segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Cinismo genocida - (Segunda e última parte)

Para termos uma ideia do potencial da URSS em seus esforços para manter a paridade com os Estados Unidos nesta esfera, basta assinalar que quando se produziu sua desintegração, em 1991, na Bielorrúsia havia 81 ogivas nucleares, no Cazaquistão 1.400 e na Ucrânia aproximadamente 5 mil, as quais passaram à Federação Russa, único Estado capaz de sustentar seu imenso custo, para manter a independência.

Em virtude dos tratados START e SORT sobre a redução de armas ofensivas, assinados entre as duas grandes potências nucleares, o número destas se reduziu para vários milhares.

Em 2010, foi assinado um novo Tratado deste tipo entre ambas as potências.

Desde então, os maiores esforços foram consagrados ao aperfeiçoamento dos meios de direção, alcance, precisão e engano da defesa adversária. Imensas quantias são investidas na esfera militar.

Muito poucos no mundo, salvo raros pensadores e cientistas, se dão conta e advertem de que bastaria a explosão de 100 armas nucleares estratégicas para pôr fim à existência humana no planeta. A imensa maioria teria um fim tão inexorável como horrível, em consequência do inverno nuclear que seria gerado.

O número de países que possuem armas nucleares, neste momento se eleva a oito, cinco deles são membros do Conselho de Segurança: Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França, e China. Índia e Paquistão adquiriram o caráter de países possuidores de armas nucleares, em 1974 e 1998, respectivamente. Os sete mencionados reconhecem esse caráter.

Israel, ao avesso, nunca reconheceu seu caráter de país nuclear. Contudo, calcula-se que possui entre 200 e 500 armas desse tipo, ficando indiferente quando o mundo se inquieta pelos gravíssimos problemas que ocorreriam, em decorrência da eclosão de uma guerra, na região onde se produz grande parte da energia que move a indústria e a agricultura do planeta.

Graças à posse das armas de destruição em massa é que Israel pôde desempenhar seu papel como instrumento do imperialismo e do colonialismo, nessa região do Oriente Médio.

Não se trata do direito legítimo do povo israelense a viver e trabalhar em paz e liberdade, se trata precisamente do direito dos demais povos da região à liberdade e à paz.

Enquanto Israel criava aceleradamente um arsenal nuclear, atacou e destruiu, em 1981, o reator nuclear iraquiano de Osirak. Fez exatamente o mesmo com o reator sírio, em Dayr az-Zawr, no ano de 2007, um fato sobre o qual estranhamente a opinião pública mundial não foi informada. As Nações Unidas e a AIEA conheciam perfeitamente o ocorrido. Tais ações contavam com o apoio dos Estados Unidos e da Aliança Atlântica.

Nada tem de estranho que as mais altas autoridades de Israel proclamem agora sua intenção de fazer o mesmo com o Irã. Esse país, imensamente rico em petróleo e gás, tinha sido vítima das conspirações da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos, cujas empresas petrolíferas saqueavam seus recursos. Suas forças armadas foram equipadas com o armamento mais moderno da indústria bélica dos Estados Unidos.

O xá Reza Pahlevi também aspirava a dotar-se de armas nucleares. Ninguém atacava seus centros de pesquisas. A guerra de Israel era contra os muçulmanos árabes. Os do Irã não, porque tinham se transformado em um baluarte da OTAN, que apontava suas armas para o coração da URSS.

As massas dessa nação, profundamente religiosas, sob a direção do aiatolá Khomeini, desafiando o poder daquelas armas, desalojaram o xá do trono e desarmaram um dos exércitos melhor equipados do mundo sem disparar um tiro.

Por sua capacidade de luta, o número de habitantes e a extensão do país, uma agressão ao Irã não guarda semelhança com as aventuras bélicas de Israel no Iraque e na Síria. Uma sangrenta guerra se desencadearia inevitavelmente. Sobre isso não deve haver nenhuma dúvida.

Israel dispõe de um elevado número de armas nucleares e da capacidade de fazê-las chegar a qualquer ponto da Europa, Ásia, África e Oceania. Eu me pergunto: A AIEA tem o direito moral de sancionar e asfixiar um país, se tenta fazer em sua própria defesa o que Israel fez no coração do Oriente Médio?

Penso realmente que nenhum país do mundo deve possuir armas nucleares e que essa energia deve ser posta a serviço da espécie humana. Sem esse espírito de cooperação a humanidade marcha inexoravelmente rumo a sua própria destruição. Entre os próprios cidadãos de Israel, um povo sem dúvida laborioso e inteligente, muitos não estarão de acordo com essa disparatada e absurda política que também os leva ao desastre total.

