sábado, 20 de março de 2010

Greve de Professores em São Paulo

Este blog, humildemente pois sabe de sua força e abrangência, apóia os bravos professores paulistas que estão em greve há 12 dias. As reivindicações são tão velhas quanto o descaso do poder público paulista com a educação: salário, condições de trabalho, jornada de trabalho, aprovação automática para fazer crescer os números do Estado a maquiar que as coisas vão bem... A novidade, e infelizmente em nosso tempo isto é raro, é que as ruas voltaram a ser palco de grandes manifestações contra o Governador José Serra, isto mesmo, aquele que pretende ser Presidente da República a partir de 2011. As imagens dos grevistas nas ruas me tomaram e, agoram, me ajudam a teclar estas linha em total solidariedade a greve dos professores. Abaixo reproduzo uma carta retirada do sítio do sindicato dos professores de São Paulo sobre a greve, http://apeoespsub.org.br/, boa leitura.


CARTA ABERTA AO SR. GOVERNADOR JOSÉ SERRA,
PREZADO SR.,
Começo a me questionar, enquanto Educadora da Rede Pública do Estado de São Paulo, há dezessete anos, como conseguimos chegar a tamanho descaso e desconsideração com a Educação num momento tão decisivo para a história do país de crescimento acelerado quer econômica ou culturalmente falando.
Não consigo entender tamanha raiva e falta de diálogo que caracterizam o governo do Estado de São Paulo quanto à figura do professor.
Sinto um enorme pesar no tratamento a nós dispensado e não vejo motivo para tal.
Pergunto-me constantemente o que teria acontecido ao nosso governador atual, para deter sentimentos tão mesquinhos para com a nossa categoria.
Qual não foi meu espanto ao ser informada de que a mãe de nosso governador também exercera a nossa profissão, mas acredito que em momentos melhores do que estes por nós vivenciados.
Será que terá sido o fato de a mãe do candidato ter sido professora e seu tratamento com o filho ter sido tão traumático assim, a ponto desse trauma ser transferido a categoria inteira? Mesmo que fosse verdade, não haveria justificativa para generalizar toda uma categoria, na pior das hipóteses. Terá sido uma professora tradicional e autoritária do tipo “era da palmatória”?
Não sei o que causa tanto rancor para conosco, poderíamos justificar esse desdém psicologicamente falando como traumas da infância ou adolescência, ou ainda, o que seria mais verossímil, uma simples apatia ao grupo de servidores públicos em geral.
Por favor, entenda como um desabafo de alguém que não só fala em nome da categoria, mas que pretende que estas mal traçadas linhas possam levar à reflexão do nosso lado, dos conflitos que afligem a categoria e dos esforços que fazemos para superá-los, a fim de cumprir nossa missão.
Ao governador quero reiterar que os tempos passaram. Nós, da Educação acompanhamos essa mudança, nos atualizamos, já não há mais “palmatória”, hoje o cerne de nossa profissão está centrado no aluno e na qualidade de sua aprendizagem. A formação plena do educando enquanto cidadão consciente e participativo na sociedade a qual pertence.
Pode parecer que não, mas a nossa categoria entendeu a mudança e não se negou a aceitá-la, inclusive as Propostas Curriculares implantadas pelo governo, apesar de o Currículo Unificado ser tão criticado por parte dos grandes estudiosos educacionais da atualidade.
Contudo, não resistimos à mudança, oferecemos sim uma oportunidade a ela de melhoria à Educação, conforme preza toda a nova proposta curricular, mesmo que a mesma não seja tão boa quanto pretende-se que seja.Não teríamos direito à consideração e valorização como um todo?
Por que, para tal, precisamos fazer uma “provinha” para ter direito a algo que já é nosso por direito, pois todas as categorias têm direito aos reajustes de perdas salariais. Não é uma recusa nossa o fazer a prova, mas sim a maneira como essa prova é imposta a nós como recompensa pelo que já é nosso.
Em que momento nossos governantes são avaliados para confirmar sua competência em nos liderar?Vivemos períodos incertos, inseguros e de constante mudança, mas, com certeza, governador, seu grande inimigo não é o professor, assim como também não somos seus grandes fãs, pois precisamos de governantes abertos, flexíveis e que saibam ouvir a população e dialogar com ela, não um candidato tão fechado, sem diálogo algum e sem respeito ao funcionalismo público.
Reforço aqui que a grande diferença entre o reino animal racional e o irracional é justamente a habilidade de dialogar. Assim sendo, deixo aqui meu apelo ao governador que tente dialogar com a massa, conversar conosco, apresentar-se a nós, pois somos parte da população que, com certeza está avaliando o governo para além das “grandiosas obras públicas” que marcam seu mandato e são veemente veiculadas na mídia para sensibilização do povo.
Não se esqueça, no entanto, que somos seres humanos complexos em nossa formação pessoal, cultural e profissional e não serão “obras arquitetônicas” que garantirão novas eleições, pelo contrário, não se esqueça o lado humano, o afetivo e o respeito ao próximo. Não gostamos de ser humilhados e distanciados de nossa participação ativa na sociedade.
Lembre-se de que a consciência política da população aumentou consideravelmente a ponto de já ser possível diferenciar campanha política de realidade social.
Aliás, não é pela força, mas pelo diálogo, pelas constantes negociações e a escuta do outro que nos leva a compreender os problemas sociais e buscar respostas a eles.
Isso sim, pode levar a mudanças profundas e efetivas, capazes de transcender as portas das escolas e garantir a formação integral do Educando.
Educando responsável pelo futuro do estado e da nação.
Educandos a nós, professores, confiados pela sociedade.
Só queremos a preservação de nossos direitos, enquanto categoria, de exercer plenamente nossa função, no direcionamento desses pequenos aprendizes para o enfrentamento da vida e vida com qualidade.
Sr. Governador, não nos impeça de cumprir nossa missão. Se possível ajudar, ajude-nos, mas não nos “sucateie” com tantos massacres e descasos.
Não merecemos isso. Já sofremos o bastante e vivemos quase à margem de uma sociedade do consumo, pois nossos salários não são suficientes para usufruirmos dos bens que estão tão em voga.
Quando pedimos reajuste salarial o fazemos porque realmente estamos com salários defasados.
Por favor, reconsidere, reavalie nossos salários e veja, no fundo de sua alma, se você conseguiria sobreviver com apenas R$ 1.400,00 por mês.
Essa é a média dos salários pagos ao professor hoje por uma média de 40 h/a.
Não estou encontrando culpados, mas apenas tentando compreender o que tem acontecido conosco e como nos deixamos afundar tanto.
Por favor, reconsidere nosso caso, reveja com carinho, pois acredito que em meio a esse coração de pedra, deva haver, um último resquício de sangue humano, correndo nas veias e capaz de compreender as dificuldades pelas quais passam seus semelhantes.
É tudo o que peço. O governo tem como ajudar sim. A Prefeitura de São Paulo, uma máquina infinitamente menor do que a estadual, tem condições de oferecer aos seus professores condições melhores, por que então, apenas o Estado não conseguiria?
Pense nisso,
A categoria agradece...Os pais agradecem...E os alunos, ainda mais....
Elisama
subsede Osasco

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