domingo, 18 de abril de 2010

E QUEM PROTEGE A ROCINHA DA BARRA DA TIJUCA?

Por Laerte Braga*



Douglas Dique Carnicelli Júnior, filho de um empresário da Barra da Tijuca, 28 anos de idade, nunca trabalhou a bem dizer. Vive de viagens ao exterior, mora num condomínio fechado. Em tese é importador de peças de automóveis importados.

Na realidade é traficante e abastece a favela da Rocinha no Rio de Janeiro. Foi preso sexta-feira pelo delegado Fábio Pacífico da Delegacia de Repressão a Crimes contra a Saúde Pública quando ia encontrar-se com o traficante Antônio Francisco Bonfim Lopes, o “NEM”.

Estava com três mil pontos de LSD em seu carro e em seu apartamento de alto luxo num condomínio na avenida Flamboyant, na Barra, a Polícia apreendeu um quilo e meio de cocaína.

O delegado Fábio Pacífico disse a jornalistas que Douglas “é o atacadista que fornece a droga para as vendas no varejo.”

Há anos atrás o ex-jogador Zico e um grupo de moradores da Barra da Tijuca conseguiram um referendo para tentar dividir a cidade do Rio de Janeiro em vários municípios. A idéia foi rejeitada nas urnas, mas Zico falava muito do comportamento das pessoas e da segurança pública, afirmando que a Barra sem estar dentro do município do Rio de Janeiro, teria condições de livrar-se da violência.

Não está livre nem da violência e nem de Zico.

Está recheada de Douglas.

Há pouco mais de um ano jovens moradores de outro condomínio saiam às ruas para “exemplar” mulheres de conduta duvidosa (a juízo deles). Quando as encontravam, em nome da sociedade cristã e democrática, aplicavam-lhe uma surra, tomavam os seus pertences e com o produto do trabalho dessas mulheres compravam a droga de cada dia.

Presos, o pai de um deles alegou que seu filho não poderia ficar na mesma cela que criminosos comuns, pois além de estudante de direito “foi criado num ambiente familiar saudável, num condomínio onde tinha tudo o que precisava”.

A moça em questão, a tal de “conduta duvidosa” era uma faxineira. Limpava as casas e apartamentos dos condomínios.

O diretor do programa BBB, exemplo de uso da televisão para fins educativos, formação de caráter, etc, o tal Boninho, juntava-se a amigos no apartamento da freira Narcisa Tamborindeguy, para da janela jogar água suja em mulheres que ao talante deles tinham “conduta duvidosa”. Narcisa ia mais além, em quem ela julgava feio.

E agora? Quem vai proteger a Rocinha da Barra da Tijuca?

Construir muros para evitar que os criminosos dos condomínios tenham rotas de fuga?

A propósito, o que seria “conduta duvidosa”? Não assistir igual a pateta a GLOBO o dia inteiro? Não ficar de joelhos à hora do JORNAL NACIONAL e agradecer as revelações do enviado divino William Boneer? Sair de casa gritando que “Bonner é o nosso Deus e Arruda/Serra nosso profeta?

Adorar durante uma hora por dia Miriam Leitão, Alexandre Garcia, Pedro Bial, Lúcia Hipólito, seria esse um procedimento de penitência para purgar pecados e condutas duvidosas?

Ler VEJA todas as semanas em posição de oração, a FOLHA DE SÃO PAULO todos os dias e uma vez por semana tomar a bênção de D. Pedro no ESTADO DE SÃO PAULO?

O governador Sérgio Cabral, para ser justo, precisa criar uma comissão que estude providências imediatas para isolar os condomínios de Barra e proteger a Rocinha, antes que a população fique em pânico com a violência salvadora desse bando de sacerdotes que leva a cachorrinha ao cabeleireiro de helicóptero, que joga água suja em quem tem “conduta duvidosa”, ou em quem é feio a critério da sóror Narcisa Tamborindeguy.

Muro é a solução que normalmente adotam. Aqui, na Palestina, na fronteira do México com os EUA para evitar que mexicanos entrem no império e contaminem os atiradores de elites que matam pelo menos uma vez por semana num rito da libertação e purificação

Ou quem sabe pedir ao “Congresso” de Miami, sede do governo da Barra da Tijuca, que decrete a intervenção e garanta a atitude com mariners?

Bases militares nos estacionamentos de shoppings para ajudar no combate às drogas?

É possível que alguma usina nuclear do Irã esteja escondida num desses condomínios e agentes do demônio iraniano possam estar construindo uma bomba destruidora de efeito mundial. Ou camponeses do MST em apartamentos grilados pela CUTRALE. Ou palestinos esperando a chegada de Osama bin Laden para planejar um novo ato de “terrrorismo”.

Aposto que se o delegado Pacífico for longe na história vai terminar no prédio sede dessas máfias todas, em São Paulo, o esquema FIESP/DASLU. É onde ocorre aquele negócio clássico do se gritar “pega ladrão” sai todo mundo correndo.

