sábado, 28 de junho de 2008

Diário de campo - Um mergulho no dia-a-dia dos hospitais públicos do Rio de Janeiro - PARTE 6

Rio de Janeiro, 17 de junho de 1996.
Diário de Campo V.
Observação de Campo no Hospital Municipal Salgado Filho, em 17/06/96.
Horário: entre 14h e 16 horas.
Especificidades do dia: Radiologia e PS.


Esse é um daqueles dias que podemos chamar de relativamente improdutivos. Isto por que era agoniante ver o hospital com um sem número de casos diferentes e não poder tirar proveito pelo excessivo número de gente circulante. A impressão que me perseguiu nas duas horas que por lá fiquei foi, a de atrapalhar.
Assim que cheguei, o profissional de Segurança Darciney, meu mais novo “colega”, veio me cumprimentar dizendo o quão horrível estava o hospital naquele dia. Me apontou duas macas postas no corredor por não haver espaço no PS e na UPT. O corredor estava intransitável. Me dirigi à porta de saída que se encontrava fechada por força da necessidade, onde estavam as macas “excessivas”, para conversar com o acompanhante do paciente. Reynaldo Fernandes, 18 anos, fora atropelado no méier. Teve os primeiros atendimentos mas agonizava de dor com fraturas múltiplas, escoriações e provavelmente outras lesões invisíveis ao leigo. Fico imaginando que se ali, estavam os casos mais contornáveis, como não estaria o PS hoje.
De fato, o PS e a UPT estavam abarrotados, sem a menor condição de transitar. Cheguei a pegar o acadêmico Alexandre, do PS, o mesmo que junto com Marcelo e Sueli travamos contato no dia 10/06, e que insiste em perguntar para os acadêmicos do projeto se somos X9 do César Maia, saindo do PS pois acabava seu plantão. Me deu um panorama geral do serviço naquele dia aconselhando não entrar nem no PS nem na UPT pelo inchaço que se encontravam.
Resolvi ir então, à Radiologia verificar os equipamentos e travar novos contatos. Tudo estava funcionando, inclusive a Tomografia Computadorizada que ontem quebrara. A Dra. Marise plantonista da radiologia, disse ser este o pior dia por ser segunda-feira. Disse a ela ter conversado com três pacientes antes de contacta-la, na espera de radiografia, que haviam chegado lá por volta das 10h e 30m e somente entraram para atendimento às 14h e 30m. Mas, também vi neste tempo que a aguardava, uma equipe ininterruptamente trabalhando. Me respondeu atribuindo “inchaço”, dizendo que nada mais poderia ser feito a não ser trabalhar sem parar de 8h às 18h quando, às segundas-feiras, este serviço começa a se tranqüilizar. “O CT voltou a funcionar apesar de ser um fusquinha em termos da necessidade do hospital. Essa máquina não dá conta do atendimento de Emergência, apenas do atendimento de rotina”, frisou ela me mostrando o equipamento e todo o suporte de infraestrutura que ele necessita. Aproveitei o fato de estarmos numa sala reservada, já que era onde se comandava as Tomografias, para cutucar sob as relações entre as equipes já que a radiologia acaba sendo um desembocador dos diversos setores que precisam daqueles serviços: “A relação entre as equipes é boa apesar das brigas constantes (sic). O PS diz ter os casos mais graves e pede preferência; a UPT idem; a Ortopedia a mesma coisa e assim por diante. O que falta na realidade para melhorar o atendimento, é aumentar o espaço físico. Por mim o HMSF só atenderia os casos de Emergência, o que mesmo assim não daria vazão. Não são as enfermeiras que tem má vontade, o problema é que elas são poucas para o montante de atendimento”. Relata a médica, que destaca o serviço de neurocirurgia como “excelente”. Considero muito proveitosa essa investida na Radiologia até para ter visões de pessoas diferentes confrontando opiniões sobre as mesmas polêmicas.

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