração humana; mortes por “PAF” (perfuração por arma de
fogo, eufemismo para “tiro”) e outras tantas “causa mortis” fazem com que seus
moradores estejam, realmente, mais “pertinho do céu” do que o restante da
população urbana das grandes cidades.
J.J.
A FAVELA, AS DROGAS, A VIOLÊNCIA E A POLÍCIA MILITAR - Parte 2
Não
é de hoje que se associam estes quatro elementos da sociedade brasileira, em
diferentes associações de idéias, como “a favela e as drogas”, “a favela e a
violência”, “a violência e a drogas”, “as drogas e a polícia militar”, ou ainda
com três elementos: “a favela, as drogas e a violência”. Pouco (ou nada) se
associa na combinação “a favela e a polícia militar”, como se a presença da
polícia na favela fosse secundária à presença das drogas, quando na verdade não
o é, como veremos nas linhas adiante.
Mas
antes devemos nos detalhar nas definições, separadamente, de cada termo acima.
A
POLÍCIA MILITAR: (parte 2)
A
Polícia Militar, ou simplesmente PM, está aí, como eles mesmos gostam de
apregoar, para “servir e proteger”. E nada mais verdadeiro do que este slogan,
principalmente quando perguntamos “servir a quem”, e “proteger ‘o que e quem’
de quem”.
Mas
para responder estas perguntas simples, e para um melhor entendimento das
respostas, cabe retrocedermos um pouco na história deste país, até o tempo da hoje
acabada (?) escravidão, nos tempos do Brasil Colônia e Brasil Império.
Naquela
época, pipocavam as revoluções pelo mundo, principalmente nas Américas onde, no
Haiti, @s Negr@s simplesmente acabaram com @s branc@s, fazendo da antiga ilha La Española a primeira República
Negra das Américas.
E
no Brasil não faltavam exemplos de revoltas, como Cabanos, Malês, dentre
outras, e os inúmeros Quilombos formados por Negr@s que conseguiam se libertar
do cativeiro, dentre os quais o mais famoso foi o Quilombo dos Palmares.
Para
controlar estes Negr@s escravizad@s, assim como capturar Negr@s fugid@s, surge
a figura do Capitão do Mato. Sujeito “mestiço” (negro), sua função social o
coloca como superior aos seus “irmãos”, a quem não hesita em capturar, subjugar
e punir por suas supostas faltas ao “senhor de escravos”. E cada fazendeiro
passa a ter seu próprio bando (ou quadrilha) de jagunços, comandado por um capitão
do mato.
Mais
tarde, uma vez que os fazendeiros começam a enxergar @ Negr@ como uma “ameaça” à
integridade nacional branca, visto serem a maioria da população e, pior ainda,
estarem cada vez “mais abusados, vai que queiram fazer uma revolução...”, estes
fazendeiros vêem nos capitães do mato uma proteção contra a “ameaça negra”, e
convencem D. João VI (patrono da Polícia Militar) a transformar estes
diferentes bandos, nas diferentes fazendas, em “Guarda Nacional”, uma vez que
estes jagunços protegem a nação brasileira contra esta “ameaça negra”.
E cada fazendeiro,
como chefe desta “guarda”, recebe o título de “Coronel”, título este hereditário.
Seu filho, o “coronelzinho”, herdará, com a morte do pai, a fazenda, seus
empregados e escravos, e também o comando desta “Guarda”.
Mais
tarde ainda, D. Pedro resolve “unificar” esta “Guarda Nacional”, e lhe dá o
nome de Polícia Militar.
Daí
nada mais certo do que um antigo governador do Estado do Rio que, ao
“reformular” a polícia, utilizou o nome “nova polícia”. Se verificarmos a
atuação dela neste período, em nada diferente de toda a sua história, só
podemos completar o slogan: “nova polícia, antigos ideais”, pois combater @s
Negr@s e suas diferentes formas de organização continuou, até hoje, a ser a
principal função desta corporação.
