sexta-feira, 10 de outubro de 2008

O Brasil e suas feridas abertas

Há quinhentos anos, o Brasil é controlado pela mesma esfera de poder. Rostos e nomes
mudaram e, no entanto, a ideologia é essencialmente a mesma. As poucas famílias que integram o topo da pirâmide são as donas do país, mas não são responsáveis pelo seu verdadeiro sustento.
Essa função sempre pertenceu e ainda pertence à base da pirâmide, composta pelos humildes e marginalizados da sociedade. Tem sido assim desde a chegada dos europeus ao continente, que
fundaram países às custas do sangue das populações nativas e de seu trabalho forçado.
As primeiras cobaias da sanha imperialista européia foram as tribos indígenas, praticamente dizimadas por doenças e mortes prematuras. Com isso, os novos donos da América descobriram
uma forma muito mais eficaz e lucrativa de ampliar suas riquezas: o tráfico de escravos. A utilização dessa mão-de-obra foi muito marcante sobretudo no Brasil e suas feridas ainda não cicatrizaram completamente.
Os negros sustentaram os principais ciclos econômicos do país, da cana-de-açúcar ao café e, em troca, recebiam uma parca alimentação e intermináveis açoites caso ousassem levantar a voz contra a visível injustiça, E, quando todo o processo de escravidão foi abolido, não puderam contar com nenhuma assistência, não sabiam para onde seguir. Em um país que começava sua industrialização, não passavam de mão-de-obra desqualificada. Desse modo, muitos acabaram colocando-se à disposição de seus antigos donos em troca de pequena remuneração.
Outros tantos engrossaram o contingente de desempregados das grandes cidades, onde eram vistos com desdém. A escravidão havia acabado e não o preconceito ou a marginalização. Mesmo no Brasil de hoje, essa ainda é a realidade de muitas pessoas. No país fundado sob o trabalho e sob o sangue dessa gente a cor segue como diferencial. Em um país que tem em sua cultura elementos riquíssimos da cultura negra e indígena, a população segue cultuando seus antigos heróis de brinquedo, enquanto os verdadeiros heróis não ganharam destaque e têm como monumento as pedras pisadas do cais.

Danielle Veras

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Deu na Caros Amigos de Janeiro de 2008 - Coluna "Enfermaria" de Mylton Severiano

1. As prioridades do orçamento mundial

Gastos em dólares

1º lugar - Armamentos, 80 bilhões;
2º lugar - Fumo, 40 bilhões;
3º lugar - Publicidade, 25 bilhões;
4º lugar - Cerveja, 16 bilhões;
5º lugar - Vinho, 8,6 bilhões;
6º lugar - Golfe, 4 bilhões...

Total necessário para satisfazer as necessidades elementares de saúde, educação e alimentação de todas as crianças do mundo - 3,4 bilhões!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Fonte: informe de 1995 do Unicef, órgão da ONU para a infância.



2. Energia solar para o seu lar

O sol batendo no solo da Brasil (maior nação tropical do planeta) equivale por dia à energia gerada por 300.000 usinas de Itaipu. Em termos energéticos, o babaçu do Maranhão vale uma Arábia Saudita (petróleo, esgotável em 30 anos). E o Brasil se mantém atrelado ao petróleo e às usinas hidrelétricas.

Fonte: J. W. Bautista Vidal, entrevista a Caros Amigos, dezembro de 1997.


3. Arroz com feijão

Ao contrário do que se pensa, adulto, e não criança, é o maior freguês do fast food (comida rápida). A proporção de frequentadores fica em 35% de maiores de 25 anos, para apenas 10% de menores de 10 anos. Neste tipo de alimentação faltam vitamina A, cálcio e ferro. Falta folha verde-escura e falta legume alaranjado (cenoura, abóbora).

Fonte: noticiário da TV Cultura de São Paulo, 30/10/97, 13h30; Globo Cîência nº 76, novembro de 1997.


4. Reforma agrária já! (um século atrás)

"Precisamos combater o regime capitalista na agricultura, dividir a propriedade agrícola, dar propriedade da terra ao que efetivamente cava a terra e planta e não ao doutor vagabundo e parasita, que vive na "casa grande" ou no Rio de Janeiro ou em São Paulo. Já é tempo de fazermos isso e é isso que eu chamaria de problema vital."

Fonte: Lima Barreto (1881-1922), escritor brasileiro.



Nota do Vozes da América: A coluna "Enfermaria" estrou na revista Caros Amigos em 1997 com estas curtas informações e ainda outras. Porém, onze anos se passaram desde lá e nada parece ter mudado. Tem alguém muito louco nesta história toda, não sei se o mundo com sua guinada à direita, não sei se a gente com nossa passividade mórbida ou se o autor desta coluna, Mylton Severiano, que segue chovendo no molhado. E você? De que lado está? Desça do muro! Tome partido! Mostre sua cara! Seja como for, reaja! Ainda que seja para dizer que concorda.

domingo, 20 de julho de 2008

Exército 3 x 0 Providência

Nos últimos dias muito tem se falado sobre 1968, ano em que a juventude do mundo, sobretudo no Brasil, resolveu incendiar o planeta com a fúria e indignação contra o sistema vigente no universo. Armados de utopias e ao som de músicas de protesto, os jovens brasileiros foras às ruas exigirem o fim da ditadura e a volta da liberdade de expressão.

Mas o governo militar, para acabar com o suposto plano comunista de comandar o país, criou o Ato Institucional nº5, o terrível AI-5, baixado no dia 13 de dezembro de 1968, e que permaneceu forte durante dez anos, os temíveis anos de chumbo da história brasileira. Estão sendo programados vários eventos, livros e debates para lembrar essa época em que a ditadura militar não admitia vozes contrárias ao seu governo. Enfim, para quem estiver a fim de conhecer um pouco dessa história, sugiro várias leituras, mas principalmente o livro "1968 o ano que não acabou" do jornalista Zuenir Ventura, entre tantos outros sobre o tema.

Mas já que vários ex-carbonários resolveram lembrar esse tempo de luta, quarenta anos depois, o exército brasileiro também resolveu lembrar seus tempos áureos de baionetas em punho. Nesta semana que passou, onze deles, de sentinela no morro da Providência/RJ prenderam três três jovens moradores da favela, por desacato à autoridade.

Como o superior não quis prendê-los, o oficial inferior desacatou as ordens oficiais e seqüestrou os três insurgentes favelados, e conforme ele mesmo relatou, os jovens foram entregues de presente, aos traficantes do morro da Mineira (ADA), rivais do morro da Previdência (Comando Vermelho, CV). Por isso teriam sido executados. Sei não, essa história está meio camuflada.

Pois é, o exército brasileiro (EB), quarenta anos depois resolveu dar as caras (ou armas), e terceirizou a tortura e o assassinato.

Não é a primeira vez que o EB atormenta o morro da Providência, lembram quando o quartel foi assaltado? E isso aí, orgulho ferido não se cura fácil, meu compadre...

Quer seja nos morros cariocas ou nas palafitas nordestinas, essas histórias de dor e sofrimento parece que não têm fim na vida das pessoas simples do país.

Eu só queria entender por que tanto ódio ao povo da periferia? Quarenta anos atrás, muitos lutaram por liberdade de expressão. Oras, então por quê não se expressam nesse momento?
Vamos fazer de conta que esses três jovens são brancos e da classe média. Vamos abraçar a Lagoa Rodrigo de Freitas. Chama a Hebe, a Ivete. Vamos para a Paulista. Vamos usar fitinha branca para pedir paz. Vamos criar um ONG para salvar a vidas dos pobres em extinção. Ué, cadê todo mundo porra?

"É né, quando morre pobre ninguém quer?!"

O silêncio é mais covarde e violento do que bala de fuzil.

Sei que ninguém está me escutando, mas as favelas estão sangrando e as mães choram seus filhos mortos nas vielas, abandonados pelo descaso dessa elite que segura a baioneta, e finge que não vê, mesmo quando o sangue escorre sobre seus pés.

Não tenho tempo para orações, esse país nem cristo salva.

*Obs. minha caneta está carregada até a boca.


Texto extraído do jornal Le monde Diplomatique - Brasil
escrito por Sérgio Vaz.
Agradecimento especial ao amigo e aluno Marcus Paulo Rossi, que faz parte de uma geração que ainda sonha e não se conforma.

Esperança a Última que Morre!

A espera de um milagre,
Para que minhas esperanças,
Não esvaiam-se em desgosto!
Como esses fétidos esgotos,
Que é a ambição pelo poder,
Que nós humanos tanto almejamos...

No mundo de injustiça
Pregam a ignorância,
E a consciências do mundo
Gostam de ver morrendo...
As ideologias esvaem-se, morrem lentamente,escondida por panos quentes...

Cadáveres aos montes!
De mente morta, só vagam...
A juventue encurralada, incompreendida pelo mundo que os engolem tentando calá-los!
Como acreditar em mudanças?

Acho que não sou daqui!
Minhas esperanças sangram...
Mas hei de continuar acreditando, que um dia há de mudar esse mundo infeliz...
E se antes eu morrer,
Não sentirei desgosto, por não ver meus sonhos realizarem-se...
Se algo existir além da morte,
Continuarei a sonhar, acreditar no mundo perfeito!
Mas se nada existir,
Hei de me libertar das sujeiras, de uma sociedade injusta!

