Não
é de hoje que se associam estes quatro elementos da sociedade brasileira, em
diferentes associações de idéias, como “a favela e as drogas”, “a favela e a
violência”, “a violência e a drogas”, “as drogas e a polícia militar”, ou ainda
com três elementos: “a favela, as drogas e a violência”. Pouco (ou nada) se
associa na combinação “a favela e a polícia militar”, como se a presença da
polícia na favela fosse secundária à presença das drogas, quando na verdade não
o é, como veremos nas linhas adiante.
Mas
antes devemos nos detalhar nas definições, separadamente, de cada termo acima.
AS DROGAS (parte 4)
Droga,
segundo o mesmo Houaiss, é “substancia que altera a consciência e causa dependência”,
“matéria prima usada em remédios”, ou ainda “coisa ruim ou sem valor”.
Descartando
as duas últimas definições, temos ainda uma infinidade de substancias que
“alteram a consciência e causam dependência”, mas somente algumas poucas serão
consideradas “ilícitas”, cujo uso será proibido (e aqui cabem outras perguntas:
proibida para quem, por quem, e por que?).
Um
antigo chefe de polícia do Rio de Janeiro afirmou, em uma entrevista, que
apenas 30% das drogas estavam “no varejo”, ou seja, nas favelas, o restante 70%
circulando livremente em apartamentos de luxo, senado, câmara, etc.
` A
espécie humana sempre se drogou, seja mastigando folhas de coca, fumando
cigarros de maconha, bebendo chás em rituais religiosos, consumindo ópio (convém
estudar a Inglaterra e a Guerra do Ópio), bebendo álcool até não poder mais, e
agora com o famigerado “crack”. O lema da juventude (parte dela, obviamente)
era “sexo, drogas e rock’n’roll”, e drogas como LSD e outras circulavam (é passado???)
livremente em festas da “juventude transviada”. Isso sem falar nos medicamentos
calmantes, antidepressivos, ansiolíticos, drogas para inibir o apetite, etc. Só
não incluíram no rol das drogas, (e erradamente, segundo os critérios de
algumas pessoas), a televisão.
Mas
se a espécie humana sempre se drogou, e se a maior parte da droga consumida no
país não está nas favelas, porque é justamente lá que se faz o combate
violento?
Antes
de responder, vamos a outra pergunta: porque só 30% das drogas estão nas
favelas?
Ou
ainda outra: porque se combate a droga nas favelas com violência, e não com
inteligência, simplesmente colocando um veículo policial na entrada de cada uma,
coibindo assim seus principais consumidores, a classe mérdia cagona? O governo
já deu provas que consegue isso fácil, simplesmente colocando as viaturas na
entrada da favela, asfixiando o movimento – fez isso várias vezes, inclusive
quando roubaram fuzis do exército, e logo depois “devolveram”, vide reportagem
de Raphael Gomide na Folha de São Paulo, de 15.03.2006.
A
Resposta a estas, e também a outras indagações que podem porventura surgir, é a
seguinte:
Sendo
a favela o local onde se encontra a maior concentração de negr@s nas cidades;
Sendo
a organização social e política destæs Negr@s a principal arma do povo para o
combate a esta burguesia nacional;
Sendo
a Revolução Negra (e proletária, e socialista) o principal motivo de medo da
tal elite branca (que controla este país-colônia desde os anos de 1500);
Sendo
a Polícia Militar (antigos capitães do mato) a principal arma utilizada por
esta elite para conter a organização d@s Negr@s, e logicamente revoltas e
revoluções;
Sendo
a droga uma ótima ferramenta de desestruturação local, uma vez que com sua
disseminação afasta os jovens das discussões políticas, além do próprio medo
disseminado pelos “chefes do tráfico” (na verdade gerentes de mercados mantidos
por empresários bem sucedidos do asfalto);
Sendo
a droga também um ótimo motivo para criar um “inimigo público” (o traficante),
que acaba por legitimar toda e qualquer violência cometida por esta polícia
(desde que supostamente direcionada aos supostos traficantes);
A
Droga é simplesmente inserida, organizada e mantida nas favelas a fim de
justificar a entrada da polícia nestes locais, entradas estas cada vez mais violentas,
para que, assim, a organização destæs Negr@s seja cada vez mais difícil, se não
impossível.
Mas
não pense que, fora este “ganho político”, não há outros ganhos (financeiros)
com tal situação.
Ganham
os traficantes (gerentes provisórios), que, enquanto viverem, (e suas
existências terrenas, salvo raríssimas exceções, serão breves), serão os senhores
do local, a lei e a ordem, e terão as mulheres que desejarem (e muitas vezes
independente da vontade delas);
Ganham
os policiais militares que completam seu soldo (parco ou não, segundo a
patente) com o dinheiro do chamado “arrego”. Para melhor entendimento disto,
sugiro a leitura do livro “Cabeça de Porco”, onde outro antigo chefe de
segurança pública afirma que os postos de policiamento localizados no interior
das favelas servem para garantir duas coisas: a segurança d@ usuári@, para que
@ mesm@ adquira livremente sua droga (pois se tiver algum problema, elæ pode querer
trocar de favela, e isso é ruim); e para controlar o movimento da “boca”, o
“entra e sai” de playboys, patricinhas e aviões, sabendo de antemão quanto de
dinheiro circulou naquele ponto;
Ganham
os empresários das drogas, pois ninguém, em sã consciência, imagina que um
traficante, muitas vezes sem o primeiro grau completo e prisioneiro da própria
favela, consegue negociar diretamente com a Beretta, Colt, Winchester, ou
qualquer uma das várias fabricantes mundiais de armas (na Wikipédia pode-se
encontrar 23 fábricas diferentes), ou ainda ir na Bolívia ou qualquer outro
país negociar a compra de maconha ou cocaína. Como disse anteriormente, os
traficantes são apenas os gerentes do negócio, como um gerente de supermercado,
trocável a cada necessidade;
Ganham
os bancos (ou alguém imagina que todo este dinheiro circula em maletas
algemadas e é guardado em colchões?);
Ganham
os donos de lojas de shoppings e bingos, pois grande parte deste dinheiro é
“lavado” em lojas vazias de shoppings mais vazios ainda, mas que no fim do mês
apresentam um “lucro” considerável. Para quem quer melhor esclarecimento da
tática, é o seguinte: um “empresário das drogas” está com cem mil reais
provenientes do seu negócio (as drogas). Pega estes cem mil, e diz que foi o
“lucro” obtido pela venda de determinada loja. Obviamente pagará impostos sobre
este “lucro”, digamos, 15 mil (impostos, aluguel, salários, etc...). Agora, ele
tem 85 mil reais “limpos”, declaráveis, provenientes do suposto “movimento” da
loja (e não mais 100 mil oriundos da venda de drogas, e como tal,
indeclaráveis);
Ganha
o Estado, ao manter a população num estado de insegurança crônico, divulgando a
figura do inimigo público (o traficante, e por extensão qualquer favelad@,
qualquer Negr@ e qualquer pobre) e impedindo a população de enxergar os nossos
principais inimigos, que são o sistema capitalista burguês (que nos domina já
há muito tempo) juntamente com toda a cultura racista, sexista e homofóbica desta
sociedade.
Com
tudo isto, vimos que, na verdade, a polícia militar não invade a favela com a
finalidade de combater traficantes.
A polícia militar
invade a favela para disseminar o terror, para mostrar quem é que manda, para
desestruturar a organização popular, e também para trocar o comando da “boca”.
E
o tráfico? Este continuará existindo nas favelas enquanto o mesmo for
necessário para “legitimar” a atuação desta polícia.
J.J.
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