segunda-feira, 23 de abril de 2012

A YPF é do povo argentino.


 A presidenta Cristina Fernández assinou nesta semana um Decreto de Necessidade e Urgência decretando a intervenção do Estado na empresa petroleira YPF Sociedade Anônima. Pelo decreto, 51% das ações da empresa passam para as mãos do Estado argentino. No mesmo decreto, são empossados como interventores na YPF o ministro do Planejamento Federal, Julio de Vido, e o secretário de Política Econômica, Axel Kicilov.
Mas é importante que tenhamos conhecimento de alguns fatos do que está acontecendo na Argentina e que estão sendo escondidos pelos nossos jornais. Afinal, o que levou a presidenta Cristina Fernández de Kirchner a tomar tal posição?
Em primeiro lugar, da maneira que nossos jornais estão tratando do tema ficamos com a impressão de que foi uma atitude intempestiva. Mas esta é uma visão totalmente errada, pois o governo argentino já vinha, nos últimos anos, denunciando que a empresa Repsol não estava cumprindo com o estipulado no acordo de privatização.
Para se ter uma idéia do que acontecia, basta dizer que entre 1998 e 2011 houve uma redução na produção de petróleo do país na ordem de 54% e a produção de gás caiu 97%. E estes resultados são fruto da política usada pela Repsol que priorizava a máxima exploração dos poços e jazidas já existentes, levando ao quase esgotamento, e deixava de investir em novas áreas de exploração.
Enquanto empresa estatal, a YPF tinha mais de 55 mil trabalhadores em seus quadros. Depois de privatizada reduziu este número para 6 mil empregados e levou algumas cidades argentinas (General Mosconi, Tartagal, Luján de Cuyo, Berisso, Ensenada, Cutral Có, Plaza Huincul e outras) a uma terrível situação social de desemprego e desesperança.
Até 1999, data da privatização, a YPF engarrafava e vendia o GLP (gás liquefeito de petróleo). Além da tarifa social (mais baixa em determinadas regiões), a garrafa de 10 quilos custava 7 pesos. Passando para a exploração da Repsol, a garrafa de 10 quilos chegou a custar 30 pesos e desapareceu a tarifa social para populações de baixa renda.
E, é bom que se diga, o governo argentino não está reestatizando a empresa. O governo tomou de volta 51% das ações (classe D) que pertenciam à Repsol. Deste total, o Estado ficará com a maior parte (51%) e passará 49% para as províncias petroleiras do país. Isto permitirá a criação de um Conselho Federal de Hidrocarbonetos que passará a ser o centro da política para o setor. A família Eskenazi continua de posse de 25% das ações da YPF e a Repsol ainda terá 7% das ações, enquanto os 17% restantes permanecem nas mãos dos investidores que compraram na Bolsa de Valores.

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