Marla Brück, estudante, faz parte de uma nova geração que ainda sonha e não se conforma. Que venha seu futuro.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Globalização em cadeia

O termo globalização é relativamente novo. Surge com a afirmação da hegemonia capitalista sobre o mundo, em especial após o término da Guerra Fria, uma vez que o perigo vermelho deixou de pairar sobre todas
as cabeças. Uma sociedade justa e igualitária, sem concentração de poderes, era assustadora demais para ser concebida.
A idéia, no entanto, remonta ao século XV, com a expansão capitalista européia rumo ao Novo Mundo.O Brasil de hoje, inclusive, arca com as conseqüências dessa globalização primitiva: ainda é, apesar dos avanços,um país essencialmente agrário - exportador. Falta uma integração econômica e tecnológica que impulsione a nação
para frente, a fim de fazer com que o slogan "Brasil, o país do futuro" deixe de ser apenas uma frase vazia, solta no ar.
Essa integração, contudo, não deve ser feita de modo a exaltar o modelo internacional vigente. Caso isso ocorra, o Brasil perde sua autonomia e passa a importar, além de tecnologia, uma cultura que não a sua própria, colocando-se à mercê dos países desenvolvidos, que, com isso, exercem um modelo de dominação muito mais eficiente, sem precisar usar sua força bélica.
Para muitos, a globalização tem como efeito mais impactante a abertura de um verdadeiro abismo entre as pessoas, o que contribui de maneira decisiva para uma segregação social, política e econõmica, um Apartheid à brasileira: não só a cidade, como o país em si, encontram-se divididos entre ricos e pobres, brancos e negros, Zona Sul e o resto,esquecido por todos, inclusive pelo Cristo Redentor, braços abertos sobre a Guanabara e de costas para os que estão à margem da sociedade.
Por ora, quem realmente se beneficia com a globalização é a elite, obviamente, enquanto o pobre tem uma chance maior de perder seu emprego para uma mão-de-obra mais qualificada. Apesar de tudo, uma integração mais incisiva entre os mercados produtores e consumidores se faz necessária, mas não como está sendo feita. As arcaicas estruturas do Brasil precisam ser quebradas e reinventadas, de modo que o termo globalização possa ser entendido de forma literal, como ato ou efeito de globalizar, como ato ou efeito de dispor todos ao redor de um mesmo ponto. Todos, sem exceção.

Danielle Veras, estudante, faz parte de uma nova geração que ainda sonha e não se conforma. Que venha seu futuro.

sábado, 5 de julho de 2008

Você tem fome de quê? Entre os miseráveis e a classe média. Viva os urubus!

Uma das maiores preocupações de nosso tempo é o lixo. A cada dia milhares de toneladas do resto que não aproveitamos mais, ou simplesmente desperdiçamos mais, é despejado fora. Nos grandes centros urbanos os lixões representam um grande desafio para o poder público. Ao mesmo tempo que não sabemos lidar com aglomerados de sobras apodrecidas de todos os tipos, as populações mais pobres mergulham nesse sub universo e retiram dali aquilo que esnobamos.
O resultado social desta mazela é catastrófico. As urbes se enchem de restos e os restos enchem a barriga de quem vive a margem do desperdício. As autoridades fingem que isto é fruto dos tempos modernos e nós fingimos acreditar que a luta entre crianças e urubus é aceitável. Mas, ao largo desta realidade, o planeta não consegue mais fingir que a terra dá conta do lixo.
Porém lixo é também, no sentido metafórico, resto, sobra, aquilo que não presta para consumo humano, agressão ao paladar e ao olfato, putrefação. Lixo é excesso, produção em massa, volume de aberrações impróprias para a saúde cultural de um povo. E, igualmente ao outro tipo de lixo, o resultado desta mazela também é devastador. As cidades globalizadas e, em especial, os produtores deste tipo de lixo se enchem de glórias por fazerem menos que o óbvio e ser isto o suficiente para alistar um exército de mortos-vivos que “sai do chão” ao primeiro comando bahiano, ou ainda, “bata bundinha” fingindo-se “cachorra” ou “preparada”, ou ainda se emocionando com rimas paupérrimas onde coração se encontre com paixão e amor com dor, bastando isto para que se ganhe discos de platina num tedioso programa dominical, seja ele apresentado com sotaque paulista no Rio de Janeiro ou sem sotaque paulista em São Paulo.
Há duas coisas que o volume de lixos produz: uma é o chorume, líquido advindo do processos, somados com a ação da água das chuvas, se encarregam de lixiviar compostos orgânicos presentes nos aterros sanitários para o meio ambiente. Esse líquido pode resultado das misturas dos restos que não consumimos, era inicialmente apenas a substância gordurosa expelida pelo tecido adiposo da banha de um animal. Posteriormente, o significado da palavra foi ampliado e passou a significar o líquido poluente, de cor escura e odor nauseante, originado de processos biológicos, químicos e físicos da decomposição de resíduos orgânicos. Esses atingir os lençóis freáticos, de águas subterrâneas, poluindo esse recurso natural. A elevada carga orgânica presente no chorume faz com que ele seja extremamente poluente e danoso às regiões por ele atingidas. Dá-se o nome de necrochorume ao líquido produzido pela decomposição dos cadáveres nos cemitérios, composto sobretudo pela cadaverina, uma amina (C5H14N2) de odor repulsivo, subproduto da putrefação.
O outro resultado proveniente do lixo é o barulho, subproduto altamente tóxico que, pode aparecer no formato funk (fãnque), axé music (axé musique), pagode criuolouro, sertaneja ou nos formatos anglo-saxões indecifráveis para a maioria da população que mal fala seu próprio idioma.
O barulho produzido por este tipo de lixo é vergonhosamente incentivado pela mídia-urubu, que se refestela sob o nosso cadáver putrefato pelo consumo indiscriminado deste tipo de, perdoem-me, “música”. Comum ver mulheres voltando ao estágio puramente objeto-sexual, condição que a sociedade machista impôs ao longo de milhares de anos e que algumas destas fêmeas, num ato de puro devaneio subversivo, ousou quebrar nos idos anos sessenta. Mas agora parece que “tá dominado, tá tudo dominado” novamente e para o bem do status quo masculino, a manutenção de sua imutável ordem.
Não há classe social definida para o consumo deste lixo letal, o que se sabe é que nas montanhas de lixos culturais que nos empurram reside uma democracia imbecilizante, pois todos, indiscriminadamente, pobres e ricos, negros e brancos, homens e mulheres se acotovelam para consumir o resto que destinaram para nos “educar”. Nutro uma grande admiração pelos urubus que, pelo menos neste caso, são seletivos.
A cultura de massa que enxovalha nossa dignidade é altamente perigosa, pois tem o poder de um Midas ao contrário, pois tudo que ela toca vira lixo e se formos por este raciocínio, estaremos respondendo uma das maiores indagações filosóficas de todos os tempos: o “para onde iremos?”, uma vez que necessariamente pararemos no Faustão, no Gugu, no Fantástico, ou num baile da Furacão 2000. Triste destino da humanidade... onde está o cataclismo nuclear? Onde está o choque da Terra com um grande cometa? Onde está o nosso fim, que serviria ao menos para nos redimir?
No caso do chorume, já há alternativas. A Alemanha, país europeu com a mais rígida regulamentação ambiental, tem inúmeras usinas a base de gás butano, num aproveitamento de quase 90% do lixo produzido naquele país. Esse é o futuro! E assim estaremos salvos!
No caso do fanque, axé musique, pagode crioulouro, sertaneja e outros drogas do gênero, a solução é mais distante, por simples que pareça. Em tese basta usar o “poder”, botão que consta na maioria dos controles remotos de aparelhos de TV e som, geralmente atende pelo nome de “power”, sempre que um programa imbecil estiver te tratando assim, como tal. Mas na realidade é muito difícil, pois a droga costuma transformar a morte em liberdade e faz deste meu discurso o ridículo. Assim estaremos mortos!
Tudo bem, talvez eu morra primeiro, talvez reme contra a maré, talvez seja insano o papel que faço aqui, talvez você nem leia isto que eu escreva (afinal este texto contém mais de dois parágrafos e para quem está contaminado com a ignorância, o tamanho de um texto é medido por milímetros); mas tenho algumas armas que não abro mão de usar agora: o fato de saber que o que eu consumo é consciente; que não me viciei em lixo e não será atolado nele que morrerei; que o gosto musical que tenho não é o melhor, pois isto é passível de boas discussões, mas está acima do chorume barulhento que rasteja para as entranhas da terra contaminando os seres vivos por onde passar; que sei que tenho o poder de mudar o que entenda e sobretudo, de fazer de mim algo que me orgulha quando olhar no espelho; a compreensão de que as mulheres são seres cerebrais, portanto indignas de diminuídas a uma bunda morena e outra loura onde o “chão” é o limite.
Pisamos todos os dias em chorumes, mas somos nós mesmos o necrochorume materializado. Produzimos desperdício, lixo que irá sufocar o planeta, mas suamos cadaverina quando balançamos nossos esqueletos descerebrados ao som de algo que não valha a pena qualificar como música. Devemos nos acostumar com o odor nauseante e virarmos nós mesmos subprodutos do lixo ou lutarmos contra o senso comum e sua geradora a grande mídia urubu? Responda você mesmo, se tiver coragem.

sábado, 28 de junho de 2008

Eu, 1996 e 2008. Esclarecimentos sobre a pesquisa realizada "Diários de Campo"

Os diários de campo publicados abaixo, foram frutos de uma pesquisa que fiz, junto com a equipe da Fundação Oswaldo Cruz - FIOCRUZ - em 1996 quando lá trabalhei na condição de pesquisador.
Naquela época, nos havia sido encomendado um trabalho que visava saber, pela ótica do usuário/paciente, qual o impacto do serviço público de saúde, se positivo ou se negativo para ele que, afinal de contas seria o maior beneficiado ou maior vítima das políticas públicas nesta área.
A observação no campo contou com uma equipe multidisciplinar, e a "observação participativa" foi o método que utilizamos. Varremos dois hospitais municipais: O Salgado Filho no Méier, portanto zona norte da cidade e o Miguel Couto na Gávea, zona sul.
Cobrimos todos os turnos - manhã, tarde, noite e madrugada - nos sete dias semanais, por vários meses. Atentos a tudo, tentávamos entrevistar pacientes desde que estivessem em mínimas condição de falar, além é claro, de todos os profissionais envolvidos na área de saúde.
O resultado pode ser conferido no formato dos "diários de campo" que foram publicados neste blog e as conclusões pertencem ao leitor. Mas lembre-se: Naquele ano de 1996 o prefeito era o mesmo César Maia de hoje, que tenta uma "reeleição" sob o nome de Solange Amaral, fiel escudeira do Imperador do Piranhão.
Na época deste trabalho o condidato de César Maia era o hoje seu desafeto Luiz Paulo Conde e a encomenda feita á Fiocruz visava dar números otimistas para alavancar a candidatura do fraquíssimo candidato, que para engrossar mais um triste capítulo da história recente do Rio de janeiro, fora eleito.
O discurso acadêmico burocrático e as teias que ligavam a Fiocruz à Prefeitura na época não permitiram que fosse publicado esses relatos que hoje exponho aqui no Vozes da América. Portanto, considero inéditas as publicações abaixo. Boa leitura!