Só não pode abrir a porta dos fundos do gabinete de Gilmar Mendes. Vai morrer com a avalancha de habeas corpus a banqueiros, empresários e latifundiários e verbas que chegam por baixo dos panos naquela de fundar um instituto de direito. Eraldo Pereira o jornalista da GLOBO que Gilmar contratou deve ser o “contador.”

Mas e a Rocinha, como é que fica? Indefesa diante da Barra da Tijuca?

*Laerte Braga é jornalista. Nascido em Juiz de Fora, onde mora até hoje, trabalhou no “Estado de Minas” e no “Diário Mercantil”.

6 comentários:

Karine disse...

E quem protegerá a Rocinha, não é? Engraçado que ninguém pense nisso, mas , calma ai, ninguém? Acho que esse ninguém significa a elite. A elite nunca vai pensar nisso, óbvio, isso não os incomoda e é compreensível, claro, se auto-segregar os faz ver o mundo muito limitado, muito pequeno.
Mas vamos a luta, afinal, não temos nada a perder, ou temos? Por acaso temos educação de qualidade? Saúde? Bom, o máximo que podem fazer é nos jogar no lixo, literalmente,no entanto não temo,porque sozinha posso ser fraca,mas lutando com aqueles que querem mudar, somos fortes e capazes.

Hassan ou Rahhal disse...

Ainda não consigo entender como se convence alguém a colocar o "muro" da Linha Vermelha sem se dizer a verdade. Ainda não me foi apresentado nenhum argumento (desses que podem se escrever em jornais como O Globo) que justifique de forma minimamente razoável a funcionalidade daquelas plaquinhas de alumínio.
Estamos numa situação em que qualquer coisa está sendo aceita, não é preciso mais explicar muita coisa para o olhar público - esse que cria belas fotografias para as paredes das famílias católicas.
(comentário baseado nos últimos textos publicados)
Abraços.

Bruno disse...

Interessante esse post.
O mais interessante, é tentar convencer que erguer um muro separando a Rocinha da Barra da Tijuca.
Será, que a elite(alguns, não todos) perderam o respeito pelos outros?
Em minha opinião, os "verdadeiros criminosos", não podem só se encontrar nas comunidades, mas sim também, em apartamentos luxuosos.
São aqueles que desrespeitam os direitos humanos, de forma em que batem numa empregada doméstica e depois dizem: "Nós achavamos que ela era apenas uma prostituta."
Eu me pergunto, só porque ela era "uma prostituta" (no pensamento deles), isso seria justificativa para "mete-la a porrada"?
Simplismente, isto me provoca um sentimento de revolta, não me impedindo de dizer, que estes sujeitos, não uns "filhas da puta".
Justiça por favor.

Anônimo disse...

Uma pequena confusao e reproducao que muitos fazem eh dizer que descaso vem somente da elite. Afinal, definir essa elite eh algo complicado. Seja la qual for a definicao, nao faco parte de nenhuma, talvez. E digo do que tenho vivido. O descaso nao eh monopolio da elite.

Encontramos diversas pessoas, que fazem parte ou nao dessa elite, que nao se importam nem um pouco com o que ocorre longe de seus limites.

Nao precisa ser parte da elite pra ser excludente, basta sentir-se superior e considerar que todo o esforco da sua vida somente vale a pena se for em beneficio proprio ou para um grupo seleto. Para pensar assim nao precisa ser da elite.

E tambem, porque apontar os outros, o descaso alheio quando nem sequer nos criticamos a nos mesmos. Fazemos algo? Basta que isso faca parte domente dos nossos pensamentos e nunca exteorizemos isso?

Vamos a luta! Cade ela?

O descaso nao eh monopolio da elite!

Unknown disse...

Quantos perderam suas vidas por causa do "play boy" que está contribuindo com o tráfico ? ...
Não ... isso ele não vê do seu apartamento de luxo.
Pra ele, o que importa é ter mais dinheiro, é a ganância. Cada vez mais e mais e mais, porque o que ele já tem nao é suficiente...
Na favela é mais uma criança, mais um adolescente, que vão seguir o caminho do crime.
Afinal, quem protegerá a Rocinha ?

Bruno disse...

Não sei dizer quem protegerá a Rocinha.

Só espero que não seja a demagogia midiática e política ,nem o discurso vitimizante sobre a pobreza, muito convincente em bancos de escola, mas ainda perdido no pragmatismo da realidade.

Eu só quero (enquanto membro da sociedade) é ser protegido de um bando de estudantes que nunca arrumaram o próprio guarda-roupas, nem sabem o que é a "batida" da vida (ainda), e seus discursos pseudo-intelectuais acerca de coisas que só sabem pelas letras, jamais sentiram na pele.

São estes que, amanhã, darão continuidade a esta grande Sucupira que aí está posta.