Apenas
como ilustração, convém ver a cartilha com a qual ensinavam (passado?) seus
subordinados a reconhecerem o traficante (negro) e o consumidor de drogas
(branco), fato denunciado em 23 de setembro de 2008.
J.J.
A FAVELA, AS DROGAS, A VIOLÊNCIA E A POLÍCIA MILITAR - Parte 3
Não
é de hoje que se associam estes quatro elementos da sociedade brasileira, em
diferentes associações de idéias, como “a favela e as drogas”, “a favela e a
violência”, “a violência e a drogas”, “as drogas e a polícia militar”, ou ainda
com três elementos: “a favela, as drogas e a violência”. Pouco (ou nada) se
associa na combinação “a favela e a polícia militar”, como se a presença da
polícia na favela fosse secundária à presença das drogas, quando na verdade não
o é, como veremos nas linhas adiante.
Mas
antes devemos nos detalhar nas definições, separadamente, de cada termo acima.
A
VIOLÊNCIA: (parte 3)
Segundo
o Houaiss, Dicionário da Língua Portuguesa, violência é “ação exercida com
ímpeto, força”, ou ainda “coação”.
Independente
das causas dos diversos tipos de violência a que o cidadão está exposto, desde
o útero até a idade mais avançada, cabe algumas análises sobre a violência e o
Estado. Mas antes, vamos deixar claro o que é o Estado: um produto do
antagonismo inconciliável de classes sociais, sendo, obviamente, comandado pela
classe social de maior poder. E o Estado (ou o grupo que estiver exercendo a
função do mesmo) sempre foi violento com a classe de menor poder.
Foi assim nas épocas
do Império Romano, do Feudalismo, da formação dos Estados Absolutistas, da
Inquisição (onde a Igreja Católica exercia algumas funções do Estado), nas
novas e antigas Repúblicas, nos governos ditos “de esquerda” (Stalin é nosso
maior exemplo), etc.
Mas, no caso do
Brasil, teve seu maior auge institucional na época do Governo Militar, onde
simplesmente se podia fazer de tudo em nome da “preservação da ordem pública”.
E não só a eliminação física d@s sujeit@s que eram contra o governo instalado,
mas a sua eliminação moral, através das torturas. E esta não servia apenas para
arrancar informações (justificativa canalha para tal ato), mas também para
satisfazer o prazer sádico dos torturadores. Os registros de estupros, de
pessoas violentadas com cassetetes e outros aparelhos fálicos, de choques em
diversas regiões sexuais, etc, deixam mais que provado que havia um prazer
doentio nestas práticas (por parte de quem executava a tortura, obviamente).
Para piorar, a anistia dada a ambos,
torturadores e torturados, fez incutir na mente de boa parte da população o fim
da frase “nada justifica a violência”. Pelo contrário. Nunca ela foi tão
justificada como agora.
Quem
tem o poder, dado pelo Estado, pelo cargo político ou pela “ascensão social”,
vai usar este poder. Se tiver uma arma então, será melhor ainda.
Hoje
“se mata” por briga de trânsito, por tênis, por não atender ao chamado do
segurança bancário (mesmo que seja surdo, como foi o caso de um vendedor de
livros dentro de um banco), por não se ter o dinheiro para o assalto, por usar
o cavalo sem pedir, por não querer mais o companheiro, por ser impedido de
entrar no mercado após o horário de fechamento, por furar barreira policial, por
exigir seus direitos, etc, etc, etc.
E
não é apenas o tráfico de drogas o “violento”. A violência por “disputa de
pontos de venda de drogas” não é muito diferente da disputa por pontos de venda
de jogo do bicho, de cervejas, de tintas, ou qualquer outro bem material, guardada
as devidas proporções.
Em
países onde a Lei da Anistia foi revisada, e os militares estão sendo punidos
por excessos cometidos durante as ditaduras, houve uma queda brutal da
violência policial. Infelizmente, não é (ainda) o caso do Brasil.