Diário de campo - Um mergulho no dia-a-dia dos hospitais públicos do Rio de Janeiro - ÚLTIMA PARTE

Rio de Janeiro, 26 de junho de 1996.
Diário de Campo VI.
Observação de Campo no Hospital Municipal Salgado Filho, em 22/06/96.
Horário: entre 22h e 00 horas
Especificidade do dia: UPT, Pediatria, Radiologia e PS.


Assim que chegamos, eu e Marcelo nos dirigimos para a entrada da Emergência, onde procuramos as acadêmicas de medicina ligadas ao projeto. Nos forneceram uma informação, para mim estarrecedora: não havia ortopedista nem pediatra na Emergência. Os pacientes que chegam com traumas, tiram Rx aqui e vão procurar Ortopedista no Carlos Chagas. É incrível conceber um hospital do porte do Salgado Filho, um dos poucos hospitais que “funcionam” no Estado, cujos casos de traumas são uma constante, não terem ortopedistas. E o pior, na visita que fizemos à Radiologia a Dra. Mônica nos confirmou que há mais de um mês, nos plantões de sábado de madrugada, o HMSF não conta com um Ortopedista. E por incrível que pareça tem mais! A mesma médica confirmou que o hospital chegou a ficar aproximadamente 1 ano sem Ortopedista aos sábados entre 95/96. Nenhuma mente por mais esforço de abstração que faça, consegue conceber algo tão surreal para um hospital como este, logo num sábado.
Após o contato inicial com as acadêmicas, fomos à UPT, onde contabilizamos 7 leitos e duas macas dividindo um espaço que sabemos, cabe desde politraumatizados até a mais virulenta doença. Destes 9 casos, dois eram de Coma total e outros dois, eram de suicídio, fato relativamente “comum” naquele hospital e inteiramente intrigante uma vez visto a raridade de repetições no Miguel Couto de casos assim.
A Internação de Pediatria estava tranqüila, apenas um caso de trauma por queda, do menino Argônio de 11 anos. Porém a auxiliar de enfermagem que nem tempo tivemos de perguntar seu nome, nos disse que “há dias, quando está muito cheio, chega a ficar duas crianças por leito”. E de pronto fomos interrompidos por uma emergência chegada às pressas: um recém nascido sufocado aos braços de um médico, buscando respirador.
Fomos então à Radiologia: a equipe - Dra. Monica (radiologista), Hildebrando e Amélia (técnicos) e Luis Carlos (Câmara escura) - estava reunida pelo baixo movimento naquele início de madrugada. A Dra. Monica, como já mencionei anteriormente, após dizer não ter Ortopedistas aos sábados... foi interrompida pelo Luis Carlos: “Se vier um caso muito grave, será atendido aqui. Caso contrário, não.” Indagamos sobre como o paciente buscaria outro atendimento, se era encaminhado ou se iria por conta própria. Quando a Técnica Amélia revelou conhecer um expediente que os bombeiros utilizam: “Eles ligam para cá a cada troca de plantão para saber sobre as equipes, quais estão completas ou quais estão deficientes. Acho que devem ligar para os demais hospitais também”.
Enfim, engolimos algumas tragadas de saliva, e nos dirigimos ao PS. Como sempre, cheio, insalubre, desleixado e com poucos profissionais de saúde. No “setor” masculino os 12 leitos cheios, e no feminino 15, entre leitos e macas esparsas. Presenciamos uma senhora que sofrera um acidente junino com fogos de artifício. Chegamos ao PS quase ao mesmo tempo que ela, que acompanhada de seu cunhado padeceu em espera, por não constar no Hall dos mais necessitados. É claro que entendo as regras de sobrevivência de um campo de batalha como aquele, onde um paciente politraumatizado por exemplo, tem com justiça prioridades em relação a um aparentemente simples caso com os fogos juninos. Mas convenhamos, a maior dor é aquela que se sente, independente da gravidade. E melhor não seria se ao menos houvesse médicos suficientes? Após algum tempo de espera, a médica responsável dispensou-os, aconselhando procurar o serviço do Hospital do Andaraí, onde muito provavelmente passariam pelos mesmos processos de espera, descaso... e como se não bastasse, outra micro relação os surpreendeu à saída: o maqueiro com uma má vontade expressa, foi puxando a cadeira de rodas que se encontrava a senhora para levá-la até a saída. O cunhado entrou então num bate-boca não permitindo que a cadeira de rodas fosse levada pelo maqueiro, se encarregando ele mesmo de fazê-lo. Naquele caldeirão não é difícil interpretar as diversidades de relações existentes, em que consistem, como se apresentam, o papel dos atores, etc. O difícil, é supor normal dada a atual crise na saúde brasileira.

Diário de campo - Um mergulho no dia-a-dia dos hospitais públicos do Rio de Janeiro - PARTE 6

Rio de Janeiro, 17 de junho de 1996.
Diário de Campo V.
Observação de Campo no Hospital Municipal Salgado Filho, em 17/06/96.
Horário: entre 14h e 16 horas.
Especificidades do dia: Radiologia e PS.


Esse é um daqueles dias que podemos chamar de relativamente improdutivos. Isto por que era agoniante ver o hospital com um sem número de casos diferentes e não poder tirar proveito pelo excessivo número de gente circulante. A impressão que me perseguiu nas duas horas que por lá fiquei foi, a de atrapalhar.
Assim que cheguei, o profissional de Segurança Darciney, meu mais novo “colega”, veio me cumprimentar dizendo o quão horrível estava o hospital naquele dia. Me apontou duas macas postas no corredor por não haver espaço no PS e na UPT. O corredor estava intransitável. Me dirigi à porta de saída que se encontrava fechada por força da necessidade, onde estavam as macas “excessivas”, para conversar com o acompanhante do paciente. Reynaldo Fernandes, 18 anos, fora atropelado no méier. Teve os primeiros atendimentos mas agonizava de dor com fraturas múltiplas, escoriações e provavelmente outras lesões invisíveis ao leigo. Fico imaginando que se ali, estavam os casos mais contornáveis, como não estaria o PS hoje.
De fato, o PS e a UPT estavam abarrotados, sem a menor condição de transitar. Cheguei a pegar o acadêmico Alexandre, do PS, o mesmo que junto com Marcelo e Sueli travamos contato no dia 10/06, e que insiste em perguntar para os acadêmicos do projeto se somos X9 do César Maia, saindo do PS pois acabava seu plantão. Me deu um panorama geral do serviço naquele dia aconselhando não entrar nem no PS nem na UPT pelo inchaço que se encontravam.
Resolvi ir então, à Radiologia verificar os equipamentos e travar novos contatos. Tudo estava funcionando, inclusive a Tomografia Computadorizada que ontem quebrara. A Dra. Marise plantonista da radiologia, disse ser este o pior dia por ser segunda-feira. Disse a ela ter conversado com três pacientes antes de contacta-la, na espera de radiografia, que haviam chegado lá por volta das 10h e 30m e somente entraram para atendimento às 14h e 30m. Mas, também vi neste tempo que a aguardava, uma equipe ininterruptamente trabalhando. Me respondeu atribuindo “inchaço”, dizendo que nada mais poderia ser feito a não ser trabalhar sem parar de 8h às 18h quando, às segundas-feiras, este serviço começa a se tranqüilizar. “O CT voltou a funcionar apesar de ser um fusquinha em termos da necessidade do hospital. Essa máquina não dá conta do atendimento de Emergência, apenas do atendimento de rotina”, frisou ela me mostrando o equipamento e todo o suporte de infraestrutura que ele necessita. Aproveitei o fato de estarmos numa sala reservada, já que era onde se comandava as Tomografias, para cutucar sob as relações entre as equipes já que a radiologia acaba sendo um desembocador dos diversos setores que precisam daqueles serviços: “A relação entre as equipes é boa apesar das brigas constantes (sic). O PS diz ter os casos mais graves e pede preferência; a UPT idem; a Ortopedia a mesma coisa e assim por diante. O que falta na realidade para melhorar o atendimento, é aumentar o espaço físico. Por mim o HMSF só atenderia os casos de Emergência, o que mesmo assim não daria vazão. Não são as enfermeiras que tem má vontade, o problema é que elas são poucas para o montante de atendimento”. Relata a médica, que destaca o serviço de neurocirurgia como “excelente”. Considero muito proveitosa essa investida na Radiologia até para ter visões de pessoas diferentes confrontando opiniões sobre as mesmas polêmicas.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Curtas da Nossa América

