domingo, 23 de maio de 2010

Esses milicos só podem estar sofrendo de saudades ou de Alzheimer

O Vozes da América agradece a colaboração do excelente cavaquinista, bandolinista e outras cordas, Bruno Eschenazi, pela matéria abaixo.
Os militares saudosistas, assim como a elite civil que lucrou com o golpe e nos escombros dele ainda se deleitam, cometem nessa entrevista (e em tantas outras) uma série de aberrações históricas. Mas destacamos duas que fogem a lógica racional, descambam para o ridículo e desaguam nos mares tortuosos da mais pura sacanagem: Primeiro foi dizer que a imprensa na ditadura militar era "amplamente livre"; Segundo, afirmar para termos cuidado pois o Brasil ruma para uma "ditadura totalitária comunista". Ou esse milico é limitadíssimo do ponto de vista intelectual ou é de uma grandeza ideologicamente fascista das raias da estupidez. Seja como for, é necessário manter uma distância de segurança.

Governo Lula quer implantar ditadura totalitária no país

General pivô de polêmica defende que ditadura de 1964 foi autoritária, mas não totalitária, e deixou imprensa "amplamente livre"
RESPONSÁVEL até fevereiro deste ano pelo Departamento de Pessoal do Exército, o general Maynard Marques Santa Rosa, 65, disse à Folha que está em andamento um processo para transformar o Brasil numa "ditadura totalitária comunista" e que o 3º Programa Nacional de Direitos Humanos é parte dessa estratégia.
Ele afirma que "com certeza" há exagero quando se fala em tortura na ditadura militar (1964-85). "Vocês conhecem algum ex-torturado cubano? Ou russo? Não existe, porque não se deixava sair [da prisão]. Então, foi a bondade, entre aspas, dos torturadores que permitiu que saíssem [no Brasil]."
LUCAS FERRAZDA SUCURSAL DE BRASÍLIA
ELIANE CANTANHÊDE COLUNISTA DA FOLHA

