sábado, 25 de fevereiro de 2012

A ditadura do mercado X a liberdade de criação


O mercado é um ente invisível, quase espiritual, ligado as falanges maléficas, que me perdoe Nietzsche por outrora ter me ensinado superar a dicotomia do bem Vs. o mal e eu não ter conseguido ainda. Não sou o "além do homem", mas prometo filósofo, tentar de novo.
O mercado é aquilo que tira a criatividade de milhões de pessoas que direcionam suas vidas para algum tipo de utilidade puramente lucrativa. O mercado é o responsável por açoitar os jovens na hora de decidir suas profissões. O mercado é aquele que retirou a beleza do carnaval, o samba no pé, os enredos enraizados em nossa cultura, o valor da bateria e as letras com densidade, e colocou no lugar o espetáculo para gringos, o Paulo Barros, o Joãozinho Trinta e a transmissão com comentaristas que entendem tanto de samba quanto eu de química orgânica. O mercado é aquele que expulsou a arte do futebol e impôs uma competitividade que tem mais a ver com preparo físico e retrancas, apesar da rebeldia de Maradona, Neymar, Messi... O mercado é a crueldade que nos diz que ballet não dá futuro. O mercado matou de solidão Van Gogh. O mercado é  o imperativo que ordena que música é coisa de vagabundo e que teatro é coisa de viado. O mercado é cruel, mas tem humor: "a bolsa de valores de Nova iorque amanhaceu bem humorada pois ontem fechou em alta" diz um idiota analista econômico da Globo News ou de qualquer um desses presídios intelectuais que o monopólio das comunicações nos impõem.
Se nossas vidas continuarem a se basear por este ente maligno, não teremos mais filhos e sim "investimentos", que necessariamente terão que nos trazer retorno. Não teremos vida, teremos linha de produção, pois não poderemos deixar sua linearidade sob pena de deixar de lucrar. Não teremos arte, pelo seu caráter inútil. Não teremos cinema, mas sim Holywood. Não teremos teatro, mas teremos "besteirol", Miguel Falabela, Zorra Total... Não teremos Filosofia, pois afinal, para que serve o pensamento em tempos de ditadura do mercado? Não teremos Sociologia, pois qualquer análise mais complexa sobre o mundo pode fazer o castelo de cartas do mercado desabar. Não teremos mais poesia, uma vez que não serve a nenhum senhor ou corporação.

Chico Baeta

4 comentários:

Anônimo disse...

E assim como dito acima, nos tornamos mercadoria. Nos tornamos apenas mais um produto na longa pratileira do mercado, esperando ser vendido ou comprado. Esperando a bolsa esta em alta, esperando a liquidação. Perdemos toda a habilidade de sermos belos e inúteis, de sermos ÚNICOS. Na sociedade de producao em massa em que vivemos hoje em dia, somos gerados para a futura obtenção de lucro. Se perdemos essa função, se nos tornamos financeiramente "inúteis", somos jogados fora, somos classificados como "quebrados", e somos excluídos do sistema. Afinal, quem quer um brinquedo quebrado?

Anônimo disse...

É exatamente essa massificação, típica das ditaduras comunistas, que impedem as pessoas de desenvolverem suas verdadeiras potencialidades. Tudo em prol da massificação.

Vozes da América disse...

Ao primeiro anônimo:
De fato nos tornamos obsoletos com o passar do tempo, menos por nossa incapacidade e mais por nossa capacidade de adaptação ao mundo sem criatividade e utilistarista. Mas lembre-se que vários fizeram diferente e fazem diferente quando insistem em serem felizes sem abrir mão da genialidade nossa de cada dia.

Vozes da América disse...

Ao segundo anônimo:
Cara, não estava me referindo a um certo domínio sistêmico. Claro que este modelo utilitarista emburrecedor cabe em qualquer sistema político e econômico. A crítica aqui é nesse sentido. Mas ainda que sua discussão seja no âmbito do anticomunismo, lhe faltam algumas considerações: A primeira é não confundir comunismo com stalinismo, até porque comunismo nunca existiu. A segunda é que mesmo em países stalinistas houve um grande incentivo a cultura no seu sentido mais amplo, basta ver os nomes destes países no campo da literatura, poesia, cinema, arte, música... A terceira é que não devias confundir massificação com políticas para as massas. A quarta é que talvez seu próprio comentário já seja um belo exemplo de massificação, pois você repete aquilo que todos "devem" pensar.
Bem, de qualquer forma sua contribuição gerou reflexão e só isto já bastaria para fazermos diferente. Continue, sempre.
Abraços.