Congreso paraguayo analizará dimisión de presidente24.Junio.08Asunción. — El Congreso paraguayo se reune este martes en una sesión extraordinaria que prevé analizar la renuncia del presidente de la República, Nicanor Duarte, la cual ha dividido criterios tanto en la oposición como al interior del oficialismo.
Abanderan campaña de alfabetización en Nicaragua24.Junio.08MANAGUA. — El presidente de Nicaragua, Daniel Ortega, abanderó la campaña de alfabetización "De Martí a Fidel" utilizando el método cubano "Yo sí puedo".
Descartan ruptura política en proceso de cambio en Ecuador24.Junio.08QUITO. — Asambleístas del movimiento Acuerdo País (AP) descartaron una ruptura en esa organización o en el proceso de cambio que se impulsa en la Asamblea Constituyente, la cual elabora una nueva Carta Magna.
Camión cae a barranco y deja 19 muertos en Bolivia23.Junio.08LA PAZ . — Un camión de carga se precipitó a un barranco y provocó la muerte de sus 19 ocupantes en una región montañosa del centro del país, informó el domingo la policía.
Casi 300 muertos en Dominicana por descargas eléctricas23.Junio.08SANTO DOMINGO. — El año pasado casi 300 dominicanos murieron por lo que puede considerarse una pandemia provocada por la inflación y la pobreza: electrocutadas cuando trataban de conectarse de manera ilegal a la red energética.
Ecuador amenaza con cortar diálogo UE por tema migratorio23.Junio.08QUITO Ecuador examinará la posibilidad de "cortar los diálogos" con la Unión Europea, que buscan suscribir un acuerdo con los países andinos, si no se escuchan los reparos a las nuevas normas europeas sobre los emigrantes, advirtió el presidente Rafael Correa.
Decomisan en Venezuela una tonelada de marihuana23.Junio.08CARACAS. — Efectivos de la Guardia Nacional de la isla Margarita, perteneciente al estado venezolano Nueva Esparta, decomisaron hoy una tonelada de marihuana, informó el presidente de la Oficina Nacional Antidrogas, Néstor Reverol.
Inicia visita oficial a México presidente uruguayo23.Junio.08MÉXICO . — El presidente de Uruguay, Tabaré Vazquez, iniciauna visita oficial de tres días a México, a donde arribó la víspera procedente de Cuba, segunda escala de una gira regional que incluyó además Panamá.
Diputados latinoamericanos rechazan directiva antinmigrante23.Junio.08CARACAS, 22 de junio.— Diputados del Parlamento Latinoamericano (PARLATINO) criticaron hoy la directiva antinmigrante aprobada recientemente por el Parlamento Europeo, que consideraron discriminatoria, reportó PL.
Notable ausentismo en referendo autonómico en región boliviana23.Junio.08TARIJA, Bolivia, 22 de junio.— El ausentismo constituyó una de las notas dominantes en el referendo autonómico que se desarrolló este domingo aquí, patrocinado por la derecha y declarado ilegal por el Gobierno y la Corte Nacional Electoral del país.
Chávez advierte suspender petróleo a europeos por caso de inmigrantes20.Junio.08CARACAS . — El presidente Hugo Chávez advirtió con suspender el suministro de petróleo a los países europeos que apliquen la nueva norma para repatriar a los inmigrantes indocumentados, en tanto el mandatario boliviano Evo Morales dijo que la normativa puede desencadenar violencia en Europa y Latinoamérica.
Embarazada argentina cavó su tumba antes de ser ejecutada20.Junio.08BUENOS AIRES. — Una joven prisionera embarazada cavó su propia tumba antes de ser ejecutada durante la última dictadura argentina (1976-83), reveló hoy un ex policía durante un juicio que se celebra en la provincia de Córdoba.
México: presidente ya no comparecerá cada año al Congreso20.Junio.08MEXICO. — El Senado aprobó que el presidente de turno no deba comparecer anualmente al Congreso a rendir un informe de su gestión, el cual podrá presentar por escrito en virtud de la tensión que los últimos dos años impidieron presentarse a los gobernantes de turno.
Presidente paraguayo promete integración a la Patria Grande20.Junio.08CARACAS . — El presidente electo de Paraguay, Fernando Lugo, prometió la integración plena de su país, sin desentonar, al sueño de la Patria Grande junto a los otros gobiernos progresistas de América Latina.
Presidente Torrijos por diálogo para resolver paro del transporte20.Junio.08PANAMÁ . — El presidente de Panamá, Martín Torrijos, exhortó al diálogo para resolver el paro del transporte público que cumple dos días en la capital del país.
Chávez confirma próxima junta con Uribe20.Junio.08CARACAS -. — El presidente venezolano, Hugo Chávez, confirmó que se reunirá próximamente con su par colombiano, Álvaro Uribe, y reiteró la voluntad de colaborar con el proceso de paz en el vecino país.
Chile facilitará acceso marítimo a Bolivia por Iquique 18.Junio.08LA PAZ . — Chile aceptó la realización de "estudios técnicos" para facilitar el acceso de Bolivia al mar por Iquique y por el momento ha puesto a su servicio ese puerto ubicado en el norte chileno, informaron el martes los vicecancilleres de ambos países.
Esperan en Ecuador a familiares de mexicanos muertos 18.Junio.08QUITO . — Familiares de los cuatro mexicanos muertos en un ataque colombiano a un campamento de las FARC en suelo ecuatoriano, son esperados en este país como parte de una gira regional que busca demostrar que los fallecidos no eran subversivos, se informó.
Evo Morales pide a George Bush exigir explicaciones a USAID18.Junio.08LA PAZ. — El presidente boliviano, Evo Morales, solicitó a su homólogo norteamericano, George W. Bush, que exija explicaciones a la Agencia de Estados Unidos para el Desarrollo Internacional (USAID) por sus acciones subversivas en esta nación.
Moratinos califica como exitosas reuniones oficiales en Venezuela18.Junio.08CARACAS, . — El canciller español, Miguel Ángel Moratinos, aseguró que su visita a Venezuela fue un éxito, y traslada a Bogotá un saludo cordial del presidente Hugo Chávez para su par colombiano, Álvaro Uribe.
Paraguay se suma a una Latinoamérica social y progresista18.Junio.08QUITO . — El presidente electo paraguayo, Fernando Lugo, afirmó aquí que su nación se suma a la nueva América Latina social y progresista, en la cual hay que aprender de Ecuador.
Denuncia Evo acciones subversivas de la USAID en Bolivia18.Junio.08LA PAZ, 17 de junio.–– El presidente boliviano, Evo Morales, solicitó hoy a su homólogo norteamericano, George W. Bush, que exija explicaciones a la Agencia de Estados Unidos para el Desarrollo Internacional (USAID) por sus acciones subversivas en esta nación, informó PL.
Presidente electo paraguayo apuesta por una soberanía con equidad17.Junio.08QUITO.— El presidente electo de Paraguay, Fernando Lugo, apostó por construir un país soberano con equidad durante una visita realizada a la ciudad de Guaranda, capital de la central provincia ecuatoriana de Bolívar.
Denuncian intento de complot golpista contra gobierno argentino17.Junio.08BUENOS AIRES.— El líder de la Federación por la Tierra y la Vivienda (FTV) de Argentina, Luis D'Elía, denunció un intento de golpe de Estado económico contra el gobierno de la presidenta Cristina Fernández.
Un general y 13 policías rehenes de manifestantes en el sur de Perú17.Junio.08LIMA.—Miles de pobladores en huelga mantienen retenidos a un general de la policía y a 13 agentes, siete de ellos heridos, tras violentos enfrentamientos entre policías antimotines y huelguistas en la región peruana de Moquegua (sur), según informó el propio oficial retenido.
Fortalecen sus relaciones Panamá y Uruguay17.Junio.08PANAMÁ.— Los presidente de Panamá y Uruguay, Martín Torrijos y Tabaré Vázquez, respectivamente, confirmaron el interés de ambos países de fortalecer sus nexos políticos, económicos, comerciales y culturales.
Ejército destruye dos laboratorios de coca en frontera con Colombia17.Junio.08QUITO.— El Ejército de Ecuador destruyó dos laboratorios en los que se procesaba pasta de coca, ubicados en la provincia noroccidental de Esmeraldas, cerca de la frontera con Colombia, informó hoy esa institución en un comunicado.
Destacan medios compras estadounidenses de gasolina barata en México17.Junio.08MÉXICO.— La masividad del ingreso de norteamericanos a México para comprar gasolina mucho más barata que en su país, destacaron medios informativos de esta capital.
Bolivia y Chile firman históricos acuerdos en materia militar17.Junio.08LA PAZ.— Bolivia y Chile, que se enfrentaron en una guerra en 1879 y que carecen de relaciones diplomáticas desde hace más de un cuarto de siglo, firmaron este lunes acuerdos en materia militar considerados "históricos" por ambos gobiernos.

Mais uma vergonha da imprensa!

(Ernesto Germano Parés)

Hoje, lendo os jornais, fiquei preocupado com as matérias dizendo que “Interpol comprova autenticidade dos arquivos apreendidos das Farc”. O Jornal do Brasil, em uma matéria secundária, chega a afirmar que os presidentes da Venezuela e do Equador estariam envolvidos.

Claro que isto me interessa e preocupa, motivo pelo qual resolvi pensar um pouco sobre a matéria e fazer algumas pesquisas na internet.

A primeira idéia que me passou pela cabeça foi fazer a seguinte pergunta: “É legal a denúncia feita pela Colômbia de que teria encontrado provas contra os dois presidentes em um computador de um guerrilheiro das FARC”?

Bem, comecei a imaginar: pelo que sabemos através dos próprios jornais, os tais computadores teriam sido pegos (roubados) pelo exército colombiano durante uma incursão aérea a território do Equador, sem permissão deste, durante a noite do dia 1 de março, bombardeando o acampamento de militantes das FARC e matando indiscriminadamente, inclusive uma estudante mexicana que fazia um trabalho universitário. Em outras palavras, os computadores foram pegos sem qualquer acompanhamento pericial ou ordem judicial. Qual tribunal, no mundo, aceitaria estas provas? Só o Bush, é claro!

Mas, então, passei para a segunda fase do meu estudo e resolvi pesquisar. Descobri que o tal relatório da Interpol está disponível, na íntegra (94 páginas), para quem entender espanhol. Basta acessar em: http://www.interpol.int/Public/ICPO/PressReleases/PR2008/pdfPR200817/ipPublicReportNoCoverES.pdf

Passei a ler o relatório (não terminei ainda) e encontrei contradições enormes entre o que nossa imprensa está noticiando e o texto dos peritos.