FOLHA - Qual é sua opinião sobre o governo Lula?
MAYNARD MARQUES SANTA ROSA - Acho o presidente uma pessoa simpática, tem empatia com o público e sensibilidade em detectar os anseios da massa. O que é diferente da linha governamental que ele segue. Está rodeado de pessoas impregnadas de preconceito e ideologia. O governo tem várias caras. Ideologicamente, é intolerante, autoritário. Para ser mais preciso, tem anseio totalitário.
FOLHA - O Lula?
SANTA ROSA - O governo. O presidente, não. Não sei se ele é usado ou se ele usa esse grupo para promover seus interesses.
FOLHA - O que caracteriza o autoritarismo do governo?
SANTA ROSA - A intolerância com opiniões contrárias. Quem examinar o Programa Nacional de Direitos Humanos vai interpretar o que digo. Aquilo é um tratado ideológico de extrema intolerância, onde se pretende regular uma sociedade inteira. Adota o tal princípio da transversalidade. Na medida em que se têm intenções que transcendem Legislativo e Judiciário, são pretensões que transcendem até preceitos da Constituição, portanto, totalitárias.
FOLHA - Em que parte o 3º PNDH transcende Legislativo e Judiciário?
SANTA ROSA - Quando propõe a institucionalização de mecanismos ilegais. Ingerir no processo judicial de reintegração de posse transcende a lei e na estimulação da degradação dos costumes à revelia da tradição cristã que temos, ao estimular a homoafetividade.
FOLHA - Totalitarismo não é o contrário, exigir que todos tenham o mesmo comportamento?SANTA ROSA - Querer consertar isso com outra penada mais totalitária é que é o erro. Temos de deixar fluir a natureza, inclusive nas relações sociais.
FOLHA - Os dois planos elaborados no governo FHC já não continham basicamente os mesmos pontos.
SANTA ROSA - O primeiro plano não choca ninguém. Embora tenha bandeiras polêmicas, obedece ao princípio da naturalidade, não faz a sociedade civil engolir pontos que não lhe pertencem, diferentemente do de agora, fabricado de fora.
FOLHA - De fora? De onde?
SANTA ROSA - Se você pesquisar a similitude entre a Constituição venezuelana, e também a equatoriana e a boliviana, que são clones adaptados aos seus países, vai verificar qual é a origem. Isso tudo é uma composição organizada, é uma conspiração internacional.
FOLHA - Durante seus 49 anos no Exército, o sr. conheceu muitos gays nas Forças Armadas? SANTA ROSA - Não, existe uma rejeição inata da estrutura militar contra isso. O problema é que existe uma articulação, no sentido de transformar a sociedade, colocar uma nova cultura goela abaixo na classe média, e isso é apenas uma fase preliminar para depois se implementar o que se quiser.
FOLHA - E o que se quer?
SANTA ROSA - Uma ditadura totalitária.
FOLHA - Comunista?
SANTA ROSA - Exatamente. Primeiro, transformar os costumes da sociedade, para, por último, implementar o sistema totalitário. Falar isso no século 21 é quase uma aberração.
FOLHA - Após 21 anos de ditadura, a democracia não é irreversível?
SANTA ROSA - Não acho. O povo não reage, está numa situação letárgica. Nosso povo não tem opinião, e quem tem se cala. Estamos anestesiados.
FOLHA - No seu e-mail contra o plano não havia nada disso.
SANTA ROSA - O nosso foco era a defesa da instituição militar.
FOLHA - Nosso? De quem?
SANTA ROSA - Meu. O foco militar era porque, se se conseguisse abrir a Comissão da Verdade, o resto seria facilmente alastrado. Houve uma reação institucional à qual até o próprio ministro [Nelson Jobim] aderiu, reconhecendo que iria causar uma desarmonia grande. Então, ele contrapôs aquele protesto que levou o presidente a flexibilizar a redação do plano.
FOLHA - Que nota o sr. dá para o ministro Nelson Jobim?
SANTA ROSA - Para o momento, é o melhor que se tem. É preparado, foi ministro do STF, da Justiça, tem relacionamentos de alto nível e é inteligente. O Ministério da Defesa é uma necessidade, faz parte da modernidade do Estado.
FOLHA - Como o sr. define o regime de 1964?
SANTA ROSA - Um regime emergencial, um mal que livrou o país de um mal maior.
FOLHA - E a tortura?
SANTA ROSA - Nunca foi institucionalizada, é um subproduto do conflito. A tortura começou com os chamados subversivos. Inúmeros foram justiçados e torturados por eles próprios, porque queriam mudar de opinião. A tortura nunca foi oficial.
FOLHA - O sr. critica que o plano está transportando para o país um regime autoritário, mas não foi justamente o de 1964?
SANTA ROSA - Foi autoritário, mas não totalitário.
FOLHA - Qual é a diferença?
SANTA ROSA - A imprensa, por exemplo, foi amplamente livre.
FOLHA - Como?!
SANTA ROSA - Só teve censura no momento de pico, a partir do AI-5 [1968]. Se não houvesse um enrijecimento político naquela oportunidade, poderia se perder o controle. Considero isso tudo um mal, mas um mal menor e necessário.
FOLHA - O sr. aceita um militar torturando uma pessoa indefesa, um jovem, uma mulher, desarmados?
SANTA ROSA - Nenhum militar torturou ninguém. Se houve, foi no Dops [Departamento de Ordem Política e Social, oficialmente vinculado à polícia].
FOLHA - Não é covardia matar pessoas e torturar rapazes e moças, algumas grávidas, depois de presas?
SANTA ROSA - Sinceramente, não sei de nenhum caso. O que existe é produto de imaginação. FOLHA - O sr. tem dúvida? A própria ex-ministra Dilma Rousseff foi presa e torturada.
SANTA ROSA - Ela diz que foi torturada, mas... Só no Brasil, a pessoa que sobrevive, e está com boa saúde, alega a tortura para ganhar os benefícios, sejam políticos ou de pensão.
FOLHA - É mentira que houve tortura?
SANTA ROSA - Com certeza absoluta. Vocês conhecem algum ex-torturado cubano? Ou russo? Ou chinês? Não existe, porque não se deixava sair [da prisão]. Então foi a bondade, entre aspas, dos torturadores que permitiram que saíssem [no Brasil]. Institucionalmente, legalmente, não houve [tortura]. Não posso afirmar que, fora do controle, não tenha havido.
FOLHA - Não é justo, portanto, ter uma Comissão da Verdade para apurar se houve ou não houve?
SANTA ROSA - Seria justo se os dois lados dissessem a verdade. Se você perguntar a Dilma Rousseff quantas pessoas ela assaltou, torturou, matou...
FOLHA - Até onde se sabe, ela não matou ninguém.
SANTA ROSA - É o que ela alega. Sabe-se que tem vítima.
FOLHA - Qual é a sua opinião sobre José Serra? Ele foi presidente da UNE, exilado no Chile... SANTA ROSA - É um administrador competente, um gestor público excelente, tanto que, se voltar para São Paulo, se reelege. Mas eu estou me atendo ao produto do trabalho dele.
FOLHA - E a Marina Silva?
SANTA ROSA - Tem uma visão da Amazônia igual à da Fundação Ford, igual à dos americanos. É uma visão internacionalista.
FOLHA - O sr. vota em quem?
SANTA ROSA - Na Dilma não voto de jeito nenhum, mas não é fácil engolir o Serra.

