terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Desabafo entre vômitos e furúnculos

O que vou escrever aqui agora sai de mim como um vômito, como a cabeça de um furúnculo.
Sai ano entra ano e a história se repete e, como diria Karl Marx, "ora como farsa, ora como tragédia".

O fato é que como professor estou cansado de ver meus alunos morrerem um pouco a cada dia, vítimas do alto consumo de drogas LÍCITAS, em especial o álcool.

Os meios de comunicação que não têm o menor compromisso com a saúde pública e portanto não se importam com o desenvolvimento dos nossos adolescentes e jovens, nem com o inchaço do serviço de saúde, seja público ou privado, nem tampouco com a construção de um país, enchem-nos com suas propagandas exaltando o uso indiscriminado de cervejas, uísques, vodcas, ices e todo tipo de drogas. Associa-se este letal modo de "felicidade" ao prazer, aos amigos, ao sucesso, como se afirmassem que a única possibilidade de ser feliz é brindar a vida com porcentagens cada vez mais exageradas de teor alcoólico.

Miro com energia nesta modalidade de droga pois é estatisticamente a que mais mata. Basta ver os noticiários, nestas mesmas empresas que vendem as drogas (Organizações Globo, Veja (desculpem o palavrão), Época...) após a passagem de ano, o carnaval ou um feriado prolongado. Se gasta rios de dinheiro com operações policiais para conter os abusos do uso de drogas líquidas e lícitas e ainda assim o ano que vivemos sempre supera em desgraça os anos anteriores. Mas logo depois de uma breve reflexão, às vezes de segundos, entram os comerciais e lá estão eles: sambistas, atletas, personalidades do mundo artístico, jovens com caras saudáveis, vendendo drogas de beber.

Fica difícil entrar numa sala de aula com alunos de 13 anos em diante e não identificar um significativo número de gente que experimentou ou faz uso constante de bebidas. Às vezes, passeando pelos sítios sociais do tipo facebook, encontro-me com eles em fotos e, não raro, seguram orgulhosos suas latas e garrafas em meios a risadas sinceras e encontros memoráveis. A felicidade parece ter sido engarrafada e ao romper o lacre, eis que ela surge e embriaga os que dela participam.

Cada rosto que vejo sorrir assim na minha frente imagino o sorriso de satisfação financeira dos donos da AMBEV e seus gerentes da comunicação nacional.

Patético. Mas o Brasil de tantos erros tem um acerto: a proibição de venda de bebidas alcoólicas nos estados de futebol ou de qualquer outra prática esportiva. Faz sentido, pois onde se deveria propagar a saúde (esporte) não se deve vender drogas. Pois é. Mas a FIFA, empresa privada de inúmeras atitudes suspeitas ao longo de sua história e promotora do evento Copa do Mundo está querendo mexer nas leis brasileiras, uma vez que um de seus patrocinadores são vendedores de drogas lícitas e líquidas. Patético o país de inúmeros erros sem acertos.

Nesta última passagem de ano 2011/2012 estava vendo o espetáculo da obviedade dos canais de televisão e, quando pensava ter visto de tudo sobre o ridículo, me aterrorizo. Um tal jornal chamado de Hoje, utilizou uns 3 minutos para falar de uma "tradição" do litoral paulista: a corrida de Santo Onofre, uma espécie de protetor dos bêbados (e deve ser preciso pois além de não terem donos, os bêbados podem se transformar em potenciais assassinos. Acredito apenas que o tal santo só está do lado errado). Bem nesta tenebrosa "reportagem", tanto os âncoras quanto o repórter de campo, narravam com sentimento adesivo as regras, afinal a corrida tinha tantos quilômetros, mas de tantos em tantos metros os participantes deveriam virar uma tulipa de chope, e ganharia que conseguisse completar o circuito sem derramar nenhuma gota, passasse em todos os quiosques estipulados e ainda chegasse em primeiro. Aos vencedores uma entrevista e alguns segundos de fama: "e aí como foi?" perguntava o carrasco. E a vítima idiotizada respondia algo como: andares trôpegos, movimentos "joão sorrisão" (a mais nova babaquice imposta para jogadores igualmente babacas perderem suas personalidades), tombos, sorrisos tortos... e poucas palavras.

Não havia ali uma seringa com resto de ácido. Não havia uma guimba de maconha. Não havia nenhum sacolé com restos de cocaína. Mas havia ali uma horda de drogados devidamente festejados pela hipocrisia que condena as ilícitas e comemora as lícitas.

Em nome da coerência, onde está a lógica?

Em nome das futuras gerações e do futuro da saúde pública brasileira, vale a pena lucrarem as empresas privadas em detrimento de uma geração inteira?

Quem não quiser análises sociais mais profundas, procure conversar com familiares de vítimas de acidentes provocados pelo álcool ou com aqueles que têm em casa filhos ou pais dependentes químicos.

Um brinde ao ano novo!



Chico Baeta

3 comentários:

Guylherme Carvalho disse...

Eu desde, há uns dois anos , percebo entre meus amigos e colegas a mesma faceta, bebidas. Mídia, falsos amigos e outros tipos de meios que os persuadem. E ao decorrer dos dias, das semanas,dos meses e dos anos, vejo quem seguiu o caminho errado, quem está na encruzilhada e quem seguiu o caminho. Pelo menos, eu acho. Meus pais dizem para mim desde pequeno que isso é ruim, pois sempre fui cobrado desde pequeno, pelo menos consegui ver uma realidade que nao quero que seja a minha.Muito bom texto.

Guylherme Carvalho disse...

....''e quem seguiu o caminho certo.''

Vozes da América disse...

Guylherme, amigo, concordo com você e alerto: Esse caminho é difícil pois as tentativas de se vender drogas de todos os níveis, lícitas e ilícitas, são muitas e criativas. Torço para que você se mantenha longe delas e perto do conhecimento e da solidariedade.
Abraços!