Em primeiro lugar, o chefe da Interpol deixa claro que “o conteúdo dos discos rígidos não foram analisados”. Os peritos apenas declaram que [b] os discos rígidos externos [/b] não foram alterados. Os “discos”, não o conteúdo!

Na página 31 do relatório, encontramos uma informação muito importante. Os técnicos da Interpol afirmam que “as autoridades colombianas manipularam os índices dos arquivos e as memórias do computador”, concluindo que “o acesso aos dados contidos nas citadas provas não se ajustou aos princípios reconhecidos internacionalmente para o tratamento de provas eletrônicas por parte de organismos encarregados da aplicação da lei”. Precisa dizer mais?

Algumas páginas adiante, o relatório da Interpol diz que os discos rígidos externos foram “apagados no dia 3 de março” (ou seja, dois dias depois do ataque), em horários diferentes. Os peritos dizem ainda que “os três discos rígidos externos e as três chaves USB haviam sido conectados a outro computador, entre 1 e 3 de março, sem que tenham sido feitas cópias prévias, com imagens forenses de seus conteúdos e sem ser empregado dispositivo de bloqueio de novas escritas (write-blokers)”.

Bem, agora cada um pode tirar sua conclusão dos fatos. Convido a lerem o relatório... É um pouco longo, mas não deixa dúvidas de mais uma armação de Bush, Uribe e Cia, com o apoio da nossa grande imprensa tão preocupada com a “liberdade de expressão”.

domingo, 15 de junho de 2008

José Bispo Clementino dos Santos

O sábado não amanheceu no pomar do samba. Fruta doce e ácida, como a personalidade de seu xará, Jamelão foi um dos frutos mais nobres da Mangueira que não só dá manga.
Morreu ontem de falência múltipla dos órgãos o homem por trás da voz que embalou parte da história de uma das mais tradicionais escolas de samba do Brasil. Jamelão imortalizou suas interpretações mas constatou que ninguém consegue fugir da inevitabilidade do tempo e, agora, virou adubo para outros talentos não deixarem morrer de falência múltipla cultural nossa já tão combalida saúde musical.
Queria acreditar que esta noite tem roda de samba no céu. Num exercício de pura transgressão aos meus princípios, consigo ver uma grande mesa sorrir. Lá está Pixinguinha com seu olhar terno e seu pulmão a serviço do sopro entoando um solo enquanto todos se levantam em homenagem ao mais novo membro da equipe celestial do samba. Também vejo compositores imortais como Nelson Sargento, Silas de Oliveira, Cartola, Noel Rosa... Foi aí que Jacob do Bandolim começou a dedilhar as cordas e o dueto fez todos aplaudirem a história terrena de Jamelão. Tinha muito mais gente na minha divagação, mas o nosso intéprete, amarrou uma liga de borracha entre os dedos da mão esquerda e começou a cantar, contando com um coral de primeira como João Nogueira, Gonzaguinha, Clementina de Jesus...

"... quem me vê sorrindo
pensa que eu estou alegre
o meu sorriso é por consolação
por que sei conter, para ninguém ver
o pranto do meu coração..."

Que a terra fertilizada que Jamelão jaz, dê frutos não só na Mangueira, mas também na Portela, no Império Serrano, na Vila Isabel... e que desta forma o samba resista forte como o homem que nunca se dobrou e apenas aos 95 anos deixou o microfone emudecer, a espera de uma nova semente.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Saudades...

Chico Mamão

Há cinco anos sinto falta dos almoços de domingo, regado a gargalhadas e repetitivas histórias de uma Mossoró que parece resistir romântica enquanto escrevo.Há cinco anos não planejo abrir o carnaval no sábado de desfile do Cordão do Bola Preta, para mais uma vez chegar acompanhado e voltar sozinho, ainda que feliz.Há cinco anos não ouço despudorados elogios à quadrilha que saqueou os cofres públicos nacionais em tempos ditatoriais.Há cinco anos não vejo se repetir a rotina de brigas conjugais no dia 1º de Maio, quando mais um outono matrimonial completava seu ciclo.Há cinco anos não tiro o carro da garagem para ir te buscar no botequim num sábado ensolarado e também não fui mais recebido de braços abertos, entre gargalhadas desproporcionais e assuntos irrelevantes, naquilo que se convencionou chamar de "Senado".Há cinco anos não tomo àqueles esporros clássicos que misturavam passado, presente e futuro, mas que me deixavam entre o ridículo e o enraivecido.Há cinco anos não presencio cenas de carinho bronco.Há cinco anos minhas narinas não são tomadas pelo impregnante cheiro de peixe que entranhava seus poros desde o Ceasa.Há cinco anos não testemunho sua introspecção preenchendo velhos formulários rosados, pedidos de caixas plásticas, que virariam nossa renda mensal.Há cinco anos não sentamos juntos à mesa de um bar para celebrarmos a vida, mas não sem antes jogar aquele curioso "abre trabalhos" numérico parecido com bingo, que mesmo chato, era mais tradicional nesse tipo de encontro do que o brinde entre copos.Há cinco anos tantas coisas são diferentes...A saudade corrói enquanto o monitor embaçado arremete luzes que não estavam aqui quando cheguei. Sinto muita falta do pai que me ensinou tantas coisas, mas que não conseguiu me ensinar a controlar minha dor.Saliva que se engole, olhos que se esfregam, vida que segue.

Diário de campo - Um mergulho no dia-a-dia dos hospitais públicos do Rio de Janeiro - PARTE 5

Uma visita ao Inferno!


Rio de Janeiro, 17 de junho de 1996.


Diário de Campo IV.
Observação de Campo no Hospital Municipal Salgado Filho, em 16/06/96.
Horário: entre 17h e 19 horas
Especificidade do dia: UPT, PS, Sutura e Radiologia.



Chegamos ao hospital, eu e Marcelo, como se não tivéssemos por lá pisado antes, afinal era o primeiro fim de semana que cobríamos, e pelo menos eu, não tinha a menor idéia das peculiaridades que encontraríamos.
De princípio, não observei nada de anormal a não ser a abordagem da equipe de acadêmicos de medicina à serviço do projeto, que se queixava insistentemente do profissional de segurança chamado Carlos, que estaria “atrapalhando” o trabalho por eles realizado. A queixa não era vã. O segurança não respeitava o “acordo” tácito feito anteriormente que rezava a permissão da equipe ou na sala de feitura das fichas de entrada dos pacientes ou na recepção de triagem médica, se dirigindo segundo a equipe com extrema grosseria. Fomos até à chefia da emergência do dia e, pelo menos aparentemente, o problema foi contornado.
Após ajudarmos a apagar esse pequeno incêndio, fomos à UPT - Unidade do Politraumatizados, cuja ocupação transbordava à normalidade. Parecia um choupana de guerra daqueles filmes americanos de quinta categoria por mais duro que seja adjetivar assim, e o pior de tudo é que ainda se dava ao luxo de ficar abandonada, pois não vimos mais que um profissional de branco circulando, em um dos ventrículos do coração da Emergência.
Partimos então ao PS, o que nessa altura do campeonato já me representa overdose de adrenalina. Tudo bem que não sou nenhum exemplo de fortaleza no que se refere a hospitais, mais convenhamos... No pronto socorro vimos de aproximadamente 10 leitos, sete idosos, sendo apenas uma maca de causa externa que teria sido operado na ortopedia. Duas coisas nos chamou a atenção: primeiro, o fato de um paciente ter sido operado na ortopedia e estar agora no PS; e, segundo, a constância de idosos neste setor. Foi aí que interpelamos mais um bom contato, a auxiliar de enfermagem Margarida. De pronto, sem nenhuma cerimônia, após a apresentação, já foi nos despejando sua versão sobre o funcionamento tanto do PS quanto da UPT, logo que estimulada: “... a UPT é para os casos de emergência e o PS é o depósito. Eles jogam os pacientes aqui. Se pintar uma vaga, os pacientes sobem, se não, ficam por aqui mesmo”. Ora não quero crer que seja sintomático o fato de termos sempre um número expressivo de idosos, no “depósito”, digo, no PS. Por que assim cresse, teria que admitir a hipótese de ali ser para além de um “depósito”, uma sala de espera para a eternidade. Resolvemos abaixar nossa adrenalina, ou será só a minha? Logo, saímos deste setor. Porém, antes indagamos Margarida à respeito de quatro macas que se encontravam no corredor de acesso a todos os setores da Emergência, e ela nos disse que ali se encontravam por não haver mais espaço na UPT, e na medida que fosse chegando casos graves, iria se retirando os “pacientes mais ou menos estabilizados” e os colocando no corredor.
Passamos então à Radiologia, setor que muito é acionado dado o número de demanda. Contatamos a Dra. Mônica, radiologista especialista em tomografia computadorizada, que ao mesmo tempo se mostrava num misto de reticência com colaboracionismo. Ratificou o que de fato pudemos observar nesse tempo de Campo, o setor funciona bem apesar da grande demanda. “O setor público tem deficiências aqui, ou em qualquer outro hospital. Porém, é a única coisa que essa gente tem”. Quando indagada quanto a manutenção dos aparelhos, ela coloca depender do problema do aparelho para reparo. Deu como exemplo o CT, que estava sem funcionamento por um problema “simples” na maca, e em casos assim, os pacientes eram encaminhados ao Souza Aguiar. Por fim definiu assim o Setor Público: “...equipamentos antigos, falta maqueiros, entretanto os profissionais que trabalham aqui são bons”. Deduzo além do visível quanto ao quadro geral da saúde pública, uma referência clara a equipe da radiologia, sempre aludida por ela na sua fala. Isto para mim, trás no seu interior uma discussão mais profunda sobre as interrelações das equipes que forma o Todo da Emergência no Salgado Filho, e fica mais claro com o passar das entrevistas.
Vejamos então, o caso do acadêmico de medicina Rui, dois meses de Salgado Filho, que trabalha no setor de Suturas. Há mais ou menos 20 casos de suturas por causas externas em cada plantão, começa Rui para logo desfilar conceitos a cerca do serviço público: “faltam recursos materiais como xilocaína, fios, etc. Mas o que me deixa mais P. não é nem isso. É o pessoal da enfermagem, que são muito displicentes quanto o atendimento. Para pegar o material, temos que ir até a enfermeira por conta da burocracia do hospital - para evitar roubo de material... - e quase nunca eles estão lá. São verdadeiros MORCEGOS!”. Mais uma vez, um profissional do hospital toca na tecla de disputa inter equipes. Começo a dar mais atenção quanto a observação feita logo nas primeiras investidas, pela auxiliar de enfermagem importada do Souza Aguiar, Nildéia que sentenciava: “falta calor humano”.
Outro ponto apontado pelo acadêmico, gira em torno do compromisso dos chefes da Emergência, e dos médicos plantonistas, nas trocas dos plantões. Diz Rui que, sempre ( pelo menos nos seus plantões ) mais ou menos 30 minutos antes do fim dos plantões tanto noturno quanto diurno, ninguém mais aparece no PS deixando os casos lá sem atendimento, sem atenção, até a troca de plantão. “... se eu plantonista, entrar ali nesse período de troca sem médico para monitorar, fico doidinho, não temos a menor condição. O PS é um inferno. Um bando de paciente gritando atendimento”. E finaliza dizendo-se “impotente” frente a falta de vagas nos ambulatórios e nos leitos da emergência.