De que se fala hoje no mundo acerca da situação econômica?

As agências internacionais de noticias informam que "O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e seu par chinês, Hu Jintao, apresentaram agendas comerciais divergentes […] ressaltando as crescentes tensões entre as duas maiores economias do mundo."

"Obama usou seu discurso ― afirma a agência Reuters ― para ameaçar a China com sanções econômicas, a menos que comece a ‘jogar segundo as regras do jogo’…". Tais regras são, sem dúvida, os interesses dos Estados Unidos.

"Obama ― afirma a agência ― está envolvido na batalha pela reeleição, no próximo ano, e seus opositores republicanos o acusam de não ser suficientemente severo com a China."

As notícias publicadas na quinta-feira e sexta-feira últimas, refletiam muito melhor as realidades que estamos vivendo.

A agência estadunidense AP, a melhor informada desse país, comunicou: "O líder supremo iraniano advertiu os Estados Unidos e Israel de que a resposta do Irã será enérgica se seus arqui-inimigos lançarem um ataque militar ao Irã…"

A agência noticiosa alemã informou que a China tinha declarado que, como sempre, acreditava que o diálogo e a cooperação eram a única forma de aproximação ativa para resolver o problema.

A Rússia se opôs igualmente às medidas punitivas contra o Irã.

A Alemanha rechaçou a opção militar, mas se mostrou partidária de fortes sanções contra o Irã.

O Reino Unido e a França defendem fortes e enérgicas sanções.

A Federação Russa assegurou que fará todo o possível para evitar uma operação militar contra o Irã e criticou o informe da AIEA.

"‘Uma operação militar contra o Irã pode acarretar graves consequências e a Rússia terá que fazer tudo de sua parte para aplacar os ânimos’, afirmou Contantín Cosakov, chefe da comissão das Relações Exteriores da Duma" (Parlamento) e criticou, segundo a agência Efe, "as afirmações por parte dos Estados Unidos, França e Israel sobre o possível uso da força e de que o lançamento de uma operação militar contra o Irã está cada vez mais próxima".

O editor da revista estadunidense Executive Intelligence Review, Edward Spannaus, declarou que o ataque contra o Irã desencadeará a Terceira Guerra Mundial.

O próprio secretário da Defesa dos Estados Unidos, depois de viajar a Israel, há alguns dias, reconheceu que não pôde obter do governo israelense um compromisso de se consultar previamente com os Estados Unidos sobre um ataque contra o Irã. Chegou-se a esses extremos.

O subsecretário de Assuntos Políticos e Militares dos Estados Unidos desvelou cruamente os obscuros propósitos do império:

"Israel e Estados Unidos se envolverão nas manobras conjuntas ‘mais importantes’ e ‘de maior transcendência’ da história dos aliados, declarou no sábado (12) Andrew Shapiro, subsecretário dos Assuntos Políticos e Militares dos Estados Unidos".

"…no […] Instituto Washington para a Política do Oriente Médio, Shapiro anunciou que participarão nas manobras mais de 5 mil efetivos das forças armadas estadunidenses e israelenses e simularão a defesa de mísseis balísticos de Israel".

"‘A tecnologia israelense é essencial para melhorar nossa segurança nacional e proteger nossas tropas’, acrescentou…"

"Shapiro destacou o apoio do governo de Obama a Israel, apesar dos comentários da sexta-feira por parte de um alto funcionário estadunidense que expressou sua preocupação de que Israel não avisasse os Estados Unidos, antes de levar a cabo uma ação militar contra as instalações nucleares do Irã."

"Nossa relação com a segurança de Israel é mais ampla, mais profunda e mais intensa do que nunca antes."

"‘Apoiamos Israel porque é de nosso interesse nacional fazê-lo’ […] É a pura força militar de Israel o que dissuade os possíveis agressores e ajuda a fomentar a paz e a estabilidade."

Hoje, 13 de novembro, a embaixadora norte-americana na ONU, Susan Rice, disse à rede BBC que a possibilidade de uma intervenção militar no Irã não só não está fora da mesa, mas é uma opção real que está crescendo, por culpa do comportamento iraniano.

Ele insistiu em que a administração norte-americana está chegando à conclusão de que será necessário acabar com o atual regime do Irã para evitar que este crie um arsenal nuclear. "Estou convencida de que a mudança de regime vai ser a nossa única opção aqui", reconheceu Rice.

Não é necessário nem uma palavra mais.



Fidel Castro Ruz
13 de novembro de 2011
20h17

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