Cláudio Guerra é um ex-delegado da Polícia Civil de
São Paulo e, há pouco tempo, concedeu uma entrevista aos jornalistas Marcelo
Netto e Rogério Medeiros contando como funcionava o sistema de repressão e como
eram realizadas as execuções sumárias de opositores do regime militar. O
depoimento de Guerra virou um livro – “Memórias de uma guerra suja” – muito
interessante e cheio de importantes detalhes sobre o funcionamento da “máquina
repressiva”
Na terça-feira (23) ele compareceu à Comissão Municipal
da Verdade de São Paulo para um novo depoimento e fez uma série de revelações
importantes sobre episódios da ditadura militar. Detalhou o caso conhecido como
“chacina da Lapa” e confirmou o que todos já sabiam: a participação do dono da
Folha de S. Paulo e de outros empresários no apoio financeiro à repressão.
Ele confirmou ter sido o autor da explosão de uma bomba
no jornal O Estado de S. Paulo, na década de 1980, e afirmou que os militares
decidiram, a partir de 1980, desencadear em todo o Brasil atentados com o
objetivo de desmoralizar a esquerda. “Depois de 1980 ficou decidido que seria
desencadeada em todo o País uma série de atentados para jogar a culpa na
esquerda e não permitir a abertura política”, disse ele.
Guerra também citou o Coronel Brilhante Ustra e o
delegado Sérgio Paranhos Fleury. Este último, segundo Guerra, era o principal
torturador e assassino. Segundo ele, Fleury “cresceu e não obedecia mais
ninguém”. “Fleury pegava dinheiro que era para a irmandade (grupo de apoiadores
da ditadura, segundo ele)”, acusou. E disse ainda que Fleury torturava
pessoalmente os presos políticos e metralhou os líderes comunistas no episódio
que ficou conhecido como Chacina da Lapa, em 1976.
Guerra disse que recebia da irmandade “por determinadas
operações bônus em dinheiro”. O ex-delegado afirmou que os recursos vinham de
bancos, como o Banco Mercantil do Estado de São Paulo, e empresas, como a
Ultragas e o jornal Folha de S. Paulo. “Frias (Otávio, então dono do jornal)
visitava o DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), era amigo pessoal de
Fleury”, afirmou.
Segundo Guerra, os mortos pelo regime passaram a ser
cremados, e não mais enterrados, a partir de 1973, para evitar “problemas”.
“Enterrar estava dando problema e a partir de 1973 ou 1974 começaram a cremar.
Buscava os corpos da Casa de Morte, em Petrópolis, e levava para a Usina de
Campos”, relatou.
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