Diário de campo - Um mergulho no dia-a-dia dos hospitais públicos do Rio de Janeiro - PARTE 4

Um Domingo, uma grávida um descaso...

Rio de janeiro, 12 de junho de 1996.


Diário de Campo III
Observação de Campo no Hospital Municipal Salgado Filho, em 11/06/96


Muito embora tenha ido obstinado a iniciar uma observação, desta vez sem a ajuda do Marcelo ou da Sueli, pegando por ordem os trâmites daqueles que chegam à Emergência do Hospital, fui pela conjuntura lá apresentada, obrigado a iniciar fora da ordem pré-estabelecida. Isto por que, feito um apanhado geral, verifiquei que a fila para atendimento na Emergência, estava pequena, tranqüila e somente de casos clínicos naquela tarde por volta das 13h e 30m. Sendo esta, a primeira estada dos pacientes que buscam atendimento emergente e não encontrando condições propícias, busquei fazer uma reconhecida geral por dentro dos setores que nos dizem respeito: a enfermagem de pediatria estava como da última visita, calma com casos de bronquite, diarréia e outros clínicos. Conversei um tempo com a auxiliar de enfermagem Nildéia, que como se não lembrasse de nossa última conversa ratificou de “negligência” o episódio do atropelamento de uma criança no domingo - já relatado em um diário anterior - e completou dizendo não ser esse um único caso; a internação de pediatria também não merecia atenção específica pois as crianças estavam em repouso e avaliei atrapalhar caso insistisse em interpelar a única enfermeira que lá estava; a sala de sutura estava cheia pois lá havia um caso recém chegado, de um paciente bastante ferido; a radiografia e a tomografia computadorizada estavam funcionando normalmente e a média de tempo de espera era aproximadamente de 20 a 30 minutos, com uma sala de mais ou menos 6 pessoas. O Pronto Socorro (PS) e a Unidade de Politraumatizados (UPT) estavam como sempre, mesmo não presenciando desta vez óbito no PS, e em relação às segundas-feiras, o UPT não estava abarrotado muito embora estivesse lotado.
Nessas andanças de avaliação dos setores de atendimento, fui interpelado enquanto me dirigia à UPT - onde viria a depositar maiores atenções pouco mais tarde - pelo profissional de Segurança Darciney. Este fora interpretado por mim e até discutido com Marcelo, como um dos “responsáveis” não só pelos outros colegas Seguranças, mas como também uma espécie de “chefe triador”, na triagem da fila antes mesmo de chegarem os pacientes a entrar no hospital. No corredor de acessos, a voz firme que indagava os transeuntes, me alcança: “Pois não Senhor? O que deseja?”. Me identifiquei, falei do meu trabalho ali e como que de repente, o tom da voz mesmo que continuasse firme, muda de sonoridade e Darciney se mostra solicito, um ‘gentleman’. Iniciava-se aí o primeiro contato com ele. No meio do corredor com olhares divididos entre seu trabalho e as pessoas do hospital que transitavam, segundo ele curiosos em saber sobre nossa conversa, vacilante no início bem passageiro, apontava com os olhos as pessoas que nos observavam numa quase paranóia, talvez típica do trabalho que realiza.
Falador, pouco à pouco foi se soltando. Desandou a tecer críticas à Saúde Pública, qualificando como “falida”, e afirmando não ser o Salgado Filho uma exceção. Ao entrar no assunto da triagem feita pelos Seguranças antes da triagem médica, dei uma certa volta dizendo que havia escutado algumas queixas neste sentido um dia destes, e creio que isso o credenciou a me responder também em voltas. Afirmou que os pacientes sofriam uma única triagem, a médica. Fui um pouco mais incisivo, e gradativamente inserindo outros assuntos e retornado, ele foi abrindo o jogo: “Fazemos uma triagem sim. E não me sinto capacitado para isso, mesmo sabendo que faço um trabalho melhor do que muitos médicos daqui”. E então porque você faz? perguntei - “Por me preocupar com meus irmãos”, respondeu circulando o dedo indicador pelo quatro cantos do hospital. E por fim, sentenciou: “...e tem mais se faço, é porque o hospital é conivente”, finaliza. Ora, se é fato que esse foi um primeiro contato, é verdade também que suas declarações são pesadas. O que seria mais grave, ter um segurança como primeiro triador àqueles que buscam a Emergência do Salgado Filho, ou ouvir que mesmo esse tipo de profissional trataria melhor os pacientes do que um próprio profissional da Saúde? E sob que aspecto essa “conivência” se apresenta em relação ao Hospital, seria oficiosa ou oficial? São questionamentos que não se encerram aqui, ao contrário, hoje se iniciam. Mas ao menos para mim, profissional de uma outra área, me recai tais declarações como uma explícita revelação de que enquanto uns de nós brincam de fazer Saúde, outros de nós aceitamos passivamente, referendando mais um mosáico da farsa capitalista.
Busquei em seguida contato com as acadêmicas de medicina e bolsistas da Fiocruz, que se encontravam na porta do atendimento de emergência, ou seja, na triagem médica. Relataram que ao menos naquele dia, o atendimento estava razoável, mais que pelo que elas observam, as pessoas serão melhores atendidas, se quem fizer o atendimento for um acadêmico, já que a experiência dos plantões que elas cobrem estava demarcando bem isso. Pedi para identificar um caso a pretexto de se tornar mais claro, e o relato foi igualmente impressionante: Domingo passsado, dia 09/06/96, chegou uma paciente buscando a Emergência, que acabara de parir no carro que a transportava. Para surpresa delas que estavam ali na triagem médica, a médica responsável na hora, uma pediatra, recusou o caso, mandando a mãe procurar um outro hospital ou atendimento. E completou, quando a paciente se resignara juntos dos familiares e resolveu buscar outro atendimento sem ao menos ter cortado o cordão umbilical, “Graças à Deus já foram!”. Será que Darciney, está completamente com a razão?
Por fim travei contato com o Dr. Vitor, na UPT, setor que me dirigia antes de ser abordado pelo Segurança. Médico “intensivista”, é responsável pela revisão de todos os pacientes da UPT em todas as tardes da semana. Atribuiu ao inchaço tanto deste setor como do PS, a desorganização, uma vez que faltam profissionais específicos para o acompanhamento dos casos lá registrados, já que sem acompanhamento, a dinâmica do atendimento é de ir deixando os pacientes ficando, pelo fato de o Hospital ir se perdendo no controle daqueles que devem ir para a UTI, aqueles que devem ir para ambulatórios, para o PS ou a UPT, os que devem ter alta, os que podem ser removidos, etc. Nosso contato foi breve pois senti que se perdurasse, eu o atrapalharia. Mas deu para sentir de sua parte um grande esforço para cooperar conosco com o que tiver ao seu alcance, e talvez seja ele um excelente profissional a ser entrevistado quando estivermos nesta fase.

Diário de campo - Um mergulho no dia-a-dia dos hospitais públicos do Rio de Janeiro - PARTE 3

Diário de Campo III
Observação de Campo no Hospital Municipal Salgado Filho, em 11/06/96