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.שלום לכולם

Bruno Eschenazi.



5 comentários:

Andressa Buckentin disse...

Não sei nem descrever a sensação que senti ao er essa reportagem. Talvez o meu estômago esteja se revirando, meus olhos não acreditam no que leram e minha expressão facial é a de uma pessoa que fica embabacada, paralisada com a declaração. Inacreditável. O que se passa na cabeça dessas pessoas? É real, é humano? Sinto nojo da Ditadura e de todos que ainda hoje a vangloriam, desejam a sua volta e a perpetuam. Pior ainda, o general em questão ainda ataca o governo Lula e o Programa Nacional de Direitos Humanos, determinando-os como autoritários e intolerantes. É, a tolerância deve vir dos militares mesmo, os quais, como diz o general, não aceitam gays em sua corporação e a intolerância deve ser social, visto que há uma "aceitação" das diferenças. Faz muito sentido. E isso ainda seria pretexto para a implantação de uma ditadura comunista... E na ditadura não teve tortura! Que ser bitolado, desprezível, deve ter Alzheimer mesmo, só posso sentir pena e esperar que os seus seguidores não tenham as mesmas pretensões que ele, que essa ideologia medíocre fique apenas em pensamento.

Bruno Eschenazi disse...

O trecho mais lúcido e, por isto mesmo, digno de mais reflexão é o seguinte:

"FOLHA - Após 21 anos de ditadura, a democracia não é irreversível?
SANTA ROSA - Não acho. O povo não reage, está numa situação letárgica. Nosso povo não tem opinião, e quem tem se cala. Estamos anestesiados."

Isso dá pano pra manga... porque é extremamente REAL! Quando não estamos jogando nossos playstations, estamos na INTERNET (como agora) posando de liberais conservadores, aquaman, super-homem etc, enfim TUDO que este novo meio de comunicação nos permite (parecer) ser.
Entretanto, vc(s) - alô classe média - já compraram o abadá pro ano que vem no Pelô? Ou já terminaram de pagar o deste ano? E o pobre, vc aí, que mora no encantado, Santa Cruz, Guadalupe, Caxias... vai fazer o quê este fim de semana? Baile Funk? Bacana!
Agora: e se, por exemplo, alguém ACABA com um de teus Direitos Trabalhistas, só por exemplo... vc sabe o QUE são os D.T.? E CLT? E aí? Te garanto que se o Brasil não ganhar a Copa, vai a plebe toda pra rua, pedir a cabeça do Dunga e votar no primeiro filo-da-puta que sorrir na TV. A gente aqui não gosta de dar as caras, fica parecendo "mico" pros amiguinhos de escola, de trabalho... mas, paradoxalmente, adora uma macaquice!

