segunda-feira, 31 de julho de 2006

Quintana por Quintana


Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão. Há ! mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas... Aí vai ! Estou com 78 anos, mas sem idade. Idades só há duas : ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a eternidade.
Nasci do rigor do inverno, temperatura : 1 grau; e ainda por cima prematuramente, o que me deixava meio complexado, pois achava que não estava pronto. Até que um dia descobri que alguém tão completo como Winston Churchill nascera prematuro – o mesmo tendo acontecido a Sir Isaac Newton ! Excusez du peu..Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que nunca acho que escrevi algo à minha altura. Porque poesia é insatisfação, um anseio de auto-superação. Um poeta satisfeito não satisfaz. Dizem que sou tímido. Nada disso, sou é caladão, introspectivo. Não sei por que sujeitam os introvertidos a tratamentos. Só por não poderem ser chatos como os outros ?
Exatamente por execrar a chatice, a longuidão, é que eu adoro a síntese. Outro elemento da poesia é a busca da forma (não da fôrma), a dosagem das palavras. Talvez concorra para esse meu cuidado o fato de ter sido prático de farmácia durante 5 anos. Note-se que é o mesmo caso de Carlos Drummond de Andrade, de Alberto de Oliveira, de Érico Veríssimo – que bem sabem (ou souberam) , o que é a luta amorosa com as palavras.
porMario Quintana.
Ontem, dia 30 de Julho de 2006, cuja madrugada registrou a temperatura mais alta desse inverno do mesmo jeito de há 100 anos, no mesmo Rio Grande do Sul de há 100 anos, comemoramos o centenário do poeta das coisas simples.
Durante a vida teve a sensibilidade de entender e nos ensinar que "amar é quando a nossa alma muda de casa". E num outro verso, quando as coisas não iam bem e os anos de chumbo traziam truculência e insensibilidade, com a ferocidade de uma corte por papel, ele sentenciou: "... eles passarão, eu passarinho."

2 comentários:

Wallace Camargo disse...

O QUE O VENTO NÃO LEVOU

No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas
que o vento não conseguiu levar:
um estribilho antigo
um carinho no momento preciso
o folhear de um livro de poemas
o cheiro que tinha um dia o próprio vento....

(Mario Qintana)

Anônimo disse...

Roose,
Por gentileza abra seu e-mail do uol pois o trabalho foi enviado para esse endereco devido que o Guilherme nao havia ido ao colegio hj pq teve problemas,mas ele ja me mandou a parte dele e logo mais mandarei de novo.
Quando ler isso por favor comunique-me no e-mail vi.soares@live.com.
Esse e-mail que lhe mandei hj do meu trabalho esta no endereco de miltons@unissys.com.br.
Atenciosamente,
Viviane