Muito embora tenha ido obstinado a iniciar uma observação, desta vez sem a ajuda do Marcelo ou da Sueli, pegando por ordem os trâmites daqueles que chegam à Emergência do Hospital, fui pela conjuntura lá apresentada, obrigado a iniciar fora da ordem pré-estabelecida. Isto por que, feito um apanhado geral, verifiquei que a fila para atendimento na Emergência, estava pequena, tranqüila e somente de casos clínicos naquela tarde por volta das 13h e 30m. Sendo esta, a primeira estada dos pacientes que buscam atendimento emergente e não encontrando condições propícias, busquei fazer uma reconhecida geral por dentro dos setores que nos dizem respeito: a enfermagem de pediatria estava como da última visita, calma com casos de bronquite, diarréia e outros clínicos. Conversei um tempo com a auxiliar de enfermagem Nildéia, que como se não lembrasse de nossa última conversa ratificou de “negligência” o episódio do atropelamento de uma criança no domingo - já relatado em um diário anterior - e completou dizendo não ser esse um único caso; a internação de pediatria também não merecia atenção específica pois as crianças estavam em repouso e avaliei atrapalhar caso insistisse em interpelar a única enfermeira que lá estava; a sala de sutura estava cheia pois lá havia um caso recém chegado, de um paciente bastante ferido; a radiografia e a tomografia computadorizada estavam funcionando normalmente e a média de tempo de espera era aproximadamente de 20 a 30 minutos, com uma sala de mais ou menos 6 pessoas. O Pronto Socorro (PS) e a Unidade de Politraumatizados (UPT) estavam como sempre, mesmo não presenciando desta vez óbito no PS, e em relação às segundas-feiras, o UPT não estava abarrotado muito embora estivesse lotado.
Nessas andanças de avaliação dos setores de atendimento, fui interpelado enquanto me dirigia à UPT - onde viria a depositar maiores atenções pouco mais tarde - pelo profissional de Segurança Darciney. Este fora interpretado por mim e até discutido com Marcelo, como um dos “responsáveis” não só pelos outros colegas Seguranças, mas como também uma espécie de “chefe triador”, na triagem da fila antes mesmo de chegarem os pacientes a entrar no hospital. No corredor de acessos, a voz firme que indagava os transeuntes, me alcança: “Pois não Senhor? O que deseja?”. Me identifiquei, falei do meu trabalho ali e como que de repente, o tom da voz mesmo que continuasse firme, muda de sonoridade e Darciney se mostra solicito, um ‘gentleman’. Iniciava-se aí o primeiro contato com ele. No meio do corredor com olhares divididos entre seu trabalho e as pessoas do hospital que transitavam, segundo ele curiosos em saber sobre nossa conversa, vacilante no início bem passageiro, apontava com os olhos as pessoas que nos observavam numa quase paranóia, talvez típica do trabalho que realiza.
Falador, pouco à pouco foi se soltando. Desandou a tecer críticas à Saúde Pública, qualificando como “falida”, e afirmando não ser o Salgado Filho uma exceção. Ao entrar no assunto da triagem feita pelos Seguranças antes da triagem médica, dei uma certa volta dizendo que havia escutado algumas queixas neste sentido um dia destes, e creio que isso o credenciou a me responder também em voltas. Afirmou que os pacientes sofriam uma única triagem, a médica. Fui um pouco mais incisivo, e gradativamente inserindo outros assuntos e retornado, ele foi abrindo o jogo: “Fazemos uma triagem sim. E não me sinto capacitado para isso, mesmo sabendo que faço um trabalho melhor do que muitos médicos daqui”. E então porque você faz? perguntei - “Por me preocupar com meus irmãos”, respondeu circulando o dedo indicador pelo quatro cantos do hospital. E por fim, sentenciou: “...e tem mais se faço, é porque o hospital é conivente”, finaliza. Ora, se é fato que esse foi um primeiro contato, é verdade também que suas declarações são pesadas. O que seria mais grave, ter um segurança como primeiro triador àqueles que buscam a Emergência do Salgado Filho, ou ouvir que mesmo esse tipo de profissional trataria melhor os pacientes do que um próprio profissional da Saúde? E sob que aspecto essa “conivência” se apresenta em relação ao Hospital, seria oficiosa ou oficial? São questionamentos que não se encerram aqui, ao contrário, hoje se iniciam. Mas ao menos para mim, profissional de uma outra área, me recai tais declarações como uma explícita revelação de que enquanto uns de nós brincam de fazer Saúde, outros de nós aceitamos passivamente, referendando mais um mosáico da farsa capitalista.
Busquei em seguida contato com as acadêmicas de medicina e bolsistas da Fiocruz, que se encontravam na porta do atendimento de emergência, ou seja, na triagem médica. Relataram que ao menos naquele dia, o atendimento estava razoável, mais que pelo que elas observam, as pessoas serão melhores atendidas, se quem fizer o atendimento for um acadêmico, já que a experiência dos plantões que elas cobrem estava demarcando bem isso. Pedi para identificar um caso a pretexto de se tornar mais claro, e o relato foi igualmente impressionante: Domingo passsado, dia 09/06/96, chegou uma paciente buscando a Emergência, que acabara de parir no carro que a transportava. Para surpresa delas que estavam ali na triagem médica, a médica responsável na hora, uma pediatra, recusou o caso, mandando a mãe procurar um outro hospital ou atendimento. E completou, quando a paciente se resignara juntos dos familiares e resolveu buscar outro atendimento sem ao menos ter cortado o cordão umbilical, “Graças à Deus já foram!”. Será que Darciney, está completamente com a razão?
Por fim travei contato com o Dr. Vitor, na UPT, setor que me dirigia antes de ser abordado pelo Segurança. Médico “intensivista”, é responsável pela revisão de todos os pacientes da UPT em todas as tardes da semana. Atribuiu ao inchaço tanto deste setor como do PS, a desorganização, uma vez que faltam profissionais específicos para o acompanhamento dos casos lá registrados, já que sem acompanhamento, a dinâmica do atendimento é de ir deixando os pacientes ficando, pelo fato de o Hospital ir se perdendo no controle daqueles que devem ir para a UTI, aqueles que devem ir para ambulatórios, para o PS ou a UPT, os que devem ter alta, os que podem ser removidos, etc. Nosso contato foi breve pois senti que se perdurasse, eu o atrapalharia. Mas deu para sentir de sua parte um grande esforço para cooperar conosco com o que tiver ao seu alcance, e talvez seja ele um excelente profissional a ser entrevistado quando estivermos nesta fase.

domingo, 1 de junho de 2008

Faz frio dentro de mim. E de você?

Hoje é um Domingo típico outonal. Faz frio, chove fino. Olho pela fresta de uma porta insistentemente fechada e vejo o silêncio. Ouço o vazio da bola que não corre, das pipas que não voam, dos cães que não ladram pela pura falta de gente a pertubar-lhes o instinto.
Penso na vida e cruzo os meus braços, apertando-lhes ao meu corpo para produzir mais calor. Mas basta um lapso de racionalidade para consumir em indignação e estupefação, ao lembrar que num país de tantas terras, sobra latifúndio para poucos e fome para tantos. O frio que esbarra na solidão suburbana deste fim de semana Austral, deve está congelando o restante das esperanças de milhares de sem terras que, agora, além das dores cotidianas e seculares, ainda carregam os ossos pesados e a pele arrepiada até que as flores desabrochem a Primavera.

Funeral de um Lavrador (Chico Buarque)

Esta cova em que estás com palmos medida
É a conta menor que tiraste em vida
É de bom tamanho nem largo nem fundo
É a parte que te cabe deste latifúndio
Não é cova grande, é cova medida
É a terra que querias ver dividida
É uma cova grande pra teu pouco defunto
Mas estás mais ancho que estavas no mundo
É uma cova grande pra teu defunto parco
Porém mais que no mundo te sentirás largo
É uma cova grande pra tua carne pouca
Mas a terra dada, não se abre a boca
É a conta menor que tiraste em vida
É a parte que te cabe deste latifúndio
É a terra que querias ver dividida
Estarás mais ancho que estavas no mundo
Mas a terra dada não se abre a boca

domingo, 25 de maio de 2008

Diário de campo - Um mergulho no dia-a-dia dos hospitais públicos do Rio de Janeiro - PARTE 2

Este texto foi escrito originalmente em Junho de 1996. Porém, sua atualidade é espantosa e tragicamente contemporânea. Isto certamente tem várias explicações sociológicas, mas de uma não devemos fugir: o Prefeito da cidade é o mesmo.


Diário de Campo I
Observação de Campo no Hospital Municipal Salgado Filho, em 06/06/96.


“Bem vindos ao Paraíso!” Foi assim que fomos recebidos pelo Dr. Fábio, chefe Geral da emergência naquele dia, para se referir ao nosso novo locus de trabalho, também já classificado de nomes menos sugestivos ao literalmente proposto, mas próximo a ironia de quem vive o dia-a-dia daquela emergência, como “Bósnia”, “Vietnã”, ou outro qualquer caldeirão em efervescência.
Estávamos lá, eu, Marcelo e Sueli percorrendo em primeiro apanhado geral todo o centro nervoso da emergência. Iniciamos pela enfermagem de pediatria onde tivemos a grata e espontânea colaboração de uma, pouco a pouco revelada descontente, auxiliar de enfermagem. Nildéia veio transferida há três meses do Souza Aguiar, considerado por muitos como o mais complexo e trabalhoso hospital do Rio de Janeiro pelo seus excessivos números de casos e pela sua absoluta falta de recursos, onde trabalhara por 13 anos. Qual não foi minha surpresa quando entre olhares preocupados com as crianças em nebulização, na sala onde conversávamos, em alternância da tonalidade da voz, se posicionava “desambientalizada” com o novo local de trabalho. Apesar de morar perto do hospital e isso ser um atenuante ao desconforto, ela insistentemente marcava como diferença fundamental a “falta de calor humano” que ali imperava em detrimento do Souza Aguiar, numa para mim, clara alusão a falta de solidariedade entre os profissionais de saúde daquele hospital, que se transformava para ela como implicador à sua permanência, falando inclusive em retornar para seu hospital, digamos, de “origem”. Mas acredito que o que de mais importante ela nos forneceu, foi o que até aquele instante era uma grande impressão, mesmo que calcada nas mais explícitas ações observáveis por qualquer transeunte pouco desapercebido: a triagem dos que serão e dos que não serão atendidos pela emergência no Salgado Filho, seria feita por profissionais de Segurança, e terceirizados pelo sucateamento do serviço público: “Eles foram treinados para tomar conta de patrimônio. Cumprem um papel que não é deles, por interferência do hospital, e acabam por não tomar conta do patrimônio”. Óbvio que isso não nos é suficiente para afirmar com precisão o grau de influência e poder desses profissionais, mas com certeza nos abre flancos para aprofundar tais relações, o que avalio ser de suma importância para a pesquisa.
Prosseguimos passando para a sala de internação de pediatria, onde travamos contato com uma enfermeira cuja identificação perdemos, mas que nos falou comovida de um caso de atropelamento de uma criança no domingo, atendida pela equipe que fazia parte, que deixou o plantão com o caso aparentemente controlado, mas fora surpreendida com o óbito desta criança ao chegar ao hospital. Chegou a falar em “negligência”. Fui remetido de pronto as últimas falas do primeiro encontro com a auxiliar de enfermagem Nildéia, que dizia “no caso de acidentes graves não é bom procurar o Salgado Filho, mas sim o Souza Aguiar”. Dado interessante não só pelo visível, mas também pelo subjetivo, já que parece possível haver um certo “xodó” por parte daqueles profissionais de saúde que vestem a camisa do hospital que trabalham e gostam. E acredito ainda que o fator “negligência” nos será também outra constante a ser perseguida, uma vez que será impossível nos deparar com os casos de óbito sem deixar vir à cabeça tal preocupação.
Os setores mais pesados, que hão de nos dizer mais a respeito, são a UPT - Unidade de Politraumatizados, e o PS - Pronto Socorro. A primeira vista, além de assustador me pareceu um tanto confuso, já que em meio de politraumatizados de toda espécie, óbitos, PAF’s... encontra-se também intoxicados, casos clínicos graves como pneumonia, etc. Esses dois setores merecerão olhares atentos e minunciosos, pela aparente complexidade de elementos objetivos e subjetivos que exploraremos em novas visitas, pois não acredito ser fácil, por exemplo, para o paciente - trauma - do leito 6 da UPT, ter que se encobrir para não ver o esforço concentrado no leito 1 em um idoso caso clínico que acabou por ir à óbito. Só não será possível nem para o leito 6 nem para os demais leitos evitar o sonido da voz : “vamos fazer o pacote” ou “vamos puxar ele”.