(Sugestão musical: Sorriso nos Lábios, de Gonzaguinha)

Rossevelt: obrigado pelo crédito, embora um pouco, exagerado, hein... rsrsrs (Vc sabe q EU é q sou teu fã!)A honra é minha!

Luan Velasco disse...

http://www.ted.com/talks/lang/por_pt/chimamanda_adichie_the_danger_of_a_single_story.html

depois da uma olhada nesse videos
e me diz o que achou, se tiver e-mail me passa também, quero falar com você.
abraços

Bruno Eschenazi disse...

Ao Luan:
Primeiramente, me desculpe esse atraso. Casualmente visito este blog e ainda não tenho o feed dele (vou passar a ter!)
Assisti o vídeo, achei, antes de tudo, a mulher uma barbaridade de linda! Faz meu tipo!
Olha, também não creio em História unilateral, seria um absurdo. Mais absurdo ainda considero esse "relativismo universitário" sem fronteiras a primeira gota de boçalidade, da preguiça de pensar, do medo de errar, da apatia, que alguém pode demonstrar (mas, ainda assim, defendo o direito de alguém ser apático, ok?). Certamente, a História nasce da AÇÃO, não do pensamento. Isso já seria HISTORIOGRAFIA.
Também concordo que, infelizmente, as pessoas de uma maneira geral, tendem a enfatizar o COMO se conta, em detrimento d'O QUE se conta. Eu, pra variar, cago pra isso e continuo dando ouvidos aO QUE se fala, seja lá quem ou como o fale, antes de mais nada.
Aliás, concordo (ma non troppo) com Napoleão quando ele exagera dizendo que a "História é uma porção de mentiras a que se chegou a um consenso". Tem lá sua razão e é isso que enxergo no discurso desta escritora nigeriana. Ela nos narra FATOS, que ELA MESMA viu, viveu. E viver, meu nobre, não depende somente da idade, do tempo, mas da INTENSIDADE, do quanto nos jogamos na vida, em vez de ficarmos "trancafiados" em padrões de pensamentos sejam quais forem.
Considerando a espontaneidade e a autenticidade que ela- a escritora- me inspira, eu emendaria dizendo: Pare de (só) admirar pensadores e passe a PENSAR; Pare de (só) cultuar estórias e passe a CONTAR; Pare de (só) admirar feitos e passe a FAZER; Pare de (só) ouvir e passe a DIZER; e pare de ter medo.

Aliás, PAREMOS, melhor dizendo, né...

Te agradeço a dica de video e meu email é eschenazi@gmail.com, ok.

Felicidades!

Anônimo disse...

Relacionado a postagem dos milicos.

Ver algo relacionado a uma pessoa do exército defendendo a ditadura, acobertando-a, é normal para min.
No exército o soldado(estudante) passa por uma moldagem, como em qualquer escola e sai com a ideologia militar, com regras a cumprir e logo prefere continuar no exército.
Mesmo que muitas pessoas falem sobre torturas, digam muitas coisas sobre ditadura, para ele foi um regime militar, onde alguns acham que o exército se exedeu um pouco e ele não entra no assunto, sendo assim volta ao hoje e esqueça o passado. Essa é a verdade muitos podem não concordar com a ditadura, nem mesmo o exército, mas ele se preserva evitando o assunto ou acobertando-o.

Ass: David Alexander