J.J.
A FAVELA, AS DROGAS, A VIOLÊNCIA E A POLÍCIA MILITAR - Parte 4
Não
é de hoje que se associam estes quatro elementos da sociedade brasileira, em
diferentes associações de idéias, como “a favela e as drogas”, “a favela e a
violência”, “a violência e a drogas”, “as drogas e a polícia militar”, ou ainda
com três elementos: “a favela, as drogas e a violência”. Pouco (ou nada) se
associa na combinação “a favela e a polícia militar”, como se a presença da
polícia na favela fosse secundária à presença das drogas, quando na verdade não
o é, como veremos nas linhas adiante.
Mas
antes devemos nos detalhar nas definições, separadamente, de cada termo acima.
AS DROGAS (parte 4)
Droga,
segundo o mesmo Houaiss, é “substancia que altera a consciência e causa dependência”,
“matéria prima usada em remédios”, ou ainda “coisa ruim ou sem valor”.
Descartando
as duas últimas definições, temos ainda uma infinidade de substancias que
“alteram a consciência e causam dependência”, mas somente algumas poucas serão
consideradas “ilícitas”, cujo uso será proibido (e aqui cabem outras perguntas:
proibida para quem, por quem, e por que?).
Um
antigo chefe de polícia do Rio de Janeiro afirmou, em uma entrevista, que
apenas 30% das drogas estavam “no varejo”, ou seja, nas favelas, o restante 70%
circulando livremente em apartamentos de luxo, senado, câmara, etc.
` A
espécie humana sempre se drogou, seja mastigando folhas de coca, fumando
cigarros de maconha, bebendo chás em rituais religiosos, consumindo ópio (convém
estudar a Inglaterra e a Guerra do Ópio), bebendo álcool até não poder mais, e
agora com o famigerado “crack”. O lema da juventude (parte dela, obviamente)
era “sexo, drogas e rock’n’roll”, e drogas como LSD e outras circulavam (é passado???)
livremente em festas da “juventude transviada”. Isso sem falar nos medicamentos
calmantes, antidepressivos, ansiolíticos, drogas para inibir o apetite, etc. Só
não incluíram no rol das drogas, (e erradamente, segundo os critérios de
algumas pessoas), a televisão.
Mas
se a espécie humana sempre se drogou, e se a maior parte da droga consumida no
país não está nas favelas, porque é justamente lá que se faz o combate
violento?
Antes
de responder, vamos a outra pergunta: porque só 30% das drogas estão nas
favelas?
Ou
ainda outra: porque se combate a droga nas favelas com violência, e não com
inteligência, simplesmente colocando um veículo policial na entrada de cada uma,
coibindo assim seus principais consumidores, a classe mérdia cagona? O governo
já deu provas que consegue isso fácil, simplesmente colocando as viaturas na
entrada da favela, asfixiando o movimento – fez isso várias vezes, inclusive
quando roubaram fuzis do exército, e logo depois “devolveram”, vide reportagem
de Raphael Gomide na Folha de São Paulo, de 15.03.2006.
A
Resposta a estas, e também a outras indagações que podem porventura surgir, é a
seguinte:
Sendo
a favela o local onde se encontra a maior concentração de negr@s nas cidades;
Sendo
a organização social e política destæs Negr@s a principal arma do povo para o
combate a esta burguesia nacional;
Sendo
a Revolução Negra (e proletária, e socialista) o principal motivo de medo da
tal elite branca (que controla este país-colônia desde os anos de 1500);
Sendo
a Polícia Militar (antigos capitães do mato) a principal arma utilizada por
esta elite para conter a organização d@s Negr@s, e logicamente revoltas e
revoluções;
Sendo
a droga uma ótima ferramenta de desestruturação local, uma vez que com sua
disseminação afasta os jovens das discussões políticas, além do próprio medo
disseminado pelos “chefes do tráfico” (na verdade gerentes de mercados mantidos
por empresários bem sucedidos do asfalto);
Sendo
a droga também um ótimo motivo para criar um “inimigo público” (o traficante),
que acaba por legitimar toda e qualquer violência cometida por esta polícia
(desde que supostamente direcionada aos supostos traficantes);
A
Droga é simplesmente inserida, organizada e mantida nas favelas a fim de
justificar a entrada da polícia nestes locais, entradas estas cada vez mais violentas,
para que, assim, a organização destæs Negr@s seja cada vez mais difícil, se não
impossível.