Diário de campo - Um mergulho no dia-a-dia dos hospitais públicos do Rio de Janeiro - PARTE 1

Este texto foi escrito originalmente em Março de 1996. Porém, sua atualidade é espantosa e tragicamente contemporânea. Isto certamente tem várias explicações sociológicas, mas de uma não devemos fugir: o Prefeito da cidade é o mesmo.

Rio de janeiro, 15 de março de 1996.


Primeiro Diário de Campo - Zona Sul
Visita ao Hospital Municipal Miguel Couto, em 14 de Março.

Nesse dia, aliás o primeiro dia em minha nova experiência, estava eu acompanhado e monitorado da professora Sueli, coordenadora do projeto, ancioso com a projeção que fazia do que estava por vir. Esperava um hospital logo de cara satisfazendo as pequenas informações já recebidas e as impressões de quem até então muito embora não tenha feito uso de uma emergência pública, sempre ficou atento ao compromisso de Instituições governamentais, principalmente no que tange educação e saúde.
Qual não fora minha surpresa, quando logo na entrada nos deparamos com a comitiva oficial municipal, chefiada pelo máximo representante do poder executivo, o prefeito. Sem dúvida a presença de César Maia significava um dia, no mínimo atípico se comparado com a rotina daquele hospital, esbravejado aos quatro cantos do estado como o “melhor embora haja problemas...”. Os bochichos da entrada e as rodas que se formavam, me soavam como prenúncio de que ao menos naquele dia, ou ao menos naquela manhã as coisas por lá andaram maquiadamente melhor.
Driblamos os aglomerados e fomos então fazer o percurso dos pacientes que chegam em condições de se locomover à emergência daquele hospital. De pronto pude observar uma fila na entrada de casos visivelmente deslocados de um atendimento emergente, arrisco dizer que no pouco tempo de observação daquela fila, a maioria absoluta de casos assim se enquadravam, o que resultará sem dúvida em inchaço desse serviço. Porém da mesma forma que assumi arriscar diagnosticar, assim também o faz , na maioria das vezes o primeiro atendimento do hospital, já que a triagem feita nos instantes que ali permanecíamos era por profissionais de segurança, vigilantes, terceirizados. Dali o paciente será atendido de acordo com a gravidade: caso seja alocado em “pequenas emergências” permanece no primeiro andar e aí será indicado de acordo com o tipo de caso, oftalmologia, odontologia,etc. Caso o paciente esteja enquadrado nas “grandes emergências” ele sobe para o segundo andar.
Ao passo que mais e mais informações eram fornecidas pela Sueli e ilustradas pelas circunstâncias, fui apresentado ao percurso daqueles que só chegam ao Miguel Couto em alguma viatura e, como se fosse de propósito, eis que chega um custodioso. Algemado, escoltado e posto numa maca de qualquer maneira, cria assim mesmo um certo alvoroço nos profissionais de saúde e de fato não é para menos, porque se é verdade que tais profissionais não devam fazer qualquer pré-julgamento, também é verdade a possibilidade objetiva de um resgate a trinta ou qualquer coisa parecida. Não o vimos mais.
Subimos à emergência que servirá de laboratório nesta fase da pesquisa. Fui recomendado “respirar fundo e dar uma segurada”, e de fato precisei. De saída entrevistamos um caso de mutilamento por granada e o relato de uma mãe cuja a única razão de permanecer em pé, a mais de 24 horas sem comer, mesmo portando crachá de acompanhante, era sua desenfreada fé evangélica Universal que lhe explicava para àquele fato a luta incessante de Satanás com Jesus Cristo, que culminou na derrota do primeiro, mesmo que tenha levado seu braço. Vale dizer que por menos tempo permanecido ali, mesmo em dia de visita oficial, não foi só esse desleixo com a D. Malvina que saltou aos olhos de tão gritante. Ao irmos entrevistá-la em sala pouco mais reservada que a enfermaria da emergência, somos surpreendidos por uma mulher de mais ou menos 30 anos, sentada de calcinha e sutiã, num sofá da sala da chefia da enfermagem, com sua roupa pressionada ao corpo e toda urinada, chorando muito. Fora um medicamento aplicado minutos antes sem acompanhamento profissional. E para encerrar o dia de intensa multiplicidade de casos concentrado, o relato de uma idosa, D. Alda Vitória, 77, que por mais corriqueiro que nos possa parecer sua internação pelo avançado de sua idade, uma queda no banheiro após banhar-se, não é sequer tragável o fato de estar com a “comadre” cheia pelo tempo que com ela permanecemos - aproximadamente 30 minutos - e outros tantos que ela dizia para mais de hora.
O contraste nas entrevistas ficou claro quando a fizemos com um médico de 22 anos de Miguel Couto, participante de reuniões da Diretoria, que pelas manhãs cobre o “setor” de triagem rendendo os seguranças terceirizados. Aí, o discurso oficial colide com a observação participativa, e é regido pela cartilha do “apesar das dificuldades, este é o único hospital público capacitado ao atendimento...”, que, ao que me parece está intimamente ligado com o afã publicitário de auto promoção do Diretor deste hospital, e do próprio chefe do Executivo.
Todavia, esse relato é fruto de uma primeira visita ao setor de emergência de um dos dois hospitais públicos que estudaremos e claro, pode trazer numa primeira análise, equívoco. O que me pareceu pertubador foi imaginar que mesmo a D. Malvina esperando uma hora e meia para que seu filho fosse atendido depois de penarem em dois hospitais sem atendimento; Mesmo D. Alda aguardando que a limpassem e fosse assim retirado sua “comadre” onde já havia até moscas sob seu cobertor, cuja maior preocupação era se o hospital podia pô-la na rua a qualquer momento; Mesmo vendo um grande contigente de acadêmicos de medicina atendendo os pacientes naquele setor internado, e não os médicos responsáveis; é este Miguel Couto, considerado o melhor hospital da rede pública do Estado do Rio de Janeiro.

Mídias alternativas

Raros leitores,
A lista de sítios que segue abaixo, são de endereços alternativos a esta mídia amestrada pelos interesses internacionais e da própria elite brasileira. Mas devo lembrá-los: São apenas alternativas de informação e não fonte da mais pura verdade. Quem vende notícias distorcidas como se verdade fosse, são os grandes canais de comunicação de massa, com o objetivo de espalhar a epidemia de ignorância citada no retorno desta página a ação.
Portanto, boas leituras!


www.abi.bo
www.cartamaior.uol.com.br
www.prensa-latina.cu
www.casla.com.br
www.midiaindependente.org.br
www.cubasocialista.cu
www.el-latinoamericano.com
www.ezln.org.mx
www.granma.cu
www.diplo.uol.com.br
www.lainsignia.org
www.midiasemmascara.com.br
www.wallacecamargo.blogspot.com
www.diariomardeajo.com.ar
www.rnv.gov.ve
www.rebelion.org
www.reporterbrasil.com.br
www.ecuador.indymedia.org
www.asambleapopulardeoaxaca.com
www.radiomundoreal.fm
www.pcb.org.br
www.pstu.org.br

Caros amigos

Estamos retornando a atividade, depois de um longo e rigoroso verão, repleto de epidemias que desafiaram a lógica do bom senso. Em Janeiro sofremos com a febre amarela e toda a população correu para os postos de saúde que não davam conta da demanda. Logo em seguida o mesmo aedes egypti aterrorizou o país inteiro com sua picada, muitas vezes fatal. Mas a pior de todas as epidemias, a mais mortal, aquela que não tem mês específico para aparecer, nem tampouco ano, é a ignorância. Cuidado! Pois ela assola o mundo inteiro e no nosso caso, insiste em aparecer diariamente sob os mais diversos formatos, mas em especial, este ano, ela aflorará deixando mais vítimas que de costume, pois é um ano eleitoral.
Todas as outras epidemias poderiam ser evitadas se esta, a mais letal, não existisse. O Vozes da América está de volta para gritar, até mesmo por entender que o grito é um de seus antídotos, e convidamos mais gritos a ser juntar aos nossos.
Sigamos!


Canción con todos

Salgo a caminar, por la cintura cósmica del sur.
Piso en la región más vegetal del viento y de la luz.
Siento al caminar toda la piel de América en mi piel.
Y anda en mi sangre un río que libera en mi voz su caudal

Sol de alto Perú, rostro Bolivia, estaño y soledad.
Un verde Brasil besa mi Chile cobre y mineral.
Subo desde el sur hacia la entraña América y total.
Pura raiz de un grito destinado a crecer y a estallar.

Todas las voces, todas.
Todas las manos, todas.
Toda la sangre puedeser canción en el viento


Canta conmigo, canta,
hermano americano.
Libera tu esperanza
con un grito en la voz.


(Tejada Gomez / César Isella)
Solo vocal inesquecível: Mercedes Sosa.