domingo, 16 de maio de 2010

13 de Maio - Valeu Zumbi!

Zumbi, um negro,
respirando rebeldia,
foge pra mata um dia
à procura do Lugar.

Era um Quilombo,
a terra dos ex-escravos,
todos livres, sem os travos,
sem ter dono pra ferrar.

Vinham mestiços,
índios chegavam do eito,
todos lá tinham direito,
preto, branco, sarará.

Uma nação de iguais sem oprimidos,
de homens livres nascidos,
crescidos sem apanhar.

Chegaram ali
brancos pobres, mamelucos,
com pau, pedra e trabuco
pra liberdade ganhar.

Todos queriam ser mais um quilombola,
não viver pedindo esmola
a que não queria dar.

Uma cruzada
contra os povos livres, bravos,
para mantê-los escravos,
correram então a formar.

E a batalha
derradeira aconteceu,
jamais dela se esqueceu
quem nasceu nesse lugar.

O sol,o sol já vem.
Eu namoro uma morena
e sou moreno também

Vi preto livre
lá na Serra da Barriga
enfrentar bala e urtiga
para não se escravizar.

Como uma praga,
saída dos evangelhos,
vi Domingos Jorge Velho
palmares incendiar.

Eu vi foi tiro,
eu vi corte de peixeira,
pernada de capoeira,
vi corpo no chão rolar.
Eu vi Zumbi
ser preso, ser torturado,
violado e humilhado
por querer se libertar.

Eu vi seu corpo
ser a faca esquartejado,
como um bicho ser sangrado,
também vi seu degolar.
Vi a cabeça
enfiada numa vara,
eu vi toda a sua cara
no sol quente descarnar.


Antonio Nóbrega, em “O Marco do Meio-Dia”, espetáculo em homenagem aos 500 anos do Brasil.

O compositor pernambucano Antonio Nóbrega, levanta na história esquecida do Brasil uma das passagens mais dramáticas e ao mesmo tempo mais esperançosas: a luta do povo pobre, mestiço e negro pela liberdade. Foi Zumbi e sua trincheira chamada Palmares, que plantou a “semente” que mais tarde culminará na “liberação” dos escravos. Porém, a libertação, ainda não ocorreu, mesmo com tanta luta, e com tanto sangue derramado, seja pelos famosos ou pelos anônimos guerreiros da igualdade.

2 comentários:

Anônimo disse...

13 de Maio
Caetano Veloso

Dia 13 de maio em Santo Amaro
Na Praça do Mercado
Os pretos celebravam
(Talvez hoje inda o façam)
O fim da escravidão
Da escravidão
O fim da escravidão

Tanta pindoba!
Lembro do aluá
Lembro da maniçoba
Foguetes no ar

Pra saudar Isabel
Ô Isabé
Pra saudar Isabé

ASS: Antivírus

Bruno Eschenazi disse...

Grande Antonio Nóbrega. Já o conhecia, mas passei a prestar mais atenção ao seu valoroso trabalho cultural através dos Irmãos Lima (Roosevelt e Romney). Vale sempre à pena citá-lo (se é que isto seja uma "pena")!