segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Algumas considerações acerca do resultado do ENEM 2010.

O nível geral da educação está muito baixa. Mais da metade das escolas foi “reprovada” no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) 2010: exatas 63,64% de todas as que tiveram a nota das provas objetivas divulgadas não conseguiram atingir a nota média de 511,21. Ou seja: se o que estivesse em jogo fosse a aprovação ou a reprovação, elas não “passariam de ano”.
A situação pode ser ainda pior, já que em 9.176 dessas escolas abaixo da média (mais de 70% delas) a participação dos alunos não chegou à metade do total de matriculados. Ou seja: sendo o Enem voluntário, a tendência é que estudantes em tese mais “preparados” façam a prova, mesmo que, como mostra o resultado, não estejam exatamente bem qualificados. Além disso, há escolas que colocam somente seus melhores alunos para prestar o exame.
O Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) foi criado para avaliar a qualidade do ensino médio. Desde 2006, o MEC (Ministério da Educação) tem divulgado a nota do Enem por escola, com dados da prova do ano anterior. E esse indicador tem sido bastante utilizado como critério de escolha da escola principalmente entre as particulares.
A recomendação é que os pais prestem atenção nos seguintes quesitos: taxa de participação, fazer a comparação entre escolas semelhantes e considerar outros fatores, além da nota do Enem. Aqui, neste último alerta, entra uma questão fundamental: Uma análise bem fundamentada sobre um aluno ou uma escola não pode passar pela nota fim, ou seja, uma única avaliação quantitativa. Há de se levar em conta todo o processo deste aluno ou desta escola, e assim, uma infinidade de avaliações subjetivas, qualitativas, são feitas e que levam a outros critérios e olhares que seguramente, não saem no resultado final do Enem.
Outro erro que se incorre com freqüência é a comparação direta entre as escolas privadas e públicas. É fato que vivemos tempos muito gris sobre a educação. É certo que há muito, ou desde sempre, a educação pública sofre o sucateamento imposto por governantes elitistas e compromissados com seus pares, gerindo a coisa pública sobre a ótica e o benefício da privada. É fato que o governo Sérgio Cabral vem se desenhando como uma das piores gestões educacionais da vida do nosso estado, tendo a ousadia de criminalizar professores por reivindicarem o óbvio e ter a pachorra de pagar aviltantes R$ 845,00 de salário. Mas...
O professor Ocimar Munhoz Alavarse, da Faculdade de Educação da USP, alerta para o risco da comparação: “Você pode avaliar alunos, mas não pode comparar as escolas porque é uma injustiça com as públicas. Elas não estão preparadas para que seus alunos façam o Enem, enquanto as privadas escolhem os melhores alunos ( ou unidades) para fazerem as provas”.
As escolas particulares perceberam que o ranking do Enem é uma propaganda forte. As melhores escolas, não raro, fazem um processo seletivo entre os alunos, enquanto a escola pública regular trabalha com todo o público, sem distinções.
Uma outra observação entre as escolas melhores e piores ranquiadas, reside na epistemologia da educação: O binômio professor e instituição também merecem profundas análises.
A primeira requer atenção a formação deste professor, que não pode (ou não deve) funcionar apenas pelo fator financeiro. Pois isto leva a uma lógica fascista na educação que comumente vê o mesmo profissional dando sangue onde é bem pago e fazendo “corpo mole” na escola pública. E o pior é que o argumento deste fascismo educacional reforça a falta de oportunidade futura desta criança ou adolescente: “Para quê que eu vou cobrar deste aluno algo tão específico se ele não é capaz de fazer?”. Quando isto é feito, reproduzimos o elitismo educacional que só se aprofunda para os filhos das elites e colocamos mais uma pá de cal no futuro despreparado dos filhos dos pobres. Ora nossa função primordial é ensinar, se “este aluno não é capaz”, quem seria incapaz, ele de aprender ou eu de ensinar?
A última análise é institucional. Se analisarmos os traços que existem em comum nas escolas (a que me refiro as escolas de verdade, aquelas que se preocupam também com seus projetos políticos pedagógicos) veremos a grande preocupação com disciplinas cuja função é fazer o alunado abrir seus conectivos para o conhecimento, desenvolvendo o prazer pelo pensamento, pelo esforço intelectual: Filosofia, Sociologia, Música, Teatro, Cinema...

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