Mas
não pense que, fora este “ganho político”, não há outros ganhos (financeiros)
com tal situação.
Ganham
os traficantes (gerentes provisórios), que, enquanto viverem, (e suas
existências terrenas, salvo raríssimas exceções, serão breves), serão os senhores
do local, a lei e a ordem, e terão as mulheres que desejarem (e muitas vezes
independente da vontade delas);
Ganham
os policiais militares que completam seu soldo (parco ou não, segundo a
patente) com o dinheiro do chamado “arrego”. Para melhor entendimento disto,
sugiro a leitura do livro “Cabeça de Porco”, onde outro antigo chefe de
segurança pública afirma que os postos de policiamento localizados no interior
das favelas servem para garantir duas coisas: a segurança d@ usuári@, para que
@ mesm@ adquira livremente sua droga (pois se tiver algum problema, elæ pode querer
trocar de favela, e isso é ruim); e para controlar o movimento da “boca”, o
“entra e sai” de playboys, patricinhas e aviões, sabendo de antemão quanto de
dinheiro circulou naquele ponto;
Ganham
os empresários das drogas, pois ninguém, em sã consciência, imagina que um
traficante, muitas vezes sem o primeiro grau completo e prisioneiro da própria
favela, consegue negociar diretamente com a Beretta, Colt, Winchester, ou
qualquer uma das várias fabricantes mundiais de armas (na Wikipédia pode-se
encontrar 23 fábricas diferentes), ou ainda ir na Bolívia ou qualquer outro
país negociar a compra de maconha ou cocaína. Como disse anteriormente, os
traficantes são apenas os gerentes do negócio, como um gerente de supermercado,
trocável a cada necessidade;
Ganham
os bancos (ou alguém imagina que todo este dinheiro circula em maletas
algemadas e é guardado em colchões?);
Ganham
os donos de lojas de shoppings e bingos, pois grande parte deste dinheiro é
“lavado” em lojas vazias de shoppings mais vazios ainda, mas que no fim do mês
apresentam um “lucro” considerável. Para quem quer melhor esclarecimento da
tática, é o seguinte: um “empresário das drogas” está com cem mil reais
provenientes do seu negócio (as drogas). Pega estes cem mil, e diz que foi o
“lucro” obtido pela venda de determinada loja. Obviamente pagará impostos sobre
este “lucro”, digamos, 15 mil (impostos, aluguel, salários, etc...). Agora, ele
tem 85 mil reais “limpos”, declaráveis, provenientes do suposto “movimento” da
loja (e não mais 100 mil oriundos da venda de drogas, e como tal,
indeclaráveis);
Ganha
o Estado, ao manter a população num estado de insegurança crônico, divulgando a
figura do inimigo público (o traficante, e por extensão qualquer favelad@,
qualquer Negr@ e qualquer pobre) e impedindo a população de enxergar os nossos
principais inimigos, que são o sistema capitalista burguês (que nos domina já
há muito tempo) juntamente com toda a cultura racista, sexista e homofóbica desta
sociedade.
Com
tudo isto, vimos que, na verdade, a polícia militar não invade a favela com a
finalidade de combater traficantes.
A polícia militar
invade a favela para disseminar o terror, para mostrar quem é que manda, para
desestruturar a organização popular, e também para trocar o comando da “boca”.
E
o tráfico? Este continuará existindo nas favelas enquanto o mesmo for
necessário para “legitimar” a atuação desta polícia.
J.J.
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