sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

A imprensa continua a mesma

“Na calada da noite” ou
“A imprensa continua a mesma”!
(Ernesto Germano – dezembro 2007)

Matéria no caderno internacional do Jornal do Brasil, em 14/12/07, destaca e comemora que “Os líderes da União Européia assinaram nesta quinta-feira em uma suntuosa cerimônia no Mosteiro dos Jerônimos de Lisboa o novo tratado que substitui a fracassada Constituição européia, e que deve facilitar as decisões no bloco (...)”. Outros jornais brasileiros noticiaram o fato, com maior ou menor destaque, mas todos aprovando a medida.
Qual o problema? Simples! Mais um golpe bem urdido pelos neoliberais e pela direita européia e mais uma manipulação da notícia que só envergonha a profissão de jornalista.
Em 2003, depois da ampliação da União Européia, os líderes liberais tentaram criar um modelo de Constituição comum à região, mais adaptado à ideologia de redução do papel do Estado e retirada dos direitos sociais. O problema é que este modelo de Constituição teria que ser aprovado pelos países membros e uma cláusula dizia que se um só país votasse contra todo o projeto seria suspenso.
Alguns resolveram o problema de forma bem pouco democrática: Alemanha, Áustria, Itália, Bélgica e mais alguns resolveram fazer “eleição indireta” e os parlamentos bem afinados com a direita votaram favoráveis. A Inglaterra, Polônia, República Tcheca e outros ficaram aguardando os demais resultados. França, Holanda e Dinamarca convocaram plebiscito para a aprovação. E aí aconteceu a surpresa! Nos três o povo deu um sonoro “não” (54,86% dos votos) à Constituição proposta pelos liberais.
Vale destacar que, na época, Nicolás Sarkozy era ministro do Interior francês e fez campanha aberta pelo “sim”, sendo derrotado.
Durante muito tempo o projeto liberal de uma Constituição “flexível” para a União Européia ficou aguardando por melhores momentos. Sarkozy, agora eleito presidente da França, saiu pelo mundo defendendo Bush e tentando articular um grupo de apoio para evitar a queda do dólar. E agora nos surpreende com esta reunião no Mosteiro dos Jerônimos, onde ele foi peça chave, fazendo aprovar a nova Constituição “na calada da noite”, sem consultas e sem plebiscitos.
E agora a minha perplexidade com a imprensa brasileira. Um presidente passa por cima da decisão do povo que votou “não”, assina um acordo às escondidas no alto de um mosteiro e protocola a mudança constitucional. E nossa imprensa o apresenta como um “grande estadista da atualidade”. Outro presidente realiza um plebiscito para mudar a Constituição, é derrotado e aceita a decisão do povo. Nossa imprensa o apresenta com “ditador”.
Sarkozy passa por cima da vontade popular e é tido como “democrata”, Chávez acata a decisão do povo e é “tirano”. Estou fascinado com a nossa imprensa!

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