domingo, 16 de maio de 2010

TAXA CAMARAE - Parte 3

Continuação ...

A Taxa Camarae é um tarifário promulgado, em 1517, pelo papa Leão X (1513-1521) destinado a vender indulgências, ou seja, o perdão dos pecados, a todos quantos pudessem pagar umas boas libras ao pontífice. Como veremos na transcrição que se segue, não havia delito, por mais horrível que fosse, que não pudesse ser perdoado a troco de dinheiro. Leão X declarou aberto o céu para todos aqueles, fossem clérigos ou leigos, que tivessem violado crianças e adultos, assassinado uma ou várias pessoas, abortado… desde que se manifestassem generosos com os cofres papais.

Vejamos o seus trinta e cinco artigos:



8. A absolvição e a certeza de não serem perseguidos por crimes de rapina, roubo ou incêndio, custará aos culpados 131 libras e 7 soldos.

9. A absolvição de um simples assassínio cometido na pessoa de um leigo é fixada em 15 libras, 4 soldos e 3 dinheiros.

10. Se o assassino tiver morto a dois ou mais homens no mesmo dia, pagará como se tivesse apenas assassinado um.

11. O marido que tiver dado maus tratos à sua mulher, pagará aos cofres da chancelaria 3 libras e 4 soldos; se a tiver morto, pagará 17 libras, 15 soldos; se o tiver feito com a intenção de casar com outra, pagará um suplemento de 32 libras e 9 soldos. Se o marido tiver tido ajuda para cometer o crime, cada um dos seus ajudantes será absolvido mediante o pagamento de 2 libras.

12. Quem afogar o seu próprio filho pagará 17 libras e 15 soldos [ou seja, mais duas libras do que por matar um desconhecido (observação do autor do livro)]; caso matem o próprio filho, por mútuo consentimento, o pai e a mãe pagarão 27 libras e 1 soldo pela absolvição.

13. A mulher que destruir o filho que traz nas entranhas, assim como o pai que tiver contribuído para a perpetração do crime, pagarão cada um 17 libras e 15 soldos. Quem facilitar o aborto de uma criatura que não seja seu filho pagará menos 1 libra.

14. Pelo assassinato de um irmão, de uma irmã, de uma mãe ou de um pai, pagar-se-á 17 libras e 5 soldos.

15. Quem matar um bispo ou um prelado de hierarquia superior terá de pagar 131 libras, 14 soldos e 6 dinheiros.

16. O assassino que tiver morto mais de um sacerdote, sem ser de uma só vez, pagará 137 libras e 6 soldos pelo primeiro, e metade pelos restantes.



(Fonte: Rodríguez, Pepe (1997). Mentiras fundamentais da Igreja católica.Terramar – Editores, Distribuidores e Livreiros -(1.ª edição portuguesa, Terramar, Outubro de 2001 – Anexo, pp. 345-348)

2 comentários:

Andressa Buckentin disse...

A Taxa Camarae continua hoje, porém, não mais cobrada só pela Igreja e sim pelos policiais, entidades públicas ou não e nos mais variados serviços cotidianos. No Brasil, essa "taxa" é sinônimo de malandragem, visto que as pessoas cometem erros, infringem leis e não querem arcar com as consequências. Logo, não há mais problema se vc é parado na blitz e sua carteira está vencida, por exemplo, basta que vc libere uma verdinha para os policias e está tudo certo, nada aconteceu. Ou quando o seu filho tem que passar de ano na escola, mas foi reprovado e vc faz com que ele passe através de um dinheiro a mais para a instituição. Ou então qdo precisa fazer uma instalação de gás para aquecer o chuveiro, mas o seu banheiro não tem ventilação, então vc suborna o técnico que foi fazer tal verificação em sua casa e pronto, vc pode ter a instalação que queria facilmente. Essas situações acontecem toda hora e nós estamos tão acostumados a agir do jeitinho brasileiro, que mtas vezes não percebemos como somos corruptos e o quanto isso é refletido no nosso país. Reclamamos dos nossos políticos, mas somos os primeiros a contribuir para a corrupção. Será que alguém consegue ver isso?

Vozes da América disse...

Andressa, os "pequenos" crimes ou as corrupções individuais, não são vistas pela população como tão daninhas como as "grandes" corrupções que a sociedade condena. Você tem razão. De que adianta apontar o dedo na cara de Brasília, se nosso dedo está sujo de sangue?