sexta-feira, 2 de novembro de 2007

A Igreja Católica e o conservadorismo que se afastam dos ideais de Jesus Cristo - Parte II






"Devemos nos indagar se a perseguição do nazismo contra os judeus não teria sido facilitada pelos preconceitos anti judaicos existentes em alguns corações e mentes cristãos". - Cardeal Edward Cassidy - Nós lembramos - uma reflexão sobre o Shoah, 1998

Durante os duros anos de Guerra de Unificação na Itália, o estado pontifício de Roma, também fora unificado pela luta burguesa, fazendo assim com que a milenar Igreja perdesse sua sede mundial.
Após anos de brigas internas e sucessivas Santidades papais, fora assinado então um acordo, já no século XX, entre o Papa Pio XII e o chefe do Estado italiano, o nada menos repugnante... Mussolini!!!
Este acordo - Tratado de Latrão - fazia com que a Santa Igreja recebesse de volta um estado, o país Vaticano, sob a forma de indenização em troca do apoio a ditadura fascista que se consolidava no eixo Roma-Berlim, que levaria o mundo a se quedar paralisado ante a possibilidade nazi-fascista conquistar o planeta, neste caso com o aval vaticanista.
Chamavam-no de il Tedesco, "o alemão". E não sem razão. Ninguém nas altas esferas do Vaticano superava a germanofilia do Cardeal Eugênio Pacelli. A Alemanha era a sua segunda pátria, o alemão seu outro idioma, e os Hohenzoller, a dinastia lá reinante, os soberanos do seu coração. Ele estava em Munique em 1917 quando nomearam-no arcebispo e núncio, autorizando-o a negociar uma concordata com os bávaros. A seguir, de 1925 a 1929, fixou-se em Berlim, quando então o Papa Pio XI chamou-o à Roma nomeando-o secretário de estado. Anos perigosos e difíceis aqueles, quando a Igreja Católica, indisposta com o liberalismo e inimiga de morte do comunismo, decidiu-se associar-se ao fascismo.
Pelo Tratado de Latrão, de 1929, a roupeta preta confraternizou-se com a camisa negra. Em troca de 750 milhões de liras - o "empréstimo da conciliação"-, o Papado reconheceu o regime de Mussolini. A mão que abençoava os cristãos apertou a mão de quem sufocava as liberdades. A própria Igreja Católica apressou-se em suprimir da política italiana o Partito Popolare, e todas as demais organizações laicas católicas que pudessem atrapalhar ou impedir a implantação do regime de partido único na Itália. Quando Hitler chegou ao poder em 1933, foi o próprio Pacelli quem supervisionou os termos da concordata, assinada em 20 de Julho de 1933, redigidos pelo Monsenhor Gröber, o "bispo nazista"(der braune Bischof), de Fribourg, que, a pretexto de proteger os católicos, tirou o Führer dos nazistas do isolamento diplomático em que se encontrava nos primeiros momentos da sua ascensão.
O papa Pio XII, que dispunha da única rádio independente em toda a Europa ocupada, jamais alçou-se em fazer sequer uma denúncia pública das atrocidades que os nazistas estavam cometendo. Na reunião do Lago de Wansee, ocorrida na periferia de Berlim em Janeiro de 1942, como se sabe, os altos hierarcas do partido e do governo comprometeram-se a conjugar esforços para executar a Endlösung, a Solução Final, gazeando toda a população judaica européia (calculada em 11 milhões). O máximo que obteve-se de Sua Santidade foi uma alocução, no Natal de 1942, na qual, sem especificar quem eram as vítimas, apontou "as centenas e os milhares que, sem falta ou culpa alguma, talvez apenas em razão da sua nacionalidade ou raça, foram marcados pela morte e pela progressiva extinção." O estranho argumento dos defensores do mutismo pacellista era de que se o Sumo Pontífice delatasse os crimes, os nazistas, em represália, poderiam aumentar o número dos imolados, tornado o sofrimento ainda maior! Alegam ainda, como fez o historiador Christopher Browning, que é uma ingenuidade pensar-se que o papa pudesse, em qualquer momento, deter o genocídio que, em sua maior parte, deu-se bem longe da Itália, vitimando ciganos, judeus poloneses e russos, e prisioneiros soviéticos. Raciocínio que nos leva a concluir que o sentimento de solidariedade cristã e indignação humana contra os assassinatos em massa está limitado pela geografia! Ninguém, é bom lembrar, considera a Cúria Papal um exército, nem vê o papa como um general a quem se recorre para complicadas operações de salvamento e resgate, mas sim acredita ser a Igreja Católica uma força ética e uma reserva moral do Ocidente, de quem espera-se que aja em favor das vítimas justo nesses momentos terríveis.
Qual então a razão do seu silêncio? Segundo a historiadora Annie Lacroix-Riz (Le Vatican l 'Europe et le Reich, Paris, 1996), sabe-se que em privado, com representantes alemães, Pacelli externava os mesmos sentimentos anti judaicos deles. Mas presumo ser outra a causa do seu silêncio. Essa, de ordem subjetiva-objetiva. O papa, sendo um implacável anti comunista, um aristocrata de família toscana, nascido em Roma em 1876, tendo por um irmão um conde, encarnava os valores últimos de uma nobreza européia agonizante. Viu no nazismo, como tantos outros da sua casta, a oportunidade de liquidar com os bolcheviques ateus (versão contemporânea dos jacobinos, que tantos padecimentos fizeram sofrer a nobreza e a igreja nos tempos modernos), mesmo que o preço a pagar fosse moralmente monstruoso. Somente eles, os super-homens de Hitler e de Mussolini, com sua política de total impiedade, colocando-se bem "acima do bem e do mal", poderiam abatê-los. A pavorosa morte dos judeus era o tributo moral que exigiam dele. A política do Vaticano de sustentação incondicional do Reich, "excluía emocionar-se por suas vítimas".
Os tempos são outros, a conjuntura histórica mudou, mas a Igreja e o atual Papa insistem numa Igreja segregacionista, anti-comunista, etnocêntrica, portanto anti-cristã. Somente as vozes dos que acreditam em Deus e/ou dos que acreditam num mundo justo, fraterno e igualitário, podem frear a aberrações cometidas em nome Dele ou em nome de uma ética materialista cujos pressupostos passem pelo outro e não por interesse rasteiros como lucro e propriedade.

Colaboração do síto mundo história

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